“Amor” Manufaturado: Como a Pornografia Hoje é Sobre Criar Uma Intimidade Sintética.
Sendo um grupo anti-pornografia e pró-amor e relacionamentos saudáveis, falamos muito sobre como a indústria pornográfica se transformou na era pós-internet. Aqui está um breve resumo: o negócio migrou de estúdios de filmagem e companhias de produção ranqueadas pelo lucro com fitas VHS, para o mundo expandido da web de compartilhamento de vídeos pirateados em sites “tube” de vídeos online. Muitos estúdios desde então fecharam as portas, e aqueles que ainda são os responsáveis pela produção do material agora negociam com os mesmos sites que roubaram e distribuíram seu conteúdo.
Esse obviamente não foi o fim da pornografia. Qualquer um que afirme que a indústria pornográfica morreu está se referindo meramente à antiga estrutura de estúdios, e não à produção e demanda de material sexualmente explícito. Se você sabe algo sobre a normalização do pornô em nossa sociedade, você sabe que o que ele fez foi o oposto de desaparecer.
Já faz uma década desde que sites de compartilhamentos de vídeos dominaram o negócio. E, enquanto acompanhamos as tendências, notamos algumas diferenças no que pelo menos parte da audiência parece estar buscando na pornografia. O problema é que, como os consumidores, como todos os seres humanos, são programados para desejar relacionamentos genuínos e com seres humanos reais, eles estão em busca de algo real que a pornografia nunca será capaz de fornecer.
Palavra-chave da Pornografia
Atores e atrizes que dominaram durante os “anos de ouro” dos estúdios da indústria pornográfica já disseram que lamentam o fato de que os filmes explícitos perderam formato contendo narrativa de histórias. Os vídeos hoje são mais sobre penetração e sobre a mecânica de sexo pesado do que sobre qualquer outra coisa. É claro o que o objetivo singular é, e não é nada poético ou romântico.
De acordo com David Horsey, do Los Angeles Times, a pornografia online é nada menos que desumanizante — e nós absolutamente concordamos. Os vídeos não são nada mais do que a rotação de corpos e orifícios definidos por um termo de pesquisa: “Asiática”, “lésbica”, “adolescente”, “líder de torcida”.
Essa é a mensagem dominante, o volante por detrás da pornografia hoje — mera objetificação, e a venda de partes de pessoas.
“Mulheres não são nada além de conjuntos de orifícios destinados para o uso e abuso dos homens, e os homens não são nada além de falos anônimos demandando serem servidos” — escreveu Horsey.
Mas não parece que esse conteúdo superficial porém horripilante basta. Enquanto o consumidor assiste mais e mais pornografia, eles começam a desenvolver uma tolerância e começam a procurar por conteúdo ainda mais explícito ou versões ainda mais extremas de conteúdo pornográfico. O que antes era excitante, agora parece tedioso. Nós já vimos como a internet alimenta esse problema ao fazer mais e mais material extremo não apenas acessível, mas extremamente popular.
Essa versão hardcore, sem emoção e desvinculada da realidade de conteúdo pornográfico domina hoje os sites mais populares, é promovida em todas as páginas principais dos sites “tube” de compartilhamento de vídeos pornô. Mas, enquanto os consumidores estão demandando por mais e mais, os atores e produtores estão tendo que inventar novas maneiras de oferecer uma outra dimensão para a experiência com a pornografia.
>> Assistir: O contrário do vício não é sobriedade. É conexão. <<
Procurando por intimidade
Não surpreendentemente, existe uma noção muito limitada de conexão no sexo sintético e apartado da realidade mencionado acima, e enquanto os consumidores estão optando por fantasias distorcidas ao invés da realidade, eles desejam e demandam por mais e mais pornografia.
Mas, novamente, nosso indivíduo obcecado por pornografia ainda é um ser humano, buscando por amor e conexão em todos os lugares errados e de formas bastante problemáticas e doentias.
A demanda por conteúdo de webcammers está em uma crescente, como vemos que os consumidores são atraídos pelo conceito de procurar e encontrar uma atriz ou garota favorita que se encaixa nas suas fantasias. Do mundo das câmeras pessoais, personalidades do mundo pornô emergiram que essencialmente estão tomando para si um nicho das atrizes dos estúdios pornográficos.
