“It’s coming home”? Pickford faz partida incrível e Inglaterra vai à semifinal pela primeira vez desde 1990

Luiz Henrique Zart
Popytka
Published in
10 min readJul 7, 2018
Depois de garantir a classificação pegando pênalti, Pickford foi extraordinário nas quartas (Getty Images)

“It’s coming home”, diziam os torcedores ingleses, mais em tom de chacota. Agora, o sonho parece estar um tanto mais próximo. Na Arena Samara, os Three Lions se comportaram bem tanto no ataque quanto na defesa e impuseram seu jogo contra a coletividade da Suécia, Sofreram alguns sustos e também desperdiçaram diversas oportunidades de ampliar o placar, mas atuaram com segurança para fazer o 2 a 0 — na melhor partida do time de Gareth Southgate neste mundial. Mais que isso, a Inglaterra contou com uma atuação brilhante do goleiro Jordan Pickford, essencial em ao menos três momentos, impedindo os tentos escandinavos. Assim, o English Team vai às semifinais pela primeira vez desde a Copa da Itália, em 1990. Na quarta, encara o ganhador da partida entre Rússia e Croácia, para, quem sabe, dar um passo a mais em busca da segunda estrela no peito. “It’s coming home”? Quem sabe.

Os times

O treinador Janne Andersson mantinha a mesma estrutura tática que lhe conferiu a classificação, bem como a passagem às quartas, o 4–4–2, com duas linhas. Robin Olsen, de boa atuação na partida anterior, seguia no gol, com Ludwig Augustinsson pela esquerda, acompanhado do promissor Viktor Lindelof e do capitão e veterano Andreas Granqvist no miolo da defesa. Na lateral direita, a novidade era Emil Krafth, na vaga do suspenso Lustig. Sebastian Larson voltava à faixa mais defensiva do meio de campo, ao lado de Albin Ekdal. Viktor Claesson e Emil Forsberg jogavam abertos no meio de campo, recompondo na defesa sem a bola e sendo os responsáveis pelas principais armas de criação dos suecos. À frente, a dupla forte e alta formada por Marcus Berg e Ola Toivonen.

Já Gareth Southgate também tinha suas convicções, seguindo com o esquema formado por três defensores e dois alas atrás. Os jogadores eram exatamente os mesmos que derrotaram a Colômbia em um jogo dramático que só acabou após as cobranças de pênalti. O herói Jordan Pickford repetia a atuação à meta, com Harry Maguire, John Stones e Kyle Walker à sua frente. Os alas, Ashley Young e Kieran Trippier, apoiavam quando os Three Lions tinham a bola. Sem ela, por outro lado, voltavam para formar uma linha de cinco atrás. No setor central, Jordan Henderson apareceu centralizado, com papel mais defensivo, segurando a barra para que Dele Alli e Jesse Lingard fossem liberados para criar no campo de ataque. Isso porque precisariam abastecer com movimentação Raheem Sterling, atuando da mesma forma, mas mais próxima do artilheiro da Copa, Harry Kane.

O campinho de Suécia x Inglaterra (Fifa.com)

O jogo

A Suécia vinha a campo com a mesma postura que a trouxe até as quartas de final. A segurança atrás, com o jogo coletivo, foram o sentido do princípio do jogo para a seleção de Janne Andersson. A Inglaterra tinha o domínio da bola, mas encontrava uma equipe que ocupava muito bem os espaços se distribuindo de forma a deixar todos os adversários marcados. Os ingleses tentavam a jogada aérea, enquanto os Suecos respiravam apenas nos contra-ataques. Nos primeiros minutos, prevaleceram estas disputas. As chances iniciais surgiram de equívocos individuais. Primeiro, Krafth tentou sair jogando e Dele Alli roubou a bola, lançando Harry Kane pelo meio da área, mas com muita força. Já a Suécia respondeu em uma bola mal afastada pelos defensores ingleses, que Claesson aproveitou para soltar o pé de fora, mandando por cima da baliza de Pickford.

Depois dos 20 minutos, as posições dos times ficaram mais claras. Sterling ficava em cima de Granqvist, para tentar superar o veterano no um contra um, enquanto a ala direita era o principal espaço explorado pelos Three Lions. Mas não foi exatamente desta forma que a Inglaterra abriu o placar. O recurso foi o bom e velho jogo aéreo aos 30 minutos. Ashley Young cobrou escanteio aberto e encontrou Harry Maguire pelo meio da área. Marcado por Forsberg, conseguiu cabecear forte, sem oportunidade de defesa para Olsen. Mais um gol que surgiu da bola parada.

