Contra a Suíça, o coletivo faz a Suécia avançar às quartas de final depois de 24 anos

Luiz Henrique Zart
Popytka
Published in
9 min readJul 3, 2018
Poucos nomes se destacam tanto quanto a coletividade dos Blãgult (Getty Images)

Desde antes do início da Copa, a Suécia enfrenta o improvável. Primeiro, eliminou a tetracampeã Itália nas Eliminatórias. Depois, já na Copa, superou os favoritos alemães, além de mexicanos e sul-coreanos na fase de grupos, usando uma mesma configuração tática, com um plano de jogo definido: a solidez defensiva, com a recomposição e a força do jogo aéreo — todos elementos que compõem uma parede difícil de atravessar atrás. Os contra-ataques e a aposta na criatividade de Emil Forsberg e no jogo físico de Berg e Toivonen sustentam o ataque sueco. Em São Petersburgo, foi a vez de o camisa 10 fazer o gol da vitória nórdica por 1 a 0 contra a Suíça. E se as partidas não são nada agradáveis aos olhos, ao menos são funcionais. Com o coletivo capaz de levar o time às quartas de final depois de mais de duas décadas. Enfrenta quem sair do confronto entre Colômbia e Inglaterra.

Os times

O técnico Sueco Janne Andersson garantiu o primeiro posto em um Grupo complicado com a boa vitória na última rodada, com um 3 a 0 diante do México. Naquela ocasião, como na partida das oitavas, a Suécia aparecia em campo com duas linhas de quatro jogadores com dois centroavantes mais pesados à frente — que, apesar disso, pressionavam a saída de bola na marcação. Robin Olsen era mantido à meta, com Mikael Lustig e Ludwig Augustinsson pelas laterais, além de Victor Lindelof, retornando de lesão para fazer dupla com o capitão Andreas Granqvist no miolo de zaga. Albin Ekdal, volante que chega mais à frente como elemento surpresa, tinha agora ao seu lado Gustav Svensson, ocupando o lugar que era de Sebastian Larsson contra o México. Mais à frente, Viktor Claesson, de boa Copa do Mundo, e Emil Forsberg, principal nome e camisa 10 do time, apareciam abertos pelas pontas. À frente, os dois centroavantes eram Ola Toivonen e Marcus Berg, com potencial de bola aérea.

Já do lado Suíço, Vladimir Petkovic teve que fazer algumas alterações por suspensão, vindo de um empate contra a Costa Rica no fim da fase de grupos. O lado direito da defesa. Stephan Lichtsteiner era substituído por Michael Lang na lateral, enquanto Fabian Schar era reposto por Johan Djourou na zaga. Valon Behrami e Granit Xhaka alternavam a responsabilidade de fazer a saída de bola, marcar e chegar à entrada da área, se posicionando mais atrás na faixa central do 4–2–3–1. Steven Zuber e Xherdan Shaqiri se posicionavam pelas pontas, com Blerim Dzemaili centralizado na criação, com Josip Drmic de centroavante.

O campinho de Suécia x Suíça (Fifa.com)

O jogo

Um duelo europeu, em que o embate se concentrava na consistência tática, aliada a alguns talentos individuais. Assim, a partida das oitavas de final entre suecos e suíços começou estudada. O nati tentava sair jogando com a bola no chão, trocando passes desde trás, enquanto os blãgult apertavam. Toivonen e Berg, os dois centroavantes à frente das duas linhas de quatro na defesa e no meio, eram os que pressionavam a defesa adversária. Até que, aos oito minutos, os comandados de Janne Andersson tentaram a primeira chegada, com duas oportunidades. Primeiro, Berg apareceu em boa posição bem próximo da área, mas deixou a bola correr demais e bateu longe. Depois, na sobra de um chute que carimbou Akanji, Ekdal chegou correndo e emendou de primeira, da entrada da área, mandando por cima do travessão.

O miolo de zaga suíço, atuando pela primeira vez junto, poderia acusar a falta de entrosamento entre Lang e Djourou, mas a verdade é que os suecos chegavam com mais facilidade à frente. Do outro lado, Behrami e Xhaka conduziam desde a defesa, tentando organizar a saída de bola, mas tinham poucos espaços, apesar do avanço de Ricardo Rodríguez pela lateral esquerda. A insistência nos cruzamentos saídos dos pés de Shaqiri não dava muitos resultados, a não ser um desvio de Zuber, por cima, no meio da zaga.

