O Tal do “Dedo Podre”.

Sobre os motivos dos deslizes.

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3 min readApr 29, 2020

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Adoro os nomes que você dá para as coisas que acontecem na sua vida, sobretudo esse que você utiliza quase sempre.

Não me leve a mal, mas sempre achei tragicômico o fato de alguém olhar para si mesmo e dizer: “É… eu tenho dedo podre!”. Acredito que reconhecer é ironicamente bom e ruim.

O lado positivo é que você tem consciência desse mal, já o lado negativo é que você só chegou nessa conclusão em decorrência da repetição desse problema.

Por que permitimos que algo tão ruim se repita tantas vezes?

Antes de mais nada, nós precisamos ser honestos com nós mesmos e para isso precisamos assumir que essas pessoas não surgem nas nossas vidas, somos nós que abrimos caminhos para elas.

O dedo pode ser podre, mas ele ainda é seu… você é quem concede acesso aos seus limites e os outros não possuem culpa disso.

Mas isso ainda não responde a pergunta, por que temos a impressão de sermos uma espécie de farol para esse tipo de situação?

Talvez seja porque isso te cative de algum modo… sim, o estrago também tem o seu lado sedutor.

É possível que você busque algo específico que somente essas pessoas sejam aptas a te dar (o que se provou errado com o decorrer do tempo).

Uma vez conversamos sobre essa ideia deturpada de querer salvar alguém, mas eu sei que essa ideia de tentar consertar a vida de alguém ou deixá-la pode ser tentadora.

Quem sabe isso também seja obra do seu desejo avassalador de não morrer sozinha, o medo mais antigo do mundo que, de modo conveniente, anda de mãos dadas com o medo de não ser amado.

E não podemos esquecer de como as nossas referências de amor e afeto moldam os nossos próprios relacionamentos.

Red Flags — Lina Mizukami

O processo evolutivo do ser humano é marcado pelo mimetismo das coisas e, inconscientemente, temos gravados na mente referências para tudo.

Temos referências comportamentais, intelectuais, comunicacionais e, claro, sentimentais também.

Para muitos a relação dos pais pode ser a chave para entender essa incógnita do “dedo podre”.

Será que você busca algo parecido com o modelo dos seus pais ou algo exatamente o oposto?

Nesse momento é muito valido nos questionarmos sobre a nossa percepção de afeto… será que ela é possível ou ela machuca?

E não esqueçamos de que relações saudáveis infelizmente não são as mais recorrentes, quem nunca soube de uma relação abusiva a alguém próximo (seja na família ou não), possui um grande privilégio.

Passamos muito tempo absorvendo o senso comum, porém esquecemos que há um abismo entre a teoria e prática… cada um absorve e objetiva algo em suas relações (mesmo aqueles que estão “deixando rolar”).

Preferimos aprender com a dor do que voltando dois passos atrás, relações traumáticas deixam sequelas e faz parte da vida melhorarmos como seres humanos.

Isso não exime a culpa das pessoas que te machucaram, há pessoas ruins por aí e não há muito o que fazer… mas é importante entender o nosso eventual papel de cúmplices nisso.

E quando estiver preparado, se pergunte: “Por que o meu dedo é podre?”

A resposta pode revelar mais do que você imagina.

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Aqui eu escrevo sobre desconfortos, alegrias e sobre nós.