Tudo o que você podia ser (ou nada)

Gustavo Simas
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16 min readJun 10, 2022

Um artigo sobre Memória e análise de Severance (Temporada 1)

Parte 1: Lembrar e ser lembrados

Em 1890, Ruy Barbosa, então ministro da Fazenda no governo provisório de Deodoro da Fonseca, ordenou a queima de arquivos sobre a escravidão no Brasil. Esta ordem, sendo executada posteriormente em 1891 por seu sucessor, Tristão de Alencar Araripe, reduziu a cinzas documentos comprobatórios que permitiriam a escravocratas receberem indenização após abolição da escravidão, realizada em 13 de maio de 1888. A ação de estratégia política, por alguns classificada como liberal e humanitária, teve como objetivo principal não causar prejuízo ao erário. Porém, tal fato acabou por ser um ato de necromemória, dificultando a vida de pesquisadores e tornando-se uma pedra de escândalo em nossa história cultural.

Este é apenas um episódio que envolve o apagamento histórico: entre incêndios e silenciamentos, propositais ou por omissão, perdemos a conexão com o passado, a ligação com nossa cultura e ancestralidade. O esquecimento pode se dar de diferentes maneiras, por variadas estratégias e mascaradas de boas intenções. Como numa obra de Orwell ou Bradbury, revivemos distopias que são remodeladas com o avanço tecnológico, mas mantém intactas o caráter cruel de brincar com nossas memórias.

E Severance (Ruptura), série da Apple TV+, parte dessa premissa: como é possível ser inovadoramente cruel ao brincar com as memórias de pessoas comuns. Pessoas comuns que trabalham, dão rolês com amigos, mas que são cutucadas inconscientemente (e constantemente) por seus próprios valores e traumas. Valores e traumas que colidem na mente como partículas em movimento browniano…

A sinopse é: numa empresa misteriosa uma equipe de funcionários, que trabalha sem saber o que faz, passou por uma cirurgia que implantou chip no cérebro e agora possibilita a divisão de memórias profissionais e pessoais. Ou seja, quando entram no trabalho não rememoram lembranças do seus eus Externos e vice-versa. Mark Scout (Adam Scott) é a figura de liderança, o primeiro herói a ser apresentado, e o incidente incitante é a chegada de uma nova funcionária, Helly R. (Britt Lower), que acorda no escritório sem saber nem o próprio nome. Assim, acompanhamos a jornada de adaptação destes colaboradores a partir desta nova presença no ambiente que, até então, é “altamente harmônico”.

Mas, para assimilar as ocorrências memoráveis da série, precisamos entender, primeiro, um pouco sobre memória. Então, é o momento Nerdologia (que, aliás, já fez um vídeo legal sobre Memória uns anos atrás)

gif animado do Agente J (filme Homens de Preto) utilizando aparelho tecnológico de esquecimento no público
Você não se lembra de nada

Pode parecer fantasioso estabelecer classificações do objeto mais complexo do universo, o cérebro, no entanto, a Ciência se baseia em padrões e categorizações dentro destes padrões para que consigamos progredir o conhecimento humano.

“Se nosso cérebro fosse tão simples a ponto de podermos entendê-lo, seríamos tão tolos que continuaríamos sem entendê-lo” — Jostein Gaarder

Conceitualmente¹, memória é a faculdade da mente que codifica, armazena e resgata dados. Os elementos associados à memória fazem parte do sistema límbico, sistema responsável por nossas respostas emocionais e comportamentos sociais. A retenção de informação possui o propósito de influenciar ações futuras, caso contrário, se não tivéssemos memória, seria impossível (até onde entendemos da natureza humana) desenvolvermos habilidades humanas básicas como linguagem, relações sociais e identidade.

A memória humana é baseada em sinapses, zonas ativas de conexões eletroquímicas entre neurônios, ao invés de registros sólidos ou magnetização em componentes físicos (disco ou elementos eletrônicos). Assim, cada vez que lembramos de algo não estamos resgatando um arquivo de um armazém da cabeça, mas sim estamos recontando a história da experiência passada, com consideráveis chances de alterar detalhes ou, inclusive, aspectos essenciais dessa narrativa do passado.

