EVENTOS
SEMANA DE JORNALISMO DA UNESP: RESPONSABILIDADE, TRANSPARÊNCIA E PERSEVERANÇA
No ano de 2020, a série de diálogos entre estudantes, professores, pesquisadores e profissionais da área trouxe reflexões sobre a realidade atual e as práticas jornalísticas.
Por Lorrana Marino
Editado por Arthur Almeida e Giovana Silvestri
A continuidade da suspensão das aulas presenciais no segundo semestre de 2020 não abalou a realização da “Semana de Jornalismo” da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP) de Bauru.
A comissão organizadora, formada pela coordenadora do curso de Jornalismo, Ângela Maria Grossi, em conjunto com a Empresa Júnior Jornal Jr. e representantes da classe discente, apoiada pela Seção Técnica de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão (STAEPE), realizou, entre os dias 8 e 11 de setembro, a “Semana de Jornalismo 2020 — Informação: Direito & Dever”.
Transmitida pelo canal no Youtube “Jornalismo Unesp”, a semana foi inteiramente remota, a abertura e as sete mesas de discussão ocorreram por chamadas de vídeo na plataforma Google Meet, além de um encontro extra via Zoom.
Embora, em alguns momentos, a tecnologia tenha apresentado empecilhos, os problemas técnicos não impediram que os diversos convidados compartilhassem experiências e conhecimentos com os participantes.
Os espectadores podiam se comunicar por meio de um grupo no Telegram ou pelo chat no próprio Youtube e todo o conteúdo das transmissões foi gravado e armazenado, ainda estando disponível no canal.
Mais uma vez, a Torta acompanhou todos os dias desta semana e traz para você uma linha do tempo do que aconteceu:
DIA 8 (TERÇA-FEIRA)
15h00
Conferência de abertura
A jornalista, repórter especial e colunista da Folha de São Paulo, Patrícia Campos Mello, foi recebida pela Professora da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (FAAC) e Pós-Doutora pela Universidade de Sorbonne, em Paris, Érika de Moraes.
Autora do livro “A máquina do ódio: Notas de uma repórter sobre fake news e violência digital”, Patrícia discorreu sobre desinformação, as novas formas de censura e como a descredibilização da imprensa tem validado ataques a jornalistas, dado o caso dos profissionais agredidos no dia 3 de maio.
“O sonho de todo governante é que não tenha imprensa”, aponta Patrícia Campos Mello.
DIA 8 (TERÇA-FEIRA)
16h00
Rotinas do Jornalismo: da Redação à Edição
A primeira mesa de conversa reuniu a ex apresentadora na Record TV Paulista, Fernanda Camargo; o correspondente internacional da Globo News em Buenos Aires para a América Latina, Ariel Palacios; o repórter especial do Nexo Jornal, João Paulo Charleaux; e foi mediada pelo professor da UNESP e Pós-Doutor pela Universidade de Aveiro, em Portugual, Denis Porto Renó.
Charleaux começa dando dicas organizacionais para os jovens jornalistas, enquanto Palacios e Camargo atentam sobre a importância de se ter responsabilidade, ética e compromisso na prática da profissão.
Os três profissionais concluem que o jornalista precisa ser multitarefa e multifunção, sabendo dominar as melhores ferramentas e lidar com o complicado cruzamento entre Jornalismo e Publicidade.
DIA 8 (TERÇA-FEIRA)
19h30
O Papel das Plataformas de Checagem de Fatos no Enfrentamento à Desinformação
Conduzida pelo professor de Jornalismo da FAAC e Doutor pela Universidade de São Paulo (USP), Mauro de Souza Ventura, a segunda mesa da “Semana de Jornalismo 2020” recebeu o editor-chefe do Projeto Comprova, Sérgio Lüdtke; e a diretora de conteúdo da Agência Lupa, Natália Leal.
Os convidados explicam que as agências de checagem de notícia não são a solução para o problema da desinformação, apenas parte dela. A criação de mentiras é uma concorrência desleal ao Jornalismo.
