Histórias sobre o que está acontecendo para além das câmeras na maior cidade do estado de Maryland

Por João Brizzi

Em uma região perigosa da cidade de Baltimore, um jovem de 25 anos é detido por um grupo de policiais. Segundo o relatório dos oficiais, o rapaz — conhecido da polícia por seguidas detenções por porte de drogas e crimes menores — estaria carregando uma faca cujo porte é ilegal pela lei de Maryland e teria tentado fugir ao avistá-los. Sem sucesso, Freddie Gray fora “detido sem a necessidade de uso da força”.

O que os policiais não incluíram no documento foram as agressões — posteriormente relatadas por testemunhas — feitas a Freddie. Eles também não contavam com a divulgação de vídeos mostrando o momento de sua prisão e, muito menos, com um relatório — esse sim, verdadeiro — indicando seguidas lesões na espinha dorsal como causa da morte do jovem. Não bastasse, o promotor responsável pelo caso ainda declarou, posteriormente, que a faca carregada por Gray no momento de sua prisão era legal segundo a lei do estado, contrariando o relatório inicial dos policiais.

O homicídio desencadeou, pelo terceiro ano seguido, uma série de protestos por todo o país em torno das questões que circundam racismo e violência do Estado. Se nos dois anos anteriores os responsáveis por inflamar a população foram a absolvição de George Zimmerman, ex-vigia acusado de matar um jovem negro na Flórida, e o homicídio de Michael Brown, alvejado pela polícia de Saint Louis após roubar um pacote de cigarros em uma loja de conveniência, o assassinato de Freddie Gray fez a cidade de Baltimore vivenciar sua maior revolta popular desde o também assassinato de Martin Luther King, em abril de 1968.

Seguindo o protocolo, a cobertura da mídia tradicional majoritariamente tratou os manifestantes como arruaceiros e exibiu uma infinidade de imagens de cidades repletas de violência e caos. Esse comportamento não é novidade, mas até onde ele pode nos impedir de enxergar uma figura mais fidedigna de eventos como esse?

Levando tudo isso em consideração, a Poleiro decidiu dedicar o conteúdo da semana de sua seção de traduções à realização de um especial com as mais interessantes histórias sobre como a sociedade norte-americana está reagindo à tragédia de Baltimore. São matérias sobre como a população local está irritada com a mídia, retratos daqueles que estão convivendo com os desdobramentos na cidade, relatos sobre como as gangues estão deixando de lado rivalidades históricas para encarar a situação e até mesmo um depoimento sobre como é ser preso durante um protesto por lá.

É do contraste desse tipo de esforço com as notícias diariamente marteladas nos jornais e na TV que podemos refletir com mais clareza e perceber o quanto a história muitas vezes se repete. Ainda que continuemos torcendo para que, daqui para frente, casos como esse não apareçam mais nos noticiários.

Identidade visual por João Brizzi e traduções por Daniel Salgado e João Brizzi.

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João Brizzi
Revista Poleiro

Designer e jornalista no The Intercept Brasil. Antes, trabalhei na revista piauí e fundei a Revista Poleiro.