Do Exército a Produteiro: Thales Bastos

Rafael Louzada
Product Arena
Published in
8 min readFeb 22, 2021

A história de um cara que era militar, exerceu funções administrativas como civil, virou hard user de um produto da própria empresa e se apaixonou por produto

Tenente Thales na área (Foto: APT - Arquivo Pessoal do Thales)

Pela primeira vez desde que comecei a série “Como Virei Produteiro”, teremos a repetição de uma carreira de origem. Lá no início, no terceiro artigo da série, contamos a história do Alex Albuquerque. E dessa vez, vamos entender como foi esse movimento feito pelo Thales Bastos. Vocês vão reparar que é uma história completamente diferente. Se o Alex já sabia que queria trabalhar com tecnologia desde o início, no caso do Thales, essa ideia terminou surgindo meio por acaso. Vamos conhecer essa história?

A versão militar do Thales começou de uma maneira que muita gente nem sabe que é possível: ele cursava faculdade de Educação Física e era jogador de vôlei do Botafogo quando resolveu entrar para o CPOR, Centro de Preparação de Oficiais da Reserva.

Basicamente, o CPOR é uma escola que prepara profissionais para atuarem em funções específicas no Exército, como Engenharia, Comunicações, Infantaria etc. E, claro, como o nome sugere, os aprovados passam a compor também a reserva do Exército Brasileiro.

Thales concluiu o curso de formação de oficiais da reserva em quarto lugar na arma de engenharia. Foi Tenente na Infantaria, liderando equipes em treinamento de combate, inclusive.

Após dois anos na função, algumas coisas haviam mudado na vida do nosso futuro PM: a faculdade de educação física deu lugar à de administração e o vôlei virou apenas um hobby.

Exército + Administração

Para encaixar o novo foco dos estudos com a vida profissional, Thales procurou novas oportunidades ainda dentro do Exército. Conseguiu ser transferido para uma função mais administrativa e passou a lidar com planejamento, licitação, pesquisa de preço etc. Temas em que trabalhou até deixar a carreira militar.

Perguntei se àquela altura, o Thales tinha alguma ideia de que um dia trabalharia com tecnologia.

- Não, nunca. Nem sabia. Na minha mesa, era todo dia um bolo de papel, nem sabia o que era tecnologia.

Os profissionais formados pelo CPOR possuem um prazo para continuar nas Forças Armadas: após 8 anos de Serviço, seus vínculos empregatícios não podem mais ser renovados. E, de repente, aquele cara que passou 8 anos no exército precisava buscar outro emprego. A missão, obviamente, não foi fácil.

- Era difícil alguém querer contratar uma pessoa que não tinha experiência alguma no mundo corporativo.

A primeira oportunidade veio de um amigo, dono de três franquias de uma escola de idiomas. Ele precisava de um consultor para ajudar a organizar os processos da empresa. Seria uma vaga temporária, mas além de ajudar um amigo, Thales iria carimbar no currículo uma experiência “civil”.

Foram 7 meses na função, até que o trabalho estava concluído: a empresa estava estruturada e poderia andar com as próprias pernas. Era hora de buscar um novo desafio e surgiu o convite para trabalhar em uma startup. Daquelas que estão super no início, com 3 sócios e 1 funcionário. Com a chegada do Thales, o número de funcionários dobrou, portanto. (TUM-TUM-TSSS)

No papel, a função era de Coordenador Administrativo Financeiro. Mas… uma empresa com 2 funcionários, né, gente?

- Na prática, eu cuidava também do Departamento pessoal, pagava conta de luz, comecei a atuar no marketing… Fazia de tudo.

A startup trabalhava em projetos de óleo e gás e nela, Thales até se aproximou de tecnologia, mas não do jeito que você está pensando.

- Eu era amigo dos desenvolvedores, mas não conversava nada sobre tecnologia. Na verdade, eu era o único que não trabalhava com tecnologia na empresa.

Após um tempo cercado de desenvolvedores e ainda assim distante de tecnologia, Thales recebeu o convite para trabalhar no Nibo. Ela mesma. A parceira da Product Arena, em que realizamos as últimas edições dos cursos presenciais aqui no Rio. #saudades #vemvacina

(Foi lá, inclusive, que eu conheci o Thales, quando ele fez o curso de Product Discovery com a gente. E ele ainda esteve presente em outros depois disso.)

Primeira turma de Product Discovery no Nibo. Ache o Thales. Dica: ele está de camisa preta. (Foto: APT — Arquivo Pessoal do Thales)

Nibo

Thales chegou ao Nibo na função de “Analista de Planejamento Financeiro”. Seguia sem pensar em trabalhar com tecnologia, mas… vai saber o que o destino nos guarda, né, meu amigo?

O Nibo possui produtos focados em contabilidade e gestão financeira. O Thales era heavy user do produto de gestão financeira. Tá entendendo onde isso vai parar, né?

Adivinha atrás de quem a equipe de produto ia quando pensava em uma alteração no produto? Quem era o cara convidado a testar as soluções?

- Chegou uma hora em que a UX pediu para fazer um teste de usabilidade comigo. Eu não fazia ideia do que era, mas quis fazer. Ela me gravou, conversou, pediu feedback. Eu achei aquilo incrível!