Para organizar o pensamento, a Neurociência divide a memória entre declarativa e não-declarativa.

1. Memória declarativa

Também chamada de “memória explícita” ou, em alguns casos, “memória de curto prazo”. É mais facilmente adquirida (e esquecida), caminha pelo nível consciente e está associada ao hipocampo, parte do cérebro que, além da memória, regula emoções, atividade hormonal e promove reações mediante estímulos sensoriais. De maneira bem simplificada, memória declarativa se associa ao o quê dos fatos. Pode ser subdividida em:

  • Memória episódica: relativa a eventos específicos ou gerais; se você se lembra de sua festa de 8 anos, quem é o presidente do país, qual estado você mora e demais episódios pessoais.
  • Memória semântica: associada a significados, é a lembrança e compreensão de todas as formas de conhecimento baseado em conceitos; se você sabe o que é uma cadeira, como é uma banana, para quê serve um garfo, etc.

2. Memória não-declarativa

Também chamada de “memória implícita”. É mais dificilmente adquirida (e mais duradoura), caminha pelo nível inconsciente e está relacionada aos gânglios basais, responsáveis por funções como coordenação motora e comportamentos de rotina. Andar de skate, pular corda, procedimentos motores em geral e ações “no automático” estão ligadas a este tipo de memória. De maneira bem simplificada, se associa ao como dos fatos.

Adicionalmente, em diferentes formas de classificação, um outro tipo de memória é estudado: a memória sensorial.

3. Memória sensorial

Associada aos sentidos, guarda informação de forma instantânea e é evanescente. Está fora do controle cognitivo, sendo uma resposta automática. Em situações onde temos a percepção de ter visto, ouvido, tocado sem necessariamente armazenar estes dados dos sentidos seja em memória de curto ou longo prazo.

Por fim, pode-se montar um diagrama que ilustra simplificadamente a interação destes tipos de memória:

Modelo de memória de Atkinson-Shiffrin

Este diagrama é derivado do modelo de memória de Atkinson-Shiffrin (também denominado em inglês de Multi-Store Model), proposto em 1968 pelos psicólogos Richards com sobrenomes de cada um batizando o modelo. Memória de curto e longo prazo não correspondem diretamente à memória declarativa e não-declarativa, respectivamente, mas servem para entendermos a lógica das constituintes e interações na memória. Portanto, por exemplo, ao escutar alguém no telefone ditando um número de celular (recebimento de estímulos sensoriais sonoros), pela atenção nesta ação e repetição você consegue gravar este número em sua memória de curto prazo. Ao utilizá-lo com o tempo, pode registrar estes dígitos, inconscientemente, à figura de uma pessoa em sua memória de longo prazo.

gif animado de hermione granger (filme Harry Potter) utilizando o feitiço Obliviate que faz a pessoa esquecer de fatos
Esquecimento num passe de mágica

De volta a Severance, podemos ver que Dan Erickson, criador da série, constrói um universo onde o processo de Ruptura (como é chamada a cirurgia de implantação do chip cerebral) elimina as memórias episódicas dos funcionários, mantém as memórias semânticas e intervém duvidosamente na memória não-declarativa. Ou seja, as pessoas esquecem quem são, a cor dos olhos de suas mães, mas se lembram da fala, do que é um computador e para quê serve um elevador.

