Quem tem medo de virar cientista de dados? (2/3)

Esse texto é a segunda parte da trilogia “Quem tem medo de virar cientista de dados?”

Leticia Portella
pizzadedados
6 min readMar 28, 2019

--

Fonte

No capítulo um da saga, falamos sobre as dúvidas que surgem ao querer mudar de área. Focamos na pergunta “Será que eu vou conseguir?”, que está muito mais relacionada em você e na sua relação com a nova carreira que você pretende alcançar. Depois de abraçar a decisão da mudança, surge a fase 2, conhecida como “vale a pena mesmo começar a trabalhar numa área totalmente nova para mim?”.

2. Será que vale a pena?

Geralmente depois de internalizar a ideia de que “Sim, eu quero mudar de área”, vem um conjunto de dúvidas mais práticas. Especialmente, se você já está bem estabelecido(a) em algum lugar.

Decidir se vale a pena mudar de profissão é uma decisão de custo benefício e que requer planejamento. Você vai precisar fazer uma lista de prós e contras, fazer o balanço das contas de casa, contabilizar a quantidade de horas de estudo além do seu atual trabalho e colocar tudo isso na balança, pois isso vai te ajudar a superar o trabalho hercúleo que é vencer a inércia e sair da zona de conforto.

“Valer a pena” é um conceito que varia de pessoa pra pessoa e não existe fórmula mágica para dizer com 100% de acurácia se tomar aquela decisão vai valer a pena ou não. E, mesmo com todo planejamento em mãos só iniciando essa jornada para saber se valeu mesmo a pena ou não.

2.1 Vou ter que começar minha carreira do zero?

Não necessariamente, mas nessa mudança é bem provável que isso ocorra. Depende um pouco do seu caso e de como você vai se inserir nesse novo mercado. Se inserir “do zero” pode ser a melhor alternativa dependendo da sua situação, porque os requisitos tendem a ser menores e a pressão no processo de entrada também.

Mas, é muito importante que você tenha em mente que você tem algo a agregar que pessoas da área normalmente não possuem.

Seja um conhecimento específico da área de aplicação, seja conhecimentos e experiência em gestão, seja uma visão de mundo diferente, etc. O que vai determinar o nível da carreira que você vai conseguir se inserir vai depender de como isso é percebido pelo mercado, o que também depende muito de como você se mostra para o mercado. Mas lembre-se: mudanças sempre têm impacto. Tenha isso em mente. Às vezes um passo pra trás é necessário para dar dois à frente.

2.2 Vou ter que me contentar com um salário menor?

Esse receio está bem relacionado com o anterior. É possível que sim, mas não é certeza. O que vai determinar isso é a sua situação atual: caso você esteja confortável, tanto financeiramente como em relação às habilidades da sua posição atual, você provavelmente vai conseguir esperar mais tempo pela posição certa aparecer e vai continuar crescendo seus conhecimentos enquanto isso.

É importante ter planejamento financeiro na hora de fazer uma mudança. As coisas podem dar errado e é preciso saber quanto tempo “livre” você consegue garantir caso as coisas dêem errado. Planejamento é muito importante na hora de se tomar uma decisão arriscada, seja ela qual for. Evite se atirar no desconhecido sem nenhum tipo de preparação, especialmente se você tiver pessoas dependendo de você.

2.3 Será que vale a pena pra mim?

Essa é uma pergunta muito pessoal e muito recorrente. Você precisa pesar os benefícios ou sacrifícios financeiros do item anterior com a sua satisfação ou insatisfação atual. Sempre existe um custo grande ao mudar de área, não só financeiro, mas de ter que se esforçar pra encaixar no novo mercado, adquirir os novos conhecimentos e fazer um novo networking.

