Como não fazer uma revista de tecnologia e ciência

Saiba como conseguimos criar e distribuir gratuitamente uma revista sobre ciência e tecnologia em mais de 80 universidades no Brasil. Conheça também alguns dos erros que nos levaram a encerrar a Polyteck depois de 18 edições publicadas.

André Sionek
Polyteck
14 min readDec 28, 2016

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Publicamos a primeira edição da Revista Polyteck em setembro de 2013. O tema de capa foi “O efeito antibacteriano do grafeno”, que mostrava resultados experimentais e teóricos obtidos por pesquisadores da Shanghai University, na China, de como nanofolhas de grafeno podem penetrar e extrair grandes quantidades de fosfolipídios das membranas celulares de bactérias, induzindo a sua degradação. Imprimimos e distribuímos 10 mil exemplares da Polyteck em quatro universidades de Curitiba.

“Olha André, a sua ideia é muito… nobre, e acredito que um material desse pode realmente causar algum tipo de transformação nas universidades. Mas não no Brasil. Uma revista nesses moldes não vai pegar por aqui. O universitário não quer ler, alguns não sabem sequer interpretar. Os meus alunos não leem nem os textos obrigatórios da minha matéria, que valem nota, você acha mesmo que eles vão ler artigos sobre ciência e tecnologia sem nenhuma obrigação?”

Foi o que ouvi de um dos primeiros professores com quem conversei a respeito da ideia de criar a Polyteck. Depois de 18 edições impressas e distribuídas gratuitamente, posso afirmar que ele estava errado, afinal a Polyteck fez muito sucesso como um instrumento de divulgação científica e tecnológica. Porém, esse sucesso não se refletiu no nosso modelo de negócios que, apesar de permitir sustentar a impressão e distribuição gratuita desta revista por três anos, não mostra perspectivas de crescimento futuro. Embora este artigo destoe dos outros aqui já publicados, sentimos a obrigação de compartilhar um pouco da nossa história, dos resultados alcançados e dos erros cometidos antes de efetivamente encerrar a publicação da versão impressa após esta edição.

O intercâmbio e o nascimento da Polyteck

Iniciei em 2012 meu intercâmbio de graduação sanduíche na Universidade da Pennsylvania (uPenn), nos EUA, com bolsa do programa Ciência Sem Fronteiras. A experiência de estudar em uma das melhores universidades do mundo me fez perceber que a ementa das matérias na instituição americana e na UFPR, minha universidade de origem aqui no Brasil, eram muito semelhantes. Porém, na uPenn os estudantes eram muito mais motivados, preparavam-se para as aulas, faziam os exercícios, liam os textos e estudavam para as provas desde o começo do semestre — um grande contraste com a realidade brasileira. Estudar no exterior também me fez perceber que, comparativamente, as universidades brasileiras possuem áreas do conhecimento muito mais segmentadas e isoladas do que as americanas. Aqui no Brasil, por exemplo, são ofertadas poucas disciplinas com temas interdisciplinares — geralmente são essas as que mais se relacionam com o mundo externo à academia e com o mercado de trabalho. Comecei, então, a me questionar se a baixa motivação dos alunos brasileiros não poderia ter relação direta com esta falta de conteúdos interdisciplinares. Se eu me senti mais motivado nos EUA ao estudar conteúdos que fugiam da rotina dos livros texto, será que os outros estudantes não se sentiriam da mesma maneira?

Foto oficial da Class of 2016 da uPenn. Onde está o André? A ideia para criar a Revista Polyteck nasceu durante o intercâmbio de graduação sanduíche pelo programa Ciência Sem Fronteiras. Dica: próximo à marca de 50 jardas no gramado.

O intercâmbio me mudou como pessoa também. Participei de eventos e assisti a inúmeras palestras de ex-alunos da uPenn. Todos eles demonstravam um imenso respeito e sentimento de gratidão à universidade. Muitas vezes falavam das formas de devolver à sociedade um pouco do conhecimento que eles receberam durante a sua formação. Foi nesse ponto que eu comecei a me questionar sobre qual seria a minha forma de retribuir o ensino que recebi gratuitamente na UFPR e também a bolsa de estudos que me levou até ali. Se a minha universidade não oferece disciplinas com temas interdisciplinares, será que eu não conseguiria fazer algo para mudar isso? Uma alternativa seria tentar intervir politicamente: lutar por alterações nas grades curriculares, convencer os departamentos a ofertar mais disciplinas optativas, e cobrar que os professores façam conexões entre diferentes disciplinas. Porém, esta opção me pareceu demorada e com alcance limitado (as mudanças seriam no meu curso, no máximo na universidade).

