Outubro Rosa: muito mais que uma campanha

O mês de outubro marca uma grande luta de toda a sociedade em prol da vida

Carolina Miôtto Castro
Revista Brado
7 min readOct 7, 2020

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O laço rosa: símbolo mundial da luta contra o câncer de mama. Foto: Freepik.

Em 1980, após uma grande luta contra o câncer de mama, a norte-americana Susan G. Komen faleceu aos 36 anos de idade. Certa de que o destino de Susan poderia ter sido bem diferente caso os pacientes diagnosticados com essa doença soubessem mais sobre esse câncer e seu tratamento, sua irmã mais nova, Nancy G. Brinker, prometeu se doar à causa. Em 1982, comprometida a cumprir sua promessa de fazer de tudo para erradicar o câncer de mama, Nancy criou a fundação Susan G. Komen Breast Cancer, que se tornou a maior e mais bem financiada organização de câncer de mama dos Estados Unidos, hoje chamada Susan G. Komen for the Cure.

Na década de 90, a fundação lançou o famoso laço rosa, distribuindo-o pela primeira vez na Corrida pela Cura, realizada em Nova York, em 1991. Mais tarde, esse laço tornou-se o logotipo da fundação, representando um corredor em movimento e a importância da Corrida pela Cura, o maior evento de arrecadação mundial de fundos para pesquisa e educação sobre o câncer de mama na contemporaneidade.

Corrida pela Cura promovida pela Susan G. Komen em 2017. Foto: Reprodução / Susan G. Komen Puget Sound

O que era a princípio uma logomarca, se tornou o símbolo mundial da luta contra o câncer de mama, e as campanhas e movimentos anuais se expandiram até que culminassem com a criação do Outubro Rosa.

Aos poucos, a cor dos laços passou a colorir monumentos famosos, o que contribuiu de forma significativa para a expansão do movimento. Passível de ser interpretada em qualquer lugar do mundo e embelezando os pontos turísticos do dia a dia, esse passo foi responsável por aproximar ainda mais a sociedade da causa.

No Brasil, tal ação começou com a iluminação do ‘Mausoléu do Soldado Constitucionalista’, mais conhecido como o Obelisco do Ibirapuera, situado em São Paulo. A partir de 2009, o movimento se expandiu por todo o país, com a iluminação de outras várias construções e pontos turísticos, como o Cristo Redentor (Rio de Janeiro-RJ); a Fortaleza da Barra (Santos-SP); a Figueira da Praça XV de Novembro e o Lago das Bandeiras (Florianópolis-SC); o Convento da Penha (Vila Velha-ES); dentre muitos outros.

“Iluminar significa jogar luz em um assunto que tanto assusta as mulheres, mas o cor-de-rosa sinaliza que este medo pode ser amenizado pela realização dos exames para o diagnóstico precoce” — Senen Hauff, oncologista e coordenadora de Políticas de Câncer da Secretaria Municipal de Florianópolis.

Iluminação do Cristo Redentor no lançamento da campanha em 2020. Foto: Reprodução/G1.

Mas afinal, o que é o câncer de mama?

O câncer é uma doença maligna caracterizada pelo crescimento desordenado de células com a capacidade de invadir outros tecidos e órgãos e, no caso do câncer de mama, essas alterações ocorrerão no tecido mamário da paciente.

Ao lado esquerdo é possível observar o processo de multiplicação e crescimento celular normal para a formação de um tecido e um órgão. Ao lado direito, observa-se uma célula cancerosa (maligna) com alterações de sua composição normal, causada por um agente cancerígeno, que apresenta crescimento desordenado, sendo capaz de infiltrar tecidos e órgãos. Imagem: Reprodução / INCA.

A confirmação de um diagnóstico de câncer impacta diretamente a vida da mulher, ao se deparar com diversos questionamentos, bem como medos, preocupações e incertezas acerca de seu futuro. Além do que diz respeito à própria autoimagem feminina, em especial naquelas que são submetidas ao tratamento da retirada do seio. O contexto poderá trazer sentimentos de perda da sua identidade e gerar dificuldades no convívio social e familiar e, ainda, impactos psicossociais profundos, uma vez que a mulher tem um papel fundamental na família e sociedade, e agora precisa aprender a lidar com novos desafios no seu dia a dia. Dessa forma, é de extremamente necessário o apoio psicológico e a sensibilidade do médico na transmissão da notícia.

Não bastando os cânceres serem um dos grupos de doenças mais desafiadoras da medicina atual, o câncer de mama é o que mais acomete a população feminina no mundo e o segundo tipo de câncer mais incidente nas brasileiras. Além disso, de acordo com o INCA, é a quinta causa de morte por câncer em mulheres e na população em geral.

Essa alta letalidade se deve principalmente ao grande potencial invasivo da lesão, que pode chegar à corrente sanguínea e se espalhar para outros tecidos e partes do corpo, no processo chamado “metástase”. Como na maioria dos cânceres, infelizmente, o tempo está a seu favor, mas a detecção precoce (como pelo autoexame e a mamografia) e o manejo de fatores de risco atuam de maneira importante na prevenção dessa doença e suas consequências mais graves.

