De Enfermeira a Produteira: Juliana Amêndola

Rafael Louzada
Product Arena
Published in
9 min readSep 18, 2020

Uma história de quem colheu lá na frente os frutos que foram plantados ainda no início da trajetória

Se você acompanha a série “Como Virei Produteira”, já ouviu falar da Juliana Amêndola, entrevistada de hoje. Ela fez uma participação especial na história da Thais Ingrid, a contadora que virou produteira.

A Thais tinha chegado a um curso da Product Arena cheia de dúvidas sobre conseguir fazer a transição de carreira. E ganhou inspiração quando uma das alunas se apresentou:

- Bom dia, gente. Eu sou a Juliana. Eu comecei a minha carreira como enfermeira, trabalho como Product Manager na Afferolab e estou aqui para aprender com vocês.

Ju (à esquerda) no curso de Product Manager da Product Arena

Eu não sei se foi exatamente essa a frase que a Ju disse. Mas tenho certeza que ela resume bem a história que eu vou contar. Então, vem com a gente conhecer a trajetória que levou essa enfermeira ao mundo de gestão de produtos.

Na história da Juliana, você vai perceber como pequenos acontecimentos e características bem específicas ajudaram nessa caminhada. Por exemplo, quando pequena, ela curtia bastante estudar e ajudar os outros. Junte esses dois ingredientes e você tem uma pessoinha reunindo amigos em casa para ser a “explicadora” da galera. Tirava dúvidas de português de um, de matemática de outro e por aí vai.

Em paralelo, rolava uma curiosidade sobre tecnologia e saúde, sentimento saciado através de leituras de revistas e enciclopédias, além de visitas ao trabalho da mãe, visitadora sanitária em um posto de saúde da pequena cidade de Jales, no interior de São Paulo.

- Eu ajudava mesmo. Organizava a fila do pré-atendimento, fazia as primeiras entrevistas com os pacientes — conta, entre risos.

Essa visão que fazia conexões tão diversas se manteve na preparação para uma vaga na faculdade. Enquanto fazia curso pré-vestibular de olho nos cursos de Medicina ou Enfermagem, Ju conseguiu tempo para um curso de programação.

Ela acreditava que os assuntos iriam se conectar lá na frente, mas vamos combinar, é pouco provável que ela já imaginasse que isso iria acontecer da maneira que foi, como gestora de produto, né?

A Ju terminou passando para Enfermagem na UFSCar, uma Universidade Federal que tinha Engenharia como a sua grande força, além de zelar por uma formação mais plural. Isso quer dizer que o ciclo básico de todos os cursos tinha aulas de cálculo e física, por exemplo.

- Eu amei aquilo. Nas aulas, eu lidava com assuntos que adorava. E, além disso, tinha contato com pessoas que estavam fazendo carreiras ligadas a tecnologia. Então, pra mim, era o melhor dos mundos.

Aquela experiência foi bastante marcante. Surgiram amizades com futuros profissionais do mercado de desenvolvimento de softwares e outros temas de exatas. A troca de ideias deixava claro que existia um caminho ali que alimentava a curiosidade da pequena Ju de alguns anos atrás.

Partiu São Paulo

Curso concluído, era hora de tentar a sorte na Capital. Lá foi a Ju para São Paulo com uma estratégia clássica: currículo embaixo do braço e bater na porta de hospitais da cidade com vagas para enfermeiras com pouca experiência. Terminou esbarrando em um anúncio que falava em oportunidade para enfermeiras recém-formadas em medicina diagnóstica.

Ela não fazia ideia do que era isso, mas era recém-formada em busca de emprego. Obviamente, resolveu tentar a sorte. E deu certo. A empresa entendia que aquele era um ramo pouco explorado em cursos de enfermagem e esperava que a pessoa contratada recebesse treinamento específico para se desenvolver.

A oportunidade tinha um “pequeno” desafio extra. Como enfermeira, Ju iria liderar uma equipe de 25 (VINTE E CINCO!!) auxiliares e técnicos de enfermagem.

- Quando eu vi que iria liderar uma equipe de 25 pessoas, tratei de comprar um livro de administração e me matricular em uma pós-graduação em Gestão de Serviços de Saúde. Era tudo muito novo — lembra.

Mas o que parece assustador para uma menina recém-formada é hoje uma lembrança feliz. Ju conta com carinho desse período de frio na espinha, muita novidade e muito estudo. É grata e amiga das pessoas com quem trabalhou, pelo apoio naquela experiência nova.