Último dia na Universidade da Pensilvânia, em Filadélfia. A ideia de criar uma publicação sobre ciência no Brasil nasceu lá.

Foi uma matéria de empreendedorismo para engenharia que cursei na uPenn que me instigou a criar um jornal de ciência e tecnologia para universitários quando eu retornei ao Brasil. Eu tinha observado alguns modelos de jornais estudantis gratuitos que circulavam por lá e pensei que o mesmo modelo de negócio poderia ser aplicado aqui no Brasil. Esse jornal deveria colocar o estudante em contato com a vanguarda da ciência e tecnologia através de notícias embasadas em artigos científicos publicados em revistas internacionalmente reconhecidas. Não seria uma publicação segmentada para Física, Engenharia Civil, ou Biologia, como já existem muitas. O objetivo era unir todas as chamadas STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática) em uma única publicação interdisciplinar. Esta seria a minha forma de retribuir, e de tentar aproximar o estudante universitário brasileiro de conteúdos interdisciplinares e de tecnologia e ciência de ponta.

Convenci dois amigos, Fábio Rahal e Raisa Jakubiak, que trabalharam comigo no LITS, um laboratório do departamento de Física da UFPR, a ajudar na execução da Polyteck. Fizemos uma pesquisa de mercado — onde recebemos o feedback descrito no primeiro parágrafo deste artigo — e formatamos o negócio: uma revista impressa e distribuída gratuitamente nas universidades; sem vínculos institucionais; com conteúdo embasado por publicações acadêmicas; artigos interdisciplinares e a obtenção de recursos financeiros através da venda de espaços publicitários.

A equipe da Polyteck no LITS, laboratório da UFPR onde os três fundadores se conheceram e onde depois se reuniram para criar uma revista de tecnologia e ciência gratuita para universitários. Nosso maior desafio foi financiar a publicação com anúncios e patrocínios sendo que ninguém da equipe tinha experiência prévia com o mercado editorial e de publicidade. Para não ser totalmente injusto: o Fábio já havia vendido anúncios em listas telefônicas e a Raisa distribuído panfletos na rua. Da esquerda para a direita estão André Sionek, Raisa Jakubiak e Fábio Rahal.

Com estas diretrizes em mente, publicamos a primeira edição em setembro de 2013. O tema de capa foi “O efeito antibacteriano do grafeno”, que mostrava resultados experimentais e teóricos obtidos por pesquisadores da Shanghai University, na China, de como nanofolhas de grafeno podem penetrar e extrair grandes quantidades de fosfolipídios das membranas celulares de bactérias, induzindo a sua degradação. Imprimimos e distribuímos 10 mil exemplares da Polyteck em quatro universidades de Curitiba. Os resultados foram praticamente imediatos: logo no primeiro dia de distribuição várias pessoas pediram mais informações, elogiaram a qualidade da revista e dos artigos e nos incentivaram a publicar outras edições. Desde então recebemos inúmeros relatos de professores que utilizaram nossos textos para ilustrar conceitos em sala de aula, para ensinar os estudantes a escrever relatórios, como temas para trabalhos ou ainda em questões de prova. Ou seja, conseguimos inserir temas interdisciplinares dentro das salas de aula muito mais rápido do que se tentássemos intervir politicamente. E sim, conseguimos motivar os alunos, como retratou a Ana Souza no comentário deixado no YouTube e abaixo transcrito.

“Oi André. Em 2013 eu recebi a primeira a revista da Polyteck na PUCPR e desde então acompanho a revista. Inclusive um dia eu recebi a revista e tinha uma matéria sobre Redes Neurais e eu a levei pra sala de aula. A aula era de Inteligência Artificial. O professor também estava com a revista. Ele simplesmente começou a aula falando de Redes Neurais e discutindo sobre a matéria. Foi uma aula diferente. Foi como ver na prática aquilo que você está aprendendo. Me formei e ainda me lembro deste dia.”

Desafios e expansão: de Curitiba para o Brasil

Para financiar as primeiras edições da Polyteck, eu vendi o meu carro e o Fábio usou as suas economias. Muitas pessoas nos falaram que estávamos fazendo uma loucura ao gastar dinheiro para criar uma revista impressa na era da internet — muito mais inteligente seria investir em um website ou em um aplicativo. No entanto, nos questionamos se um website cumpriria o objetivo do projeto — levar conteúdos interdisciplinares para dentro das salas de aula. Provavelmente não. Um website não teria o mesmo impacto que uma publicação impressa. Assim, logo na primeira edição da Polyteck tivemos um prejuízo de R$5.400,00 (R$6.000,00 em custos de impressão, R$600,00 de receita em vendas). Porém, de certa forma, o modelo de negócios estava provado, pois vendemos um anúncio antes mesmo da publicação. Também é totalmente natural ter prejuízo nos primeiros meses (ou anos) de operação de um novo negócio.

