O que aprendi em 10 anos de empreendedorismo

Tiago De Faveri Giusti
Portabilis
Published in
7 min readAug 7, 2019
Imagem: Unsplash

Neste ano, a Portabilis, empresa na qual sou fundador, completa 10 anos de existência. O empreendedorismo surgiu para mim ao mesmo tempo em que a companhia foi criada.

É claro que, empreender não significa, apenas, fundar uma empresa. Você pode inovar como parte de um time ou, até mesmo, no âmbito pessoal.

Mas, hoje, vou falar no sentido mais utilizado da palavra, que é na esfera empresarial.

Eu poderia dizer que tudo o que aprendi nessa última década foi errando e ajustando ao longo da jornada. Acontece que, não foi só isso. Estudei muito, me conectei com pessoas incríveis e busquei profissionais acima da média para estar ao meu lado.

Ter um negócio que vende para o governo e que tem como ideal transformar a vida de milhares de brasileiros através da Educação e da Assistência Social, não é tarefa das mais simples.

Virei madrugadas, tive dúvidas, chorei (sim, homem chora). Mas, quando vejo que a Portabilis impacta, hoje, mais de 100 cidades brasileiras, mais de 50 mil famílias, 20 mil professores e meio milhão de alunos em mais de 2 mil escolas públicas, além dos quase 30 funcionários que fazem parte do meu time, percebo o quanto valeu a pena cada segundo que investi.

Por isso, tenho o maior prazer de compartilhar com você o que aprendi nesses 10 anos. Espero, com isso, lhe ajudar, de alguma forma, no seu empreendimento.

Todos nós precisamos de uma causa

No começo da empresa, o objetivo era aumentar a base clientes, resolver os problemas deles e torná-los satisfeitos e leais.

Depois, com o tempo e amadurecimento, comecei a compreender que para atrair mais pessoas, era necessário um ingrediente especial: uma causa, um movimento pelo qual as pessoas estivessem dispostas a se juntar e lutar.

A Portabilis nasceu para servir a um propósito que idealizei, mas que hoje representa uma crença, um sonho compartilhado por sócios, equipe e clientes que, juntos, acreditam que um Brasil mais justo e avançado social e economicamente é possível.

“Você só entende o verdadeiro valor de empreender quando sua empresa e seu trabalho estão à serviço da sociedade e não apenas dos seus rendimentos e sua aposentadoria.”

No final, não se trata da startup bilionária nem do produto revolucionário, mas sim da capacidade de capturar a essência do que você acredita, da sua causa, e tentar derivar disso um negócio, um movimento, que possa unir pessoas boas e que juntos vocês possam lutar por um mundo melhor.

Escolher o time e os sócios ideais leva tempo e vale cada minuto investido

Levei tempo para trazer ao time de sócios alguém com competência para liderar a área de tecnologia. Isso fez com que eu ficasse responsável, durante anos, pelo comercial e por assuntos técnicos envolvendo nosso produto. Assim, negligenciei temas essenciais da empresa.

Quando falo para investir tempo escolhendo tanto sócios quanto colaboradores, digo no sentido de analisar com cautela e tomar decisões acertadas.

Os sócios precisam se complementar. Não podem ter as mesmas habilidades, o mesmo perfil. Mas, ao mesmo tempo, devem acreditar nos mesmos ideais e compartilhar dos mesmos valores.

Isso se aplica, também, na hora de contratar o seu time.

Os valores do candidato são tão importantes quanto às habilidades técnicas e cognitivas. Habilidades são mais fáceis de se incorporar, já valores, não.

Por isso, a importância de definir um conjunto de valores sólidos e incorporar isso no seu processo de recrutamento. Eles serão uma bússola para escolher as pessoas certas para a equipe.

O time precisa ter sensação de pertencimento

A natureza do ser humano é de se relacionar e fazer parte de grupos dentro da sociedade.

As pessoas que foram contratadas para trabalhar na sua empresa precisam ter a sensação que pertencem ao time. Como?

Devem acreditar nas mesmas coisas que todos os outros membros do grupo acreditam. É sua missão criar esse ambiente de confiança e de pertencimento.

Crie um time diverso, autêntico, que acolhe os diferentes perfis e ideais. Mas, que acredite e compartilhe do seu sonho. Que estejam dispostos a cooperar. Afinal, era o seu sonho, agora é um sonho compartilhado.

As pessoas que trabalham na sua empresa estão lá por elas mesmas. Então, dê a elas uma boa razão para dedicarem mais de 70% do seu tempo de vida a trilhar essa jornada com você.

Na Portabilis, as novas contratações tem participação dos times de cada área. O resultado é extraordinário! O senso de pertencimento faz com que todos dêem seu máximo para a escolha do novo membro ser a mais acertada possível.

Criar um produto revolucionário não é sinônimo de sucesso

São cerca de 7 bilhões de pessoas no mundo. Em plena era da informação, você acha que terá uma ideia top das galáxias, que nunca alguém pensou?