A Suécia, por sua vez, demonstrava uma das principais dificuldades do seu caminho até as quartas: a saída de bola. Com os ingleses apertando um pouco mais a saída, e Dele Alli e Sterling pressionando, os Blãgult não conseguiam dar sequência em seus lances, nem com Forsberg vindo buscar a bola atrás. Assim, a Inglaterra começou a empilhar chances, principalmente colocando Sterling em disparada em lançamentos atrás da zaga. Na primeira delas, o jogador do Manchester City recebeu cara a cara, mas perdeu, salvo pelo bandeirinha.

Depois, o camisa 10 — vindo de uma Copa bem ruim — superou a marcação em velocidade por mais de uma vez, até que teve sua oportunidade. Recebeu lançamento de Henderson e teve tempo para tentar driblar Olsen. O goleiro sueco deu um tapa e adiou a decisão do atacante. Ele poderia passar para Ali ou Kane, em melhores condições para arrematar, mas decidiu fazer tudo sozinho e bater sem ângulo, travado por Granqvist. Assim, a primeira etapa acabou mesmo no 1 a 0 para o time de Southgate.

Maguire comemora seu gol com Kane e Stones: mais um de cabeça da artilharia inglesa (Getty Images)

O segundo tempo

A Suécia começou os 45 minutos decisivos adiantando um pouco a marcação, mas usando o mesmo repertório. Na primeira oportunidade em que o jogo aéreo funcionou, a bola veio cruzada da esquerda e Berg ganhou de Young pelo alto. Cabeceou firme, procurando o canto baixo, mas Jordan Pickford fez uma defesaça e espalmou de mão esquerda a principal chance dos escandinavos. Mas foi só.

Depois, a Inglaterra voltou a amassar os Suecos. Com a bola na área e as jogadas pelos lados, a velocidade inglesa conseguia superar a marcação da muralha amarela. A pressão começou a surtir efeito aos 8 minutos, quando Young cruzou bem e encontrou Maguire na segunda trave. O zagueiro mandou de cabeça para o meio da área mas ninguém conseguiu o desvio. Até que, de tanto martelar, os Three Lions ampliaram o marcador. Rondando a área, Lingard recebeu de Trippier e cruzou na segunda trave, onde encontrou a cabeça de Dele Alli, já perto da segunda trave: 2 a 0.

Dele Alli, o camisa 20, deixou o seu numa fase decisiva e ajudou a Inglaterra a avançar (Getty Images)

A Suécia conseguia suas oportunidades à base das estocadas. Mas quando vinha, era com força. Aos 16, os Blãgult chegaram pela direita, e bateu rasteiro para o meio da área. Berg fez a parede e ajeitou para a chegada de Claesson, já dentro da área. O camisa 17 bateu à altura da marca do pênalti e Pickford teve muito reflexo. Foi fantástico em sua intervenção.

Aos 25, mais uma participação providencial do arqueiro inglês. John Guidetti, que substituiu Toivonen, caiu pela direita e cruzou para Berg. O centroavante perdeu a passada e passou da bola, mas conseguiu ajeitar o corpo para emendar uma paulada à queima-roupa. O goleiro do Everton teve poder de reação para espalmar o perigo por cima. Enquanto isso, a zaga sueca se segurava, e a Inglaterra já vinha com menos força à frente. Chegou bem em um cruzamento de Fabian Delph, que entrou na vaga de Dele Alli, mas a zaga cortou antes que a redonda chegasse a Sterling.

O time de Southgate foi premiado e não sofreu tanto por não reduzir o ritmo depois de marcar seus gols. Por mais que usasse jogadas semelhantes, foi efetivo. E contou com uma atuação brilhante de seu arqueiro, que fez ao menos três defesas providenciais.

O cara da partida

Jordan Pickford. A Inglaterra pode ter tido uma atuação segura no ataque e satisfatória na defesa. Mas quando o destaque é o goleiro, cabe ressaltar. Foi assim com o arqueiro inglês. Questionado mesmo na convocação à Copa, foi bancado pelo técnico e veio crescendo de produção. Foi responsável direto pela eliminação colombiana na fase passada, e hoje parou as bolas que chegaram com perigo à sua baliza. Depois de um longo tempo, os Three Lions parecem ter alguém de bom nível que não oscile tanto, mesmo com a concorrência de Nick Pope e Jack Butland — depois das passagem de Robinson, Green e Hart, todos contestados.

O camisa 1 do English Team voou e impediu tentos certos ao menos por três vezes (Michael Dalder/Reuters)

O caminho das seleções: a queda e o próximo passo

Suécia

Os selecionados de Janne Andersson surpreenderam na fase de grupos. Com a força coletiva como principal arma, ficaram com o primeiro lugar do Grupo F, no qual, antes do início do mundial, pareciam disputar a vaga apenas contra os mexicanos, já conformados de que a Alemanha se classificaria em primeiro. No entanto, os germânicos fizeram uma Copa de baixo nível. Assim, a Suécia estreou contra a Coreia do Sul e obteve a vitória de maneira pragmática. Depois, suportou a Alemanha até o minuto final, quando Toni Kroos conseguiu o improvável e marcou o gol que decretou a derrota dos nórdicos. Na rodada final, a melhor apresentação do time, com os 3 a 0 diante do México, que selaram a classificação.