Para combater as “notícias falsas”, a imprensa deve se manter rigorosa na checagem. É preciso que o jornalista atravesse o medo de números e faça uso de grandes bases de dados.
“As pessoas tomam decisões baseadas em informação, e se não é uma informação de qualidade elas tomam decisões erradas”, ressalta Sérgio Lüdtke.
DIA 9 (QUARTA-FEIRA)
16h00
Racismo nas Redações e a Diversidade na Cobertura da Pandemia
Para conversar sobre o tema, a terceira reunião online trouxe a ombudsman da Folha de São Paulo e especialista em Economia, Flávia Lima; o egresso da UNESP, cofundador da agência de Jornalismo Alma Preta e editor da Agência Internacional Sputnik, Solon Neto; o autor do livro “Transresistência”, homem trans e repórter da Ponte Jornalismo, Caetano (Caê) Vasconcelos; e como mediador, o professor da UNESP e Doutor pela USP, Juarez Xavier.
Flávia começou destacando que, além da pandemia, outra doença atinge o Brasil há mais tempo: o racismo. E a imprensa, como reflexo da sociedade, é racista, como pontuou, também, Solon Neto. Em paralelo a isso, questões LGBTQ+ também são marginalizadas, como ressaltou Caê.
A conclusão que se tira desta mesa é que a falta de diversidade nas redações fica evidente nas coberturas, que continuam estereotipadas e vulgares, explorando violências e casos policiais. É como Flávia Lima diz: “quanto menor a pluralidade, menor o número de visões e representações daquilo que a gente vive.”
DIA 09 (QUARTA-FEIRA)
19h30
Jornalismo Independente e das Periferias
Seguindo a temática plural, a última mesa da quarta-feira, dia 9, reúne a egressa da UNESP e repórter da revista AzMina, Letícia Ferreira; a cofundadora do laboratório de jornalismo Énois, Nina Weingrill; o cofundador do Periferia em Movimento, Thiago Borges; e é conduzida pela professora da UNESP e Pós-Doutora pela Universidade Autônoma de Barcelona, na Espanha, Suely Maciel.
A mesa traz questões como os desafios de uma mídia independente e a elitização da formação jornalística. Nina e Thiago expõem que o jornalismo de periferia tende a chegar onde a grande mídia não chega ou chega e faz um conteúdo estigmatizado.
Já Letícia pontua que, para criar um projeto é importante se manter fiel ao objetivo, ter uma identidade e pensar: “o que só você pode dizer sobre isso, que ninguém mais o está [fazendo]?”.
DIA 10 (QUINTA-FEIRA)
16h00
Informação Científica, Acesso à Informação e Visualização de Dados
A primeira reunião online da quinta-feira, trouxe o professor da FAAC e Pós-Doutor pela Brandeis University, nos Estados Unidos, Francisco Belda, como condutor da conversa entre o fundador da agência VOLT DATA LAB e editor do site Núcleo Jornalismo, Sérgio Spagnuolo; o jornalista da CNN Brasil e diretor da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Luiz Fernando Toledo; e a jornalista, pesquisadora e fundadora do projeto de divulgação científica Ciência na Rua, Mariluce Moura.
A mesa apresentou ferramentas que podem ajudar a desenvolver uma estratégia de Jornalismo guiado por dados, como a Lei de Acesso à Informação e sites como o E-sic e Science Pulse. Durante o diálogo, foi dito que a pandemia desafia jornalistas e cientistas de todas as especializações, não só no âmbito da Saúde.
DIA 10 (QUINTA-FEIRA)
19h30
Novos Cenários para o Jornalismo: Gestão, Tecnologia e Inovação na Prática Profissional
Com a maior duração da semana (3 horas), a penúltima mesa do evento reuniu o diretor de Marketing e Educação da Agência Lupa, Douglas Silveira; a editora-chefe no TAB, do UOL e ex-editora executiva do Nexo Jornal, Olívia Fraga; e o editor-executivo do site The Intercept Brasil e autor do livro “Costa Nostra Brasil”, Leandro Demori.
