Perda de identidade
Roubaram minha mochila
As chaves do trabalho,
Minha carteira.
Roubaram as fotos e bilhetinhos bobos que eu levava na carteira.
Roubaram meu laptop e na fuga o deixaram cair. Quebrou todinho.
Roubaram algum dinheiro,
E outras coisas que já não lembro.
Roubaram minha cédula de identidade,
Roubaram um pedacinho da minha identidade.
Me senti invadida.
Não somente porque entraram na minha casa,
Mas porque levaram coisas tão minhas…
E não falo das posses materiais.
Porque essas, compro outras.
Falo do papel onde mamãe escreveu “eu te amo”,
Da foto branco e negro de papai quando jovem,
Como ele se parecia com a outra foto, a do meu irmão na sua época de adolescente.
Falo do primeiro recadinho amoroso que meu companheiro deixou para mim,
Do cartão da primeira revista onde publiquei uma história,
E de outras bobeirinhas mais
Que para o ladrão não valiam nada,
Mas que eram preciosas para mim.
Não gosto de pensar que um estranho viu essas coisas
E gosto menos ainda de saber que nunca mais as verei.
Mas sei que preciso deixá-las ir,
Dar uma de Marie Kondo,
Aceitar que já não estão
E que não são tão importantes quanto o sentimento que representavam.
Fotos desbotam, bilhetes rasgam, papeis voam,
Coisas são roubadas.
Mas o sentimento permanece.
E mesmo que eu me esqueça das coisinhas que levava na carteira
Nunca vou me esquecer de como meu irmão se parece com meu pai,
Nem da canção que meu companheiro me dedicou quando começamos a namorar,
Nem da maneira como os olhos de mamãe brilham quando diz que nos ama,
Nem de um milhão de detalhes mais que fazem da minha identidade o que é:
Independente de objetos, incrível por ser única,
Intransponível, inabalável, intocável.
Obrigada por ler ❤ Se gostou, deixe seus aplausos 👏
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