Essas (predominantemente) mulheres criam elas mesmas seus próprios vídeos, e elas não apenas postam pornografia. Elas se abrem sobre suas vidas, compartilham sobre seus gostos e desgostos, e falam com a câmera para criar um sentimento de pseudo-conexão com a audiência pagante. Algumas vezes, essas mulheres vão se filmar casualmente vivendo seus dia-a-dia, ou jogando video games. Os consumidores de seus vídeos podem até mesmo comprar coisas nas suas listas de desejo na Amazon e lhes enviar presentes pessoais. Essas mulheres não são mais apenas corpos nos vídeos, mas uma personalidade, assim acrescentando mais uma camada de intimidade forjada e comprada que anteriormente estava faltando. Pode pensar sobre isso como uma experiência relacionamento de longa distância falso para os vários consumidores do outro lado da câmera. Solitário, certo?
Adicionalmente, algumas pessoas na indústria estão tentando satisfazer a demanda por conexão através da realidade virtual. Um ator antigo da indústria pornográfica, Ron Jeremy, (inclusive, já acusado de uma série de ataques sexuais) é um ator que está expandindo sua atuação para o negócio de diretor de vídeos em 360 graus. Ele acredita que isso adicionará uma outra dimensão para a experiência e levará os consumidores a ter acesso a três coisas: imersão, conexão e intimidade.
A tecnologia está literalmente tentando substituir nossos relacionamentos, criando versões sintéticas de experiências humanas (mas, obviamento, como tudo relacionado ao mercado do sexo, com ideias bastante deturpadas por trás) . O problema com essa ideia, é que você não pode manufaturar intimidade fazendo uso de realidade virtual e vídeos do estilo YouTube, não é mesmo? Eles podem adicionar coisas que não estavam lá antes, mas realmente, é um conteúdo falso, produzido, distorcido, sintético (e geralmente abusivo) e comprado de uma versão real de relacionamento pessoal ou sexual e intimidade.
Como podemos ver, a indústria pornográfica continuará usando avanços tecnológicos para tentar chegar mais e mais perto de uma experiência real, de um sentimento real que você pode encontrar em um relacionamento, e daquele sentimento de conexão. Ela sabe que há demanda para isso — e a enfatiza. E, graças à essência dos sentimentos reais e do amor real, isso está totalmente fora do alcance deles, porque você não pode simplesmente manufaturar e substituir relacionamentos e vivências reais e humanas.
Nunca o suficiente
Aqui está o quão convencidos estamos como sociedade que o que temos não é suficiente: um consumidor pode ter um ótimo relacionamento com uma parceira ou parceiro, e mesmo assim se virar para a pornografia para uma “satisfação” de acompanhamento, porque isso é considerado normal e aceitável.
“Existe uma certa forma de experimentar excitação sexual que é o oposto da proximidade”, diz o Dr. Gary Brooks, especialista em vício em pornografia. “Na melhor das hipóteses, isso pode ser gerenciado mais ou menos bem para algumas pessoas, mas na maioria das vezes isso cria e alimenta uma barreira que envenena qualquer relacionamento interpessoal”. Os especialistas em relacionamentos, Doctors John e Julie Gottman explicam como, “quando assiste pornografia o usuário se coloca em total controle da experiência sexual, em contraste ao sexo real, no qual as pessoas estão compartilhando a experiência e o controle com a outra pessoa. Dessa forma, um usuário de pornografia pode formar a expectativa irreal de que o sexo será de baixo do controle de só um indivíduo (ele mesmo).. o objetivo real de um relacionamento é confundido e finalmente perdido”.
A pornografia promete uma satisfação imediata, excitação sem fim e intimidade fácil, mas no final, ela furta do consumidor todas essas três coisas.
Baseado naquilo que ouvimos de ex-consumidores, é muito mais fácil procurar uma fantasia online onde não há medo de rejeição ou de acabar as coisas para dizer — elas são livres de desapontamento e de dor. Mas, com isso, eles estão se privando de experimentar a vida real de forma saudável e plena. E, sejamos honestos — um relacionamento sincero, respeitoso, carinhoso e amoroso com um ser humano e com comprometimento real na vida real sempre valerá muito mais a pena do que qualquer conexão falsa via internet.
“Desconecte-se da fantasia e conecte-se com a realidade”.
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Retirado de FTND — Link para o texto original.
Referências originais foram mantidas.
Traduzido livremente por mim ❤ Nina Cenni.