A área de tecnologia, em geral, não é um bom lugar pra pessoas muito acomodadas: você precisa estudar muito para estar tranquilo com novas tecnologias, participar de conferências para saber o que está rolando no mercado, e sempre há novas coisas pra aprender. A quantidade de assuntos que você pode/precisa aprender é gigantesca. Por mais que ninguém precise saber tudo que já existiu e tudo que há de novo, é necessário saber lidar com a enxurrada de informações e tecnologias novas que você vai encontrar. Você está disposto(a) a isso?

2.4 E se não der certo?

Sempre é uma possibilidade. Mas antes de responder essa pergunta, reflita: qual a sua definição de não dar certo? Se for aplicar para uma vaga e não conseguir, isso é apenas parte do caminho (e acredite, vai acontecer!). Se for conseguir entrar no novo mercado e ter dificuldades, ainda é parte do caminho.

Todos nos falhamos eventualmente, faz parte!

Antes de tomar uma decisão estabeleça objetivos claros para facilitar tornar suas vitórias mais palpáveis. Defina que quer fazer um projeto com determinada tecnologia até o fim do ano, ou que você vai participar de um projeto de código aberto até o final do semestre. Determine pontos de sucesso e definições de “o que é sucesso”. Exemplo:

“Vou me tornar fera em matemática”

Isso não é uma meta e muito menos uma definição de sucesso. Vai chegar no fim do ano e, independente do que tenha feito, você vai se sentir frustrado(a) por não ser “fera” em matemática.

“Vou praticar exercícios de matemática 3x por semana no próximo semestre”

Temos aqui uma meta muito mais realista, certo? Você tem um plano definido, com regularidade e um prazo de término. É possível medir quantas semanas você cumpriu o objetivo e quantas semanas não.

Nós do Pizza normalmente anotamos, ao final de um ano, tudo o que conseguimos ao longo daquele ano, como uma forma de perceber nosso avanço sem surtar. A @Jessica até deixa algumas das conquistas públicas, para incentivar as pessoas a fazer o mesmo.

Talvez seja possível dizer que a única possibilidade de dar errado mesmo é você perceber que isso não é para você. Não por uma questão dos seus limites e dificuldades, mas sim por gosto mesmo.

2.5 E se eu tiver que voltar a fazer o que eu fazia antes? Vai ser tempo perdido?

Como falamos antes, para tudo é preciso planejamento. E ter um plano para falhas é importante. A primeira sugestão é nunca queimar pontes. Saia de onde você está de bem com todos e deixe as portas abertas. A gente nunca se sabe o dia de amanhã. Então prepare-se para sua saída, avise seus supervisores sobre suas intenções e faça uma transição calma. E faça outro plano B caso as coisas deem errado. Mas de novo: planeje-se! No fim das contas, dificilmente será tempo perdido: por mais que você volte à sua área antiga, no mínimo você irá trazer novas visões e conhecimentos com você.

2.6 Será que eu vou gostar?

Só existe um jeito de descobrir! E te garanto que você vai perceber isso enquanto se prepara para essa nova área.

2.7 Será que eu preciso largar tudo?

Não, não, não, mil vezes não! Absolutamente todas as empresas têm algum dado, alguma planilha de Excel sendo trabalhada na mão ou um banco de dados que não é usado o suficiente. Explore oportunidades dentro da sua área! Descubra as oportunidades perto de você. Nem sempre você precisa de um título de “cientista de dados” para fazer um trabalho essencial e de alto retorno. Muitas vezes, aplicar algo inovador assim onde menos se espera é onde pode-se alcançar maior retorno.

Ok, você superou suas inseguranças (ou nem todas 😉) e agora decidiu que vai! Você começa a estudar e se preparar aos poucos. Você tem um plano bem desenhado para sua próxima etapa. Aí vem uma parte deliciosa (só que não) de fazer entrevistas. No próximo post vamos responder à terceira pergunta: “Será que alguém vai me contratar?” Vemos vocês lá! 😘

--

--

Leticia Portella
pizzadedados

A happy dev, in love with data science and podcaster at Pizza de Dados