8 livros-reportagem contemporâneos

Victor Hugo Liporage
Revista Subjetiva
Published in
5 min readJun 3, 2020

Uma lista de obras que passam por diferentes países, continentes e culturas, abordando diferentes temáticas como: ética e sexualidade, socialismo, futebol, crime organizado, política internacional, guerras, sistema carcerário e saúde mental no Brasil.

Lua de Mel em Kobane, de Patrícia Campos Mello

Repórter e colunista da Folha, Patrícia é especialista em cobertura internacional, mais especificamente nos países em guerra, tendo sido premiada no Brasil e internacionalmente.

O livro descreve a Guerra da Síria, sobretudo pela perspectiva da luta do povo curdo, resistente às invasões do Estado Islâmico, além de traçar um panorama objetivo e detalhado da história recente do Oriente Médio.

A apuração jornalística é permeada pela história de um casal de jornalistas sírios que, após se conhecer pela internet, uniram-se à militância curda e foram viver uma “lua de mel” e um matrimônio em meio à guerra.

Tempos Instáveis, de Vários autores

Coletânea de reportagens publicadas na revista Piauí fazendo um recorte sociopolítico do Brasil e do mundo nos últimos anos. A Piauí é conhecida por seu jornalismo literário o seus perfis políticos minuciosamente escritos.

O livro se divide em quatro eixos: “Cartas ao Mundo”, “Questões Brasileiras”, “Perfis” e “Anais da Imprensa”. Seleção escrita por 14 autores, marcada por variedade de pontos de vista e períodos históricos.

Destaque para “A onda”, sobre o crime ambiental em Mariana e “Os 43 que faltam”, sobre grupo de estudantes mexicanos desaparecidos no narco-Estado mexicano. Também recomenda-se a leitura de “Vultos da República”.

O Voyeur, de Gay Talese

Um dono de motel cria aberturas secretas para espionar a vida sexual de seus hóspedes, registrando as experiências (algumas perturbadoras) em um diário. “O Voyeur” conta sua vida.

Seu autor, Gay Talese, é um dos mais relevantes nomes do jornalismo literário, mas controverso em igual medida, em função de alguns métodos e posicionamentos amplamente questionáveis.

Depois da publicação, críticas à credibilidade do dono do motel e de Talese vieram à tona. Um livro, acima de tudo, sobre ética — pessoal e jornalística. Para ler e se debater o que (e como) temas devem ser pautados.

De Cuba, com carinho, de Yoani Sánchez

Livros-reportagem que retratam regimes fechados são, por natureza, controversos. Até que ponto a ideologia do autor afeta a credibilidade das informações?

“De Cuba, com carinho” merece ser lido sobretudo por simpatizantes do regime, para conhecer o olhar de uma cubana que o viveu efetivamente, escrevendo em blogs e sofrendo constantes ameaças do Estado.

Yoani Sánchez não escreve para descredibilizar as conquistas do governo, mas traz à tona algumas vivências amargas que só cubanos realmente entendem, mostrando que nem tudo se resume a bom ou mau e certo ou errado.

À Sombra de Gigantes, de Leandro Vignoli

Um livro pra quem quer entender a disputa de classes na Europa, gosta de história contemporânea, de viagens, de futebol e, sobretudo, por quem simpatiza por quem vive à sombra.

O futebol se tornou uma cultura capitalista, fria e previsível. Mas nessa viagem por 8 países, 13 clubes e com relatos de seus torcedores mais apaixonados, entendemos a verdadeira essência do esporte.

De quebra, quem o lê conhece um lado B da Europa, visitando bairros de classes populares, entendendo sua cultura e sua grandeza — talvez maior que a dos gigantes que já estamos cansados de ouvir falar.

A Guerra, de Bruno P. Manso e Camila N. Dias

O livro descreve minuciosamente a história da formação, crescimento e organização do Primeiro Comando da Capital, grupo criminoso mais bem estruturado do país.

Para ser lido e relido por anos, tendo em vista que o PCC caminha a passos largos para ter uma infiltração a nível de máfia italiana na sociedade brasileira, ditando rumos do mercado das drogas, presídios e política.

O crime organizado no Brasil já foi tema de vários livros, como os de Caco Barcellos e Misha Glenny, mas “A Guerra” talvez seja um dos mais relevantes para entender o cenário atual e o quanto influencia as próximas gerações.

Holocausto Brasileiro, de Daniela Arbex

Obra fundamental em qualquer lista de livros-reportagem, relatando o genocídio no maior hospício do Brasil, fazendo uma denúncia à irresponsabilidade do Estado no tratamento da saúde mental.

Daniela é jornalista dedicada à defesa dos Direitos Humanos, premiada dezenas de vezes por obras como “Cova 312”, sobre perseguições políticas criminosa das Forças Armadas e “Todo dia a mesma noite”, sobre a Boate Kiss.

Holocausto Brasileiro também foi adaptado para documentário em 2016 e pode ser visto aqui.

Prisioneiras, de Drauzio Varella

Outra obra fundamental pra lista, “Prisioneiras” faz parte trilogia de livros do médico Drauzio Varella sobre a vida no cárcere. Nesta obra mais recente, Drauzio traz histórias de mulheres em presídios femininos.

Seu primeiro livro “Estação Carandiru” foi adaptado para o cinema em 2003 e “Carcereiros” virou série e filme na última década. Não deixe de ser complementar ao livro “A Guerra”, citado anteriormente.

Trilogia que traz à tona debates necessários sobre a política de drogas, criminal e de encarceramento no país, mostrando o quanto podem ser ultrapassadas, criminosas e um desserviço à sociedade.

Menção honrosa

Inevitável mencionar Svetlana Aleksiévitch, prêmio Nobel de literatura em 2015 e autora de livros sobre os anos da União Soviética, retando as mulheres na guerra, Chernobyl e a queda do regime.

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