6 temas que dominaram a UXConf 2019

Bia Figueiredo
QuintoAndar Design
Published in
7 min readJun 3, 2019

O tema para a edição deste ano da UXConf chegou elevando as expectativas do que a gente encontraria lá: Changing Cultures Leading by Design. E, já dando spoilers, as palestras cumpriram o papel de ressaltar o poder transformador que o design tem! Para dividir um pouco do que aprendemos no evento, nós — Eu e Cris, designers de produto no QuintoAndar, separamos alguns temas que foram marcantes nessa edição.

Foto da palestra da Letícia na UXConf — A foto foi tirada da plateia e mostra a Letícia em cima do palco.

Ética

O design está ocupando novos espaços: é urgente falar sobre como a ética deve estar presente no nosso dia a dia e como ela deve ser tratada como parte da nossa abordagem metodológica.

No evento tivemos algumas palestras (incríveis) que trouxeram, em diferentes perspectivas, formas de sermos mais responsáveis e transparentes com os dados que coletamos e histórias que contamos.

Quem deu o pontapé nesse assunto foi a Vitória Silveira na palestra que abriu o evento com a provocação: “Vocês já pararam para pensar no quanto vigiamos pessoas?”. A tecnologia nos permite se aproximar de quem usa o nosso produto, mas pouco se fala se as pessoas estão cientes de como e quando usamos seus dados. O tema também foi abordado pela Bianca Guerra que, durante sua palestra sobre esse tema, também trouxe exemplos práticos de como garantir um produto com mais transparência, como por exemplo deixar os opt-ins mais claros e descomplicar fluxo de descadastramento.

“Se você tivesse que pagar por cada campo que está inserindo no formulário, você realmente pediria todos os dados?”
— Bianca Guerra

Para quem quer colocar a mão na massa, a Vitória dividiu links que valem ouro:

  • Estude o princípio criado por Ann Cavoukian (2009) em Privacy by Design;
  • Comece a questionar e estimular conversas sobre o impacto da criação de novos produtos e tecnologia com o Tarot Cards da Artefact;
  • E se estiver procurando referências, tem uma coleção de padrões de design para compartilhamento de dados, o If Data Permissions Catalogue.

Além dos dados que podemos coletar, a ética também foi relacionada a uma prática bem comum no nosso dia a dia: a pesquisa. A Rafaela de Souza dividiu casos em que os resultados comprometiam as pessoas ou o meio em que foram entrevistadas. Assim como a Claudia Sciré nos definiu — somos “stalkers profissionais” — , temos muitas ferramentas e metodologias para acompanhar e entender quem usa o nosso produto, porém precisamos de limites claros de até onde podemos ir com todas essas informações.

Acessibilidade empodera

Vivendo num mundo de 7,6 bilhões de pessoas, onde 1 bilhão dessas pessoas têm algum tipo de deficiência, estamos projetando a melhor experiência para quem? Ana Cuentro, em sua palestra define acessibilidade como a criação de um caminho para permitir que pessoas com deficiência percebam, compreendam, naveguem e interajam no seu dia a dia.

Como mulher surda oralizada e designer, ela dividiu com a gente algumas experiências e barreiras que enfrenta no mundo físico e digital. Sempre é sensível e necessário escutar a vivência da perspectiva de quem passa pelo problema. A Ana também levantou discussões sobre nos tornarmos mais conscientes sobre nosso papel em projetar e entender as barreiras que existem para todos os usuários.

Alguns caminhos de mudança são mais simples do que a gente imagina: a Lívia Gabos reforçou na sua palestra que mesmo no mundo visual como o nosso, existem formas bem simples de tornar a informação mais acessível. Ao compartilhar um fluxograma e/ou um gráfico com legenda, por exemplo, você pode criar uma tabela que explica o fluxo ou as proporções encontradas no gráfico.

Imagem da apresentação da Livia durante a UXConf — Tem um gráfico acima de uma tabela que ambos representam os mesmos dados porém explicados de formas diferentes.

Para continuar seguindo em frente, no caminho da mudança, nós como designers precisamos conversar e ouvir mais. Temos muito a aprender com quem batalha todos os dias batalhas diferentes das nossas.

Liderança

É inspirador ter visto num evento de Design discussão e troca de experiência sobre cargos de liderança. Precisamos levar o design como estratégia para novos fóruns dentro das empresas.

A Letícia Pires, nossa Product Design Manager no QuintoAndar, trouxe na sua palestra como foi sua trajetória até ocupar essa posição e quais os pontos que devemos ficar atentos para acabar com a liderança acidental. Numa perspectiva pessoal, ela reforçou que se tornar líder não mudou sua rotina: ela continua projetando experiência e conversando com pessoas, mas agora olhando para a carreira do seu time e entendendo como o seu papel se remodelou com essa nova estrutura de trabalho. A Lets escreveu um artigo muito bacana que conta mais detalhes sobre sua palestra, assim como dicas para aqueles que estão nessa posição de liderança.

De outro contexto, o Rodrigo Lemes apresentou na sua palestra como vem liderando o time de Design do Itaú e como ele acompanha o desenho da carreira de cada profissional do seu time baseado na cultura do feedback. É importante identificar quais pontos a equipe considera como oportunidade de melhoria e que pontos o próprio profissional gostaria de se desenvolver, assim alinhamos as expectativas e amadurecemos o time.

