Software livre, por que você deveria se importar?

Tiago De Faveri Giusti
Portabilis
Published in
5 min readMay 22, 2019
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Utilizar software livre, proprietário, de código aberto ou gratuito? Eis uma questão que deveria importar para todos. No entanto, devido à complexidade e a multiplicidade de termos para sua designação, acaba passando batido no momento da escolha de um software.

Os mitos que permeiam o conceito de software livre vão desde achar que se trata de um sistema gratuito até o estereótipo de que são programas de baixa qualidade.

Fazer você compreender o que é software livre e o ganho que traz (e aqui não estou falando apenas financeiro) para os mais diversos setores e principalmente para os governos é a minha missão ao finalizar esse texto.

Se ficou curioso, me acompanhe ;)

Afinal, o que é e o que não é software livre?

Todo software livre atende às quatro liberdades definidas pela Free Software Foundation (FSF), que são: poder copiar, utilizar, modificar e redistribuir o programa conforme o usuário desejar e sem precisar da autorização de quem o desenvolveu.

Existe uma certa confusão com o conceito de software de código aberto. Todo software livre tem o código aberto, mas nem todo o software de código aberto é livre.

A partir do momento que, por exemplo, um fornecedor ou autor de um software de código aberto definir certas regras para seu uso ou redistribuição estará ferindo o princípio de ser livre, e, portanto, não se encaixa no conceito de software livre.

Softwares livres fornecem liberdades tanto técnicas quanto sociais. Ao usuário é permitido controlar e modificar o programa conforme a tecnologia que dispõe, além de poder cooperar ativamente, contribuindo com a constante melhoria do software.

Da mesma forma, não podem ser confundidos com softwares gratuitos. Não há impedimentos para que as modificações feitas em um software livre sejam cobradas, desde que retornem para a comunidade e contribuam para a sua constante evolução. É possível também ofertar serviços com este tipo de software e cobrar por isso. A grande diferença entre eles é a filosofia de liberdade e não só a econômica.

Por que você deveria se importar?

O governo brasileiro, em todas as esferas, investe uma quantia absurda de recursos em licenciamento de softwares proprietários. Grande parte desse investimento vai para empresas sediadas fora do País.

Além dos altos custos aos cofres públicos, isso significa criar dependência de softwares pagos, não ter autonomia para adaptá-los à realidade da administração pública e deixar de gerar oportunidades de inovação para empresas brasileiras do setor tecnológico.

Países preocupados com a transparência, o controle social e o cidadão, criam legislações que favorecem softwares e ferramentas de código livre e aberto, pois, só assim, criaremos governos mais transparentes e confiáveis como deveriam ser.

Afinal, se hoje, o orçamento e os dados são abertos, por que os softwares que os produzem não o são?

O vídeo abaixo, de nome Public Money? Public Code!, do movimento europeu denominado “Dinheiro Público? Software Público!”, traz uma provocação didática, comparando infraestruturas públicas com softwares e trazendo à tona a questão: “Por que software criado com dinheiro dos contribuintes não é Software Livre?”. Vale a pena a reflexão:

Public Money? Public Code

É importante destacar que software livre não se trata apenas de redução de custos, mas como uma decisão que impacta em uma cadeia de valor, promovendo um ecossistema de inovação, cooperação, evolução, qualidade e maior transparência.

De modo geral, devemos nos importar com o uso do software livre porque:

É bom para o governo

Para aqueles que possuem equipes de tecnologia própria é possível se apropriar e adotar a solução, fazendo com que o governo não se torne refém de nenhum fornecedor. E, até mesmo, quando houver alguma empresa envolvida, o governo não mais desperdiçará recursos públicos para trocas de sistemas ou treinamentos de profissionais, pois é possível trocar de fornecedor sem trocar de solução.

É bom para a economia

Para aqueles municípios que não possuem equipe própria ou capacitada para a adoção da solução é possível contratar empresas prestadoras de serviços e estimular a produção e consumo de software aberto, permitindo a criação de arranjos produtivos locais, sem perder a integridade e seu caráter livre.

É bom para a academia

Permite que alunos e professores aprendam e colaborem com uma solução que resolve problemas reais de um público.

É bom para a sociedade

A adoção de softwares livres pelo governo gera transparência, auditabilidade e fortalece o movimento de Governo Aberto (Open Government), pois não só as contas e dados do governo se tornam abertos, mas, também, os softwares que geram estas informações.

Software livre na prática

A utilização de softwares livres é comum em governos e empresas dos mais diversos setores ao redor do mundo. Países como Alemanha, França, Espanha, Itália e China têm como estratégia a utilização de software livre.

O Brasil, em 2003, foi um dos primeiros a utilizar o conceito na administração pública. Mas, infelizmente, em 2016, voltou atrás e determinou a aquisição de licenças da Microsoft, o que foi mal recebido pela comunidade de desenvolvimento de software livre no Brasil.

Apesar da má notícia, há inúmeros casos de sucesso de órgãos federais que utilizam software livre, como o Ministério das Comunicações, Marinha do Brasil, Embrapa e o Instituto Nacional de Tecnologia da Informação.

O Portal do Software Público Brasileiro, mantido pelo governo federal, detém soluções para as mais variadas áreas do governo e conta com a colaboração de pessoas e empresas para desenvolver e manter os sistemas que estão por lá.

A Portabilis, que atualmente é líder da comunidade mantenedora do sistema de gestão escolar i-Educar e do projeto i-Diário, é uma das empresas que colaboram ativamente no desenvolvimento desses softwares.

O Pátio Digital, projeto desenvolvido pelo município de São Paulo, tem como tema central: “O recurso público retorna ao público”. Dentre os sistemas que utilizam, quatro deles, na área da Educação, são livres.

Para além dos governos, o software livre está em diversos aplicativos, sites, sistemas operacionais e browser. Os mais conhecidos são o Android, Linux, Mozilla Firefox, LibreOffice e Wordpress.

Com certeza você já utilizou alguns deles, sabe o quanto são essenciais e conseguiu perceber que muitos superam os programas proprietários, não é mesmo?

Ponto para o software livre, que faz cair por terra o mito “se é barato não é bom”.

E pra finalizar, quero deixar uma provocação para você:

“Se o mundo tem se tornado cada vez mais aberto e compartilhado, com mais pessoas buscando formas de cooperar umas com as outras, por que não aproveitar esse movimento para mudarmos também as regras do jogo de como a produção de software e inovação é feita?”

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E então? Conseguiu entender o que é e o que não é software livre? Acredita que devemos nos importar mais com a sua adoção, principalmente nos governos? Deixa um comentário aqui, será um prazer ouvi-lo ;)

Eu sou Tiago Giusti, especialista em soluções para o governo nas áreas da educação e assistência social, fundador da startup @portabilis e apaixonado por empreendedorismo social.

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Tiago De Faveri Giusti
Portabilis

Especialista em soluções para o governo nas áreas da educação e assistência social, co-fundador da startup @portabilis e apaixonado por empreendedorismo.