Poelatria

Considerações sobre a poesia de Edimilson de Almeida Pereira, entre as métricas de Walt Whitman e William Carlos Williams

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Revista Bravo!
2 min readSep 28, 2021

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Edimilson de Almeida Pereira (Foto: Divulgação)

Por Carlos Castelo

Alguns dias depois de postar a resenha sobre Chacal em Poelatria, recebi do poeta o vídeo de uma palestra de Paulo Henriques Britto no 1° Seminário do Programa de Pós-Graduação em Literatura Brasileira. As mesas foram realizadas de 9 a 13 de março de 2015 na Universidade de São Paulo. Na ocasião, Britto falou sobre ritmo e verso livre. Chacal, que foi aluno de Britto na Universidade Federal do Rio de Janeiro, recomendava a análise que o mestre fazia da obra de alguns novos (para a época) autores. Entre eles estava Edimilson de Almeida Pereira.

O professor e poeta começou sua fala mostrando as diferenças entre o verso livre whitmaniano e o de William Carlos Williams. O primeiro é longo, grandiloquente, termina em pausa. Além disso, é oratório, profético e funciona como uma grande angular. O segundo é curto, discreto, quase sempre “enjambado”, focado nas pequenas e modestas coisas como uma lente macro. Os dois cânones em verso livre, segundo ele, possuem algo em comum: a temática urbana.

Em seguida, Britto exemplificou suas pesquisas lendo algumas poesias e fazendo paralelo com o legado de Walt Whitman e William Carlos Williams. Deixou para falar por último deste poema de Edimilson de Almeida Pereira:

DIA DE FESTA
A Maria Alice de Melo

Com sobrenome dia de festa
a mulher mora no cóccix
da máquina de escrever morte.

A mulher mora no cóccix
da máquina de escrever inverno.
Com sobrenome dia de festa

a mulher resolve o dilema da
máquina de escrever isto ou
aquilo remédio impaciência.

um céu propício lá fora e a
mulher insiste na máquina de
escrever como se fiação fosse.

isso aquilo luminária e sorte
são variações da mulher no
cóccix da máquina do mundo.

Após a leitura vieram as considerações que me levaram a ver Almeida Pereira como um dos nossos mais criativos poetas contemporâneos. Em primeiro lugar, seu poema não segue nenhum padrão métrico – nem de Whitman, nem de Williams. Os versos são visualmente do mesmo tamanho porque imitam o movimento de uma máquina de escrever. No dizer de Britto: “acabou o papel, acabou o verso”. Depois, Dia de Festa mostra graficamente o processo de escrever um poema, sendo o corte o seu motor.

Este é apenas um dos aspectos encontrados na multifacetada obra de Edimilson de Almeida Pereira. Ela passa por questões de raça, gênero e classe, somam-se pontos concernentes ao sagrado, questões cosmológicas, além de questões propriamente poéticas: voz, ritmo, traço, corporalidade. Todas podem ser encontradas em PoEsiA + (Antologia 1985–2019).

Concluo reafirmando o que Paulo Henriques Britto declarou após a leitura do poema de Almeida Pereira, citando T.S. Elliot:

“Quando o poeta sabe o que está fazendo, o verso nunca é realmente livre”

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