Controle e defesa forte: Em busca de mais uma estrela no peito, a França está na final da Copa pela terceira vez

Luiz Henrique Zart
Popytka
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17 min readJul 11, 2018
O camisa 5 Samuel Umtiti foi seguro atrás e resolveu no ataque, anotando o gol da classificação (Getty Images)

A França terá a oportunidade de marcar a segunda estrela no peito. Isso porque, pela terceira vez na sua história, está em uma final de Copa do Mundo. Em São Petersburgo, os Bleus fizeram um duelo franco com a Bélgica na primeira etapa e marcaram o gol da vitória logo no começo da segunda etapa, na cabeçada de Samuel Umtiti. Depois, souberam controlar a partida e anular o que a Bélgica tentava. Se na Rússia nem sempre foi brilhante, hoje atuou bem coletivamente e com seus principais jogadores se destacando, principalmente no meio de campo. A França controlou a partida quando precisou e, assim, venceu. E se usar todo o talento que tem com o nível de concentração alcançado hoje, certamente fará jogo duro contra Croácia ou Inglaterra, que decidem amanhã, em Moscou, a última vaga à decisão. A final será capital russa, às 12h de domingo, no Estádio Lujniki. E a decisão do terceiro lugar ocorre um dia antes, às 11h, em São Petersburgo.

Os times

Do lado francês, o técnico Didier Deschamps manteve o mesmo esquema tático utilizado tanto na fase de grupos quanto nas vitórias sobre dois bicampeões mundiais: a Argentina de Lionel Messi e o Uruguai de Luis Suárez, com um 4–2–3–1. Fez apenas uma alteração, preterindo Corentin Tolisso e retornando com Blaisè Matuidi. Ademais, Hugo Lloris era mantido no gol, com Benjamin Pavard e Lucas Hernández, de Copa extremamente regular mesmo que improvisados pelas laterais, e Samuel Umtiti e Raphaël Varane pelo miolo. Na faixa central, um pouco mais atrás, o dínamo N’golo Kanté percorria o campo todo, liberando Paul Pogba para chegar com mais força ao ataque, sem deixar de contribuir na recomposição. Com Matuidi pela esquerda do ataque, do outro lado estava Kylian Mbappé, de atuações exuberantes na fase de mata-mata. Deixava, então, Antoine Griezmann livre para ser responsável pela criação e flutuar se apoiando de Olivier Giroud, centralizado como referência.

Sem o ala Meunier, Roberto Martínez escolheu o meio-campista Moussa Dembélé para começar a partida. Assim, era Chadli que ocupava o lado do campo, como lateral, sem a bola, formando um 4–3–3. Jan Vertonghen, portanto, ocuparia a lateral direita, acompanhado de Vincent Kompany e Toby Alderweireld na defesa. Na escalação da Fifa, Kevin De Bruyne aparecia pela esquerda no meio de campo, mas, na verdade, estava avançado pela direita. Enquanto isso, Axel Witsel ocupava a faixa central, junto a Moussa Dembélé e Marouane Fellaini, para liberar os atacantes. Hazard, como de costume, caía pela esquerda, com Lukaku centralizado — diferente da estratégia usada diante do Brasil.

O campinho de França x Bélgica (Fifa.com)

O jogo

A bola havia começado a rolar segundos antes e Kylian Mbappé já roubava a bola e arrancava pela direita do ataque francês. Mas a porta estaria fechava, porque a Bélgica se resguardava um pouco mais sem a bola, posicionando Alderweireld e Chadli pelos lados de campo, bloqueando as investidas de Matuidi e do camisa 10 dos Bleus. No princípio da partida, o quadro foi este: os franceses tentando tomar a iniciativa e acelerar o jogo, parando na recomposição defensiva dos azuis.

Sem a bola, cada seleção se voltava com todos os seus jogadores ao campo de defesa. Com a redonda, os franceses se posicionavam com dois volantes e três meias na faixa central, enquanto os belgas mantinham os três zagueiros, com o apoio de seis jogadores pelo meio e apenas Lukaku mais à frente. E a ponta direita do ataque belga parecia ser o ponto a ser explorado, principalmente com Hazard e De Bruyne juntos em cima de Pavard. Foi assim que, com o camisa 10 vermelho, primeiro, ameaçou mesmo com um cruzamento, que Umtiti quase mandou contra o próprio gol.