Aos poucos, Thales foi virando referência sobre o produto: “Eu tinha várias opiniões, porque eu usava aquilo o dia inteiro”. Começou a participar de reuniões estratégicas, dava pitaco e era ouvido em diversas situações.

Até que… chegou aquele momento tão aguardado aqui no “Como Virei Produteiro”, senhores. Coração chega a bater mais forte, rufam os tambores, a adrenalina sobe e…

- Eu aceitei o convite para uma vaga de PM.

Calma que a história não foi tão simples: a empresa havia identificado no Thales perfil para duas oportunidades diferentes: uma mais próxima da sua rotina, na área de dados, e outra como Product Manager. Apesar de gostar muito do tema, rolou aquela balançada de quem está prestes a uma mudança mais brusca. Thales pediu um tempo e buscou ajuda.

- Conversei com um amigo, o Bernard de Luna. Expliquei que a área me interessava, mas eu não sabia nada de produto de verdade.

A verdade é que o Thales nunca foi fissurado na área financeira, não gostava de ficar o dia inteiro vendo planilha. E o Bernard explicou melhor o que era produto, indicou alguns artigos…

- Conversei com a minha esposa e meus pais e resolvi aceitar.

Enfim, Product Manager

Aí, amigo, bateu a ansiedade. Enquanto Thales esperava o seu sucessor na área Financeira, ele já foi mergulhando nos estudos: leituras, vídeos no Youtube. Vez ou outra, participava de uma daily de algum time, algum planning só pra ver como era.

- Eu estava totalmente perdido, não sabia nada.

Quando finalmente conseguiu se aproximar do time que cuidaria, Thales percebeu que a melhor estratégia seria começar por aquilo que ele já trazia de melhor de outras experiências: organizar os processos da equipe.

- O time ainda era muito focado em resolver problemas, não na gestão do produto em si. Comecei a organizar o backlog, migrar para o Asana, uma ferramenta nova. Levou uns três meses pra entender o que fazer.

E a estratégia deu resultado. Ele já conseguia pelo menos priorizar de maneira adequada os problemas mais graves do produto, se sentia mais confiante. Até que… surgiu outro desafio: Thales migrou para um produto mais maduro, com visão e roadmap definidos.

- Aí, sim, eu comecei a por várias coisas que eu tinha estudado em prática. Passei a trabalhar mais em parceria com UX, pesquisa, Discovery, olhar métricas de produto…

Desse período, Thales conta com brilho nos olhos sobre uma iniciativa especial: a primeira vez que entregou um MVP, processo que demandou atuação em pesquisa, interação com usuários, coordenação do trabalho da equipe, o pacote completo.

Com vocês, Thales Bastos (Foto: APT — Arquivo Pessoal do Thales)

Enfim, Thales tinha o selo Product Manager carimbado no currículo. Hoje, ele é PM no Nubank, onde cuida de um produto interno e uma plataforma da empresa. Além disso, é o cara por trás do @productmanagerbr, perfil no Instagram que dá dicas a pessoas que querem virar produteiros e já conta com mais de 1600 seguidores.

Para fechar, aquelas perguntinhas de sempre. O que você faria diferente nessa jornada, Thales?

- No começo, eu fiquei muito nervoso, muito ansioso. Comecei a estudar loucamente. Palestras, artigos, vídeos… Todo tempo livre era dedicado a estudos. E isso gerou muita ansiedade, até porque a empresa ainda estava amadurecendo em produto e aquilo não gerava uma aplicação prática. Era importante saber que “tudo bem, estou começando. Fica tranquilo e vai por esse caminho.”

Outra dica que o Thales de hoje daria para o Thales dos primeiros dias como PM é procurar um mentor dentro da própria empresa. Alguém mais sênior que pudesse guiar um pouco o trabalho.

E para outras pessoas que estejam pensando em migrar para uma carreira de produto? Que dica você daria, Thales?

- O que eu diria é pra pessoa ir se preparando, fazendo cursos do próprio Product Arena, ir estudando e buscar uma oportunidade de ter contato com a área de produto. E eu acho que tentaria uma vaga de analista de produtos antes de uma de PM. Isso pode te dar a oportunidade de trabalhar com PMs mais experientes e aprender com eles.

Faz total sentido, Thales. Tenho certeza que essas dicas e a sua história vão ser valiosas para quem está começando na carreira de produto.

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Quer fazer essa transição para Produteiro(a) ou ainda se aperfeiçoar? Dá só uma olhada na lista dos cursos da Product Arena:

Product Manager, com Arthur Castro e Horácio Soares (22 e 24 de fevereiro e 1 e 3 de março)

UX Research, com Paola Sales (2, 3 e 4 de março)

Métricas de Produto, com Horário Soares e Gustavo Esteves (8, 9, 10 e 11 de março)

Arquitetura de informação e Usabilidade (Módulo 1), com Guilhermo Reis (15, 16 e 18 de março)

Arquitetura de informação e Usabilidade (Módulo 2), com Guilhermo Reis (29 e 30 de março e 1 de abril)

Product Discovery, com Rafael Louzada e Rafael Xavier (22, 24 e 25 de março)

Design Cross Device, com Guilhermo Reis (5, 6, 8 e 12 de abril)

UX Writing, com Bruno Rodrigues(17, 18, 19 e 20 de maio)

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