Racionalidade plena?

O cotidiano das tomadas de decisões!

Pablo Guimaraes
Revista Jabuticaba
4 min readAug 14, 2020

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Não é necessário ter aberto um livro de Economia ao longo de sua vida para já ter escutado a expressão: os agentes racionais maximizam a satisfação (ou a utilidade, no Economês!) e minimizam custos/prejuízos!

Mas quem são esses agentes econômicos racionais? Será que de fato os tais Homo Economicus são tão racionais assim? As incertezas do mundo podem fazer de um processo de tomadas de decisões algo complexo, e de fato é verdade. A questão é: o que fazemos diante dessa necessidade de decidir?

Lollipop with Blade — Source: Pinterest

Busca por padrões, maximização do prazer, minimização da dor, crenças, esperanças, hábitos culturais, opiniões e estímulos acabam gerando respostas automáticas que conduzem a decisões sem que haja, por vezes, muitas reflexões! Apostar na Mega Sena, vestir cores específicas na virada de ano, aspirações por uma localidade, acreditar em Horóscopo, entre outras credulidades que estão além da racionalidade e que são intrínsecas aos indivíduos nos definem como elementos desta estrutura econômica que nem sempre é tão racional.

E isso tudo faz parte do bom e velho Mercado! A percepção dessas “irracionalidades racionais” são captadas e utilizadas, sobretudo via Marketing, com os famosos Nudges, como descritos de uma maneira bem interessante e leve por Martin Lindstrom em Small Data: Como poucas pistas indicam grandes tendências.

Embora tenhamos nossas individualidades e crenças, será que o meio em que vivemos tem relação com as nossas decisões? Uma ampla gama de maus hábitos cognitivos — desde opiniões coletivas a vieses de confirmação — tendem a limitar a compreensão e nos levar às armadilhas decisórias.

O imediatismo, a necessidade de rápidas respostas em um mundo que demanda poucos caracteres, onde se almoça respondendo redes sociais enquanto escuta as notícias via podcast, tem reflexo direto nas tomadas de decisões. Decisões complexas, que demandam tempo para serem analisadas e que, por vezes, tem grandes consequências (benéficas ou prejudiciais) podem ter três direcionamentos:

a) são terceirizadas;

b) são definidas no impulso e por vezes geram consequências indesejadas;

ou

c) não são tomadas, podendo até mesmo a chegar na fobia em tomar decisões, a Decidofobia.

Dan Ariely, conceituado Economista Comportamental, afirma que a maneira na qual o mundo à nossa volta é projetado não auxilia a combater as tentações e pensar no longo prazo.

A nossa percepção em relação ao tempo e como valoramos este pode nos conduzir a decisões ruins. Poderia falar de questões previdenciárias, de comportamentos egocêntricos durante crises de saúde pública, ou poderia falar de doenças desenvolvidas por uma vida inteira de decisões erradas e egoístas em relação ao eu-futuro, mas como economista penso nas externalidades causadas por ações irracionais individuais. A socialização do prejuízo é uma consequência nociva dessas ações individuais, seja em relação ao Estado arcando com despesas médicas ou previdenciárias, ou familiares ofertando tempo e recursos para suporte daqueles que não projetaram as consequências de suas ações no médio/longo prazo, ou mesmo os que são afetos por comportamentos sob um grau exagerado de filáucia de terceiros que nem conhece.

Após todas essas discussões, podemos concluir que há falta de racionalidade nos momentos de tomada de decisão? Há necessidade de sempre analisarmos todos os pontos de vista e somente assim estabelecermos caminhos a serem trilhados? Obviamente que não! Jamais conseguiríamos tomar decisões se tivéssemos que estruturar toda uma análise pormenorizada de tudo. Eyal Winter, no Guia de Economia Comportamental e Experimental, afirma que os mecanismos emocionais e cognitivos trabalham e se sustentam de forma mútua, sendo em muitas das vezes impossível de separar. A autora acrescenta que as decisões baseadas em emoção ou intuição podem ser em determinadas situações muito mais eficientes. Esta destaca estudos que concluíram que pessoas moderadamente zangadas tinham a capacidade de distinção entre informações relevantes e irrelevantes mais apurada.

Então, depois dessa breve leitura chegamos a qual conclusão? Bem, definirmos de forma objetiva qual deva ser nosso comportamento diante de situações que exijam clareza de ideias e respostas precisas é, de fato, muita presunção. Obviamente que as hipóteses impostas em modelos econômicos são importantes, essenciais e por isso vão e devem continuar sendo impostas.

Contudo, quando olhamos para nossas ações diárias, a simples consciência de que nunca somos plenamente racionais, igual os livros afirmam, por si só nos permite ter maior consciência de nossas atitudes, possibilitando assim um maior esmero em nossas análises.

E com isso podemos afirmar que as previsões econômicas estão sempre corretas, as pessoas é que não se comportarem conforme as hipóteses impostas neles.

Sou Pablo Miranda Guimarães, também conhecido como Bira. Orgulhosamente Mineiro e Economista! Doutorando em Economia Aplicada pela UFV, tengo a oportunidade de estudar uma das áreas que eu mais gosto: Economia Agrícola! No momento desenvolvo trabalhos sobre as relações de Produtividade do setor Agropecuário no Cerrado Brasileiro. Também sou Sócio da Econstat — Inteligência de Mercado e Educação Corportativa cuja missão é, por meio dos dados, auxiliar gestores nas tomadas de decisões!

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