A França respondeu com uma bola longa, com Mbappé fazendo o mesmo que fez diante da Argentina, se infiltrando entre os zagueiros e apostando na velocidade. Assim, o atacante do PSG recebeu belo lançamento de Pogba e por pouco não chegou antes de Courtois, que reagiu bem para ficar com a bola. Depois disso, a insistência da Bélgica foi colocando os Bleus mais atrás. A pressão na defesa se mostrava importante para impedir a saída de bola com mais qualidade do campo de defesa, e também um recurso útil. De Bruyne se antecipou à defesa, roubou a bola e tabelou com Hazard, do lado esquerdo. O camisa 10 ajeitou o corpo e mandou um chute rasteiro, cruzado, à esquerda de Lloris, com perigo. Três minutos mais tarde, se os franceses não conseguiam entrar na área, tentavam arriscar de longe. Matuidi levou pouco tempo para se aprontar bater firme para o gol, para boa defesa de Courtois.

E o jogo era lá e cá, mas a Bélgica era mais contundente. Primeiro, Hazard apareceu bem novamente pela ponta esquerda e bateu. A bola tinha endereço, mas Fellaini estava na área para tentar de casquinha. Quem antecipou na marcação e mandou para escanteio foi o zagueiro Varane. Lloris se esticou e interveio bem para mandar pela linha de fundo. Era uma tentativa de risco. Pouco depois, após cruzamento para a área, Umtiti afastou parcialmente e Alderweireld ficou com a sobra. O camisa 2 então girou sobre a marcação e soltou o sapato. A bola tinha endereço e Lloris precisou de muito reflexo e fez uma defesa monumental para impedir que a redonda atingisse seu ângulo.

Nos primeiros 25 minutos era perceptível que a França tinha mais problemas. O ataque belga se sobressaía, enquanto a defesa não tinha tantas dificuldades para fechar os espaços. Então, depois dos 30, os Bleus começaram a ameaçar. Primeiro em cobrança de falta ensaiada entre Griezmann e Pavard, que mandou para a área. Giroud veio de costas e conseguiu o desvio, mandando com algum perigo, mas para fora. Pouco tempo depois, o centroavante voltou a ser acionado, em boa jogada de Mbappé que, com rara liberdade, cruzou rasteiro, sem que o camisa 9 finalizasse.

E a França realmente começou a encontrar brechas no fim da primeira etapa. Aos 32, Hernández deu bom passe para Griezmann dentro da área. O atacante do Atlético de Madrid se posicionou e bateu por cima. E as oportunidades apareciam uma atrás da outra: aos 39, Pavard deu o passe para Mbappé pela direita e se apresentou fazendo a ultrapassagem pelo meio. Recebeu de volta e nem dominou: já perto da linha de fundo, bateu de pé direito, firme e cruzado. Porém, Courtois fechou o ângulo e fez uma defesa providencial com a perna. Para fechar o primeiro tempo, De Bruyne conseguiu o cruzamento à meia altura e Umtiti furou. Lukaku estava atrás, mas não esperava pela falha do defensor, e a bola o pegou de surpresa antes de se perder pela linha de fundo. No 0 a 0 os primeiros minutos foram favoráveis aos Diabos Vermelhos, enquanto nos 20 minutos finais foi a França quem mais incomodou — com bem mais tentativas a gol, vale dizer.

O segundo tempo

E se o ritmo começou um tanto mais lento na segunda etapa, a França fez questão de imprimir novamente o seu domínio. E, logo aos cinco, ameaçou, com Giroud conseguindo o giro e batendo travado. O escanteio cobrado por Griezmann pela direita foi na primeira trave. Umtiti se desprendeu da marcação de Alderweireld, que não acompanhou. O camisa 5 se antecipou a Fellaini e tocou de cabeça sem chances para Courtois. O placar estava aberto, e era para o lado francês. Como contra o Uruguai, um zagueiro deixava o seu de cabeça. Contra os charruas foi Varane.

O jogo aéreo não foi problema: a França superou a Bélgica em um dos seus pontos fortes (Getty Images)

O jogo ficou mais pegado depois do 1 a 0. A Bélgica pareceu sentir o gol. Quando precisava sair para buscar o ataque, levou outro susto. A França veio pela esquerda e Mbappé, cercado, recebeu de costas. Tirou um coelho da cartola e deu um passe descomunal: ajeitando de pé direito e passando de esquerda, de calcanhar, para Giroud. O centroavante ajeitou, e quando tentou o arremate de pé esquerdo foi travado de maneira importante por Dembélé.

