A Pandemia Ainda Não Acabou

Estamos cansados da pandemia e do distanciamento social, mas voltar à vida completamente normal antes da hora pode ter um custo ainda maior

Amanda de Vasconcellos
O Prontuário
4 min readNov 29, 2020

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Enquanto escrevo este texto, meus vizinhos escutam É o Tchan! a todo volume. Não que eu seja a maior fã do grupo, mas tem músicas piores, e meu gosto musical não é bom o bastante para me dar o direito de sair criticando a escolha alheia em festas. Contudo, foi a crítica que pensei em fazer a meus vizinhos que inspirou este texto. Afinal, não me importo com suas escolhas musicais em festas, mas me importo com sua escolha pela data da festa.

A pandemia tornou-se rapidamente uma questão política, motivo pelo qual evitei por um bom tempo falar dela neste blog. Como fiz no último texto, deixo aqui minha posição para não ser acusada de isenção. Com isso fora do caminho, me pergunto por que especificamente hoje resolvi falar do nosso querido micróbio. Sinceramente? Não sei. Duvido que vá mudar a opinião de alguém. Talvez este aqui seja apenas um desabafo.

Meus vizinhos participam da assustadoramente grande parcela da população que abandonou por completo os cuidados com o espalhamento do coronavírus. Não os culpo por fazê-lo: o ano está quase terminando, estamos todos exaustos. Além disso, a essa altura da pandemia, não faz mais sentido pregar que todos fiquem em casa. Isso não seria suficiente para erradicar o vírus, e também não estamos diante de risco iminente de colapso do sistema de saúde na maioria das cidades. Justamente por isso, a maior parte dos estados e cidades está flexibilizando seus protocolos e permitindo a reabertura da maior parte dos estabelecimentos. Contudo, há uma diferença entre flexibilizar e desistir completamente dos cuidados.

Deve-se entender que, em se tratando do coronavírus, toda pessoa com quem se encontra é um potencial infectado assintomático. Limpar superfícies tem certa utilidade (ainda que bem limitada), assim como medir a temperatura corporal das pessoas (na testa, pelo amor de Deus), mas isso não muda o fato de que qualquer um pode estar infectado, e que o principal meio de transmissão da Covid ainda é o ar. Encontrar com um amigo que não se via há meses em um restaurante, sem máscara, ainda é um risco.

Ainda assim, não me preocupo tanto com as pessoas que saem de casa e tomam um café com um amigo. Certo, elas podem se infectar, e isso permite que o vírus continue circulando pela população, mas isso é, na maioria dos casos, um problema que se autocontém. Esse espalhamento corriqueiro do vírus não é o que causa tragédias como a que se viu na Itália no início do ano. Na realidade, nossa maior preocupação deveria ser com os superspreaders (superespalhadores, em tradução livre).

É onde chego quando penso na festa do meu vizinho, ou na festa do vizinho dele. No evento de uma empresa que reuniu dezenas de pessoas. A distribuição da Covid na população segue o princípio de Pareto: aquele que afirma que 80% dos resultados são fruto de 20% dos esforços. Aqueles que negligenciam por completo os cuidados com a doença estão sendo o 20% capazes de fazerem com que cidades ao redor do país estejam voltando a se fechar, ou com que um estado inteiro esteja em alerta vermelho.

Está na hora de colocarmos a mão na consciência. Certo, a pandemia não ocorreu conforme nossas previsões mais pessimistas, porém tampouco tem correspondido às mais otimistas. Estamos há meses fazendo distanciamento social, e ninguém aguenta mais. Entretanto, a retomada segura das atividades de escolas, restaurantes, comércios locais, e até mesmo festas depende da nossa responsabilidade. Aglomerar agora significa aumentar a duração desse inferno que temos vivido. A liberdade que estamos tendo de retorno ao normal — ou ao novo normal, que seja — precisa ser aproveitada com responsabilidade. Está na hora de máscaras, grupos pequenos, e atividades ao ar livre. Isso tudo vai acabar, e ainda vamos ter muitas oportunidades de juntar milhares de pessoas sob o mesmo teto.

Obrigada por ler este texto! Se tiver gostado, deixe seu aplauso (de 1 a 50), e me acompanhe nas redes sociais para receber meu conteúdo. Não se esqueça também de enviar o post de hoje para aquele seu amigo que já está curtindo uma balada, e para aquele outro que aposentou a máscara.

E você, o que está sentindo diante de tantas pessoas relaxando nos cuidados contra a Covid-19? Você relaxou? Concorda com o que eu disse? Me conta aqui nos comentários!

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