O elevador da Lumon, aliás, se destaca como elemento fundamental na narrativa, exercendo, com sua tecnologia misteriosa, a ação de divisor de eus: o Externo (Outtie) transformando-se em Interno (Innie) na descida e reciprocamente na ascensão. A descida pode ser encarada como uma descida ao inferno e purgatório (como o título do primeiro episódio evidencia: Good news about hell) e todos os seus dantescos círculos. O grande obstáculo genial que torna a história robusta é a impossibilidade de comunicação entre os eus Externo e Interno: nenhuma forma de mensagem é permitida, a não ser em ocasiões específicas e extremas, como aniversários ou quando há tentativas de suicídio. Portanto, o grande jugo é controlar o medo e curiosidade entre as duas vidas que o mesmo corpo compartilha e aceitar decisões conflitantes desta “co-mente”. Isto torna-se cada vez mais difícil quando se surge do elevador com ferimentos sem ter a mínima ideia da causa, pois cada eu vive seu eu como se não houvesse interrupções.

Pânico e preocupação se transformando em apatia no elevador

A nova funcionária Helly R. sacode o ambiente de trabalho com suas perguntas afiadas e ceticismo alerta. Mark Scout segue a jornada do herói, passando pela recusa do chamado e encontrando testes, aliados e inimigos no caminho. Os demais companheiros, Irving (John Turturro) e Dylan (Zach Cherry) são naturalmente envolvidos nos desafios que surgem pelo acaso ou pelo chamado do instinto.

O fio da narrativa se desenlaça com a coesa missão de resgatar memórias e consertar consequências que o esquecimento causa ao comportamento humano, em especial pelo afeto e pelo poder de lembrar e ser lembrado.

O ódio tem melhor memória do que o amor.

— Honoré de Balzac

Parte 2: Amantes da burocracia, da crueldade e da poesia

The Stanley Parable é o que me veio à memória quando assisti ao episódio piloto de Severance. O game de 2013 projetado por Davey Wreden e William Pugh apresenta Stanley, um funcionário que trabalha numa pequena sala banal dum escritório banal, tendo a principal função de apertar botões que o computador com tela verde ordena. Certo dia, todo mundo desaparece do escritório e Stanley parte para desvendar esse mistério, sendo guiado por um narrador que, de observador, vira personagem. O jogo sem fim possibilita diferentes finais e nos reencaminha para a sala banal a cada iteração. Porém, em resumo, a grande ideia é o dilema imposto entre verdade e felicidade, entre liberdade e comodismo; se ignorância é bênção, conhecimento é maldição — respectivamente àqueles que não sabem nem da existência da própria ignorância e àqueles que não sabem utilizar o conhecimento para gerar sabedoria.

E a rotina automática que Stanley sofre em seu estranho ofício é paralela ao que Severance retrata do labor sem sentido que muitas vezes executamos: um trabalho sem propósito é desmotivador, apesar de paliativas recompensas profissionais que possam tentar remediar tal estorvo. As ordenanças sem objetivos definidos, as contínuas tarefas mecânicas, a ausência de senso de comunidade entre colegas impossibilitam uma real cultura vibrante no espaço de trabalho. O que muitas empresas se propõem a fazer, na busca por se afastar do vale da vergonha, é implementar estas ações, embora de maneiras imprecisas ou até desastrosas, resultando em experiências patéticas, embaraçosas. Exatamente o que a Lumon emprega em seus escritórios, com os “refinadores de macrodados” submetidos ao nebuloso trabalho de filtrar “números assustadores” por razão aparente nenhuma, tudo isso mediante o peso onipresente do legado do fundador. Aqui os clássicos valores, missão e visão são transformados em dogmas, o livro de compliance é um alfarrábio bíblico que define o comportamento moral desejado dos funcionários (fiéis?) e considera pecaminoso o desvio de conduta.

Temos também, obviamente, vigilância constante dos funcionários: aqui não servindo para vigiar e punir como o panóptico de Bentham que comentei no artigo de The Batman, e sim para vigiar e entender (e remodelar). Isto é paralelo ao eternamente citado 1984, a readequação do indivíduo variante da norma é mais importante do que sua exterminação imediata, a punição se dá como lição num bárbaro didatismo enfeitado de falso altruísmo. Não exatamente temos um Grande Irmão no sentido político, Kier Eagan, fundador da Lumon, é tratado como messias ou o próprio Deus daquele pequeno mundo controlado, um (talvez) Grande Irmão religioso.