Justamente o camisa 19 deixou o campo, com Martínez abrindo mão de um marcador, para colocar Dries Mertens e aumentar seu poder ofensivo. Assim, De Bruyne foi recuado para fazer a saída de bola, deixando o camisa 14 na ponta. Dez minutos depois do gol, os comandados de Martínez tentavam se recompor e criar força para chegar à frente. Aos 19, De Bruyne encontrou a brecha e acionou Mertens. Ele mandou para a área procurando Fellaini. Ele superou a marcação, mas mandou para fora. E esta era a arma belga. Enquanto a França se posicionava atrás, com Lloris sendo forçado a sair do gol para afastar por diversas vezes, os Diabos Vermelhos insistiam nas jogadas aéreas.

Os minutos passavam e a França tinha um comportamento defensivo bastante correto. Não deixava espaços, e quando os Belgas tinham a oportunidade, ou se equivocavam na hora do passe ou batiam mal colocados e mandavam longe. Mesmo Kevin De Bruyne estava em uma noite apagada. E assim o jogo foi ficando picado, com os comandados de Deschamps apostando suas fichas na qualidade de Griezmann e, especialmente, nas arrancadas fulminantes de seu camisa 10.

Aos 34, o juiz Andrés Cunha deixou de marcar uma falta clara em Hazard, na entrada da área, e recebeu uma vaia gigante do estádio. Enquanto isso, Martínez trocava suas peças, jogando o time ao ataque. O técnico tirou Fellaini e mandou Yannick Ferreira Carrasco ao gramado para explorar as alas, já que ele é mais ponta do que lateral. Assim, Hazard começou a chamar o jogo. Conseguiu limpar a marcação, trombou com Matuidi e a bola sobrou para Witsel. O volante bateu de fora da área e Lloris apareceu mais uma vez para salvar os Bleus.

Fellaini percebeu seu erro — e está marcado na fisionomia e na mea culpa depois do gol (Getty Images)

Há tempos segurando o jogo e assistindo aos erros da Bélgica, a França se fechou também com suas alterações. Deschamps tirou Giroud, que errou demais para uma partida decisiva, e também Matuidi, mandando a campo o volante Steven N’zonzi e Corentin Tolisso. Já nos acréscimos, Martínez, desesperado, tirou Chadli e colocou Michy Batshuayi, mas a Bélgica não conseguia furar a retranca, sentindo o gosto que impôs ao Brasil na sexta-feira. Griezmann ainda teve a chance de marcar o gol que selaria de vez a classificação, mas, dentro da área, bateu fraquinho e Courtois caiu bem para ficar com a bola.

Já no finzinho dos acréscimos, Tolisso foi acionado pela esquerda e bateu de primeira, cruzado. Courtois pegou com a pontinha dos dedos. E a França foi inteligente, prendeu o jogo e esperou o tempo escorrer até a classificação à Final da Copa do Mundo pela terceira vez. Até hoje, uma vitória, diante do Brasil em 1998, e uma derrota, para a Itália em 2006. Agora, a chance de desempatar. Basta saber se será contra a Croácia ou a Inglaterra.

Além disso, com a ida à final, Didier Deschamps tem a chance de alcançar uma marca histórica e se tornar o terceiro homem a ganhar o mundial como técnico e como jogador. Por enquanto, só alcançaram essa honra o brasileiro Jorge Mario Lobo Zagallo (1958/1962 como jogador e 1970 como técnico) e o alemão Franz Beckenbauer (1974 como jogador e 1990 como treinador).

O cara da partida

Hugo Lloris. Umtiti pode ter marcado o imprescindível gol da classificação, mas o time todo da França fez uma partida gigantesca. Em todos os setores. O arqueiro foi bem quando exigido e impediu que a Bélgica tomasse a frente do marcador quando estava bem. Isso se mostrou importante para assegurar estabilidade ao time de Deschamps. Agora, é mais uma partida.

