Quando eu escolhi a mim.
Mais um mês de Junho. Mais um mês de Orgulho LGBT. Mais um mês de orgulho em ser eu. E eu não podia passar por ele sem escrever algo, né? Logo eu, que lutei e sofri tanto para me aceitar e ser eu.
E é disso que vim falar… talvez você já tenha lido meu texto sobre meus anos escondida “no armário” (blé, eu detesto esse termo), mas vou falar novamente e vou insistir nessa tecla até o mundo ser melhor para nós.
Bom, é isso mesmo que você leu no título. Eu me escolhi. Finalmente, depois de muitos anos, eu escolhi a mim. E quem não vive isso nem imagina o quanto é difícil nem o porquê de realmente nos orgulharmos de sermos nós. Falamos de (e com) orgulho, justamente pela dor que já vivemos, do tempo que já ficamos reclusos, dos momentos de sofrimento que a maioria passa até poder finalmente ser quem é.
Afinal, a vida é cruel, né? São muitos perdendo a família (afetivamente falando) quando assumem quem são, outros parando em hospitais por receberem ódio de pessoas que nem a ver com a vida deles têm.
Mas eu quero falar do prazer que é escolher a você. E o que eu digo por isso é aquele momento que a maioria fala “se assumir” ou “sair do armário”. Gente, vamos lá, ninguém cabe num armário! O que é um armário perto de uma vida inteira? É insuportável. Eu não aguentei, não. Usei mil desculpas pra me esconder, por medo de mil outras coisas. Mas eu fui infeliz, eu sofria em silêncio. Aí chegou o meu momento, o momento que eu respirei, olhei pro alto, olhei pro espelho (chorei um pouco), e ri. Sorri.
Chegou o momento de fazer uma escolha. Chegou o momento que ou eu era feliz ou eu me afundaria abaixo do fim do poço. Daí… eu me escolhi. Escolhi o amor que apareceu na minha vida, escolhi meu sorriso ao invés das lágrimas que já tinham sido cotidianas, escolhi a minha felicidade. Escolhi a minha verdade ao invés das muitas versões de mim que eu havia inventado ao longo dos anos. Escolhi me reconhecer, me aceitar e me amar. Porque eu não escolhi ser gay. Isso nasceu comigo. Eu escolhi apenas aceitar essa condição.
Pois bem, quando eu resolvi e entendi que essa era a minha vida e que nada que eu fizesse mudaria isso, quando a minha ficha caiu de que eu podia ser feliz sendo assim… Como eu me senti bem. Tive momento de aflição quando fui conversar com a minha mãe, mas depois… Eu parei de existir e comecei a viver. Viver a minha vida, a vida que eu escolhi.
Eu precisei sofrer muito para ser quem eu sou, mas quando eu decidir ser esta pessoa que vos escreve, eu fui feliz. Eu sei que muitos não tem a sorte que eu tive de ter uma família acolhedora, mas quando você se aceita e se ama… é sensacional, eu não sei nem explicar.
Hoje eu consigo ter orgulho de mim, sabe? E eu gostaria muito que outras pessoas pudessem sentir isso sobre elas mesmas. Nós somos únicos e nós somos incríveis! Ninguém pode tirar nós de nós mesmos.
Me escolher foi a melhor coisa que eu fiz na minha vida. Escolher ser eu, escolher viver o meu amor, escolher a minha felicidade e escolher a minha saúde mental. Foi lindo, gente. Aceitem quem vocês são. Se abracem, se acolham. O mundo já julga demais para nós também julgarmos a nós mesmos. Viver a vida sendo o crítico e o criticado ao mesmo tempo é a pior coisa que podemos fazer por nós.
Como me fez bem tomar esta decisão. Me olhar no espelho e falar “chega, eu não consigo viver mais essa mentira”, foi libertador. É uma paz interior que ninguém consegue tirar… Ser feliz em ser quem eu sou, não ter mais vergonha de viver a minha vida, poder falar “a minha namorada”, poder contar minhas histórias sem medo… Foi um momento que eu considero quase que um renascimento.
Se escolham. É a melhor escolha que você pode fazer.