Severance não deixa de criticar os burlescos benefícios do profissionalismo meritocrático: bata suas metas e receba uma experiência musical (Music Dance Experience), atinja a cota mensal de produção e receba uma parabenização lúdica do fundador da empresa. As benesses, que até podem ser lógicas mas não racionais, evidenciam o ridículo de bonificações e perks dispensáveis, acompanhado da moderna positividade tóxica das instituições que se mascaram com greenwashing e afins.

O sempre positivo Seth Milchick no Music Dance Experience

Os labirintos que são os corredores da empresa coloca os funcionários na posição de ratinhos a descobrir o queijo ao longo dos ângulos retos. Uma caixa de Skinner a pesquisar cobaias humanas num cenário de aprendizagem por reforço, devido às valiosas necessidades corporativas. Sem fio de Ariadne, os condenados percorrem as infindas curvas do labirinto onde o “minotauro” Seth Milchick (Tramell Tillman) habita.

No entanto, apesar do inferno manso que é a Lumon, não há demonização total dos vilões; a secretária Natalie (Sydney Cole Alexander) com seu pragmatismo robótico também apresenta fragilidade e temor em momentos de pressão; a gestora Harmony Cobel (Patricia Arquette), também possui seus próprios traumas e memórias desagradáveis que moldam seu maternalismo controlador.

Embora, claro, nada justifique atrocidades.

O breakout room (sala de apoio) é um exemplo do design de produção claustrofílico

Em Severance tudo é experimento. Inclusive a equipe de produção deve ter experimentado muito ao longo do processo. A direção feita por Ben Stiller e Aoife McArdle evoca tensão no jogo de simetria/assimetria e nas sensações de claustrofobia; a fotografia de Jessica Lee Gagné enclausura e apequena os atores na dimensão do cenário de distopia; a trilha sonora de Theodore Shapiro grava, por repetição, em nossa memória de curto prazo (e, em seguida na de longo prazo) a música minimalista de 4 notas-base e suas tenebrosas variações.

A combinação de sofisticada maleficência burocrata com o cinismo latente me relembrou O Guia do Mochileiro das Galáxias. Assim, os fiéis guardiães da Lumon são, como os alienígenas vogons da obra de Douglas Adams: amantes da burocracia, da crueldade e da poesia.

Ainda que a poesia vogon seja a 3º pior do universo.

A vantagem de ter péssima memória é divertir-se muitas vezes com as mesmas coisas boas como se fosse a primeira vez.

— Friedrich Nietzsche

Parte 3: Você ainda pensa e é melhor do que nada

Pior do que não se lembrar das coisas é não ser mais capaz de pensar, embora um meme ensine que o primeiro passo para ser feliz é parar de pensar. Justamente pelo fato de serem capazes de lembrar é que muitos decidem deixar de fazê-lo. Assim, o processo de Ruptura para aqueles que optam pela cirurgia é uma forma de escape; o espaço de trabalho é um metaverso físico que impede a inundação do remorso e do arrependimento. Logo, os Externos podem viver suas vidas sem contaminar a jornada de trabalho com suas manchas do passado e preconcepções (e, na verdade, ganhar salário sem precisar trabalhar, se formos pensar bem). No fim, as pretensas horas de alívio no ofício deslocam a atenção para processos que, de mecânicos e repetitivos, até poderiam se tornar terapêuticos. Isto, se fossem utilizados de bons modos e com bons limites definidos.

Só que a busca por alívio domina mente infestada pelo luto, infestada pelos traumas que colidem na mente como em movimento browniano. Como a psicanalista Maria Homem exemplifica, lidar com a perda envolve etapas (já conhecidas e categorizadas na psicologia), como a recusa. Maria evidencia que somos nossas memórias, somos o que realizamos, somos as pessoas que nos relacionamos: mitsein, o termo alemão do filósofo Martin Heidegger que significa “ser entre” ou “ser com”. Pulsa esta conjectura da analítica existencial em cada humano “rompido” na narrativa e, no fim, ontologicamente, mesmo que habitando o mesmo corpo, sem nossas memórias não nos somos.

