Temos que pegar.

Pokémon Go: Um Resumo do Mundo e do Futuro

Marcos Paulo Oliveira
Revista Theorema
Published in
5 min readJul 18, 2016

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Jogo de realidade aumentada desenvolvido pela Niantic para a Nintendo, Pokémon GO consiste em percorrer e ocupar a cidade atrás de pokémons espalhados pelos cantos. O game é uma surpresa pra muita gente, porém seus desenvolvedores sabiam muito bem o que faziam. Certos da dificuldade de lidar com o número de usuários, lançaram o game nas plataformas mobile em alguns poucos países para só depois disponibilizarem-no no resto do mundo.

A surpresa mesmo é o nível deste sucesso. Embora hoje em dia existam mais ex-BBB’s do que Pokémons, o desejo de fazer da vida o “bem vencer o mal” está maturando em toda uma geração, e, ao colidir com outros anseios e tendências atuais, Pokémon GO conseguiu tornar-se em alguns dias maior do que o Tinder (aparentemente Pokémon > sexo em potencial), com uma base de usuários ativos maior que do Twitter. Além disso, elevou as ações da Nintendo, que vale 10 bilhões, de uma semana para a outra, e hoje se faz presente em 20% dos celulares Android. O game também tem ajudado pessoas com transtornos mentais a melhorarem e pessoas sedentárias a caminharem, demonstrando que Pokémon GO também é mais relevante que ataques cardíacos em potencial.

Pokémon Go tops Twitter’s daily users, sees more engagement than Facebook

Ocupação urbana

Pokémon GO consegue seguir uma tendência inesperada, iniciada já há alguns anos com o advento dos food trucks, ciclovias, blaze boards (os andadores elétricos de duas rodas), parklets (mini praças que ocupam vagas de carros) e demais potenciais costumes atuais, que é a ocupação e apropriação de espaços urbanos por pessoas, e não mais apenas por veículos parados.

Desta forma, Pokémon GO converge para todas essas tendências, fazendo o que os pais tentaram fazer durante toda a sua vida: “Tá um dia lindo lá fora, vai dar uma andada, ver a paisagem, tomar um sol! Sai de casa, meu filho”.

[Update], este texto, por Bruno Canato explica melhor algumas questões aqui, e tem inclusive termos em francês:

Realidade aumentada

As duas grandes tendências tecnológicas atuais são a realidade virtual e a realidade aumentada, que havia se iniciado com o QR Code, mas que até então não tinha sido realmente inserido na tecnologia, e não apenas como perfumaria. Fazendo uso do GPS e da câmera de seu celular, o jogo permite interagir com o ambiente, onde os monstrinhos são introduzidos digitalmente, e assim a realidade aumentada ganhou o potencial tão prometido outrora. A genialidade está em fazer com que o virtual dialogue com o real, fazendo a união tão esperada entre estes mundos tão cotidianos e tão separados onde ou se presta atenção em um ou em outro.

Problemas de privacidade e servidores piratas

Pokémon GO tem problemas sérios de privacidade, pois antes, ao cadastrar-se, você permitia que a Niantic, que possui o Google como um de seus investidores, tivesse acesso irrestrito à sua conta, permitindo que ela identificasse e tagueasse seus e-mails. Após reclamações, a plataforma foi alterada e agora exige apenas dados básicos. Por não estar disponível em todos os países, hackers têm criado versões para o jogo com um backdoor (porta de saída de dados) e tornado possível o roubo de dados de usuários.

Tudo começou com uma piada

A Google fez uma piada em 2014 ao soltar um vídeo onde espalhava pokémons pelo seu mapa, o Google Maps. Mas o sucesso foi grande e a ideia parecia não só lucrativa, como possível. Alguém pensou: “Por que não?”, e foi lá fazer.

Uma coleção de cenas bizarras e oportunidades interessantes

Por usarem o mapa de outros jogos e experimentos com realidade aumentada, os locais mais populares acessados se tornaram ginásios, e desta forma ficaram cheios de pokémons, como o Museu do Holocausto, que está cheio de pokémons do tipo gás. A diretoria do local já pediu a retirada do museu do mapa.

Assaltantes têm usado o mapa para esperar potenciais vítimas e assim roubar seus smartphones; pessoas têm batido seus carros, encontrado corpos e invadindo casas atrás de pokémons; estabelecimentos têm comprado créditos para atrair clientes. Americanos estão aprendendo o sistema métrico internacional (S.I., lembre do supletivo), sistema criado na França durante a Revolução Francesa para ser usado pelo mundo todo, e que é padrão nas engenharias e em alguns países como o Brasil, mas não se popularizou em alguns cantos. De certo modo, Pokémon GO conseguiu o que a Revolução Francesa falhou, veja só.

O Sucesso

Pokémon está maturando uma base de usuários altamente engajada que espera pela oportunidade de viver este jogo há mais de 20 anos. É não apenas um teste para ansiosos, mas também uma força do marketing sem igual, que sempre foi capaz de alcançar multimídia com sucesso, estando presente na TV, cinema e games. Possivelmente, é um fenômeno único.

O jogo quase não precisa de explicação. É tão fácil quanto andar e olhar para o celular, algo que as pessoas estão perigosamente se habituando (sério, se você faz isso, simplesmente pare). Por ser um facilitador de interações sociais, o jogo ganhou muita força pelo boca a boca, e proporcionou uma ajuda a pessoas com dificuldades de sociabilização.

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Marcos Paulo Oliveira
Revista Theorema

Professor, Físico, matemático, cientista, crítico de cinema, curioso, ansioso. Tudo na minha Newsletter: https://tinyletter.com/MarcosPaulo