Crítica | Candyman aposta na subversão contra o racismo

Terror de Nia DaCosta em colaboração com Jordan Peele resgata lenda de personagem famoso das histórias de horror

Victor Malveira
Reviews on Time
2 min readApr 26, 2022

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Yahya Abdul-Mateen II, em cena do filme A Lenda de Candyman (Divulgação)

Só de saber que Jordan Peele está envolvido em um filme de terror, já eleva a curiosidade e a expectativa por algo de grande qualidade; o excelente Corra e o bom Nós estão aí para provar isso. No entanto, a direção de A Lenda de Candyman fica sob a responsabilidade de Nia DaCosta.

Apesar de se passar no presente e ter como protagonista o artista Anthony McCoy (Yahya Abdul-Mateen II), existe um resgate do passado para dar peso e contextualizar os acontecimentos atuais dentro da história.

Por trás da figura e da lenda do Candyman existe racismo encrustado há muitas gerações. A pessoa, ou pessoas, por trás do homem de gancho na mão é marcado pela violência provocada pelo racismo.

Candyman é um personagem trágico desde de sua origem lá na escravidão, e ele segue assim em suas encarnações seguintes. O racismo marcou cada homem por trás do personagem, algo que tomamos conhecimento quando somos apresentados ao modo como o Candyman de Tony Todd foi morto.

Um ponto que o filme peca é em deixar a sensação de terror e medo clara para o público. Por ser um filme do gênero, esperava-se mais em relação a isso, ainda mais tendo Jordan Peele envolvido com a produção.

As coisas parecem ficar em um campo subjetivo; o racismo e as horríveis situações advindas dele formam a base do medo da trama, mas ela não se sustenta. As cenas em que Candyman mata suas vítimas carregam uma presença de suspense maior do que a de terror, por vezes lembrando um filme de slasher.

Candyman é um vingador, um justiceiro, e isso fica mais exposto nos momentos finais do filme quando ele sai matando os policiais brancos que extrapolaram a lei — para dizer o mínimo. É importante que o filme o coloque assim, pois fica pressuposto que o protagonista da lenda é um ser maligno.

Anthony McCoy denuncia o racismo por meio de sua arte, mas a necessidade por algo novo e mais ousado o leva até a história do trágico personagem. A arte pode ser revolucionária e transformadora no âmbito social, e a transformação de McCoy em Candyman o faz um agente social importante para a luta antirracista.

A Lenda de Candyman acerta ao usar o personagem para discutir racismo e passar mensagens importantes, mas o filme peca por na construção do horror, que fica distante de ser alcançada.

Nota: 3,5/5 (Bom)

Direção: Nia DaCosta
Roteiro: Nia DaCosta, Jordan Peele e Win Rosenfeld
Elenco: Yahya Abdul-Mateen II, Tony Todd, Teyonah Parris, Colman Domingo

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Victor Malveira
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Um quase jornalista que tenta ser cinéfilo. O objetivo aqui é escrever resenhas de filmes, séries e de outras coisas aleatórias. Amante de futebol.