A conversa foi mediada pelo Professor Assistente, vice-coordenador do Programa de Pós-Graduação em Mídia e Tecnologia e Pós-Doutor pela Universidade de Sevilha, na Espanha, Juliano Maurício de Carvalho.
Demori começa elogiando o momento ao expressar que a tecnologia atual proporciona um tipo de investigação fabulosa. Embora, segundo Fraga, só será possível entender os novos formatos de jornalismo, com clareza, daqui há uns dez anos, ela concorda que este é um grande momento para a área.
Os convidados têm receio sobre o uso de redes sociais devido ao desconhecimento quanto ao funcionamento dos algoritmos que conduzem o meio. Mas Olívia Fraga reforça que é preciso que o Jornalismo brigue por esse espaço e consiga o seu lugar.
Ao falar sobre internet, a mesa passa pela questão do paywall. Douglas Silveira expõe que é necessário sentar e conversar para saber até onde é possível oferecer um conteúdo gratuito, e em qual momento é preciso cobrar para que se continue produzindo matérias com qualidade.
O assunto desinformação novamente se torna presente e desencadeia a seguinte fala de Silveira:
“Não trate o seu entendimento sobre desinformação como se fosse referência para o Brasil e para os brasileiros. Pequenas desinformações bagunçam a qualidade do discurso público”.
O fim da discussão tem um tom otimista, em que Demori encoraja os estudantes de Jornalismo e aconselha perseverança e esforço para sobreviver no meio.
DIA 11 (SEXTA-FEIRA)
16h00
Infodemia: Processo e Riscos do Espalhamento da Desinformação
A última mesa oficial da semana contou com a presença da presidente do Instituto para Desenvolvimento do Jornalismo (Projor) e coordenadora-executiva do Projeto Credibilidade, Angela Pimenta; o gerente de projetos e inovações no First Draft News, Pedro Noel; e o repórter especializado em ciência, fundador da Ambiental Media e recentemente adicionado ao Knight Science Journalism Program no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, onde estudou Agnotologia, Thiago Medaglia.
O diálogo conduzido pelo professor da UNESP e Doutor pela USP, Maximiliano Vicente, introduziu o significado de “infodemia” aos espectadores. A superabundância de informações, como explica Pimenta, dificulta que as pessoas encontrem fontes e orientações confiáveis.
Em uma atualidade em que a desinformação gera oportunidades de ganho financeiro, político e social, é preciso entender que “a maneira como recebemos informação é emocional”, como pontua Noel.
Medaglia ainda agrega a afirmação de que, “tanto quanto o conhecimento, a ignorância é fabricada”, e adiciona que usam-se da ideia de ciência para negar os próprios conhecimentos científicos.
Um debate que trouxe à tona a responsabilidade do Jornalismo em ser transparente e se manter consistente em valores de apuração, para que, assim, se crie uma relação racional de credibilidade. Como afirma Pedro Noel:
”Vamos ter que pensar em uma metodologia sobre como fazer as pessoas acreditarem em ciência”.
A Semana de Jornalismo encerra, oficialmente, com uma homenagem e agradecimentos à coordenadora do curso de Jornalismo, Angela Maria Grossi, por sua dedicação, motivação e perseverança em tudo aquilo que se propõe a fazer não só pelo curso, mas, e principalmente, pelos alunos.
DIA 10 (SEXTA-FEIRA)
19h00
Papo extra com Ariel Palacios
Depois de entrar em contato com a comissão organizadora do evento, Ariel Palacios, que esteve presente na primeira mesa do dia 8, propôs uma nova conversa com os discentes por meio da plataforma Zoom Meeting, a fim de aprofundar os assuntos tratados anteriormente.
O diálogo começou em ópera e terminou com impressões sobre doce de leite. Mas não se engane, Palacios deu inúmeros conselhos para os presentes. Palavras como persistência, perspicácia e preparação, estiveram em suas dicas que abarcaram a vivência profissional do jornalista.
Depois de uma sessão de perguntas, a troca de conhecimentos chegou ao fim com pouco mais de uma hora e meia de duração, finalizando a “Semana de Jornalismo 2020”, promovida pela Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da UNESP Bauru.
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