Nós não tínhamos nenhuma experiência com o mercado editorial e de publicidade (para não ser totalmente injusto, o Fábio já havia vendido anúncios em listas telefônicas e a Raisa distribuído panfletos na rua). Gastamos muito tempo e dinheiro tentando vender através das agências de publicidade que atendem empresas que supúnhamos ter interesse em anunciar na Polyteck. Não tivemos resultados. Descobrimos posteriormente que a falta de capital social — conhecer as pessoas certas — foi um fator determinante na nossa falha em vender anúncios através de agências. Mesmo assim, conseguimos vender alguns anúncios diretamente para algumas empresas, o que amenizou os prejuízos. Também gastamos dinheiro desnecessário com advogados para a elaboração de alguns contratos, quando nós mesmos poderíamos elaborá-los, e com o aluguel de espaços de coworking nos primeiros meses, quando poderíamos ter trabalhado em casa.

Um dia, enquanto eu distribuía os exemplares da terceira edição da Polyteck, o professor Adonai Sant’Anna, do departamento de matemática da UFPR, parou para conversar comigo. Nas palavras dele, publicadas em seu blog Matemática e Sociedade:

“No entanto, no final do ano passado, vi algo que me abalou profundamente. Eu estava saindo do Prédio da Administração do Centro Politécnico da UFPR — tentando seguir meu caminho para casa — quando encontrei completamente por acaso um rapaz que distribuía exemplares de algo que parecia uma revista. Ele mais se assemelhava a um fanático religioso tentando pescar novos adeptos para uma igreja ou um militante político disseminando palavras de ordem tão comuns quanto os apelos de crianças que querem ganhar presentes de Natal independentemente de se comportarem bem durante o ano. Mesmo assim interrompi minha caminhada para perguntar o que ele estava distribuindo gratuitamente para os transeuntes. Fiquei atônito ao perceber que se tratava de uma revista de divulgação científica de alto nível: a Polyteck.”

Depois de algumas semanas, Sant’anna publicou um artigo na Scientific American Brasil retratando o nosso trabalho (clique aqui para ler o artigo no blog Matemática e Sociedade). O resultado também foi imediato, já que estudantes e professores de várias partes do Brasil nos procuraram para saber como poderiam receber os exemplares impressos. As primeiras universidades (fora de Curitiba) a recebê-los foram a UFAM, em Manaus, e a UFU, em Uberlândia.

Estudantes e professores de várias partes do Brasil nos procuraram e começaram a receber os exemplares impressos gratuitamente.

Com perspectivas de crescimento, a Valquiria, minha namorada, se juntou à equipe da revista para vender anúncios e aumentar a nossa receita. Saiu alguns meses depois, pois não tivemos condições de lhe pagar um salário. Nesta época lançamos uma campanha de financiamento coletivo, onde almejamos arrecadar R$62.000,00 para ampliar a distribuição da revista Polyteck e levá-la a mais universidades. Falhamos catastroficamente — arrecadamos somente R$ 9.033,00 — e, devido às regras da campanha, o dinheiro foi integralmente devolvido aos apoiadores. Nosso caixa estava zerado e por pouco não encerramos a revista em março de 2014, logo após a quarta edição. O que nos salvou foi justamente a campanha de financiamento coletivo, pois, apesar de termos falhado na arrecadação dos fundos, conseguimos ampliar muito a divulgação do nosso trabalho e chamar a atenção de pessoas de todo o Brasil. Foi assim que o Pedro Marchi, da LAE — Educação Internacional, nos conheceu e começou a patrocinar as novas edições.

A falta de conhecimentos sobre o público universitário fez com que definíssemos uma meta muito alta na campanha de financiamento coletivo que realizamos em 2014. O projeto não foi financiado, porém essa campanha, mesmo mal sucedida, tornou a Revista Polyteck conhecida em todo o Brasil e só conquistamos o nosso primeiro patrocínio graças a ela.

