O Lugar na Geladeira.
Sobre as geladeiras emocionais.
Acho que estou sentado esse lugar a mais tempo do que deveria, já vi a luz lateral acender e apagar inúmeras vezes, tantas coisas já foram colocadas aqui e ainda me encontro na mesma posição.
Estático.
Então não se preocupe, esse é um dos lugares mais comuns que visitaremos durante a vida, te desejo boas-vindas (não tão boas assim) ao seu espaço na geladeira.
A intensidade do frio que você sente é proporcional ao frio que você sentia lá fora… sabe aquele frio humano proporcionado especialmente pela pessoa que você tanto se dedicava? Pois bem, o frio é similar aqui, porém você tem o “privilégio” de ficar sentada esperando.
Em quantas geladeiras você está?
Eu particularmente estou em duas geladeiras nesse momento: Uma pertence a uma pessoa que conheci há pouco tempo, mas que tem medo de compartilhar a vida dela comigo, já a outra é uma amizade que se provou um tremendo vazio, tenho a impressão que tudo depende de mim para acontecer.
O que ambas têm em comum? Eu sempre quero mais e delas pouco recebo, se fossem outras pessoas eu já teria desencanado, contudo as considero preciosas (e esse é o sentimento que fatalmente me atinge).
E você?
O quê (ou quem) te trouxe aqui?
Foi alguém que você gosta muito e que nunca te retribuiu nada a altura? Ou foi uma amizade bem meia boca que some e reaparece num estalar de dedos?
Eu detesto esse lugar gelado, não combina com a minha intensidade.
A outra pessoa não te liberta e também não se dedica a construir algo contigo, nem me refiro a planos de longo prazo, acredito que nem as amizades ou relações de curto prazo estão funcionando mais.
E quando você decide que não dá mais e a outra pessoa não te trata de forma recíproca, eis que uma força misteriosa a avisa que ela pode te perder e ela aparece furtivamente na sua vida.
O ciclo sem fim.
Parece que os motivos para ficar e sofrer um pouco mais são mais atraentes do que nunca mais sofrer e, por consequência, não ter o tal sujeito na sua vida.
Há muito tempo falamos sobre ser um estepe, só que dessa vez é um pouco diferente, a impessoalidade e a superficialidade se puserem no meio e a relação ficou ainda mais confusa: De um lado a pessoa que se importa e do outro alguém que não faz por merecer e guarda quem não lhe agrada dentro de sua geladeira emocional.
O problema das geladeiras é que nós as aceitamos.
Não importa o quanto a gente fale de amor próprio, existe sem aquela exceção… aquela pessoa que parece ter uma carta branca na nossa vida, a tal pessoa é o “ah tudo bem…” quando não está tudo bem, é o prejuízo previsto no orçamento ou o “mal necessário” que por vezes é desnecessário sim, só que não somos capazes de ver.
Esse tipo de pessoa passa por debaixo do nosso radar, a tarefa de não insistir demais parece quase impossível e a dúvida se torna a aquela vizinha insuportável e encrenqueira.
A gente aceita o lugar na geladeira que as pessoas nos dão, somos coniventes em esperar a boa vontade do outro de nos incluir em algo, para eles é só um pequeno detalhe, para nós é uma noticia incrível.
As geladeiras estão repletas de meros detalhes.
Isso não te cansa?
Não quero que ninguém me coroe e jogue flores quando eu passar, mas também não me sinto confortável sendo elegido apenas quando as opções da outra pessoa já se esgotaram (isso quando sou elegido).
Quando não fazemos nada a respeito de algo que nos afeta é como se disséssemos para a outra pessoa: “Ei, a sua atitude não me machuca, pode continuar, está tudo tranquilo!”.
Não tomar uma atitude é, de certo modo, tomar uma atitude.
Estou tentando reunir forçar para escapulir desse lugar da próxima vez que a porta abrir, já permiti essa injustiça por muito tempo (e cada dia esse lugar fica mais cheio, logo teremos que ficar de pé… e será ainda mais doloroso).
A galera que está lá em cima no freezer me disse que sentimentos congelados fazem mal à saúde.