A afirmação da psicanalista traz um fim claro: a real morte é a repetição.

É a repetição.

A memória é uma imensa fonte de ensaios artísticos, como se elabora em Amnesia, Como Se Fosse a Primeira Vez e Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças. E Severance deixa sua marca, adicionando a memória neste campo como artefato de alerta a perigos tecnológicos, em época de Neuralink e relacionados. Em época em que a pós-verdade suplanta a verdade, em que cada vez mais, buscamos fuga da realidade para amenizar os sofrimentos de frustração e de perda².

E que, portanto, não percamos esta memória de identidade, de cada um, de nossa cultura, nossa ancestralidade. Memórias de nossas habilidades e do que somos capazes de fazer para possibilitar um futuro inesquecível.

Sr. Milchick minotauro no labirinto de Dédalo

A imaginação é a memória que enlouqueceu.

— Mario Quintana

¹ Não sou neurocientista, mas trago conteúdo de estudos e investigações como sempre faço nos artigos que escrevo. Em caso de informações duvidosas, por favor, deixe nos comentários ;) (Aliás, bom conteúdo de um neurocientista da universidade que cursei Engenharia Eletrônica é o Andrei Mayer e seu podcast A Culpa é do Cérebro)

² Sobre frustração e perda você pode ler mais nos artigos que escrevi sobre God of War e The Last of Us.

Teorias

Seção com spoilers e teorias sobre a 2ª temporada de Severance

Muita gente relembra de Lost ao comentar sobre Severance, por conta, principalmente, do universo de teorias possível de ser explorado. Dan Erickson comentou em entrevista que a série tem capacidade de se fechar em 2 ou mais temporadas (até 6, por exemplo).

Nomes

Um dos aspectos legais que penso ao se reencenar a série após tê-la finalizado, é verificar os nomes. Muitos nomes definem características dos personagens:

  • Mark Scout: scout de “olheiro”, “explorador”, com seu caráter investigador e de patrulheiro;
  • Helly R.: helly significando “infernal”, “do inferno”, denominando seu pertencimento inato àquele local;
  • Harmony Cobel: a gestora que tenta manter “harmonia” nos espaços da Lumon;
  • Burt Goodman: como um “homem bom” e gentil que é.

Propósito do trabalho

Sobre a Lumon, imagino ser uma empresa que desde sempre trabalhou com algo relativo à saúde. Inicialmente, no século XIX, sendo uma farmacêutica e, com o avanço industrial e científico, migrou seus ativos para uma corporação de neurociência tecnológica. Os experimentos sociais fazem parte das necessidades corporativas para esse avanço em tecnologia e inovação.

Sobre o setor de Macrodata Refinement, imagino que haja um propósito (todos os setores, na verdade, penso que possuem propósitos, mesmo que muito estranhos). Nesse caso dos filtradores de dados, a rede interna da Lumon pode ser um Transcendence, onde a Mesa Diretora (The Board) é uma mente coletiva dos Eagan. De fato, quando o pai de Helena Eagan, Jame Eagan, a encontra no último episódio, comenta:

— Um dia você se sentará comigo no meu ‘giratório’ [revolving]

E Helena pergunta:

— “Giratório”? [revolving?]

Pessoa de cera mais humana do que a da Anitta

Este termo sendo, possivelmente, uma metáfora para o sistema mental compartilhado da Mesa Diretora dos Eagan. Assim, o “refinamento de macrodados” pode ser um trabalho que envolve refinar as memórias compartilhadas dos Eagan, filtrando pesadelos, sonhos e memórias falsas ou mantendo vivo esta consciência de algum jeito. A bem verdade, espero que tragam sobre memórias falsas na próxima temporada, para que, no artigo que eu fizer, poder associar com Efeito Mandela heh.

