Campanhas de prevenção deveriam ser constantes

Karoline Milbradt
Precisamos falar sobre a vida
4 min readDec 11, 2017
As pessoas querem ser escutadas, orienta especialista. Foto: Arquivo internet

Os números obtidos pelo Mapa da Violência 2017 comprovam a necessidade de se falar sobre suicídio, pois houve um aumento de 10% na taxa de ocorrências entre jovens de 15 a 29 anos de 2002 a 2014. Em 2014, foram registradas cerca de 2.898 mortes de jovens — esse dado costuma desaparecer diante de homicídios, por exemplo, em que a mesma faixa etária apontou 30 mil. O psicólogo Paulo (o nome foi trocado para preservar a identidade do profissional) salienta que as campanhas de prevenção deveriam ocorrer o ano todo e não apenas no Setembro Amarelo.

“A maior forma de evitar é dar atenção ao próximo, cuidar de uma pessoa que se encontra triste e, se isso persistir, levá-la a um especialista. As pessoas querem ser escutadas e colocar para fora o que lhes aflige. A prevenção é fácil quando se começa a ouvir as pessoas e ajudá-las a procurar um profissional”, observa.

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Em entrevista para a BBC em abril desse ano, o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, criador do Mapa da Violência, afirma que o suicídio se torna invisível por ser um tabu:

“Os homicídios são uma epidemia. Mas os suicídios também merecem atenção porque alertam para um sofrimento imenso, que faz o jovem tirar a própria vida”, disse Waiselfisz.

Segundo o Ministério da Saúde, o suicídio é a terceira maior causa de morte de homens e a oitava maior causa de morte de mulheres (info 1), ambos entre 15 e 29 anos. No entanto, as mulheres representam a maioria das tentativas de tirar a própria vida, cerca de 69% contra 31% dos homens.

Infográfico 1

Outro dado mostra que as mulheres são mais reincidentes na tentativa de suicídio, com 31,3 %, mas são os homens que mais morrem por esse motivo, cerca de 70%. Entre os idosos a situação também requer atenção, pois, segundo a pesquisa do Ministério da Saúde, a cada 100 mil habitantes, 8,9 idosos acima de 70 anos atentam contra a própria vida, sendo o mais comum entre todas as faixas etárias. O Mapa da Violência de 2014 apontou que de 1980 a 2012 houve um aumento de 215,7% no número de casos de suicídio entre idosos.

Em avaliação sobre os grupos que apresentam os maiores índices, o psicólogo Paulo afirma que transtornos como depressão, bipolaridade, ansiedade e esquizofrenia estão por da maioria dos casos. Segundo Paulo, é necessária a atenção dos familiares sobre esses problemas, pois as pessoas necessitam ser ouvidas e perceber que isto pode ser controlado com o auxílio de um profissional.

No grupo de idosos, a falta de empatia ao se lidar com este grupo é gigantesca, o que aumenta a sensação de solidão, explica o psicólogo.

Entre os jovens, a falta de conversa com os pais e o bullying estão entre os fatores que agravam a situação.

“Os jovens têm essa dificuldade porque querem ser aceitos, eles têm que se sujeitar a certas situações para se encaixar em grupos e acabam cedendo. Essa dor é vista pelos pais como frescura e quando vão ver é tarde demais”, afirma Paulo.

Entre os grupos pesquisados, os indígenas são os que apresentam os maiores índices de mortalidade (Info 2). A taxa por 100 mil habitantes é de 23,1 para homens e 7,7 para mulheres. A taxa é três vezes maior que a média nacional. Cerca de 44,8% dos suicídios entre indígenas ocorreram na faixa etária entre 10 e 19 anos. Esses dados são do Ministério da Saúde.

Infográfico 2

Segundo Lívia Vitenti, da Secretaria Especial de Saúde Indígena, em entrevista para o portal g1, afirma que embora o suicídio seja um fenômeno multifatorial, questões relacionadas à disputa por território têm impacto ainda que indiretamente em determinadas etnias e o povo guarani-kaiowá é um dos mais atingidos:

“É uma população que ficou confinada em um território muito pequeno e que vive um problema fundiário constante, o que leva a desavenças, alcoolismo e desestrutura”, destaca.

Outros grupos como os tikunas e os carajás tambémsão apontados com as taxas de suicídio mais elevadas. De acordo com Lívia, isso não é exclusividade do Brasil, pois para todos os países com dados, os indígenas aparecem com índices preocupantes. A particularidade do Brasil está nas dificuldades para prestar assistência.

Em caso de auxílio:
CVV (Centro de Valorização da Vida) — telefone 188 (ligação gratuita) para o Estado do Rio Grande do Sul e 141 (custo de uma ligação local) para todo o território nacional. Pelo site www.cvv.org.br, via chat ou Skype.
O atendimento pessoal é realizado nas unidades do CVV em horário comercial.
CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) mais próximo.

Emergência:
Unidades Básicas de Saúde, Unidades de Pronto Atendimento, Pronto Socorros, Hospitais, SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Emergência) pelo telefone 192.

Produção: Josiele Rangel, Karoline Milbradt, Liliane Pazzini e Renata Ramos

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