Desde o começo do projeto, nos responsabilizamos por fazer a pesquisa, redação e revisão técnica dos artigos. A revisão ortográfica foi feita pelo Rudolf Eckelberg, um amigo nosso, físico por formação, mas com vocação para escritor. Ele sempre nos auxiliou com a revisão nos horários mais malucos, nos finais de semana e nos feriados, sem nunca reclamar. Conforme a Polyteck foi se tornando mais popular, diversas pessoas enviaram artigos para publicação, mas, infelizmente, por questões de falta de espaço físico e, em muitos casos, pela falta de adequação dos artigos com a proposta da revista, selecionamos somente uma pequena parcela para publicação. Também optamos por publicar um artigo em língua inglesa a cada edição, visando incentivar os alunos a ler e compreender artigos técnicos no idioma mais utilizado na divulgação científica. Por falta de recursos para contratar um designer, a diagramação e design da revista também ficou sob nossa responsabilidade desde o início. Aprendemos a operar os programas de edição e, observando outras publicações e recebendo feedback dos leitores, conseguimos melhorar a apresentação e layout da Polyteck a cada edição.

Maturidade

No começo de 2015, a revista, publicada a cada bimestre, já se sustentava financeiramente. Naquele ano, recebemos inúmeros pedidos de alunos, professores, centros acadêmicos e empresas juniores que queriam receber e distribuir os exemplares nas suas instituições. Em pouco tempo atingimos a marca de 80 universidades parceiras e tivemos que parar de aceitar novos pedidos, pois não tínhamos mais recursos para arcar com os custos de envio. Começamos, então, a montar uma lista de espera que chegou ter 150 instituições diferentes aguardando para receber e distribuir os exemplares.

Mapa com a localização das mais de 80 universidades que receberam exemplares da Polyteck gratuitamente. Os anúncios e patrocínios pagavam a impressão e também o frete para enviar revistas para centros acadêmicos, empresas juniores, professores e alunos de instituições de todo o Brasil. Em pouco tempo construímos uma lista de espera com mais de 150 interessados em distribuir os exemplares nas suas instituições.

Em posse desses resultados e com o apoio dos nossos leitores nas redes sociais, conseguimos marcar reuniões com executivos de grandes empresas multinacionais que certamente poderiam nos apoiar. Nas reuniões percebemos que esses executivos realmente gostaram da proposta da revista Polyteck e viram um grande potencial para se comunicar com um público universitário especializado — principalmente para atrair talentos para seus programas de trainee e estágio. Contudo, não conseguimos concretizar nenhum contrato de patrocínio ou anúncio com essas empresas, e provavelmente a falha foi nossa. Acredito que desperdiçamos algumas grandes oportunidades por falta de habilidade e experiência com esse tipo de negociação.

Não conseguimos concretizar nenhum contrato de patrocínio ou anúncio com grandes empresas, e provavelmente a falha foi nossa. Acredito que desperdiçamos algumas grandes oportunidades por falta de habilidade e experiência com esse tipo de negociação.

Nestes três anos de publicação recebemos vários reconhecimentos e mensagens de apoio ao nosso trabalho, incluindo uma carta do Dr. Glaucius Oliva, então diretor do CNPq; de Douglas Falcão, diretor do Departamento de Popularização e Difusão da Ciência e Tecnologia do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI); apoiamos o Esquadrão Antibombas do BOPE PMPR a lançar uma revista especializada; também recebemos uma carta de apoio do Conselho de Ensino, Pesquisa, Extensão e Administração da Universidade Federal de Itajubá — além de várias mensagens de apoio de professores e estudantes de todo o país. Também fomos convidados a ministrar várias palestras em universidades e Institutos Federais, um TEDx, e até mesmo uma palestra nos EUA a convite do Consulado do Brasil em Nova Iorque. Para essa última, recebermos o convite somente um mês antes da data do evento e não havia nenhuma garantia de ajuda de custo, então essa oportunidade de divulgar nosso trabalho e conhecer pessoas e realidades novas parecia um sonho impossível. Recorremos a outra campanha de financiamento coletivo, onde nos propomos a gravar uma série de vídeos e entrevistas em várias universidades americanas. Desta vez conseguimos arrecadar recursos para pagar as passagens, minhas e da Raisa. Nos hospedamos gratuitamente na casa de pessoas maravilhosas que não nos conheciam, mas conheciam a Polyteck. Além disso, o diretor de inovação e tecnologia da Braskem, Patrick Teyssonneyre, se solidarizou com o impacto do nosso trabalho e nos auxiliou com diárias em hotéis da região e, duas semanas após voltarmos dos EUA, nos convidou para participar da Braskem Conference. Pensamos que essa viagem seria outra ótima oportunidade de divulgar o nosso trabalho e conseguir novos apoios financeiros com empresas. Mas estávamos enganados. Cumprindo a nossa promessa da campanha de financiamento coletivo, gravamos alguns vídeos e entrevistas por lá, mas a realidade é que não nascemos YouTubers, e falar para uma câmera nos deixa desconfortáveis… nós gostamos mesmo de escrever. Publicamos alguns vídeos, mas logo vimos que este não era o nosso ponto forte.

