Superpopulação: onde as pessoas vão morar… E será que tem grana pra todo mundo?
No último texto desta série vimos como o número de filhos por casal vai estabilizar a população mundial em 11 bilhões de pessoas. As razões para esta queda na taxa de natalidade são basicamente econômicas, e isso será abordado neste texto! Além disso, vamos ver onde estas pessoas irão viver, afinal, o espaço é limitado.
Local
Hoje somos 7 bilhões de pessoas no mundo. Onde vivemos? Basicamente (em números arredondados, como sempre) 1 bilhão nas Américas, 1 bilhão na África, 1 bilhão na Europa e 4 bilhões na Ásia.
O crescimento rápido vai continuar por algumas décadas, mas apenas nos locais onde o planejamento familiar ainda não está sendo aplicado. É esperado que em 2100 este crescimento acabe, e teremos então 11 bilhões de pessoas no mundo. É um aumento de 4 bilhões de pessoas que acontecerá apenas na África e Ásia.
Teremos 1 bilhão de pessoas a mais na Ásia e (provavelmente) mais 3 bilhões na África. A figura abaixo volta 100 anos no passado (início em 1917) e mostra como a população cresceu no mundo. A partir da década de 1990, o crescimento nas Américas e na Europa fica estagnado, enquanto África e Ásia continuam crescendo. Em 2100, cerca de 80% da população mundial viverá na Ásia e na África.
Economia
O progresso chegou, e não foi só para os “desenvolvidos”. A razão pela qual as mídias e as escolas não conseguem comunicar esta visão de mundo deve-se ao uso contínuo do desatualizado conceito de um “mundo em desenvolvimento”. Na década de 1960, era relevante dividir os países do mundo em dois grupos distintos, rotulados como “desenvolvidos” e “em desenvolvimento”. Estes dois grupos diferiam em quase todos os sentidos. Os desenvolvidos eram ricos e as pessoas tinham uma boa educação, vida longa e famílias pequenas. Os países em desenvolvimento eram pobres, as pessoas tinham pouca ou nenhuma educação, vidas curtas e famílias numerosas.
Quase toda a economia mundial estava nos países desenvolvidos. Não havia um “grupo do meio”. Na verdade, havia um terceiro grupo, os “países comunistas” dominados pelos soviéticos. Mas estes viviam vidas separadas e fechadas fora da economia mundial. Depois do desaparecimento do bloco soviético, o Banco Mundial desenvolveu uma nova divisão, criando quatro grupos de países usando o Produto Interno Bruto (PIB) per capita, dividindo os países em baixa renda, renda média baixa, renda média alta e renda alta.
Na figura abaixo, eu selecionei os maiores e menores PIB per capita nas regiões analisadas. A disparidade entre os mais ricos e os mais pobres é tão grande quanto antes, mas a grande mudança é que a lacuna do meio foi preenchida. Esse “pessoal do meio” inclui países de renda média, como Brasil, México, China, Turquia e Indonésia. Metade da economia mundial — e a maior parte do crescimento econômico — está nestes países.
Distribuição de renda
Não podemos usar apenas o PIB per capita para avaliar a renda dos países. O problema é que esse valor é uma média, e a média pode ser ingrata.
É mais ou menos o seguinte: se imagine em um bar com seus amigos, você sabe o salário de cada um, então calcula rapidamente a média de salários da turma que está no bar. Só que, de repente, a porta se abre e o Neymar entra. Ele ganha milhões de reais por mês. Se você somar o salário do Neymar e fizer a média de novo, em poucos segundos a média subiu e aparentemente todos vocês são ricos, mas, na verdade, só um realmente é. Os países são mais ou menos assim. Várias pessoas como eu e você, poucas como o Neymar. A média do PIB per capita não reflete a distribuição de renda no país.
Veja como era a distribuição de renda do mundo em 1975. Estão representados todos os países (com dados disponíveis). O tamanho da fatia representa o número de pessoas no país.
Esta curva é carinhosamente conhecida como “camelo”. Em 1975, 51% das pessoas no mundo viviam em extrema pobreza, com menos de 2 dólares por dia. A maioria destas pessoas estavam na Ásia e na África, com poucas pessoas nas Américas e menos ainda na Europa. O que aconteceu nos últimos 40 anos é que a maioria da população que vivia com apenas 1 dólar por dia foi “deslocada” para a porção central, próxima de 10 dólares por dia. O “camelo” se transformou em seu primo, o “dromedário”. Como você pode ver, as fatias ficaram mais “gordinhas”, o que representa o aumento na população mundial nestes 40 anos.
