Meus 15 Anos: Larissa Manoela, Pyong Lee e a quarta onda do feminismo

paula
PseudoResenhas
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7 min readMar 26, 2022

Em Meus 15 Anos, filme estrelado por Larissa Manoela e grande elenco, o objetivo vai além de entreter. Lari percorre a linha tênue entre ser aprendiz e professora durante sua jornada.

A ex-Carrossel recebe um chamado divino para libertar a alma de Pyong Lee do purgatório e o convoca para atuar¹ em seu filme como forma de lhe ensinar lições básicas de vida sob os holofotes do set.

¹O ex-BBB é conduzido pela direção a ser ele mesmo, não decorando uma linha sequer de texto.

Pyong filho assistindo as peripécias do Pyong pai no BBB

Como ato inicial de sua tragédia esteticamente bonita, Lari chora as pitangas ao som de sua narração onisciente. ‘Eu não queria uma festa de quinze anos’, desabafa.

Pyong, sendo seu polo oposto, começa sua jornada instaurando a anarquia na aula de teatro juntamente do garoto mais bonito da escola e de metade do terceirão. Lari e Pyong colidem trajetórias quando ela sobe no palco e Pyong lidera a baderna na plateia. Lari abandona a apresentação enquanto a professora joga Candy Crush em seu Moto G.

A crítica especializada

O núcleo adulto começa a se movimentar. No auge de seus 30 anos, o progenitor de Lari vai ao shopping Eldorado comprar uma migalha e ganha um cupom para participar do sorteio de uma festa de 15 anos. Aparentemente não existe valor mínimo para participar — ou idade. Temos, então, os três pilares da história.

Enquanto preenche o cupom, uma manifestação subtextual de trisal com Pyong, o mais bonito do shopping e a amiga interesseira da Lari toma o cantinho da tela.

É anunciada a atração da festa: um mega show da Anitta. O resultado do sorteio é divulgado e, crente que ganharia devido ao voto de cabresto, a amiga anitter da Lari perde para a protagonista, chocando a todos que não leram o nome do filme.

Um dos traços de personalidade de Pyong é embaralhar cartinhas

Numa reviravolta inesperada, nossa Lari Manu de Calcutá vira celebridade municipal ao aceitar o resultado das urnas e anunciar a festa mais cobiçada do ano. O pessoal a recebe na escola fazendo stories com filtro de cachorrinho, despertando a atenção de Pyong, cujo personagem não passa de si mesmo sob uma óptica cinematográfica. Este planeja uma hipnose na fundadora do Laricel para garantir seu ingresso, mas em breve seu plano é desbancado por um mais eficaz.

A ex-amiga bisbilhota o celular da Lari e fica chocada que a gata usa essa fonte horrorosa

De cortesia, Lari ganha uma equipe de duas pessoas para realizarem seu processo de empoderamento. Aprender a andar de salto agulha sob a trilha É o Poder de Karol Conka e a cura da miopia para a retirada imediata dos óculos da protagonista iniciam sua trajetória rumo à festa do milhão.

Provenientes de outra geração, os funcionários repassam suas próprias visões de mundo ao mencionarem o fato do príncipe ser um dos pontos principais da festa, no que Lari rebate o pensamento retrógado e afirma ser autossuficiente, não dependendo de homem algum.

Aula 01: Recortes com tesoura sem ponta

Lari fica chocada pelo fato de todos estarem animados com a festa, o que não é surpresa alguma, visto que a heteronormatividade e shows de qualidade duvidosa são grandes prioridades dos alunos do ensino médio.

O Clube do Bolinha dá sua cartada final, convidando nossa menina para andar de skate, e enquanto a ex-musa do SBT está na pista dominando sob seus pés tal esporte considerado masculino, Pyong planeja com seu clã uma bitoca entre o mais bonito do terceirão e nossa debutante para agilizar o processo de conseguir convite para todos os bullys.

Nisso, uma coadjuvante filma todo o plano do Gabinete do Ódio com seu celular da NASA e o microfone capta cada nuance da conversa, mesmo a meio quilômetro de distância. A gravação já circula entre um seleto grupo de pessoas e obviamente será vazado em um Instagram de fofoca num futuro próximo.