O arqueiro dos Bleus fez uma partida digna de guardar na memória: fechou o gol (Getty Images)

O caminho das seleções: a queda e o próximo passo

França

Os Bleus fizeram uma primeira fase bem discreta. Não pareciam ter demonstrado todo o seu potencial, afinal de contas. Derrotaram a Austrália em um jogo apertado, dependendo de um pênalti bem batido por Griezmann. Na partida seguinte, a vitória magra contra o Peru foi a demonstração de que os europeus, quando querem, põem em campo seus predicados. Conseguiram a vitória com alguns minutos de bola. Já classificada na partida final, a França fez várias alterações, e participou de um jogo fraquíssimo com a Dinamarca, e o empate soou bem para todos. Parecia estar mesmo se poupando.

Nas oitavas, não tinha a posse de bola no começo, mas ainda assim era bem mais incisiva e perigosa. Criava mais chances até que abriu o placar com a penalidade máxima. Sofreu o baque, sentindo os gols da virada Albiceleste, mas conseguiu por a bola no chão e desempenhar, finalmente, o que é capaz. Precisou de apenas 11 minutos para mandar três bolas às redes de Armani. A França segue em frente na Copa com algumas falhas coletivas a serem consertadas. Foi melhor e mereceu a vaga, por parecer mais com um time. É premiada por conseguir distribuir essas capacidades entre seu escrete. Nesta partida, por exemplo, fez mais gols que na primeira fase toda, quando assinalou três tentos.

A França contou com um Uruguai sem um de seus principais jogadores para as quartas de final: Edinson Cavani. O adversário, então, se viu refém da falta de criatividade e excesso de pilha. Começou o jogo tentando dar um ritmo elétrico, mas arrefeceu pouco tempo depois, se fechando. Com a bola, o time de Didier Deschamps ia atrás das difíceis brechas charruas, mas encontrou justamente numa falha de marcação de bola aérea, um dos reconhecidos melhores fundamentos dos sul-americanos. Stuani, o substituto, sobrou para cortar o lançamento para a área, mas foi mais lento que Varane. O francês testou para as redes e deixou a partida ainda mais confortável à França, que já era melhor tecnicamente. O golpe de misericórdia veio na falha clamorosa de Muslera. O vacilo das mãos do camisa 1 enterrou o sonho do tricampeonato uruguaio e deu a certeza da sequência dos Bleus em busca da segunda estrela no peito. A França já havia jogado o suficiente, mas grande mostra a ser dada diante dos Belgas seria justamente uma aparição coletiva, em que os comandados de Deschamps se posicionassem como um time, para superar a dificuldade imposta pelos Diabos Vermelhos.

Bélgica

Todas as apresentações Belgas foram cercadas de expectativas. Mas o certo é que, durante a fase de Grupos, a equipe de Martínez não teve grandes testes. Afinal, as primeiras duas partidas não tinham adversários à altura — e, se a rodada final reservava um confronto mais pesado, não houve muita competitividade. O Panamá, estreante em Copas do Mundo, foi o primeiro degrau, superado com a boa atuação de Hazard e De Bruyne, além do doblete de Lukaku nos 3 a 0. Já na segunda partida, diante dos tunisianos, o centroavante e o camisa 10 brilharam mais uma vez e, mesmo com um time mais qualificado pela frente e algumas falhas defensivas, outra goleada: 5 a 2.Contra a Inglaterra, o que poderia ser um jogo de mais opções foi minado pela escolha dos técnicos de poupar titulares, em um 1 a 0 bem mais ou menos. Mas teve a melhor campanha geral da fase de grupos.

Contra o Japão, nas oitavas, sofreu marcação alta nos primeiros 45 minutos. Já na etapa final, os nipônicos fizeram sete minutos incríveis e abriram 2 a 0. O grande problema foi que com o passar do tempo, tomaram conta do jogo. Na primeira etapa, o jogo sem gols foi completamente diferente do ânimo do final. A Bélgica pareceu sentir o golpe, mas, depois que a situação se assentou, o time de Martínez foi para a pressão. Conseguiu um gol meio sem querer de cabeça com Vertonghen e outro, de propósito, com Fellaini, entre as boas defesas de Kawashima. No final, a ingenuidade japonesa pesou. Com jogadores bem mais baixos na área, Honda tentou cruzar e deu a oportunidade para o ataque belga pegar a defesa japonesa desmontada e atacar os espaços para sair com a virada no último lance.

