A hora favorita do dia

Uma luz perceptível apenas a olhos habituados à escuridão

Andresa Scucuglia
Revista in-Cômoda
Published in
2 min readSep 19, 2018

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Como sempre, esperou a mulher começar a roncar para se levantar calmamente, sem ruído. Na cozinha, apanhou uma tigela e nela juntou um pouco de tudo que sobrou da janta.

Voltou em silêncio para o quarto, esperou até ouvir novamente o ronco familiar e deitou-se de barriga para baixo no chão. Arrastou meio corpo para baixo da cama, rapidamente, tirou um taco solto e segurou a alça que ele escondia perfeitamente bem. Sem muito esforço, levantou uma espécie de portinhola e enfiou a cabeça para dentro.

Seu rosto se iluminou e sorriu para a escuridão. “Vem, meu querido, não tenha medo”, sussurrou. Uma luz perceptível apenas a olhos habituados à escuridão se acendeu e uma enorme mão surgiu do alçapão, fazendo sumir o prato de comida.

Aquela era a hora favorita de seu dia, era o momento em que o homem sem graça se tornava especial. Sempre sorria com essa ideia… Se todos soubessem o quão único ele era, escolhido entre todos no mundo para guardar e proteger tal segredo.

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Andresa Scucuglia
Revista in-Cômoda

Música, filmes, livros, inovação, a vida, o universo e tudo mais. Sou jornalista e trabalho no Banco do Brasil.