3x4 PIC: um papo com as designers Marília Procópio, Katy Miranda e Mari Iamaguti

Letícia Pires
QuintoAndar Design
Published in
6 min readAug 12, 2020

Aqui é a Letícia Pires. Hoje, colaboro como Product Design Manager do time de design de produto do QuintoAndar. Sou uma das designers que está há mais tempo no time e acredito que tenha entrevistado todo mundo desde então. Montar um time pra mim tem um tanto do fazer artesanal, e é ainda mais legal ir trabalhando junto e descobrindo mais sobre as pessoas.

Esse texto é o primeiro do nosso Medium que pretende formar uma série. Nele, convidei 3 designers para dividir aprendizados recentes. A ideia é trocar não só conteúdo técnico como já fazemos em muitos textos, mas também conversar de maneira mais despretensiosa sobre ser designer trabalhando tão perto do negócio e tecnologia.

Quadro de cortiça com algumas fotos 3x4

Aqui um pouco mais sobre a inspiração desta série: 3x4 é um dos formatos mais comuns de documentos de identidade no Brasil. E também, me lembra um quadro de cortiça de uma das hamburguerias que mais íamos almoçar quando o escritório ficava na região da Av. Paulista. Um dos retratos do quadro é da Raquel Prado, uma de nossas design leads. Não tenho ideia do porquê. Nem do quadro e nem da foto estar por lá. Mas lembro da sensação boa de conversas leves dos almoços. E uma vez que estamos separadinhos cada um na sua casa, esse é um novo jeito de trocar.

As convidadas, hoje, são: Marília Procópio, Katy Miranda e Mariana Iamaguti. Vem comigo pra esse papo!

Marília Procópio

Marília Procópio é product designer e está no nosso time há um ano.

Coisa mais fascinante que já clicou na sua cabeça trabalhando com produto nos últimos seis meses:

Podemos melhorar muito nossa contribuição, como designers, trabalhando a comunicação. O que tem me ajudado:

Entender a motivação dos meus pares: muito do que falamos ou expressamos está fora dos argumentos que expomos. Ter consciência de que nem tudo foi exposto, ajuda a entender de onde estamos vindo e de onde o outro está vindo também.

Mostrar em vez de falar: na argumentação, unimos dados às nossas interpretações, que nem sempre é simples de seguir. Mostrar materiais brutos ajuda a outra pessoa a chegar a conclusões de maneira mais eficiente e autônoma. Se vocês chegarem a um caminho comum é ótimo; se não, vocês tem um terreno menos abstrato para debater.

Trazer outras pessoas para o processo: um bate-bola só entre duas partes — por vezes, designers e engenheiros ou só designers e PMs — pode ficar simplista ou improdutivo. Mais pontos de vista — colaboradores da Operação, Marketing — ajudam a ver as coisas de outra forma ou trazer aquele sentimento de “é, se mais gente tá discordando, minha ideia pode ser uma furada “.

Simular cenários: às vezes, nos apegamos a ideias e imaginar como seria de outro jeito nos permite aproximar das soluções dos outros. E ainda, você ganha clareza, mapeando riscos e projetando jeitos de contorná-los.

Entender quando a solução não é uma unanimidade: se você trabalha em um lugar com alguma dose de autonomia, provavelmente haverá vezes em que você seguirá em frente com a solução sem consenso de todo o grupo. Faça o que você acha que tem que ser feito no prazo do projeto.

Conteúdo sobre design que indica:

Sempre indico esse artigo da Erika Hall. Ela é excelente em explicar com exemplos práticos de problemas comuns ao dia a dia do designer de produto.

E o legal é que ela começa bem antes da aplicação da pesquisa em si — falando de como formular as perguntas de uma investigação e como escolher um método mais adequado. Depois tem toda uma parte que discorre sobre consumo dos insights e tomada de decisão, passando ainda por alinhamento de expectativas.

No artigo, alguns pontos são mais breves, mas no livro Just Enough Research, ela desenvolve com bastante profundidade. Este conteúdo me ajudou pra caramba quando eu comecei a assumir a responsabilidade da pesquisa qualitativa como etapa do processo de design. É bem direto ao ponto e trata especificamente das dificuldades de se fazer pesquisa no mundo corporativo, seja em uma empresa consolidada ou uma startup.