Em uma escala global, agora há mais pessoas ganhando $ 10 por dia do que nunca. A porcentagem de pobreza extrema caiu de 51% para 12%. Ainda assim, neste mundo novo e melhor, 1 a 2 bilhões ainda vivem em extrema pobreza, principalmente em países de da África Subsaariana e do Sul da Ásia.
A desigualdade de renda é um dos grandes problemas no mundo hoje. Como a distribuição de renda mudou durante o tempo? Lembrando que, quando voltamos no passado, os dados estão ajustados pela inflação, ou seja, são comparáveis. Escolhi dois países para representar, o Brasil (em verde) e o Reino Unido (em amarelo).
Detalhe importante, antes que você saia gritando que o gráfico não representa a realidade: o eixo x está em escala logarítmica de base 10 (achou que não ia usar isso nunca na vida né?). Por isso a distância entre 1, 10, 100 e 1000 é a mesma.
A figura começa em 1950, quando Getúlio Vargas foi eleito, depois do fim da ditadura do Estado Novo. Veja como a população brasileira dá um salto de qualidade de vida, quando a maioria pula para a faixa de U$ 10 por dia. Era a época do “milagre econômico”, o governo de Juscelino Kubitscheck e o golpe militar de 64. O Brasil era o país do futuro e muitos investimentos chegaram, o que refletiu em uma melhor distribuição de renda.
Repare agora no Reino Unido. Apesar do fim da Segunda Guerra Mundial em 1945, a maioria da população do Reino Unido já vivia em 1950 com mais de U$ 10 por dia. Hoje, esta maioria está perto dos U$ 100. Enquanto há poucas pessoas no UK vivendo com U$10 por dia e virtualmente nenhuma com U$ 1, no Brasil ainda tem muita gente na parte mais baixa da renda.
Lembra no Neymar? No Brasil há poucas pessoas vivendo com U$ 100 por dia, e no Reino Unido há poucas vivendo com U$ 1000 por dia, mas mesmo assim elas arrastam o PIB per capita para um valor alto, mascarando a distribuição de renda.
Diferentes pontos de vista
Para as pessoas mais ricas, a diferença entre U$ 1–10 por dia é insignificante: ambas parecem uma quantia impossível para se viver. No entanto, os mais pobres sabem muito bem bem como seria melhor a vida se eles mudassem de U$ 1 para U$ 10 por dia. Esta forma de mobilidade social ascendente está ditando as decisões pessoais, uma vez que os pais querem que seus filhos tenham mais oportunidades do que eles tiveram.
Muitos estão se voltando para as escolas e Universidades particulares, como forma de equipar seus filhos para o mercado global, além de intercâmbios e especializações na Europa ou nos EUA. Mas os custos desse tipo de educação privada são muito elevados. Os pais nessas situações muitas vezes fazem escolhas conscientes para ter no máximo 2 filhos, o que representa uma queda na taxa de natalidade (lembra do último texto?).
As implicações do aumento da renda também podem ser vistas nos hábitos de compra, como máquinas de lavar e outros bens de consumo duráveis. Pode reparar, as casas estão cheias de máquinas. A máquina faz o trabalho pesado. Isso significa que sobre tempo para estudo e lazer, o que melhora a qualidade de vida e acaba, indiretamente, ajudando na economia. Ainda assim no mundo há milhões de pessoas que ainda aquecem a água e cozinham sua comida em fogueiras. Às vezes, eles nem têm comida suficiente e vivem abaixo da linha da pobreza.
Resumindo: há espaço para as futuras 4 bilhões de pessoas e o mundo está economicamente melhor do que nunca, mas muito longe de estar totalmente bem.
No próximo texto (o último!) desta série vou tratar de outros dois assuntos importantes: a produção de alimento e a sustentabilidade… Afinal, temos apenas uma Terra e o aumento populacional coloca pressão na produção de alimento e no impacto ambiental provocado pela nossa e as futuras gerações. Até a próxima!
Edições anteriores:
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