Entrevista com a professora Duilia de Mello. Um dos vídeos que gravamos durante nossa viagem aos EUA.

Declínio

Mesmo sem conseguir novos anunciantes, continuamos a publicação da revista e a distribuição para cerca de 100 universidades em todo o país. Em meados de 2016, alguns dos nossos anunciantes tiveram problemas internos e cancelaram os contratos de anúncio. Consequentemente, começamos a perder receita e então tentamos outras formas de financiamento: a assinatura individual, onde o leitor paga para receber os exemplares em casa; a venda de artigos patrocinados para empresas; publieditoriais no nosso website. Finalmente, pedimos para que as pessoas que realizam a distribuição pagassem pelo frete dos exemplares. Nenhuma dessas ações trouxe os resultados esperados. Os custos de impressão e distribuição aumentaram desde a primeira edição e, diante de uma perspectiva de estagnação, começamos a desanimar com o projeto.

Mesmo se dedicando à Polyteck, cada um de nós, Fábio, Raisa e eu, sempre teve outros projetos e trabalhos — afinal também precisávamos pagar contas e investir nas nossas carreiras. Uma espécie de plano B para caso a revista não fizesse todo o sucesso que esperávamos. Mesmo um artigo curto às vezes pode levar pelo menos 10 horas para ser escrito, sem contar o tempo de pesquisa, revisão e diagramação. O produto final pode até não parecer algo tão complexo, mas a verdade é que a Polyteck demanda muito tempo e dedicação. Não tínhamos problema com isso, afinal era um investimento em nós mesmos e na nossa empresa — mas começamos a ver que a situação financeira não mudaria. Então passamos a focar mais nas outras tarefas e diminuímos a nossa dedicação à revista, até que chegamos a este artigo. Decidimos encerrar a publicação da versão impressa desta revista, mesmo sabendo da importância que estes 180 mil exemplares que distribuímos gratuitamente tiveram para muitos professores e estudantes ao longo dos últimos três anos. Vamos continuar mantendo o nosso site, e ainda temos alguma esperança de, no futuro, retomar a publicação da revista impressa (a criação de uma lei de incentivo à ciência e tecnologia, nos moldes da Lei de Incentivo à Cultura, por exemplo, poderia incentivar mais empresas a investirem em projetos como a Polyteck). Agradecemos muito a cada leitor e a todos os que nos apoiaram e nos fizeram chegar até aqui, em especial à LAE Educação Internacional, Identifique, Tecnicópias, Comsol, Avell, Grade Up e Nuffic por acreditarem no nosso trabalho e financiarem este projeto através de anúncios. Esperamos que nossa parceria tenha atendido às suas expectativas.

Capa da 18ª e última edição da Revista Polyteck.

Hoje, sabemos que aquele professor que acreditava que os alunos não sabiam interpretar e que nunca leriam um conteúdo sério sobre tecnologia e ciência estava errado. Com a Polyteck nós oferecemos aos estudantes e professores uma abordagem mais interdisciplinar, menos focada no livro texto e mais conectada com o mundo real. Felizmente essa iniciativa funcionou muito bem para motivar e engajar estudantes a se envolverem com temas complexos, mas falhamos na criação de um modelo de negócios sustentável. Temos certeza de que iniciativas como a Polyteck não são suficientes para melhorar a educação no Brasil, mas percebemos que pequenas iniciativas independentes podem sim causar grande impacto sem depender de apoio governamental. Escrevemos esta última edição com o senso de dever cumprido e esperamos ver mais estudantes dispostos a devolver para a sociedade um pouco de tudo aquilo que aprenderam nas universidades. Esperamos ter contribuído, pelo menos um pouquinho, com a formação dos estudantes que acompanharam nosso trabalho. E, finalmente, esperamos que esta carta sirva como um guia sobre como não fazer uma revista de tecnologia e ciência para um aventureiro que, algum dia, queira criar uma publicação desse tipo de forma independente, como foi o nosso caso.

Num último suspiro, nós ainda conseguimos uma parceria com a COMSOL para enviar 1.000 exemplares da 18ª edição gratuitamente para os nossos leitores. Clique no link abaixo para pedir o seu exemplar.

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André Sionek
Polyteck

I write about data and software engineering, career and everything in between!