Katy Miranda

Katy Miranda é product designer e está completando 9 meses no nosso time.

Maior desafio de trabalhar com produto interno:

Manter a prioridade nos produtos internos. É comum encontrarmos interfaces importantes para a operação da empresa que se perderam durante o crescimento acelerado e, hoje, já não conseguem mais cumprir o seu papel. Isso acontece tanto pela falta de atualizações que acompanhem a evolução do negócio, quanto pela presença de um legado técnico que acaba virando uma barreira para as modificações.

É sempre importante lembrarmos que o sucesso dos nossos produtos internos também impactam diretamente o sucesso da experiência dos nossos clientes e, por isso, as necessidades dos times de operação não podem ser deixadas pra depois.

A coisa mais legal de trabalhar com produto interno:

Estar muito próximo dos problemas concretos, podendo ver e ouvir mais sobre as dores diárias de cenários que às vezes não listamos quando estamos projetando produtos para clientes finais.

Os processos de imersão e de validação das propostas são muito ricos, e, não é só pela proximidade. Sentimos que os nossos usuários se engajam na mesma intensidade que nós durante a resolução do problema, já que ela também vai beneficiar diretamente o trabalho que eles executam.

Como bônus, também temos a vantagem de receber um feedback direto e real time do que é implementado, facilitando a correção de falhas que afetariam toda a operação.

Uma dica de ouro para designers que estão fazendo softwares para times internos:

Tenho três — hehe!

Revisitar o objetivo inicial daquele produto versus o que ele entrega hoje. Se pergunte sempre: “ Esse produto está ajudando ou atrapalhando?”, “Até que ponto podemos alterar esse produto sem forçar a barra?”

Tomar cuidado com o falso ganho do puxadinho. Sabe aquele jeitinho que parece resolver o problema rapidamente, mas incentiva o uso combinado de muitas ferramentas ao mesmo tempo? Isso não é sustentável a longo prazo, pode significar um risco por conta das informações espalhadas e ainda dificulta qualquer controle mínimo de acessos.

Entender o valor do produto interno. Para mantermos um crescimento saudável, é fundamental olhar de dentro pra fora. Isso se aplica perfeitamente aqui se estivermos mirando para o do valor que entregamos e a saúde do negócio a longo prazo.

Mari Iamaguti

Mariana Iamaguti é product designer e está no nosso time há quase um ano — faz aniversário de QuintoAndar semana que vem!

Etapa do processo de design que mais gosta:

A parte mais gostosa do processo para mim, é quando chega o momento de organizar e aprender com tudo aquilo que foi encontrado durante a fase de discovery para enfim começar a mapear as oportunidades de inovação e melhorias no produto.

Porque:

Sinto que é o momento da união do abstrato com o tangível, o momento que pego dados e insights e transformo em algo que vai aos poucos tomando forma e ganhando significado.

O maior aprendizado dos últimos meses:

Entender quando é a hora de uma versão ou ideia morrer para que outra nasça. Durante um longo período, trabalhamos em um produto voltado às necessidades de um público bem específico. Fizemos muitas pesquisas exploratórias, entrevistas, ideações, protótipos e testes e por fim, entendemos que aquela novidade não faria sentido. Foi um pouco difícil “largar” a ideia.

Um conselho que já ouviu e daria para um designer de produto:

Ainda na faculdade, ouvi de uma palestrante que projeto nenhum pode ser um parto e muito menos um filho! Precisamos de um processo mais leve e de uma certa forma, com distanciamento e desprendimento de maneira que nos permita desapegar das ideias iniciais e aceitar que os projetos são dinâmicos, vivos e vão passar pelas mãos e crivos de muita gente. Na época, achei engraçada a analogia mas não tinha entendido tão bem o que ela significava. Hoje, no mercado de trabalho, me lembro desse conselho cada vez que apresento um critique ou que faço um spoiler pro time. Produto é um fazer coletivo.

Obrigada as minhas companheiras de café virtual e texto Katy Miranda, Mariana Iamaguti e Marília Procópio. Espero que vocês tenham curtido tanto quanto eu, esse papo mais informal e reflexivo. Valeu e no próximo mês tem mais!

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Letícia Pires
QuintoAndar Design

I help teams create engaging product experiences and new services. Design Director @QuintoAndar.