O primeiro tempo foi de dois times extremamente recolhidos e defensivos, com pouca criatividade dos meias e atacantes. A chance mais perigosa, em meio aos lances picados por faltas, veio com Berg aos 28. O camisa 9 dos escandinavos emendou um bonito chute de perna esquerda, já dentro da área, obrigando Sommer a se esticar todo para espalmar. Foi justamente esta chance que acordou os alvirrubros, que começaram a tentar algo. Aos 33, rodando a bola em busca de espaços, acabava mandando cruzamentos para a área. A bola chegou para Zuber, que arriscou de longe mas mandou por cima. Cinco minutos mais tarde, a primeira chance mais clara de uma jogada trabalhada. Dzemaili tabelou com Zuber, se apresentou na linha de fundo e devolveu, mas o camisa 14 encheu demais o pé, mandando por cima da baliza de Olsen.

Então, foi a vez de a Suécia criar chances. A primeira, meio que ao acaso. Forsberg cobrou falta de longe em direção ao gol e Dzemaili, na barreira, fez um leve desvio de cabeça. Sommer já estava indo para o outro lado, mas, por sorte, a bola foi para fora. Pouco depois, mais uma clara possibilidade de colocar a bola na rede inacreditavelmente desperdiçada. A bola foi recuperada no meio e Lustig foi acionado pela direita. Fez o cruzamento de primeira, de perna direita, a defesa bateu cabeça e deixou Ekdal completamente livre na segunda trave. O camisa 8, porém, tentou bater de primeira e pegou de canela, mandando muito longe. A Suíça teve a bola, a Suécia, as principais chances. O empate em 0 a 0 era esperado, com ambas as equipes falhando muito e deixando expostas suas principais debilidades técnicas.

O segundo tempo

Ao que tudo indica, o pessoal acordou no vestiário, lembrando que a partida era decisiva, um mata-mata de mundial. Então, ao menos, a pressão subiu. Ainda assim, os erros de tomada de decisão e de conclusão de jogadas aconteciam aos montes. A Suécia chegou apenas uma vez nos primeiros dez minutos. Forsberg iniciou a jogada, que foi para dentro da área. Depois da escorada de peito, Ola Toivonen tentou o arremate de primeira mandando por cima. Além disso, a Suíça tentou mandar os Blãgult para dentro do próprio campo. Adiantou a marcação, começou a trocar mais passes, e, numa série de escanteios para a área, colocou a defesa adversária em dificuldades.

No entanto, a qualidade técnica seguia baixa, e o futebol apresentado maltratava a bola. Até que um camisa 10 apareceu para resolver. E foi Forsberg quem chamou a responsabilidade. Ele abriu com Toivonen e recebeu de volta pelo meio. Se livrou do marcador na velocidade e arriscou o chute. Sommer se abaixou para encaixar, mas Akanji desviou no meio do caminho e matou qualquer chance de defesa do arqueiro.

Aí, como havia pouca alternativa de entrar nas duas áreas e as equipes abusavam dos cruzamentos, os chutes de longe eram o recurso. E foi uma chance para cada lado. Primeiro, Ekdal se livrou de Xhaka e mandou por cima. Pouco depois, Rodríguez, melhor jogador dos suíços, testou Olsen de pé trocado e o goleiro caiu para encaixar. Então, o técnico suíço fez suas alterações: tirou Zuber e Dzemaili, mandando a campo Breel Embolo aberto pela ponta para explorar a péssima partida de Lustig, e Haris Seferovic para melhorar suas opções pelo alto.

O fim do jogo se aproximava e a Suíça ia com tudo para frente, mudando seu esquema e espelhando os adversários — Embolo e Shaqiri pelas pontas e Drmic e Seferovic à frente. Tentava os arremates mas era travada pela muralha amarela na frente do gol. E quando a bola passou, com Embolo superando a marcação e mandando de cabeça no cantinho, Forsberg estava em cima da linha para impedir o gol.

Já nos acréscimos, foi a vez de Olsen salvar a pátria sueca. No cruzamento para a área, a Suíça vinha com o que podia. Seferovic subiu de cabeça e superou a marcação de Lindelof. O desvio ia para o canto, mas o arqueiro nórdico caiu para ficar com a bola. E todas as outras tentativas de cruzamento para a área foram bloqueadas. Em uma dessas intervenções, já no fim dos acréscimos, a Suécia saiu em contra-ataque com Olsson, que havia acabado de entrar. O árbitro Damir Skomina assinalou o pênalti, mas o camisa 5 da Suécia foi deslocado por Lang à altura da meia-lua. Com o apoio do VAR, a falta foi assinalada, e Sommer ficou com a bola. No entanto, não havia tempo para mais nada.

