O menos do mesmo nos canais esportivos do Brasil

Alexandre Rodrigues Alves
Revista Acréscimos
3 min readMar 17, 2017
Um dia normal nos inúmeros Bate-Bola da programação da ESPN (Foto: Divulgação / ESPN Brasil).

Em primeiro lugar é preciso esclarecer algo sobre este texto: Sou fã de jornalismo, no caso especialmente o esportivo, acompanho esporte desde criança, então não é algo feito apenas para desmerecer profissionais, tanto que nem pretendo citar nomes aqui. Além disso a área me interessa tanto em sua parte teórica como na parte prática. Também não pretendo aqui me arvorar de “professor” na matéria, um porque não sou e dois, por mais clichê que isso soe, o fato é que todo dia aprendemos novidades e algo relevante sobre determinado tema sobre o qual não conhecíamos. Dito isso, vejo com certa incredulidade o rumo que o jornalismo que trata do esporte tem tomado na TV brasileira.

Com a criação de vários canais esportivos, assim como a massificação da internet com seu intenso e inesgotável conteúdo, esperava-se que a qualidade do que é divulgado e noticiado seria elevada, com algo nivelado por cima, na busca da apuração dos fatos e maior aprofundamento tanto na análise quanto nas reportagens. Porém o que aconteceu foi justamente o contrário.

O grande número de emissoras esportivas na TV paga (5 no total) não significou diversidade na programação. Mesmo tendo sediado uma Olimpíada a menos de um ano, o cenário de espaço para os outros esportes é desolador. Sim, temos programas até de videogame, mas o esporte local mesmo, tirando os eventos transmitidos em sua maioria pelo SporTV, é relegado à décimo plano.

Sim, sou fã de futebol e acompanho, como disse acima, desde criança. Mas nem quem gosta tanto do esporte mais popular do mundo pode suportar tantos programas discutindo sobre o nada como temos hoje na TV brasileira. Nem falo na TV aberta pois, principalmente em rede nacional, não existe preocupação em fazer um programa mais aprofundado (exceção para algumas reportagens do Esporte Espetacular).

Falo do dia a dia, onde em todos os canais esportivos tem infindáveis programas de debate, na maioria das vezes falando dos mesmos times, em especulações que levam o nada ao lugar nenhum. E ajudando na grande mania nacional, que é demitir treinadores. Com uma derrota em uma equipe grande vemos um tsunami (que não é o jogador do Remo) de notícias falando de uma possível demissão, que na maioria das vezes se confirma. A “bola da vez” quando escrevo este texto é Cristóvão Borges no Vasco que, na verdade já chegou meio que demitido ao clube carioca pois está marcado como um treinador mediano e que sempre sofre pressão no primeiro mal resultado obtido.

É evidente que a culpa dessa pressão não é só da mídia, inclusive já falei disso em outro texto aqui na REVISTA ACRÉSCIMOS. Com 112 demissões de técnicos no ano no Brasil, somente até 15 de março, fica claro que o esporte preferido dos dirigentes é transferir a culpa de seus erros na maioria das vezes. Mas não dá para não notar a influência do “vai cair ou não?” da imprensa neste processo.

Mas voltando ao formato do jornalismo esportivo de hoje. A repetição de programas de debate, além de entrevistas de jogadores, chegada de ônibus, pré e pós jogo realmente chama a atenção. É evidente que os custos para se fazer uma programação assim são menores e a audiência é relativamente garantida. Porém não vemos nesse cenário um maior espaço para a reportagem, para o aprofundamento das discussões táticas do jogo, o que certamente ajudaria a compreensão mais efetiva do futebol para que possamos sair um pouco do terreno da mística, da especulação e do “querer ganhar”, muleta que se usa muitas vezes para justificar uma vitória (ou uma derrota) de alguma equipe.

Não vejo no curto prazo isso mudando infelizmente. Até o SporTV, que é o canal que abre mais espaço para outros esportes, fez com que a sua grade priorizasse o futebol de forma constante em seu canal 1. Isso faz com que tenhamos ainda mais programas idênticos, sem uma maior diversidade de modelos. É preciso deixar claro também que não sou contra o debate futebolístico por si só, é importante que ele ocorra. Porém, em canais com 24 horas por dia dedicada a TODOS os esportes, fica complicado querer que outras modalidades ganhem apreciadores sem espaço.

A equação audiência versus qualidade ainda não foi bem resolvida pelos nossos canais esportivos, e não sei se existe interesse para que isso aconteça, o que é uma pena.

--

--