Técnicas que valem ouro

O Leandro Novaes falou sobre nosso dia a dia no QuintoAndar e como, nós designers, podemos constantemente redesenhar o nosso processo de acordo com os problemas que estamos encarando e aumentar cada vez mais o nosso potencial como time. Ele trouxe ao palco da UXConf BR a Design Jam, uma dinâmica em que pessoas com diferentes backgrounds se reúnem por um curto período de tempo e, utilizando métodos de design de forma modular, focam em explorar estratégias e soluções diferentes.

Durante o evento também vimos palestras que reforçam a importância do conteúdo que criamos. O texto, por exemplo, é um canal poderoso de estratégia, seja uma label de botão ou a forma como explicamos os termos de uso de um site, as ferramentas de UX Writing estão criando força e o papel do especialista tem muito a agregar em qualquer estágio do produto.

Como UX Writer, a Cristina Luckner dividiu um pouco sobre essa ramificação do design que está se popularizando e trouxe exemplos práticos de impacto para o nosso dia a dia. Foi muito interessante também aprender com o Daniele Franco a importância de se preocupar com a aplicação das palavras não só em relação ao seu significado, mas também ao seu contexto. Ele trouxe o impacto de entender a cultura, além do idioma, para projetar uma experiência ainda melhor. Um exemplo utilizado pelo Daniele, que trabalha no Decolar, foi a forma como traduziram as Landing Pages de destinos específicos para públicos diferentes. Acapulco, por exemplo, é a praia de final de semana para os mexicanos, mas uma viagem que alguém do Brasil provavelmente só fará uma vez na vida, e você tem que levar isso em consideração na hora de traduzir o conteúdo.

Contextos das aplicações do design

O que também não faltaram foram cases dividindo experiências e aplicações do processo de design em contextos bem diferentes. Um deles foi o da Luana Marques, que falou sobre como o processo de design centrado no usuário funcionou para desenvolver o time de futebol americano feminino Cold Killers FA, fortalecendo o esporte e dando protagonismo para as experiências individuais e coletivas do time.

Quem também trouxe uma lente diferente para o processo de design foi a Thaís Falabella, com o seu projeto de inclusão social para a população carcerária do sistema prisional APAC. Ela falou em detalhes de como aplicou uma oficina de design com os recuperandos, quais foram as dificuldades de trabalhar em um contexto tão singular e como esse processo foi poderoso em sensibilizar os recuperandos que eles podem ser os agentes que geram as melhorias que desejam ver na APAC como também em suas vidas.

Imagem da apresentação da Thaís durante a UXConf — Mostra os recuperandos juntos numa dinâmica de brainstorming e painel de ideias que a Livia organizou durante o projeto

Diversidade com protagonismo

A pesquisa Panorama UX, que traça um retrato de quem trabalha com UX no Brasil, apresentada pela Carolina Leslie ilustrou sem máscaras como a diversidade (ou a falta dela) está presente na comunidade de design. Esses foram alguns dos cenários que observamos nos resultados da pesquisa:

  • De todas as 1000 respostas, 54% delas ainda estão concentradas em São Paulo;
  • Somos uma comunidade jovem: cerca de 68% tem menos de 32 anos;
  • Se comparado ao IBGE, nossa proporção de pessoas com deficiência trabalhando na área tem muito a melhorar;
  • O gênero masculino é a maioria — no total da nossa área e maior ainda nos cargos de liderança;
  • Das pessoas que responderam ter filhos e trabalham com UX, a maior parte são do gênero masculino;
  • 70% das pessoas que responderam a pesquisa se consideram brancas — um número assustador comparado ao retrato do IBGE, que é de 44,6%.;

Além desses dados que representam o mercado de trabalho em UX, o Wagner Silva apresentou durante a palestra “Onde estão nossas referências negras em Design?” alguns números levantados no mapeamento de Designers Negros/as feito pelo Afroguerrilha em 2017 que revelam a nossa falta de diversidade desde a nossa graduação.

  • A grade curricular de 96,6% dos entrevistados não incluiu designers ou teóricos(as) negros(as) ou africanos(as) como referências;
  • Apenas 20% dos entrevistados já foram liderados por pessoas negras;
  • Um levantamento feito pelo American Institute of Graphic Arts em 1991 revelou que 93% da comunidade de Design Gráfico. Esse número evoluiu muito pouco em 25 anos, como revelou a pesquisa feita pelo Design Week, onde 88% dos entrevistados se consideravam brancos.

“Não tem como falar sobre transformação cultural sem mudança de comportamento. Precisamos nos tornar agentes disso”
— Wagner Silva

Algumas iniciativas incríveis já estão acontecendo, como: Twitter Blackbirds, UX para Minas Pretas e Designers Negrxs no Brasil. Mas será que nossa comunidade não tem potencial de ir além?

Imagem da apresentação do Wagner durante a UXConf — É uma frase da Vernã Myers (VP de inclusão): “Diversidade é chamar para o baile, e inclusão é convidar para dançar.”

Claro que tudo isso que falamos foi só uma palhinha do que rolou na UXConf! Em breve os vídeos das palestras estarão disponíveis para serem vistos na íntegra e no dia 7 de junho vai rolar o Redux, uma versão reduzida da UXConf em São Paulo.

As inscrições para a UXConf 2020 já estão abertas! Nos vemos lá! 🙆🏻‍♀️

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