O futuro das transmissões esportivas

Alexandre Rodrigues Alves
Revista Acréscimos
5 min readSep 11, 2018

O fim dos canais Esporte Interativo no Brasil é o prenúncio de uma nova era. Mas as transmissões na TV ainda são fundamentais.

(foto: www.mktesportivo.com)

Nesta semana começaram as transmissões da UEFA Nations League — campeonato das principais seleções de futebol da Europa — nos canais TNT e Space no Brasil, ligados ao grupo Turner. Grupo que acabou com os canais Esporte Interativo no país, deixando muitas dúvidas sobre o futuro das coberturas de diversos eventos que estavam sendo exibidos até o último mês. Inclusive, fizemos uma edição (a de número 72) do nosso PODCAST DOIS TEMPOS falando sobre o tema (você pode ouvi-la AQUI).

Naquele momento era difícil saber qual o futuro dessas competições, mas pelo visto está claro que Séries C e D do Brasileiro, Copa do Nordeste e campeonatos estaduais do Nordeste brasileiro não serão mais exibidos no futuro pelos canais de filmes da Turner (a Série C deste ano, inclusive, está tendo sua reta final mostrada apenas na internet). O que é uma grande pena para quem quer ver algo diferente do que é sempre levado por todas as emissoras.

Vários foram os motivos que causaram o fim dos canais Esporte Interativo no Brasil, explicitados NESTE texto do site Máquina do Esporte. A baixa audiência em geral dos canais, a falta de produtos mais atraentes, o alto custo da operação da marca na TV e o desejo da Turner em transformar seus canais de filmes (TNT e Space) em “superstations”, ou seja, canais com conteúdo variado.

A meu ver, é uma desculpa para se livrarem de um investimento pesado que não trazia o retorno esperado, tanto na parte comercial quanto na parte de repercussão e audiência. Por mais que a emissora conseguisse bons índices nas transmissões de jogos decisivos da Champions League, o destaque do restante da programação passava perto da irrelevância. Muito por tentar seguir a mesma fórmula já vista em outros canais esportivos e que não vem com nenhuma novidade.

O discurso de apoio ao Nordeste e a outros esportes, como o handebol (que teve o Mundial Feminino de 2013 sendo exibido e tendo boa resposta com o título da Seleção Brasileira), ficou pelo caminho. E ficará ainda mais com essa decisão pois, ao que tudo indica, só as competições da UEFA e o Campeonato Brasileiro da Série A, com os jogos dos times que assinaram com a Turner, é que serão transmitidos, a partir do ano que vem (isso se os clubes mantiverem o contrato com o grupo…).

Acima de qualquer coisa, o fato de vermos tantos profissionais perderem o emprego já é algo que choca e entristece. É algo que deixa bem evidente, por mais que estejamos perto de uma ideia de modernidade na comercialização de eventos, a tristeza de também enxergarmos uma iniciativa, como era a dos canais Esporte Interativo, chegando ao fim. Os jogos de futebol internacional da Liga das Nações da UEFA já estão sendo exibidos em meio aos canais de filmes, sem grande divulgação. Por mais que a ideia de canais com várias atrações seja, na teoria, interessante até financeiramente para a Turner, pois poupa o grupo do gasto em uma emissora exclusivamente esportiva, ela ainda gera dúvidas de sua eficácia em termos de repercussão e para ser uma alavanca no sucesso da marca “Esporte Interativo” (que ainda existe, mesmo que só como uma lembrança online do passado do canal). Pode vir a dar certo, mas o espaço reduzido para o esporte já é algo decretado e que não pode ser considerado como algo tão bom, sob qualquer ponto de vista.

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Arte: blog.superlogica.com

Assim como a ideia da transmissão em canais variados em termos de conteúdo, o futuro dos eventos transmitidos pela internet também trás algumas questões interessantes. É evidente que a evolução da tecnologia faz com que a internet ganhe cada vez mais força na transmissão de jogos e campeonatos esportivos ao redor do mundo.

Neste momento aqui no Brasil estamos vivendo essa situação mais claramente no futebol com a transmissão do Campeonato Italiano por um serviço de streaming. A empresa de marketing IMG (International Management Group), depois de não conseguir vender os direitos do torneio para as TVs, lançou a iniciativa para quem quiser acompanhar a Serie A italiana, em um tipo de serviço similar ao League Pass da NBA e o Game pass da NFL, o Serie A Pass. Os preços variam, dependendo se a pessoa escolhe pagar ao mês ou pela temporada toda e os jogos podem ser assistidos pelo aplicativo Serie A Pass para Android ou iPhone. No Android, o preço que aparece, em reais, é R$ 36,99 por mês ou R$ 219,99 por temporada.

Mas chama a atenção o fato de assistirmos a falta de divulgação de um torneio da importância do Italiano nas TVs esportivas. É uma situação mercadológica, claro; o canal não transmite o evento e, portanto, fala menos dele. Mas não dá para negar que é estranho para mim observar que, se não procurarmos bem, a competição passa meio que batida (lembrando que é possível ver alguns jogos pela TV por assinatura brasileira com a transmissão da RAI italiana, que não é veiculada em canal de HD por aqui…).

Em mais uma matéria do site Máquina do Esporte, a divulgação da TV é citada pela jornalista Duda Lopes, como um fator que ainda faz diferença no Brasil.

“ A discussão do momento envolve uma competição europeia, que dificilmente abriria mão de estar nos principais veículos. Seria difícil imaginar a popularização das ligas do velho continente ao redor do mundo caso elas estivessem restritas a um canal com acesso limitado.”

É bastante visível que o mercado de TV por assinatura enfrenta um processo de, na melhor das hipóteses, estagnação e também uma certa rejeição por parte dos consumidores. Mensalidades caras, canais com conteúdo repetido em excesso e a obrigatoriedade de se assinar canais que o consumidor não pretende assistir. Mas ela ainda é fundamental para que muitos eventos esportivos possam ter espaço em um país em que a internet não é uma maravilha, tecnicamente falando.

Temos então problemas de mercado e de futuro, cada vez mais presentes. A tendência é que a internet tenha cada vez mais força. Mas, mesmo com esse cenário, a TV por assinatura deveria oferecer mais conteúdo. Por mais que seja complicado competir com os valores dos direitos de transmissão, seria interessante que fossem buscadas alternativas para que não tenhamos apenas o mais do mesmo que temos visto nas programações.

A saída de um canal na grade de opções esportivas na TV brasileira é uma má notícia e o prenúncio de um futuro cada vez mais presente na telinha, mas na do computador, ou do celular, sempre ligada à internet. Mas mesmo que isso seja inexorável, as TVs poderiam tentar lutar contra isso e fazer com que as programações de esporte possam ser mais atraentes, para que essa briga seja mais atrativa para os espectadores.

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