Comunidade, utilidade e acesso: sua marca está realmente disposta a fazer parte da web3?

Felipe Ribbe
Felipe Ribbe
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4 min readApr 27, 2022

NFTs, tokens, web3, cripto, blockchain… Você provavelmente tem ouvido falar (bastante) sobre estes termos ultimamente, sejam elogios ou críticas, de otimistas ou pessimistas, pessoas com conhecimento de fato para emitir opiniões ou outras que apenas reproduzem o que leem por aí. Está em todos os lugares. Empresas de variados setores, marcas das maiores às menores, organizações esportivas em geral, criadores de conteúdo; é praticamente certo que, se algum deles ainda não realizou uma iniciativa na área ou tem planos concretos de fazê-lo em breve, ao menos há conversas sobre o assunto internamente. Afinal, quem quer ficar de fora das grandes oportunidades, especialmente financeiras, que a nova geração da internet promete? O FOMO nunca foi tão real.

Já escrevi bastante sobre web3 e suas possibilidades — em minha página no Medium você encontra todos os textos –, realizei alguns projetos em minha época de head de inovação no Clube Atlético Mineiro, trabalho na área atualmente e tenho dedicado horas todos os dias para entender melhor o que vem por aí. Desta minha experiência e meus estudos, fica claro que três palavras surgem como as principais em qualquer projeto com ambições de médio e longo prazos: comunidade, utilidade e acesso.

Comunidade tem correlação direta com outra característica fundamental da web3, a descentralização. Ao cortar ou diminuir o papel do intermediário (Big Techs de web2), permite-se uma relação muito mais próxima entre marcas e clientes, clubes e torcedores, artistas/criadores e fãs. Essas pessoas passam a fazer parte de um grupo que compartilha interesses, tem skin in the game, participação direta, seja de influência em decisões, financeira ou as duas, tendo um estímulo cada vez maior de se tornar um evangelizador daquele projeto, já que se divide, de alguma maneira, o sucesso. É deste entendimento que surgem ideias como:

web2: go to market

web3: go to Community

web2: share with friends

web3: friends with shares

web2: customers and investors

web3: customers are investors

E outras.

Utilidade também é uma palavra que tem sido muito falada. Se o projeto não tem utilidade, ele tem pouco ou zero valor, segundo o entendimento comum. Até de obras de arte digitais se cobram utilidade — mesmo que, neste caso, ela seja basicamente a apreciação e os sentimentos que uma obra de arte desperta nas pessoas. Essa cobrança, muitas vezes desenfreada, faz com que em basicamente todo projeto de web3, especialmente os PFP (ou Avatar projects), se tenha um roadmap desenhado no site, mesmo que, na maioria das vezes, ele não seja cumprido. A parte as críticas, de fato é complicado, especialmente para quem está chegando agora, enxergar valor em coisas não tangíveis, digitais, que nos acostumamos a “ter de graça”. Por isso, atrelar utilidades reais ajuda bastante a aumentar a percepção de valor das pessoas.

Por último, quando falamos de acesso, falamos de comunidade (acesso a um grupo que compartilha opiniões ou interesses similares) e utilidade (acesso a artistas, atletas, marcas e organizações esportivas), mas também de ideias como escassez e exclusividade, afinal o acesso, nestes casos, nunca será para todos.

Tudo isso é verdade e o discurso em geral parece corroborar estes pensamentos. É o que todos prometem quando estão vendendo seus projetos de web3. Mas o quanto estão dispostos a abrir mão para dar acesso e utilidade realmente relevantes à comunidade?

Sinto que ainda há um descolamento considerável entre discurso e ação. Sim, todos estes conceitos da web3 são muito atrativos, mas ao mesmo são disruptivos demais para a maioria. Ceder o controle, mesmo que parcial, para a comunidade, dar acesso, poder de decisão, influência… é difícil, pois trata-se de uma mudança de paradigma muito grande. Mas se o objetivo é ser de verdade — não somente parecer -, é preciso entregar bastante primeiro para depois receber. Muitos querem ganhar o máximo cedendo o mínimo com justificativas como “as coisas sempre foram assim”, “o vestiário é sagrado”, “ninguém mexe na parte artística do show”, “nossos shareholders não vão receber bem essa notícia” e por aí vai.

Isto não combina com web3, não precisa de web3. Se você realmente acredita no potencial da terceira geração da internet, experimente de fato o que ela pode te oferecer. Mesmo que isso envolva falhas, lembre-se que o jogo é de longo prazo e estes aprendizados iniciais vão valer a pena. Se não der certo mesmo, pelo menos você foi autêntico e explorou de corpo e alma todas as possibilidades. E seus fãs/torcedores/consumidores saberão reconhecer isso.

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Felipe Ribbe
Felipe Ribbe

Former Director Brazil at Socios.com and Head of Innovation at Clube Atlético Mineiro