Paradoxo da Inteligência Artificial #2: Escravos Artificiais

Ariel Cardeal
Professional Time Traveler
3 min readFeb 2, 2018

O texto abaixo foi publicado originalmente em inglês pelo meu amigo Joaquin Aldunate em Julho de 2017(aqui o link para o artigo original). Este é o segundo de quatro textos sobre inteligência artificial dele que estou traduzindo. Fiz uma tradução livre, que está aberta a possíveis correções. Fique à vontade para fazer comentários.

#1: Já fomos dominados pela Inteligência Artificial?

#3: Deus Artificial

O episódio de Black Mirror "White Christmas" é um que vale a pena assistir

Quando se fala da automação das nossas vidas diárias, muito se sonha que os humanos já não precisem trabalhar mais, porque as máquinas teriam automatizado todo o nosso trabalho; e nós teríamos de nos ocupar somente de curtir os prazeres da vida com as pessoas que amamos. Descobri que para muitas pessoas essa realidade hipotética se parece mais a uma distopia do que uma utopia.

O fato é que continuamos avançando em direção à produção de andróides cerebrais, reforçando a ideia de que não estamos mais no controle do nosso progresso como espécie. É fácil se assustar com a possibilidade de que nossa capacidade de trabalhar seja substituída, porque atualmente nossas identidades são construídas com base no trabalho que fazemos. É muito importante para nós sentir que temos o potencial de fazer diferença na vida de outros seres humanos. Se percebemos que nossa capacidade de fazê-lo é ultrapassada em grande escala, poderemos enfrentar tempos difíceis lidando com nossa própria existência.

Nick Bostrom disse que o problema com a Inteligência Artificial é que ela é uma máquina de otimização em grande escala, e que um infortúnio de um comando poderia nos levar a resultados catastróficos (aqui). Ele segue uma linha de pensamento similar ao de Isaac Asimov, em que as máquinas tem um modo de trabalho bastante rígido, provavelmente devido ao fato de que Asimov esperava que a inteligência artificial emergisse de nossos computadores binários atuais; com comandos ou programas que seguissem direções únicas. As soluções da máquina dessa forma se tornariam extrapolações de nossas ideias, que mais tarde poderiam nos vitimizar.

O desenvolvimento de redes neurais me levaram a pensar que talvez os andróides-cerebrais não sejam máquinas de extrema otimização, mas gênios humanos psicopatas extremos. Acredito que em certo ponto será possível montar um sistema que será capaz de desenhar soluções para nós de acordo com as demandas. Coisas como fornecer toda informação disponível sobre câncer, e esperar que a máquina apareça com uma solução que vai eliminar as células cancerosas sem comprometer a vida humana que a sustenta.

No entanto, talvez essas questões sejam um pouco mais complexas, novamente, nos termos de Asimov. Como a máquina entende o que significa manter a vida do hospedeiro? A máquina não consideraria como parte do ser vivo, por exemplo, as células cancerosas? E se o processo envolvesse a desconstrução da pessoa inteira e então recriá-la? Isso também contaria como uma solução?

As máquinas obviamente precisam aprender muito mais do que nós seremos capazes de prover como parte de nossos questionamentos ou problemas. Elas precisam fazer parte da nossa sociedade para entender o que queremos dizer por “vida humana”. Isto porque nós mesmos não entendemos essas questões de outra forma que não seja intuitiva, e podemos fornecer estas informações para uma máquina de uma forma menos controlada. Ainda assim, se as máquinas precisam fazer parte da sociedade, e ser capazes de empatizar com seres humanos e tal, não estaríamos apenas criando escravos humanos feitos à mão?

Tomando em conta que em comparação com seus pares artificiais, os humanos nunca irão se igualar aos seus pares máquina. Que tipo de relação será estabelecida entre os cidadãos máquina e cidadãos humanos? Eu imagino uma relação que logo se pareceria a uma que acontece entre adultos responsáveis e crianças. Humanos biológicos se tornarão crianças eternas sob os cuidados dos robôs, e já seria sem sentido tentar mudar rumo do futuro, como estamos acostumados a fazer. Se as coisas irem muito bem, vamos preferir ser cuidados. Talvez tenhamos o direito a pedir as coisas aos nossos pais, os robôs, e eles nos darão caso achem que é conveniente.

O autor do texto Joaquin Aldunate é chileno e tem graduação em Design Industrial pela Universidad Diego Portales, no Chile, e mestrado em Produção de Novas Mídias pela Universidade de Aalto, na Finlândia.

LinkedIn de Joaquin.

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