Photo by Markus Spiske on Unsplash — Duas pilhas de pedra, uma menor e outra maior, conhecido como rock balancing

O que você pode aprender com o Goal Setting da RD Station

Rogerio Angeliski
Ship It!
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9 min readAug 17, 2020

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No final de 2019 eu comecei a trabalhar na RD Station (naquela época, ainda com o nome de Resultados Digitais) e uma das coisas que me chamou a atenção por aqui foi o processo de Goal Setting, um ritual de desenvolvimento bem maduro que junta duas metodologias conhecidas no mercado: OKRs (metas de entrega) com PDI (plano de desenvolvimento individual). No artigo a seguir, explicarei em detalhes como funciona essa prática por aqui

O Processo

Ele é conduzido de ponta a ponta pelo nosso time de People Development e acontece 2 vezes no ano, entretanto, cada RDoer (como chamamos as pessoas que trabalham por aqui) é responsável pela sua própria decisão de carreira. O processo é dividido em alguns momentos:

  • Esquenta: semanas em que o time prepara todos os RDoers e lideranças com treinamentos sobre o tema, materiais de apoio, templates e tira dúvidas;
  • Alinhamento: momento em que o RDoer escreve e compartilha com sua liderança as goals que imagina entregar (segura aí que eu já te explico quais são);
  • Acompanhamento: encontros recorrentes do RDoer com sua liderança para checar como está indo a evolução e fazer eventuais mudanças de rotas;
  • Check in: semana que todas as pessoas da empresa param para avaliar (e registrar) como está o andamento das goals;
  • Avaliação: momento em que RDoer e liderança fazem um balanço de como foi a evolução do semestre, junto com feedback 360º de pares.

Deu pra perceber que não é só um OKR da vida né?

Você pode estar se perguntando: porque ter todo esse trabalho? Simples, alinhamento de expectativas.

Velocidade = Confiança x Clareza

Carro correndo numa velocidade absurda no trânsito, desviando de outros carros por um triz

O Goal Setting tem dois objetivos:

  1. Definir o que o time irá se comprometer a fazer (goals de entrega)
  2. Alinhar o que queremos aprender/desenvolver (goals de desenvolvimento)

Goals de desenvolvimento Vs goals de entrega

Antes de começar, acho importante a gente conceituar algumas coisas sobre essa visão de goal. Quando estamos falando de goals de entrega, fazemos referência a entregas de valor para a empresa. Por exemplo, um goal de entrega poderia ser colocar um produto X no ar ou lançar aquela funcionalidade tão aguardada pelos seus clientes. É importante ressaltar que os goals de entrega são do time, você como um membro dele tem que contribuir para que isso seja alcançado. Por outro lado, os goals de desenvolvimento são individuais. A ideia é que você use eles como diretrizes que vão guiar a sua evolução (nos próximos 6 meses) e que eles sirvam de base para impulsionar os goals de entrega.

Por exemplo, imagine que seu time tem o goal de entrega fazer o produto X entrar em produção, porém ele tem uma linguagem/framework diferente das que você tem facilidade. Você pode (e é importante ressaltar que a escolha é sua) decidir evoluir nesse tópico, e colocar seu goal de desenvolvimento uma relação com essa linguagem/framework. Caso você prefira investir suas horas profissionais (sim, realizamos nossas goals de desenvolvimento dentro das 8hs de trabalho) aprendendo o framework Y que ninguém na empresa usa, terá apenas que embasar sua decisão — por exemplo dizendo para sua liderança que em 6 meses você gostaria de migrar para outro squad que usa essa tal tecnologia, e tá tudo bem.. Percebe como o alinhamento (entrega vs desenvolvimento) mais uma vez brilhando?

E isso muda completamente o jogo. Imagine que nesse semestre eu coloquei como um dos meus goals falar mais em inglês e surge uma oportunidade para palestrar nesse idioma. Quem você acha que meu líder vai indicar? Você percebe a sutileza desse momento? Você é o responsável por escolher onde quer chegar. Isso é tomar a liderança da sua carreira e se você quer entender melhor esse processo, esse texto pode te ajudar: Você sabe o seu tour of duty?

Eu acredito que duas coisas fazem isso muito especial e efetivo aqui na RD: o processo bem estruturado e a prioridade que a empresa dá para ele..