Nas quartas, o Brasil foi a vítima da linha de frente dos Diabos Vermelhos. Martínez deu um nó em Tite — que demorou a ter uma leitura apropriada da partida e corrigir seus erros e voltar logo ao jogo — deslocando Lukaku para a ponta e fazendo De Bruyne flutuar mais à frente, abrindo espaços junto de Hazard, que cadenciou o jogo, ordenou e regeu o time, típico de uma grande atuação de um camisa 10. A entrada de Fellaini deu a sustentação defensiva para, se não anular, ao menos diminuir o poder de fogo dos principais jogadores brasileiros — que quando criaram, tiveram os tentos negados pelo gigante sob a trave belga. Assim, se apropriou das falhas do jogo brasileiro.

A Bélgica, então, passou no grande teste até então, e veio com moral para enfrentar a França. Derrotou e mandou para casa a seleção que tem mais títulos mundiais com boas atuações e participações clamorosas de suas principais peças, que já há tempos demonstram suas capacidades nas maiores ligas do mundo. Foi extremamente coerente e eficiente na sua proposta de jogo, atacando as feridas e os pontos fracos do Brasil, especialmente a faixa central de campo, onde a desordem era maior. Foi um time agressivo, vertical, direto e objetivo. O desafio era igualmente complexo: para se provar, teria a França pela frente. Supera seus traumas, após não estar presente na Copa de 2010 nem na Eurocopa de 2012, sendo eliminada no mundial seguinte e despachada surpreendentemente contra País de Gales em 2016. Depois de superar os pentacampeões, deve marcar este jogo na história e seguir em frente com mais prestígio que o título por muitas vezes ironizado lhe confere. Teve a reafirmação de seus craques de linha — com Hazard, De Bruyne e Lukaku jogando o fino da bola, e mesmo o contestado Fellaini conseguindo anular as principais armas ofensivas no duelo contra o Brasil. Também Courtois, teve uma atuação exuberante, com nove defesas, a maior parte de grande exigência técnica.

O embate

A Bélgica até assustou, especialmente na primeira etapa, quando o jogo fluía e era aberto. Conseguiu criar boas chances e se apresentou melhor, criando oportunidades salvas pela ótima partida de Hugo Lloris. Apesar disso, a França soube aproveitar a volta do intervalo para usar uma das marcas dessa Copa do Mundo: a bola parada. Curiosamente uma das armas tanto na defesa quanto no ataque belga, esse foi o veneno, com Umtiti se antecipando a Fellaini, uma das pilastras de Roberto Martínez. Os Diabos Vermelhos saíram atrás pela segunda vez nos mata-matas, mas, diferentemente do duelo diante do Japão, não atuaram em um nível tão alto, e também enfrentaram um adversário muito mais qualificado e experiente em grandes competições. Depois do gol, o mérito defensivo foi todo do time de Didier Deschamps, que conseguiu anular as potencialidades belgas. Conseguiria ampliar o placar não fosse mais uma atuação importantíssima de Courtois, que pouco pode fazer no lance do gol.

Além disso, contou com participações mais precisas de Pogba — que foi dono do setor de meio — e Matuidi — um dos elementos-chave ao equilíbrio e as variações e possibilidades de transição entre defesa e ataque dos Bleus — na faixa central, dando ritmo ao jogo quando sustentados — e sempre — pelo motor chamado N’golo Kanté. O volante esteve em todos os cantos do campo e fez uma partida de manual. No ataque, enquanto Giroud fez um jogo bem abaixo da crítica, Mbappé fez fumaça do lado direito e Griezmann foi o mais lúcido dos jogadores de frente: participou, principalmente, na construção das jogadas, mas também se dedicou a marcar quando necessário. Sobre a defesa: Lloris fez uma partida monstruosa, enquanto Varane e Umtiti deram conta de Lukaku, que pouco pegou na bola ou ameaçou. Pavard e Hernández foram bem justamente porque não comprometeram.

Kylian Mbappé não foi tão brilhante como das outras vezes, mas ainda assim incomodou (Getty Images)

Já a Bélgica, que arriscou nos primeiros 45 minutos, não reagiu bem ao sair atrás no marcador. Contra o Brasil, viveu um quadro completamente oposto, com a pressão caindo toda para o lado adversário. Também na partida diante do time de Tite, as mudanças funcionaram, e houve um buraco na defesa da Seleção que foi muito bem explorado. Contra a França isso não aconteceu. Quando a jogada levava perigo, os Bleus paravam o jogo com falta, esfriavam a partida e logo retomavam o domínio das ações. Individualmente falando, a defesa falhou no momento do gol, tanto com Alderweireld, que não acompanhou na marcação, quanto com Fellaini, mal posicionado. Courtois fez sua parte e pegou muito, como de costume. Já no meio tanto o camisa 8 quanto Chadli, Witsel e De Bruyne estiveram num dia bastante ruim. O camisa 7 errou muito mais que de costume, mesmo em lances simples, afetado pelo nervosismo e pelo peso da partida. Assim, Lukaku não conseguiu ser abastecido. O único que teve mais destaque foi Hazard, aparecendo em alguns lances e sempre buscando o jogo, mas muito bem marcado. A queda de produção dos Diabos Vermelhos na segunda etapa impediu qualquer tipo de reação.