Ideias por si só não valem de nada. É a execução que fará a diferença. Não sou só eu que afirmo isso. Como diria Steve Blank:

“Todo mundo tem ideias. É a coragem, paixão e tenacidade do time fundador que transforma ideias em negócios.”

Na minha história, por exemplo, comecei um negócio sem ter um produto pronto. Aproveitei um software livre que já existia e surfei na onda.

O mundo tem tanto desafio pra ser resolvido. Faça pequenos experimentos, não precisa ser algo grandioso. Um exemplo, é estudar a Agenda 2030 e pensar em soluções para que, além de criar um negócio, colabore para o desenvolvimento sustentável da humanidade.

Você também pode levar cães para passear, animar crianças em festas, produzir textos para blogs, fotografar. Enfim, vai depender do seu porquê, sua motivação de fazer o que faz. E não, simplesmente, criar um produto ou serviço apenas para ganhar dinheiro.

Sucesso, para mim, não é ter o carro do ano. É resolver o problema das desigualdades educacionais e sociais do País. Dinheiro é mera consequência.

Precisa tirar a bunda da cadeira, não tem jeito

Muitas vezes, relembro os passos que dei para chegar aqui. É nessas horas que respiro fundo e penso: “E se eu não tivesse feito aquela pergunta, enviado aquele e-mail ou pedido aquela ajuda?”.

É aquela frase clichê: você não vai saber se não tentar. Um empreendedor precisa de destreza social. Se você não tem esse perfil, precisa desenvolvê-lo.

Ao construir uma extensa rede de contatos, terá todo o suporte que porventura precisar. Mas, atenção. Se conectar com as pessoas não é apenas fazer networking e trocar cartões. É importante se relacionar de maneira natural, produzir e capturar valor.

Para isso, tem que falar, não tem jeito. A comunicação tem um poder incrível. Foi a coragem de criar relações que transformou minha vida e o destino da minha empresa.

Só pode voltar à cadeira para estudar, e, muito!

As pessoas mais fodas que conheci são leitores assíduos. É nelas que me inspiro e faço questão de acompanhar o que andam lendo.

Mas, esses seres admiráveis não se limitam à leitura. Botam em prática muitos dos aprendizados que extraem dos livros. E é isso que os diferencia.

Cada um tem um jeito de aprender. Eu, por exemplo:

  • Anoto os aprendizados dos livros no Evernote e revisito as anotações de tempos em tempos para fixar o que aprendi;
  • Uso as redes sociais para acompanhar e me comunicar com pessoas e organizações que falam de assuntos que quero aprender ou que estejam alinhadas com minhas causas.

As pessoas ao seu redor devem ser acima da média

O ser humano tem uma capacidade gigante para criar, inovar e se transformar. Nós somos seres evolutivos. Acredito tanto nisso que busco ao máximo estar próximo de pessoas com as quais posso aprender algo novo. E mais importante, me afasto de pessoas que não alinham com meus valores.

Eu almoçava quase todos os dias em um restaurante na cidade vizinha. Não conseguia parar de observar a atitude de um dos garçons. Ele se destacava diante da equipe. Ía além do esperado, era atento a cada movimento, cuidadoso com os detalhes. Aquele poderia ser um trabalho passageiro para ele. Mas, mesmo assim, ele tinha total dedicação.

Certo dia, o chamei e elogiei suas atitudes. Papo vai, papo vem, o ex-garçom, de nome Diogo, passou a integrar o nosso time comercial. Ele não tinha as habilidades técnicas para lidar com o produto da empresa, mas seu comportamento foi determinante para ser contratado.

Esse na foto, é o Diogo, o ex-garçom que agora sou eu que sirvo.

Independente do papel que desempenhamos, fazer além do esperado é estar acima da média. Quem trabalha ou convive comigo sabe o quanto valorizo atitudes assim.

Dedico grande parte da minha vida em uma missão que quer deixar uma marca positiva no mundo. Falar e agir com essa premissa é sério, exige grande responsabilidade e afastamento do que é medíocre.

Garanta que seus sócios, equipe e fornecedores entendam e acreditem nisso. E não permita que a mediocridade se apresente, nem em você e nem nas pessoas ao seu redor.

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E então? Você, como empreendedor, passou por situações como essas e aprendeu algo semelhante? Se pensa em entrar no mundo do empreendedorismo, consegui ajudar de alguma forma? Conta para mim nos comentários, será um prazer ouvi-lo.

Eu sou Tiago Giusti, especialista em soluções para o governo nas áreas da educação e assistência social, fundador da startup @portabilis e apaixonado por empreendedorismo social.

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Tiago De Faveri Giusti
Portabilis

Especialista em soluções para o governo nas áreas da educação e assistência social, co-fundador da startup @portabilis e apaixonado por empreendedorismo.