Linn da Quebrada vai à Europa com seu “Pajubá”
Turnê e estreia do documentário “Bixa Travesty” no Festival de Berlim faz parte da ascensão de todas as manas pretas e periféricas.
Linn da Quebrada está poderosa. E seu sucesso não é somente seu. É, de alguma forma, de todas nós, das pessoas que ela leva junto, que estão a sua volta construindo um mundo mais efetuoso.
A cantora e atriz está em Berlim participando do Festival de Cinema de lá, com o documentário que protagoniza, “Bixa Travesty”, de Kiko Goifman e Claudia Priscilla. É o terceiro trabalho audiovisual de Linn lançado entre 2017–2018, após uma ponta em “Corpo Elétrico” e participação no documentário “Meu corpo é político”.
Linn vem em uma ascensão que dá gosto acompanhar. Lançou ano passado seu disco de estreia, “Pajubá”, feito por financiamento coletivo, e fez uma série de aparições em veículos de mídia e em publicidade, sendo a estrela da campanha “Absolutas”, da Absolut Vodca.
Agora na Europa sua escalada ao sucesso tem um gosto especial: ela leva para o mundo a identidade travesti, tipicamente latino-americana, e questiona o conhecimento dos gringos sobre nossas nuanças tropicais em termos de raça, gênero e sexualidade.
Há alguns anos poderíamos dizer que era impossível uma bicha, travesti, periférica, funkeira ser a estrela do próprio filme, sendo ovacionada em um dos mais importantes festivais de cinema do mundo. Mas isso está acontecendo de verdade.
Mais do que representatividade, tecla que a gente anda batendo demais hoje em dia, a atuação de Linn é justamente isso: ato, o fazer em si. Ela está lá abrindo caminhos em águas ainda turvas para a maioria de nós, sabendo que uma vez os caminhos abertos, eles tendem a nunca mais ser iguais.
Como já dissemos por aqui, Linn fala de outros corpos, corpos marginalizados historicamente mas que pretendem conquistar seu espaço, à revelia do macho, central na narrativa de tudo e todos até aqui. O macho em sua arte dá espaço à feminilidade e ao afeto, que para Linn são os únicos caminhos possíveis. À revista Tpm ela disse:
“Costumo falar que minha música é, ao mesmo tempo, arma e antídoto, né? Eu me mato e sobrevivo por meio dela, desloco o ponto central do macho para os corpos feminilizados, crio um novo vocabulário, de tudo girar ao redor do homem. Chega, sabe? Agora, quem vai contar nossa história somos nós mesmas — e no nosso idioma.”
Toda vez que escrevo sobre Linn é impossível não falar de um ponto de vista pessoal e íntimo, pois sua arte me toca todos os dias: ela é um lembrete de força, talento e vulnerabilidade também, como não poderia deixar de ser. E isso faz parte da promessa do documentário, que deve mostrar a Linn militante e ousada, mas também sua humanidade, suas relações pessoais de afeto.
Dia 24 acontece a última sessão de “Bixa Travesty” no festival e, após isso, Linn seguirá com a Trava Tour pela Europa, passando por França, Portugal, Holanda, Espanha e Alemanha. Desde já, desejo todo o sucesso do mundo, e que as travas europeias se encantem por você assim como nós fizemos.
*Bixa Travesty ainda não tem previsão de lançamento no Brasil.