Mulheres que correm com os Lobos e os mapas para o Empoderamento Feminino

Fernanda Bárbara
Revista Subjetiva
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4 min readMar 12, 2019
Pintura de Dimitra Milan

O livro da doutora Clarissa Pinkola Estés, publicado em 1992, convida e ensina mulheres a se reencontrarem com os próprios instintos, descobrirem quem são e é também um mapa para o empoderamento feminino. Esse empoderamento pode ser conquistado através da descoberta da Mulher Selvagem que existe em cada uma de nós.

Ouvi falar do livro a primeira vez em um evento que acontecia no Museu de Imagem e Som, em São Paulo, onde algumas artistas expunham desenhos e imagens inspiradas pelo livro. Me chamaram atenção e me perguntei o que seria uma mulher que corre com os lobos.

Há cerca de um ano, resolvi que leria mais livros escrito por mulheres. Comecei a pensar que, mesmo como mulheres, a maior parte das nossas construções sociais sobre o que é ser mulher e como nos relacionamos vem basicamente de livros, filmes ou teorias criadas por homens. Passei a pesquisar autoras e tentar ler o maior número de livros que pudesse escrito pelas manas: “minhas leituras este ano serão feministas ou não serão”, escutei de uma amiga que também chegava à mesma conclusão.

Passei a acompanhar sites e autoras mulheres pelas redes e eis que mais uma vez Mulheres que Correm com os Lobos ressurge diante de mim, dessa vez recomendado nos círculos literários e páginas feministas como a do Mulheres que Escrevem. Decidi que leria o tal livro.

Nova edição do livro Mulheres que Correm com os Lobos

Consegui um exemplar digital e confesso que achei a leitura difícil. Mesmo sendo uma leitora com certa prática, tinha dificuldade em focar na linguagem às vezes abstrata demais, usada pela autora e de entender o que aquilo tudo queria dizer. Li o primeiro capítulo, mas depois de uns dias acabei desistindo.

Como feminista também soava conflitivo entender uma “natureza” propriamente feminina. Ao longo da história do mundo, os homens usavam justamente a “desculpa” de éramos diferentes, menores, ou menos capazes, supostamente por nossas “diferenças” biológicas, psicológicas ou de nossa própria natureza, supostamente mais emocional, mais afetuosa entre outras características, que ao longo da história atribuíram ao feminino. Dessa vez também não consegui terminar a leitura. Existia uma dificuldade de aceitação da minha parte, ao que a autora propunha como a descoberta de nossa natureza selvagem, ou, do sagrado feminino.

O livro continuou por algum motivo em minha cabeça e, recentemente, resolvi dar uma segunda chance. Descobri que a busca pela Mulher Selvagem não entrava em conflito com o meu feminismo, pois nós mulheres temos mesmo que lidar com estruturas sociais que nos atingem de maneira totalmente distintas as dos homens. Elas condicionam nosso comportamento por mais “desconstruídas” que sejamos até nos perdermos de nós mesmas, ou sequer chegamos a saber quem realmente somos.

E dessa vez o livro foi transformador. Cheguei a conclusão de que é preciso estar no momento certo para ler, aceitar e entender aos ensinamentos de Mulheres que Correm com os Lobos. Dessa vez eu devorava cada capitulo com entusiasmo e a ajuda de um podcast sobre o tema.

Clarissa Pinkola Estés guia mulheres a reconhecer as armadilhas que nos atrapam e que fazem a gente se distanciar de quem somos

Clarissa Pinkola Estés

A autora exemplifica de diversas maneiras como os tempos modernos fizeram com que as mulheres perdessem os próprios instintos e conexões com a natureza. Como resultado, navegamos à deriva, pelo caminho de outros, “deixamos a vida nos levar”, como diria o poeta, e preferindo por vezes não escolher, não ter o controle, não acreditar que somos capazes de lutar pelas coisas que nos mantém vivas e selvagens.

O distanciamento da nossa natureza selvagem, é aqui a perda dos instintos selvagens, que nos alertam, protegem e indicam os caminhos que nossa psique, alma, essência, ou como queiram chamar, mais anseia. Com a perda dessa natureza que é livre e selvagem, a gente perde a capacidade de nos escutar, de saber o que há dentro de nós mesmas.

Como ferramenta para esse mergulho e encontro da nossa própria Mulher Selvagem, a Dr. Clarissa utiliza contos antigos de sabedoria popular que escutava quando criança em seu entorno familiar, com conceitos de psicologia analítica de Jung e também utiliza sua experiencia como psicologa para guiar as mulheres ao caminho do fortalecimento e do empoderamento.

Os capítulos passam por temas como a manutenção da nossa criatividade, onde a autora defende que uma mulher sadia é, automaticamente, uma mulher criativa. Também aborda temas como a raiva, descobrir o que a origina e usá-la a nosso favor, bem como lidar com as vergonhas que carregamos e também a como entender ao amor e superar uma fossa, entre diversos outros temas inerentes à vida. Ou dos ciclos de Vida/Morte/Vida, como defende a autora.

Para Clarissa, esses ciclos de Vida/Morte/Vida são intrínsecos à vida, tudo vive e morre, e, eventualmente, ganha vida de novo ao nosso redor. Ao aceitar a natureza da Vida/Morte/Vida, chegamos mais perto da nossa natureza selvagem, reconhecemos e aceitamos as vidas e mortes com calma e sabedoria para reconstruirmos nossas vidas todas as vezes em que seja necessário.

Como a leitura pode ser difícil, recomendo às mulheres que forem se aventurar pelo livro a escutarem depois de cada capitulo ao Podcast Talvez Seja Isso. Ele foi fundamental para refletir sobre o livro e entender o que a autora queria dizer e enxergar pragmaticamente como poderia agir para aplicar esses ensinamentos em busca da Mulher Selvagem.

Espero que seja uma boa experiencia para outras mulheres, como tem sido para mim.

Boa leitura, mulheres!

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Fernanda Bárbara
Revista Subjetiva

Formada em jornalismo, especializada em Estudos Políticos e Mestranda em Governo vivendo em Buenos Aires fbarbara347@gmail.com