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Uma Tarde de Jogos Emocionais

Sobre fingir que está tudo bem.

Danilo H.
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3 min readApr 21, 2022

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Eu já te contei que existe um reloginho dentro de mim que sempre me orienta? Pois é… foi ele que me lembrou que a cafeteira iria desligar e, por isso, levantei de repente e fui para a cozinha.

Inclusive, algo desligou dentro de mim no mesmo instante.

Despejo todo o café numa garrafa e a levo de volta para a sala.

Você me segue.
Farejo o seu desespero.
E, pela primeira vez em muito tempo, sinto meu corpo esfriar.

Quanta gente, né?
Reunimos no mesmo lugar todas as pessoas com quem flertamos para uma inofensiva tarde de jogos.

Ao que tudo indica, ninguém resiste a um joguinho emocional.

Jocelyn Tsaih

Seus gestos, suas palavras ensaiadas e seu olhar esguio sugerem a mesma coisa: você não se importa.

Ah! Foi você que deu essa ideia maluca e eu quis testar a sua hipótese… se você não se importa com a (in)existência de um “nós”, então qual o ponto de querer reunir todas as pessoas com quem conversamos em um só lugar?

Eu contei 15 pessoas no total.
Mais de dois terços “pertencem” a você.

Na mesa central há dezenas de jogos de tabuleiro para todos os gostos:
Xadrez;
Resta Um (aposto que você tem medo desse);
Damas;
Monopoly (isso me lembra aquele rapaz engomadinho com quem você sai);
War;
Detetive (somos ótimos stalkers, inclusive);
E até um Twist um pouco empoeirado.

Separei ao lado o meu favorito: Cara a Cara.
Não vou negar que adoro o fato de você ser péssimo nesse jogo.

Olhei para você e… fui tomado por um pensamento.

“Será que algum dia você terá coragem de aposentar os seus jogos emocionais?”

Kiersten Essenpreis

O clássico Jogo do Desinteresse — Check!
O Desafio do “Quem sente menos, ganha!” — Check!
A Gincana do “Like + Reação com Foguinho para marcar território” — Check!
E a mais temida de todas: A brincadeira do “Sumirei do seu radar e voltarei como se nada tivesse acontecido” — Check!

Será que algum dia você irá parar ou terei que jogar infinitas partidas contigo enquanto estivermos juntos?

Seu ar de normalidade me espanta.
Tudo é um grande jogo de quem se importa menos, de quem responde com a menor quantidade de palavras e de quem finge melhor que não há nada acontecendo.

Foi então que eu olhei com cuidado para as pessoas que você trouxe pra cá.

Realmente! Você é um campeão em dar migalhas de si para muitas pessoas.

Nadia Snopek

As pessoas ao seu redor imploram por fragmentos de afeto e você sabe muito bem disso.

Será que alguma vez você quis alguém que te destruiu por dentro?

Se você foi machucado, eu nunca saberei. Ao te olhar, vejo alguém que foge compulsivamente de qualquer sinal de apego.

Para manter o interesse, você dispõe de mecânicas confusas que geram micro afetos… e talvez você só possa proporcionar isso mesmo, não tenho motivos para querer mais.

Não posso pedir algo que você não pode dar a si mesmo!

Sinto um estalo dentro de mim, lembro que deixei a cafeteira ligada e noto que você se assusta com meu movimento brusco.

Seus olhos transbordam pavor enquanto eu encerro um ciclo de azar.

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Danilo H.

Aqui eu escrevo sobre desconfortos, alegrias e sobre nós.