O cara da partida

Emil Forsberg. Tudo bem, se não fosse o desvio da zaga, o camisa 10 Sueco não teria feito o gol que mandou seu time às oitavas. Mas vale ressaltar: é ele quem faz o jogo rodar com mais qualidade, sendo o jogador com mais lucidez do sistema ofensivo nórdico. Hoje não foi diferente: criou boas oportunidades, deixou o seu e ainda salvou uma bola em cima da linha, depois do desvio de cabeça. Não havia como ser outro nome.

Emil Forsberg, o camisa 10 da Suécia, foi decisivo: salvou um gol em cima da linha e foi decisivo (Reuters)

O caminho das seleções: a queda e o próximo passo

Suécia

Os selecionados de Janne Andersson surpreenderam na fase de grupos. Com a força coletiva como principal arma, ficaram com o primeiro lugar do Grupo F, no qual, antes do início do mundial, pareciam disputar a vaga apenas contra os mexicanos, já conformados de que a Alemanha se classificaria em primeiro. No entanto, os germânicos fizeram uma Copa de baixo nível. Assim, a Suécia estreou contra a Coreia do Sul e obteve a vitória de maneira pragmática. Depois, suportou a Alemanha até o minuto final, quando Toni Kroos conseguiu o improvável e marcou o gol que decretou a derrota dos nórdicos. Na rodada final, a melhor apresentação do time, com os 3 a 0 diante do México, que selaram a classificação.

Suíça

O Nati caiu em um grupo complicado. No papel, o Brasil era o único com mais tarimba em seu grupo. E justamente foi a canarinho a adversária da estreia. O empate em 1 a 1 foi motivo de comemoração, quando os alvirrubros impuseram dificuldades aos comandados de Tite. Vladimir Petkovic então contou com a força de Xhaka e Shaqiri para derrubar a principal pedra no sapato, com quem concorria para passar de fase: a Sérvia. E a vitória veio no sufoco. Já na rodada final, o empate com os costarriquenhos garantiu a passagem para as oitavas.

A fase de grupos passou, e a Suíça caiu na realidade, sucumbindo à Suécia (Getty Images)

O embate

No duelo das oitavas, um jogo duro. Ambas as equipes fazem prevalecer as características físicas, e o pragmatismo é o que dá o tom. A vitória da Suécia aponta para a sua força coletiva que, até o momento, vem superando as dificuldades ofensivas. Se Forsberg é a principal esperança de mais qualidade, Granqvist é o suporte defensivo e Berg a fonte de ameaças, segue em frente apostando no seu estilo. Certamente terá mais problemas que contra a Suíça, qualquer que seja o adversário. Já a Suíça cai com alguns bons valores, como Xhaka e Shaqiri, Sommer como um arqueiro seguro e a experiência que deve perder espaço para o próximo ciclo, com Stephan Lichtsteiner como um dos marcos. Pecou pela falta de repertório para furar a eficiência defensiva dos adversários e precisa esperar por dias melhores num próximo mundial.

Marcus Berg vem sendo importante na frente: agora, nas quartas, pode ser um trunfo (Getty Images)

Como fica o chaveamento

A Suécia passa às quartas para encarar o vencedor de Colômbia x Inglaterra no próximo sábado (Fifa.com)

Ficha técnica

Suécia 1 x 0 Suíça

Local: Estádio de São Petersburgo, em São Petersburgo
Árbitro: Damir Skomina (Eslovênia)
Gols: Emil Forsberg (SUE)
Cartões amarelos: Mikael Lustig (SUE); Valon Behrami e Granit Xhaka (SUI)
Cartão vermelho: Michael Lang (SUI)

Suécia: Robin Olsen; Mikael Lustig (Emil Krafth), Victor Lindelöf, Andreas Granqvist e Ludwig Augustinsson; Viktor Claesson, Gustav Svensson, Albin Ekdal e Emil Forsberg (Martin Olsson); Ola Toivonen e Marcus Berg (Isaac Thelin). Técnico: Janne Andersson

Suíça: Yann Sommer; Michael Lang, Johan Djourou, Manuel Akanji e Ricardo Rodríguez; Valon Behrami, Granit Xhaka, Xherdan Shaqiri, Steven Zuber (Breel Embolo) e Blerim Dzemaili (Haris Seferovic); Josip Drmic. Técnico: Vladimir Petkovic

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