Passado o susto, a partir dali, surgiram novos desafios. Mais pessoas, mais equipes. Até que a vontade de se envolver em novas atividades bateu à porta. Ela foi para um grande grupo hospitalar, onde logo foi identificada com um perfil adequado à Universidade Corporativa.

- Como eu nunca tinha feito algo do tipo, a resposta foi simples: “Vou, sim”.

E tome de novo desafio. Assumiu a posição de Consultora de Educação. Isso quer dizer que ela era responsável pelos treinamentos técnicos e comportamentais do grupo como um todo. As tardes como “explicadora” dos colegas do colégio ganharam um novo significado, portanto. Passou a liderar programas de educação de enfermagem, farmacêuticos, biomédicos etc em todo o Brasil.

Tecnologia pede passagem

E não foi só a porção “educadora” que voltou para dar um “Oi”. Logo, o contato com tecnologia também se mostrou especial.

- Eu passei a liderar os treinamentos referentes a qualquer mudança de sistemas na empresa. Então, tinha muito contato com a equipe de tecnologia, para entender o que tinha de novidade e passar adiante.

Nessa experiência, ficou claro que seria importante entender o que as pessoas utilizavam dentro do hospital. Rolaram entrevistas com enfermeiros, médicos e qualquer pessoa que usasse os sistemas que seriam atualizados. Conhecimento de usuário na veia, alinhamento com a equipe de desenvolvimento e toda a gestão do “produto” ainda que com um estilo gestão de projeto por trás. Mas a semente estava ali.

Ju se encantou com aquela junção de saúde e tecnologia de um jeito que nunca tinha visto nas revistas e enciclopédias da infância. Era outra maneira de juntar esses dois mundos.

O momento já era bastante especial e se tornou mais especial ainda: Ju saiu de licença-maternidade para ter o seu segundo filho. E foi nesse período de afastamento que chegou mais uma novidade que não estava nos planos.

Ju e os pimpolhos (Foto: APJ — Arquivo Pessoal da Ju)

- A Afferolab me ligou dizendo que estava criando um produto digital novo, com foco em educação na área de saúde. Era tudo muito novo e eu, claro, aceitei. Pedi demissão ainda durante a licença e os meus gestores acharam que eu estava sofrendo de depressão pós-parto. Mas tava tudo ótimo.

Alô, Produto! Estou chegando!

A iniciativa era mesmo muito diferente. A empresa tinha uma ideia de investir no segmento de saúde porque entendia que havia ali oportunidades de negócio, mas não fazia ideia do melhor caminho. Para isso, tinha uma equipe de produto dedicada a um trabalho intenso de Discovery.

Nesse cenário, Ju ocupou inicialmente a função de consultora. Ela apoiava a equipe de produto com os seus conhecimentos sobre medicina, enfermagem e treinamento para esse público. Mas, naturalmente, e, de novo, movida por curiosidade, começou a querer entender melhor essa nova área de conhecimento.

- Meu Jesus, o que é isso? O que é produto? O que é metodologia ágil?

Bom, deu pra perceber que tinham muitas perguntas a serem respondidas nessa história. E ela, mais uma vez, recebia ajuda da própria equipe, formada por Product Owner, UX, Desenvolvedores e um Designer Instrucional (profissional com foco em design específico para educação).

O papel de Consultora formalmente teria uma função de validadora do que estava sendo planejado, mas ela acabou se envolvendo nas etapas do processo com a própria equipe. Discovery, Pesquisa de Mercado, Benchmarking, Negócios, Conhecimento do Usuário…

- Mergulhei junto com a equipe e fui aprendendo com as pessoas. Fizemos entrevista, construímos personas, todas as etapas. Fizemos um Design Sprint, fui estudar o que tinha em cada etapa.

O envolvimento com o produto em si foi ficando mais intenso. Por exemplo, as aulas eram realizadas em vídeo e cabia à Ju cuidar da execução deles. Contato com produtora, ajuda com roteiro…

- E fui me apaixonando por esse negócio de produto.

Até quem um dia, a PO da equipe deixou a empresa e a função ficou vaga. A Ju entendia muito do produto, tinha uma inesgotável disposição para aprender e estava mergulhada com a equipe há tempo suficiente para entender o funcionamento. Faltava uma oportunidade para oficializar a experiência e refinar esses conhecimentos.

- Eu topei de novo. As pessoas iam me indicando livros e artigos de produto enquanto eu colocava a mão na massa.