A filmadora mais vendida do Brasil

Pyong se mostra completamente despreocupado com o ENEM e usa seu tempo livre para planejar o trote do terceirão no auge de seus 25 anos: invadir a piscina da escola durante a noite e dar uma festa regada à muita pneumonia com ares de filme americano.

Pyong consegue o convite e tem que ouvir chiado dos amigos querendo também

O bonitão do Whatsapp continua perseguindo nossa empoderada com mensagens em tom persuasivo na intenção de conseguir convites para todos os seus amigos do terceirão. Lari faz essa caridade e se canoniza.

Nesse meio tempo, o gato tira a camisa na frente da nossa protagonista e a filmagem é tão ruim que não dá pra saber se rolou bitoca ou não

Então chega o grande dia. Enquanto o DJ toca Anitta sendo que a própria deveria estar se apresentando, Lari Manu vive o drama de ter convidado seus dois flertes para a posição de príncipe — o amigo e o bonitão da escola — porém, em uma crise monogâmica, expulsa um deles.

O terror do terceirão chegando em câmera lenta

Pyong assume sua faceta Amaury Jr e ensina ao coadjuvante o velho truque de tomar um drink para ‘chegar mais natural nas meninas’. Após sofrer tamanha pressão psicológica, o amigo toma um Fruit Dolly batizado e sai dando ideia em todas da festa, como o mestre mandou.

Plateia acompanha o Teste de Fidelidade

Após meia hora de anúncio, a Anitta finalmente chega e o elenco se reúne, porém a plateia é majoritariamente preenchida por figurantes.

Será que é dublê?

Anitta canta uma musica que nem fã conhece, cuja letra diz ‘é um príncipe encantado, me hipnotizou, é feito tipo um galã de filme de amor. Ele é bronzeado, da cor do pecado, um corpo perfeito, sem mulher do lado, não tem aliança, entrou na minha dança, mas abriu a boca, eu acordei, caí da cama’.

Inspiração do cenário de A Vida Depois do Tombo

O DJ, a pedidos da ex-amiga de Lari, e sem análise alguma do material, coloca no telão o exposed do Pyong, príncipe 02 e companhia. Rapidamente a rival é cobrada por seus atos e cancelada por suas próprias amigas, enquanto Pyong não sofre consequência alguma.

Consequências do livre arbítrio

Apesar da pesada crítica social, o dano está feito e retornamos ao ponto de origem. Lari vai embora de sua própria festa por meio minuto antes de decidir não se abalar com o ocorrido. O efeito de câmera lenta e a maquiagem escorrendo dão o tom dramático necessário para a cena. Sua tragédia começa com Pyong, mas termina quando aprende a colocar um ponto final em tudo que vai contra si mesma.

Lacrada no príncipe 02

Em um ato de empoderamento, Lari corta o príncipe 02 de sua vida, picota seu vestido, coloca um tênis, seu casaco de vó e volta pra festa. Anitta é contratualmente obrigada a elogiar o tal casaco e depois informa que não vai voltar para o palco, entrega o microfone e pega a estrada.

O playback já vem embutido

Anitta foge antes de Lari Manu subir no palco, cantar seu manifesto aos não-populares e ser aplaudida por todos aqueles que a fizeram não-popular.

Pyong curte o empoderamento como ato final de seu personagem, mas ainda assim, sua alma não será poupada

Antes das cortinas se fecharem, Lari manda seu recado: ‘A gente costuma achar que um dia alguém vai te dizer quem você é. Que as respostas vão vir de fora: de um príncipe, de uma festa, de um vestido; mas isso não é verdade’.

Em um manifesto contra a rivalidade feminina, Lari perdoa a amiga e, em seguida, conversa com o espectador afirmando que não está em relacionamento algum, quebrando o pressuposto de que protagonistas femininas não podem terminar sozinhas. Neste desfecho, empodera a si mesma e a audiência, trazendo uma nova cara ao feminismo, tornando-o mais dinâmico e acessível para as novas gerações.

Bônus: cenas dos bastidores. Pyong Lee entra na mente da nossa empoderada para tentar lhe arrancar os ensinamentos do Quebrando o Tabu, mas sem sucesso.

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