A melhor forma de se prevenir o câncer de mama é a partir da identificação e modificação de fatores de risco. Entretanto, isso se torna um grande desafio a partir do momento que notamos que maioria desses fatores são imutáveis, ou seja, não são hábitos ou atitudes que podemos simplesmente cessar, apesar de fatores ambientais, como tabagismo, obesidade e consumo de álcool, também estarem relacionados à gênese da doença. Dentre os principais fatores de risco estão: fatores genéticos; sexo feminino; idade precoce da menarca (1ª menstruação); menopausa tardia; idade avançada da primeira gestação; e presença de parentes de primeiro grau com câncer de mama.

Por outro lado, é importante ressaltar que existem fatores de proteção, sendo os principais a mudança para um estilo de vida saudável e a amamentação, que além dos muitos benefícios que traz para o bebê, também é responsável por diminuir consideravelmente o risco desse tipo de câncer durante e após o término do período de aleitamento.

Ademais, considerando que entre 5 e 10% dos casos de câncer de mama são hereditários, não se pode esquecer que ele também acomete os homens. Entretanto, devido à falta de informação e um preconceito enraizado, mesmo os poucos casos geralmente são detectados apenas em uma fase mais avançada, o que pode piorar a evolução clínica e dificultar o tratamento. Dessa forma, na presença de nódulo ou lesão suspeita, é de suma importância o acompanhamento e realização de exames a fim de se atenuar a doença também no sexo masculino.

Além disso, o exame físico periódico das mamas, quando realizado por um profissional da saúde treinado, é fundamental para identificar qualquer nódulo ou lesão suspeita, juntamente com os dados colhidos durante a consulta, antes da indicação de mamografia, visto que existem diferentes tipos de lesões, que podem inclusive ser benignas.

Outro método anteriormente muito popularizado, o chamado autoexame das mamas, vem sendo deixado de lado, uma vez que não provou ser uma forma eficiente para detecção precoce de tumores, além de ter aumentado a incidência de exames invasivos desnecessários. Portanto, os médicos não mais estimulam a sua realização, porém também não a contraindicam, visto que ele ainda é importante para que a mulher conheça o seu próprio corpo¹. Recomenda-se que, na dúvida ou identificação de algum sinal suspeito, como um nódulo na mama ou saída espontânea de líquido transparente ou sangue, por exemplo, é essencial ir ao médico, que deverá realizar o exame físico das mamas.

Resultado de exame mamográfico. Foto: Mauricio Bazilio / Divulgação

O rastreamento do câncer de mama através da mamografia, por sua vez, tem a finalidade de fazer o diagnóstico precoce na população, possibilitando o tratamento prévio, antes que a lesão cresça e invada outros tecidos, o que melhora a evolução do quadro clínico dos pacientes e reduz significativamente a taxa de mortalidade. A Sociedade Brasileira de Mastologia, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica e a Sociedade Brasileira de Radiologia preconizam a realização da mamografia a partir dos 40 anos de idade, anualmente, até os 69 anos, conforme indicado pelo INCA/Ministério da Saúde já que essa é a faixa etária na qual o câncer de mama é mais prevalente. Apesar de ser o método mais adequado para fazer o rastreamento na atualidade, é possível que existam resultados falso-positivos ou falso-negativos para câncer de mama, situações que vêm diminuindo com o desenvolvimento de novas tecnologias², que contribuem ainda mais para a prevenção de desfechos letais.

Quanto ao tratamento, cabe dizer que ele será delineado para cada caso, de acordo com a gravidade da doença.

Por fim, considerando todas as peculiaridades do câncer de mama, é indispensável a busca constante pelo aprendizado de como a doença se manifesta, o modo mais efetivo para rastreamento e os possíveis meios para o tratamento, tornando, assim, o conhecimento uma das mais importantes medidas de prevenção. O acompanhamento regular e precoce de qualquer possível lesão através da realização periódica do exame físico das mamas, bem como a prática da mamografia de acordo com a faixa etária e indicação médica, é crucial e deve ser reforçado na sociedade, principalmente entre as mulheres.

Com essas atitudes, será possível que a luta a favor da vida e a promessa realizada por Nancy a sua irmã Susan sejam de fato concretizadas na nossa realidade.

Nota de rodapé

¹ Texto produzido pelo colunista da Revista Brado, Felipe Zucolotto, sobre candidíase e a importância do autoconhecimento sobre o corpo feminino, “Saúde da mulher: a importância de conhecer o próprio corpo”. Caso tenha interesse pelo tema, clique aqui para acessar.

² Texto escrito pelo também colunista da Revista Brado, Pedro Fabriz, que aborda sobre novas tecnologias na área da saúde, “Avanço tecnológico na medicina e o papel da Inteligência Artificial”. Clique aqui para ler.

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Carolina Miôtto Castro
Revista Brado

Estudante de Medicina pela Universidade Vila Velha | Colunista da Revista Brado