Aos Belgas, havia o anseio de disputar uma final de Copa do Mundo pela primeira vez na história, mas não foi desta vez. O time se apresentou bem na fase de Grupos, estraçalhando adversários mais frágeis. Sofreu diante do Japão e fez sua melhor partida contra o Brasil até a queda. Tem um time que já não é mais promissor como o apelido aponta, porque parte dos jogadores já estão no meio da carreira, em um auge físico e em ótima fase em seus clubes. Por isso, o ânimo da Bélgica para o próximo ciclo não deve se perder. Talvez com um pouco mais de experiência alguns nomes deixem o plantel no meio do caminho, assim como surjam oportunidades para outros. Hazard e De Bruyne, dois principais valores técnicos da equipe, estarão, em 2022, com 31 anos, ainda com boas possibilidades de disputa, assim como Batshayi, que chegará ao próximo mundial com 28 anos. A ver como se desenvolve o processo de renovação.

Eden Hazard foi quem mais buscou jogo em dia apagado de seus companheiros de ataque (Getty Images)

Por outro lado, a França revive um sonho. O retrospecto dos últimos 20 anos é de oscilação: Conquistou o seu título em casa (1998), caiu duas vezes na fase de grupos (2002 e 2010), esteve por uma vez nas quartas (2014) e foi finalista pela última vez em 2006, quando caiu diante dos italianos. Nas últimas seis Copas disputadas entre 32 seleções, os Bleus foram o único esquadrão que esteve em três finais. Conta, agora, com uma geração que já vem com espaço no futebol europeu há bastante tempo em grandes clubes.

Lloris é titular no Tottenham, enquanto a dupla de zaga é praticamente incontestável na dupla de rivais Real Madrid e Barcelona. Nas laterais, mesmo no improviso, Pavard e Hernández tem tido atuações consistentes. Posta a prova também é a participação de Kanté, imprescindível em dois títulos ingleses, um pelo Leicester e outro pelo Chelsea. É o encaixe perfeito da saída de bola com a marcação implacável. Pogba sugiu como uma estrela na Juventus e foi a peso de ouro ao United, onde é irregular. Tem feito uma Copa interessante, assim como o já tarimbado Matuidi. Na frente, o frescor de Griezmann e a juventude, velocidade e ousadia de Mbappé prometem render frutos ainda por um bom tempo. O único do elenco dito titular de jogos sem gols e de atuações muito discretas foi Giroud. Mas atacante na França é o que não falta, nem para o mundial do Catar. Agora, um último passo a ser dado para a consagração.

Como fica o chaveamento

A França garantiu seu lugar na final derrubando gigantes; resta saber quem a enfrenta (Fifa.com)

Ficha Técnica

França 1 x 0 Bélgica

Local: Estádio de São Petersburgo, em São Petersburgo

Árbitro: Andrés Cunha (Uuruguai)

Gols: Samuel Umtiti (FRA)

Cartões amarelos: Eden Hazard, Toby Alderweireld e Jan Vertonghen (BEL); Kylian Mbappé e N’Golo Kanté (FRA)

França: Hugo Lloris; Benjamin Pavard, Samuel Umtiti, Raphaël Varane e Lucas Hernández; N’Golo Kanté, Paul Pogba e Blaise Matuidi (Correntin Tolisso); Kylian Mbappé, Antoine Griezmann e Olivier Giroud (Steven N’Zonzi). Técnico: Didier Deschamps

Bélgica: Thibaut Courtois; Toby Alderweireld, Vincent Kompany e Jan Vertonghen; Nacer Chadli (Michy Batshuayi), Mousa Dembélé (Dries Mertens), Axel Witsel e Marouane Fellaini (Yannick Ferreira-Carrasco); Kevin de Bruyne, Eden Hazard e Romelu Lukaku. Técnico: Roberto Martínez

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