Crítica | Candyman aposta na subversão contra o racismo
Terror de Nia DaCosta em colaboração com Jordan Peele resgata lenda de personagem famoso das histórias de horror
Só de saber que Jordan Peele está envolvido em um filme de terror, já eleva a curiosidade e a expectativa por algo de grande qualidade; o excelente Corra e o bom Nós estão aí para provar isso. No entanto, a direção de A Lenda de Candyman fica sob a responsabilidade de Nia DaCosta.
Apesar de se passar no presente e ter como protagonista o artista Anthony McCoy (Yahya Abdul-Mateen II), existe um resgate do passado para dar peso e contextualizar os acontecimentos atuais dentro da história.
Por trás da figura e da lenda do Candyman existe racismo encrustado há muitas gerações. A pessoa, ou pessoas, por trás do homem de gancho na mão é marcado pela violência provocada pelo racismo.
Candyman é um personagem trágico desde de sua origem lá na escravidão, e ele segue assim em suas encarnações seguintes. O racismo marcou cada homem por trás do personagem, algo que tomamos conhecimento quando somos apresentados ao modo como o Candyman de Tony Todd foi morto.
Um ponto que o filme peca é em deixar a sensação de terror e medo clara para o público. Por ser um filme do gênero, esperava-se mais em relação a isso, ainda mais tendo Jordan Peele envolvido com a produção.
As coisas parecem ficar em um campo subjetivo; o racismo e as horríveis situações advindas dele formam a base do medo da trama, mas ela não se sustenta. As cenas em que Candyman mata suas vítimas carregam uma presença de suspense maior do que a de terror, por vezes lembrando um filme de slasher.
Candyman é um vingador, um justiceiro, e isso fica mais exposto nos momentos finais do filme quando ele sai matando os policiais brancos que extrapolaram a lei — para dizer o mínimo. É importante que o filme o coloque assim, pois fica pressuposto que o protagonista da lenda é um ser maligno.
Anthony McCoy denuncia o racismo por meio de sua arte, mas a necessidade por algo novo e mais ousado o leva até a história do trágico personagem. A arte pode ser revolucionária e transformadora no âmbito social, e a transformação de McCoy em Candyman o faz um agente social importante para a luta antirracista.
A Lenda de Candyman acerta ao usar o personagem para discutir racismo e passar mensagens importantes, mas o filme peca por na construção do horror, que fica distante de ser alcançada.
Nota: 3,5/5 (Bom)
Direção: Nia DaCosta
Roteiro: Nia DaCosta, Jordan Peele e Win Rosenfeld
Elenco: Yahya Abdul-Mateen II, Tony Todd, Teyonah Parris, Colman Domingo