A hora apavorante

O silêncio noturno só servia para reforçar a ideia de que ninguém estaria alerta se ele precisasse

Andresa Scucuglia
Revista in-Cômoda
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2 min readOct 22, 2018

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Cabeça para baixo. Mais uma vez essa rotina. Nos últimos dias, as noites vinham sendo assim. Luzes se apagavam na casa e na vizinhança. A luz dos postes não chegava até a janela de seu apartamento e sonhar com a iluminação da lua ou das estrelas era uma piada naqueles dias.

Depois de todo o ritual, criar coragem para colocar a própria cabeça na linha do vão espaçoso entre os quatro pés de sua cama era o ápice do medo. Todos os dias, pensava em não olhar.

Mas, então, como dormir?

O silêncio noturno só servia para reforçar a ideia de que ninguém estaria alerta se ele precisasse. Bastava fechar os olhos para nitidamente ver uma mão sorrateira se esticar, os cabelos desgrenhados de uma cabeça despontando, ou apenas a sombra de um corpo grande e assustador se movendo.

Cabeça para baixo e olhos atentos, mais abertos do que seria normal. A respiração ofegante, daquelas que sufocam o grito de pavor iminente. Na mente, pensamentos cíclicos obsessivos: “É hoje, tenho certeza, de hoje não passa… é hoje que ele vai aparecer…”.

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Andresa Scucuglia
Revista in-Cômoda

Música, filmes, livros, inovação, a vida, o universo e tudo mais. Sou jornalista e trabalho no Banco do Brasil.