O desafio maior era acumular a variedade de funções àquela altura. Nesse período, a Escola de Saúde (sim, o produto já tinha ganho um nome) era como uma empresa dentro da empresa. Além da equipe de produto, possuía uma equipe de marketing e comercial próprias.

- O meu cargo era Gerente de Educação. Eu cuidava de tudo. Preço, mercado, conteúdo, marketing, estratégia. Tinha uma equipe só pra cuidar de marketing e comercial.

Até que houve uma reestruturação na empresa. E as caixinhas foram organizadas de forma que produto, ainda que de olho no todo, poderia focar no desenvolvimento do… produto. Enquanto as demais áreas de atuação foram incorporadas pela estrutura que já existia na empresa e não mais como uma iniciativa apartada.

Enfim, Product Manager

Aí, sim, depois dessa estruturação, a Ju assumiu a função de Product Manager, com mais foco. O primeiro desafio era encontrar o melhor posicionamento do produto no mercado. Ele ainda não havia deslanchado como uma ferramenta de educação para os setor, então fazia sentido revisitar algumas questões. A hipótese que surgiu era transformá-lo em uma ferramenta de processo seletivo para profissionais de saúde, começando por profissionais de enfermagem.

Ju na época da primeira experiência como Product Manager

Ju conta que a equipe montou um protótipo a partir da ferramenta que já existia. A adaptação permitia que processos seletivos que duravam 45 dias e custavam R$ 1800 fossem feitos em uma semana ao custo de R$ 150.

- Eu levei o protótipo para clientes, três grandes hospitais de referência. A gente conseguiu aproveitar tudo que já existia na Afferolab, para montar um banco de talentos e um mini-processo seletivo com plano de aprendizagem. Foi uma experiência legal demais.

No entanto, a versão “pivotada” da Escola de Saúde terminou não saindo do papel. A empresa foi vendida no meio desse processo e as prioridades mudaram. Mas já estava definido. Ainda que tivesse muito o que aprender, a ex-enfermeira Juliana Amêndola era agora uma Produteira.

Ela terminou focando em outros produtos da empresa, cuidando, por exemplo, de produtos que não eram ligados a saúde. Como o Bagagem, focado em jovens profissionais, especialmente estagiários e trainees.

Hoje a Ju é Gerente de Produtos Digitais da Afferolab, liderando a equipe de Product Managers e UX da empresa.

Como sempre faço no final dos artigos dessa série, perguntei à Ju o que ela faria diferente nessa trajetória. Ela explica que não mudaria nada, que vê que as coisas se encaixaram com muita naturalidade. E ainda explica:

Conhecer o usuário?

- Quando eu exercia o meu papel de enfermeira, eu fazia entrevista. Porque eu precisava falar com o paciente.

Stakeholders?

- Quando eu estava no plantão com a minha equipe, eu falava com o médico, o enfermeiro. Eu lidava com stakeholders.

E priorização?

- Tem muita coisa da época de enfermeira que eu uso como produto. 20 respiradores e 25 pessoas em estado grave. Como priorizar isso?

Tudo servido de aprendizado nessa caminhada, claro. E por falar em aprendizado, que dicas você daria aos futuros produteiros e produteiras, Ju?

- Aprender sempre e compartilhar com os outros. Ficar super antenado com as tendências que a gente tem nas áreas de produto… Uma coisa que eu valorizo muito são as conversas e a troca de experiências. Eu sempre converso com três pessoas diferentes na minha semana, que eu nunca falei. E isso me dá novas perspectivas, me ajuda. Pode ser jardineiro ou um diretor. Isso me traz um repertório muito grande e amplia uma minha visão sobre o mundo.

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Quer fazer essa transição para Produteiro(a) ou ainda se aperfeiçoar? Dá só uma olhada na lista dos cursos da Product Arena:

Métricas de Produto, com Horácio Soares e Gustavo Esteves (21, 22, 23 e 24 de setembro)

Product Manager Mobile, com Arthur Castro e Horácio Soares(28 e 30 de setembro, 5 e 7 de outubro)

Módulo 1: Arquitetura de Informação e Usabilidade, com Guilhermo Reis (26, 28 e 30 de outubro)

Product Discovery, com Rafael Louzada e Rafael Xavier (26, 28 e 29 de outubro)

Módulo 2: Arquitetura de Informação e Usabilidade: Metodologia de Projeto e técnicas, com Guilhermo Reis (9, 11 e 13 de novembro)

Módulo 3: Arquitetura de Informação e Usabilidade: Design Cross Device, com Guilhermo Reis (16, 17, 19 e 23 de novembro)

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