O infame desejo de ver seu parceiro tendo prazer com outras pessoas

Compersão é o nome desse sentimento.

_erinhoos
Revista Subjetiva
3 min readJan 18, 2018

--

Detalhe do Jardim das Delícias Terrenas de Hieronymus Bosch, 1503–1515.

Esse sentimento me faz sentir culpado. Talvez o mainstream em matéria de amor seja entender os incidentes que envolvem ciúmes como o sinal mais evidente de que você gosta de alguém. No meu caso eu sei que amo uma pessoa quando desejo ardentemente vê-la feliz — inclusive se relacionando com outras pessoas, que a tratem bem como eu a trato e que lhe dêem prazer como intento dar.

Esse sentimento me faz ficar acordado de madrugada olhando para o teto. Espero ávido por oportunidades que se realizam somente na minha mente. Me apaixono e desapaixono por terceiros como se passasse as telas de um Tinder poliamoroso. Às vezes dura mais, às vezes menos. Às vezes me frustro, mas passa. “Ah!, recomeçar… Recomeçar como cancões e epidemias. Ah!, recomeçar como as colheitas, como a lua e a covardia. Ah!, recomeçar como a paixão e o fogo”.

Detalhe do Jardim das Delícias Terrenas de Hieronymus Bosch, 1503–1515.

Crio histórias na minha cabeça. Escrevo e reescrevo fanfics mentais e íntimas. Shippo ele com outros. Acompanho cada aproximação narrada como alguém que assiste todo dia a um capítulo final de novela. Essas histórias se alojam no meu cérebro, serpenteiam e ricocheteiam mais que um hádron no LHC, fazem entrever saliências confeitadas de arrepios, me visitam nos sonhos como atos apócrifos de uma opereta clandestina, fazem minha imaginação dançar mais que os acometidos pela epidemia de dança de 1518.

Se tenho uma evidência um pouco mais contundente de que meu afã está sendo observado, sorrio. Sorrio com espontaneidade e sinceridade que só não traem minha reputação porque a única paixão com que subitamente me reúno em momentos como esse é essa singular, intensa e involuntária felicidade compersiva — que me reputa ela mesma algo que pertence ao domínio da bobeira. Fico bobo. É isso.

Nem sempre sou compreendido — e tudo bem. Acho que o desejo é uma das maiores dádivas que se é possível ter sendo humano. É fútil essa ideia de que uma foda é bem sucedida porque houve uma ou duas ejaculações. Ou três. Desejar já é algo lindo em si, e no fundo a beleza dos movimentos modernos por liberação sexual consiste nessa teimosia orgulhosa e irresistível. Essa concepção, contudo, não cura todas as minhas chagas, não erradica toda possibilidade de sofrimento, não me resolve…

Mas me alenta um pouco.

De leve.

Detalhe do Jardim das Delícias Terrenas de Hieronymus Bosch, 1503–1515.

Estamos com Edital para Colaboradores(as) (clique) e Resenhistas (clique)aberto! Inspire-se e boa sorte!

Gostou? Clique nos aplausos — eles vão de 1 a 50 — e deixe o seu comentário!❤

Nos siga no Facebook, Instagram e Twitter.

Leia a nossa revista digital clicando aqui.❤

Participe do nosso grupo oficial, compartilhe seus textos e adicione os amigos!

Se inscreva em nosso canal e assista ao nosso último vídeo:

--

--

_erinhoos
Revista Subjetiva

_antropólogo, barista informal, errante incorrigível, cantor de karaokê, sérião nas horas vagas