Nas oitavas, a Suécia conseguiu impor seu jogo coletivo contra a Suíça, em um jogo em que a parede na defesa funcionou e o gol, achado, foi mais uma premiação do que propriamente um mérito ofensivo. O gol de Forsberg era a concretização de um jogo funcional, mas sabidamente limitado. Algo posto à prova contra uma seleção mais qualificada, como a Inglaterra.

A Suécia começou a desmoronar por uma de suas virtudes: o jogo aéreo (Getty Images)

Inglaterra

Já antes do sorteio, era possível perceber que a Inglaterra era franca favorita à classificação junto à Bélgica. Com muitos erros na estreia, ainda assim conseguiu superar os tunisianos por 2 a 1, graças ao faro artilheiro de Kane, indo às redes duas vezes. Passado este peso, atropelou o Panamá por 6 a 1, sem problemas. A questão era que faltavam testes de mais peso. Um deles poderia vir na rodada final, quando se disputou (ou não) o primeiro lugar. Tanto belgas quanto ingleses pouparam seus principais jogadores, com os Three Lions levando a pior. Ou nem tanto, já que pararam do lado que, julgavam, teoricamente mais fraco no chaveamento. Tudo isso em busca de uma estrela a mais sob o emblema, já que a única foi no distante ano de 1966.

O primeiro duelo de mata-mata do English Team serviu para afastar alguns fantasmas, especialmente o das disputas de pênalti. Isso porque o time de Southgate foi o responsável por vencer a primeira disputa do país — em três disputadas — contra a Colômbia. Antes disso, os ingleses abriram o placar e seguraram o jogo, sem contar com a aparição de Yerry Mina, que mandou de cabeça para as redes e estendeu a batalha à prorrogação. Lá, cada seleção teve um tempo à disposição, e a marca da cal decretou a passagem dos europeus, com participação fundamental de Jordan Pickford.

O embate

O duelo entre ingleses e suecos teria situações diferentes para ambas as seleções. A Suécia se apoiava em seu jogo de resguardo, competitividade e organização, que deu a ela a classificação. As possibilidades escandinavas de criação, porém, foram bastante restritas, o que favoreceu o adversário. O próximo ciclo já começou neste mundial, com a mescla entre experiência e jogadores que pedem passagem. Provavelmente, Granqvist seja um dos marcos que indiquem algumas trocas, como foi com Zlatan Ibrahimovic. Viktor Lindelof, buscando projeção no cenário europeu, representa o cenário oposto, e pode ser o carro chefe dos novos nomes suecos, assim como Emil Forsberg.

Já do lado inglês, há uma espécie de reformulação. Com todos os jogadores atuando no próprio país, a forma com que se trabalha a equipe ganha mais consistência com isso. Ao mesmo tempo em que o futebol dos Three Lions segue recorrendo a algumas características clássicas, como a bola parada, também ressurge com nomes jovens que vêm se destacando em seus clubes — como Lingard, Rashford e Sterling, além de Harry Kane, guardando as chances que aparecem. Há também o dedo de Southgate, que, aquém da condição de estar do lado teoricamente mais fraco da chave no mata-mata, tem um plano de jogo que, apesar das necessidades de adaptação, tem se bancado até aqui. Basta saber até onde vai no desafio seguinte, contra os anfitriões ou contra o forte time da Croácia.

Como fica o chaveamento

A Inglaterra está na semifinal e espera Rússia ou Croácia para fechar o chaveamento (Fifa.com)

Ficha Técnica

Suécia 0x2 Inglaterra

Local: Arena Samara, em Samara (Rússia)
Árbitro: Björn Kuipers (Holanda)
Gols: Maguire aos 30’/1T, Dele Alli aos 13’/2T (Inglaterra)
Cartões amarelos: John Guidetti aos 42’/2T, Sebastian Larsson aos 48’/2T (Suécia), Harry Maguire (Inglaterra)

Suécia

Robin Olsen; Emil Krafth (Pontus Jansson aos 40’/2T), Victor Lindelöf, Andreas Granqvist e Ludwig Augustinsson; Viktor Claesson, Sebastian Larsson, Albin Ekdal e Emil Forsberg (Martin Olsson aos 20’/2T); Ola Toivonen (John Guidetti aos 20’/2T) e Marcus Berg. Técnico Janne Andersson

Inglaterra

Jordan Pickford; Kyle Walker, John Stones e Harry Maguire; Kieram Trippier, Jesse Lingard, Jordan Henderson (Eric Dier aos 40’/2T), Dele Alli (Fabian Delph aos 32’/2T) e Ashley Young; Raheem Sterling (Marcus Rashford aos 46’/2T) e Harry Kane. Técnico: Gareth Southgate

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