Eu sei, tudo muito bonito, mas nem todo mundo trabalha na RD (ainda, mas temos vagas abertas), então a seguir compartilharei 10 dicas para você fazer seus goals independente da empresa (e de como aproveitar melhor eles para chegar onde você precisa chegar).

Mais é menos

A primeira dica é clássica e você já ouviu várias vezes: Quando tudo é prioridade, nada é prioridade. O que eu quero trazer pra você é uma recomendação: A única coisa: O foco pode trazer resultados extraordinários para sua vida. Esse livro explica o poder que focar em apenas uma coisa vai trazer para os seus resultados e mais importante, como ir adicionando isso pouco a pouco na sua rotina. Você pode dar uma olhada neste resumo animado, mas eu recomendo o livro, vale muito a pena.

Busque alavancas

Tempo é a única coisa que nós não temos de sobra. E não vou falar de todos os milhões de hacks de produtividade que existem por aí, mas sim sobre você tentar entender como você pode alcançar suas metas mais rápido. Não estou falando de atalhos (o caminho mais curto tem seu preço, cuidado), mas de aceleradores.

Quer aprender uma tecnologia nova, será que não tem alguém no seu time/empresa que manja dela e pode te ajudar? Sua entrega envolve feature X, será que alguém no time W não sabe como fazer isso e pode fazer um pair com seu time?

A dica aqui é para olhar a sua volta e entender se existem componentes a sua volta que podem te ajudar a ir mais rápido naquela direção. Você pode bater um papo com a sua liderança e juntos entenderem como ele pode te ajudar a ir mais rápido naquele caminho.

Por aqui usamos o modelo 70/20/10. A ideia é que 70% do aprendizado vem com experiências próprias (dia-a-dia do trabalho, prática deliberada), 20% de aprendizado com interações sociais (ensinando algo ou conversando sobre esse assunto com seu time, por exemplo) e 10% de aprendizado com material formal (aquele livro, curso da udemy e afins). Esse modelo te ajuda a entender, por exemplo, que gastar o semestre todo com cursos não vai te fazer evoluir rapidamente.

Marque revisões periódicas

Você definiu seus goals e pronto, bora ir pro dia-a-dia! Não faça isso. O que acontece é que mesmo depois de definir eles, se você não tiver eles constantemente no seu radar, eles vão acabar “desperdiçados”. Coloque um evento na sua agenda para olhar para eles (eu gosto de 15 dias, mas cada um tem sua preferência). Avalie o que você vem fazendo para alcançá-los quais têm sido suas dificuldades, enfim, revise seu progresso de maneira que você entenda se está evoluindo ou não. Isso vai te ajudar a entender se não gastou 6 meses achando que estava fazendo muito e no final não fez nada.

Detalhe o que você vem fazendo

Uma dica que eu recebi do meu líder é para registrar o que eu vinha fazendo/alcançado nos meus goals (valeu pela dica, Almeida!). E eu não estou falando só daquele progresso da métrica do OKR não, estou falando dos detalhes. Abriu aquele PR? Fez aquela talk? Ajudou aquele outro time? Registre.

Isso ajuda em algumas coisas, primeiro você começa a ver sua trajetória até o momento atual, o que te permite entender acertos e erros (talvez você tenha passado tempo demais naquele PR), além disso, você consegue ter um registro das suas ações, o que facilita bastante no fechamento do semestre.

Alinhamento entre times

Lembra que eu falei do alinhamento lá no começo? Quando estamos falando dos goals de entrega do time é um pouco mais fácil de fazer isso, mas e quando se trata de um goal de desenvolvimento, que é individual? Você quer evoluir em Ruby e para isso fez um refatoração na funcionalidade de outro time. Você falou com eles antes? Deixou claro expectativas e responsabilidades? Isso é muito importante para que você não se frustre e para que o time não seja pego de surpresa. Não tenha medo de ousar (a feature mais importante do produto também precisa de evolução), mas alinhar responsabilidades é essencial para que você não gere conflitos desnecessários, nem frustrações da sua parte por recusas inesperadas.

A sua prioridade não é a dos outros. E tá tudo bem

Às vezes o seu goal, ou até o seus key results podem ir ao encontro com prioridades de outros times, porém a velocidade com que isso vai se desenrolar tende a variar. Não se frustre, isso é normal. Não é o fim do mundo aquele seu PR super bacana ficar 1 mês parado porque o outro time (dono da funcionalidade) está focado com algumas entregas mais estratégicas, aqui vale só se atentar para não criar bloqueios (não crie cenários onde você só pode avançar se aquele PR for aprovado) e sempre procurar aquelas alavancas para liberar essas travas mais rápido.

