O que não estamos entendendo sobre Baltimore

Daniel Salgado
Revista Poleiro
Published in
5 min readMay 8, 2015

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Por Natalie Keyssar
Tradução por Daniel Salgado

Eu cheguei a Baltimore na tarde de terça-feira, 10 dias após a morte de Freddie Gray. A caminho de lá, relatos de tumultos, violência, gás lacrimogêneo e conflitos tomavam conta de toda a tevê e do rádio.

Apesar disso, resolvi caminhar até a esquina da Avenida Norte com a Pennsylvania. Por lá, em meio a muito jazz e batuque, o que encontrei foi gente disposta a ter discussões instigantes sobre o ocorrido.

Havia crianças pequenas por toda a parte. Pedidos por justiça, paz e o fim da violência estavam nas bocas de todo mundo.

Na esquina, a população ajudava a limpar a farmácia incendiada. Muitos insistiam que fosse respeitado o toque de recolher e condenavam o caos da noite anterior.

Durante praticamente todo o tempo desde que cheguei aqui, não vi nada além de protestos pacíficos.

No final da noite de terça-feira, em meio a clamores por calma e o empenho dos organizadores da comunidade para manter a paz, um grupo bem pequeno de manifestantes começou a arremessar algumas coisas na polícia — em sua maioria garrafas de plástico com água — que, por sua vez, respondeu com balas de borracha e gás lacrimogêneo para esvaziar as ruas.

Aquilo me surpreendeu bastante, já que, naquele momento, a proporção de profissionais da mídia em relação aos manifestantes era de 3 para 1.

Ligando a tevê no meu quarto de hotel, eu assistia aos mesmos loops daqueles breves momentos de violência uma vez atrás da outra, com o nome da cidade fixado entre imagens de fogo e desordem.

Sim, essas coisas aconteceram. Sim, elas são importantes. Sim, houve um pouco de violência durante a noite. Sim, é uma resposta à violência — e então a violência desempenha um papel central nessa história. E sim, é por isso que os olhos do mundo estão até certo ponto voltados para essas questões.

Mas, na maior parte do tempo, eu estive fotografando flores, mulheres dançando e agitando bandeiras, grupos de igrejas, jovens com cartazes feitos à mão, marchas autorizadas pelos oficiais e uma recorrente insistência por parte dos líderes comunitários para que fosse mantida a calma.

Já cobri muitos protestos, incluindo os de Ferguson, no último verão, e as reações à morte de Eric Garner em Nova Iorque. Eu nunca tinha visto um movimento do tipo tão irritado com a mídia.

À noite, enquanto chegávamos ao cruzamento da Norte com a Penn para checar se a violência iria estourar, líderes comunitários imploravam para que a mídia fosse para casa. Manifestantes furiosos se revoltavam contra o “jornalismo paraquedista” e questionavam por que estávamos espalhando mentiras sobre eles. Sintonizando o noticiário, consigo entender sua revolta.

Um grupo da igreja exibe bandeiras com símbolos religiosos durante um protesto.

Para mim, essas fotos são o retrato dos protestos em Baltimore: uma comunidade que está se posicionando pacífica e elegantemente após um momento de violência relacionada às manifestações. E o que se diz por aqui evidencia toda uma vida de violência imposta pelo Estado.

Jovens, alguns identificados como membros de gangues, formam uma corrente entre a polícia e os manifestantes enquanto um helicóptero sobrevoa a área.

Originalmente publicada na Matter, essa tradução faz parte do Especial Outros Voos — A Revolta de Baltimore. Selecionamos os melhores textos da comunidade americana do Medium abordando os desdobramentos do assassinato de Freddie Gray com o intuito de construir um retrato mais diverso sobre o que está acontecendo nos Estados Unidos em resposta ao trágico incidente.

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