Não pira. Respira.

Se você não vive sem wifi dentro de uma caverna, você está sendo bombardeado por informações 24h por dia. Além disso, nossa sociedade é voltada para o culto da produtividade, onde você precisa ser produtivo o tempo todo, é inaceitável você ficar de boas no sofá vendo Netflix. E se você trabalha com tecnologia, ainda tem a falácia do Javascript: a cada 2 segundos nasce um novo framework (em qualquer linguagem), maior, melhor, revolucionário, com inteligência artificial e que vai tomar seu emprego, então você tem que aprender ele.

Complicado né? Essa dica aqui é: Relaxa. Tá tudo bem não aprender o tempo todo, não compartilhar conhecimento, não saber o novo hype do momento que vai tomar seu emprego quando o Cobol/Java/Ruby morrer.

A diva Oprah dizendo que vai ficar tudo bem

Às vezes o fim do mundo entra em produção

Você fez seu planejamento. Achou as alavancas. Achou as entregas certas. Colocou na agenda os melhores meetups, eventos, livros, tudo certinho pra detonar no semestre. Aí veio uma gripe e acabou com tudo isso. Acontece. Como eu disse no tópico anterior: Não pira. Respira.

Sam Winchester dizendo que é o fim do mundo, de novo

Aproveite as (boas) oportunidades

Quando o semestre começou muita coisa estava planejada, mas o mais importante é que elas eram um planejamento. Durante o decorrer do semestre, boas oportunidades podem aparecer,um treinamento X, um evento Y, um curso W. A ideia aqui é você ter atenção a essas oportunidades, para tirar proveito delas. Mas cuidado, é tentador perder o foco, então tenha bastante critério para avaliar se aquela é uma boa oportunidade ou se é só mais uma opção que apareceu.

Check In — É pra esse lado mesmo?

De tempos em tempos pare, revise suas anotações, tente entender se o cenário onde você começou não mudou o suficiente para novas prioridades tomarem a frente. Uma entrega de valor pode ter menos valor agora, devido a uma mudança crítica no cenário econômico mundial (familiar?), então reduzir custos pode ser mais importante. Além disso, procure entender se o que você vem fazendo até agora tem dado certo. Suas alavancas estão ajudando? Seus esforços estão no caminho certo? Será que você não está passando tempo demais estudando, quando deveria estar praticando? Ou praticando demais sem base teórica? Faça uma retrospectiva para entender isso e performar ainda melhor depois.

E não tenha medo da mudança, o cenário de janeiro não é o mesmo em abril, se você fez uma análise profunda e percebeu que não devia estar mais investindo tempo/esforço no goal X, não gaste mais nenhum segundo nele. Como a gente fala bastante por aqui, fail fast. Mudar de caminho na metade do tempo é melhor que mudar de caminho só no final.

Jonh travolta meio perdido no clássico filme Pulp Fiction

Conclusão:

A dúvida que sempre fica é: Esse esforço todo vale a pena? Eu posso dizer pela minha vivência nesses últimos anos na RD Station que valeu pra mim. O componente mais importante do Goal Setting não são os tais OKR, mas sim o alinhamento.

Alinhamento com você mesmo, com sua liderança, com a empresa, com todos que tiverem interesse. Todo mundo procura evoluir, mas ter clareza sobre onde se quer chegar ajuda imensamente a ir com maior velocidade nessa direção.

Se você tiver interesse que eu fale mais sobre como estruturar esses Goals de Entrega e de Desenvolvimento, deixe um alô nos comentários . E se quiser fazer parte do time de talentos da RD Station, confira nossas vagas abertas aqui.

Rocky Balboa comemorando felizão depois de usar essas dicas para alcançar os goals dele

Referências

O que é OKR? Como o Google define suas metas

O que é OKR

Education competencies

OKR — Aprenda a Definir Metas como a Google

O poder do estudo e da prática deliberada

Tours of Duty: The New Employer-Employee Compact

The Alliance: Managing Talent in the Networked Age (English Edition)

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Rogerio Angeliski
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Programador Web. Do Back a Front. De Java a JavaScript. De JVM a Node. Do livro ao vídeo game. Nerd as vezes, besta sempre. Falo sério quando não é piada.