Sobre Mark e Casey

Gemma, a (ex?)esposa de Mark é Ms. Casey. E Casey, provavelmente, mora na Lumon, já que, se existisse uma Externa sua, com certeza teria esbarrado em algum momento com o Mark de fora. De toda forma, supondo que, de fato, exista uma Outtie, esta não deve ter recordações de Mark, pois, caso contrário, também provavelmente teria mantido contato com amigos e conhecidos em comum com Mark e ambos teriam se esbarrado.

No fim da temporada, Casey entra na sala de teste (testing room), a qual parece ser um ambiente para efetuar testes e calibrações no chip neural. Isto pois, ambos os funcionários estavam se reaproximando sutilmente dentro da empresa, o que pode indicar uma ineficiência do chip em reprimir totalmente memórias implícitas.

Como conseguiram botar sofás e árvore naquela salinha se não passa nem 2 pessoas? 🤔

Sobre Irving

Irving tinha um pai militar da Marinha. Minha teoria é que o pai de Irving sofreu de desordem de estresse pós-traumático e Irving aceitou o procedimento de Ruptura para promover avanço na ciência de tecnologias assistivas. Ou seja, o chip da Lumon poderia servir muito bem para fins militares, fazendo os combatentes se esquecerem dos horrores da guerra.

Além disso, o Interno de Irving possui delírios de um líquido semelhante a petróleo escorrendo pelas instalações da empresa. Este líquido, descobrimos, é a tinta que seu Externo utiliza para pintar quadros do testing room. Logo, Irving já passou pela sala de testes. E sonhos e pesadelos são, como Duna mostrou, mensagens das profundezas.

Aquele maldito sorriso

Sobre a tecnologia

O chip da Lumon já está sendo utilizado para eliminar seletivamente lembranças escolhidas na vida de Externos, como feito com Gabby (Nora Dale) em sua estadia na cabana para mamães. Imagino que a tecnologia possa vir a eliminar períodos específicos da vida das pessoas, como se tivéssemos editando um vídeo.

Além disso, a binariedade de divisões na memória me parece ser apenas o início do potencial deste sistema. Ou seja, pode ser que o chip consiga criar diferentes slots de memória na mente dos rompidos. Isso possibilitaria múltiplos eus, não necessariamente apenas 2. E, também, não necessariamente provocando personalidades exageradamente distintas como em Split (Fragmentado). Todavia, estas novas “partições no HD” devem ser arriscadas e maior a quantidade destas divisões, maiores as chances de causar graves transtornos.

Queremos ver, adicionalmente, quais são as variadas funções do chip, conforme visto na sala de controle que Dylan invade.

As diferentes funções possíveis do chip

O que parecia choro de bebê eram balidos de cabrita. As cabras podem ser animais que criam para efetuar testes extremos, cruéis demais para serem feitos depressa e em seres humanos, conforme planejado em outra versão do roteiro do episódio piloto.

Por fim, espero que tratem mais sobre sono, sonhos, pesadelos e como afetam o processo de memorização.

Sobre outros personagens

O Externo de Dylan é pai de uma criança e, ao que tudo indica, uma pessoa feliz. Logo, as pessoas aceitam a Ruptura por diferentes razões e não necessariamente seus Externos são tristes e em sofrimento por algum tipo de perda. Isso se confirmando na próxima temporada pode ser legal para evitar o simplismo nas motivações.

Harmony Cobel provavelmente já possuía alguma relação prévia com Mark. Sua maneira de tratamento maternalista e especial com ele não deve ser puramente por questões profissionais (apenas para a segurança e avanço da empresa).

Agora: como é a vida externa de Milchick? Como funciona o processo de Reintegração? Reghabi continuará sendo uma figura de destaque anti-Lumon? E qual suas verdadeiras motivações? Descubra na próxima temporada!

E um P.S.: o humor atrapalhado e ambientação em escritório, em alguns instantes, me lembra The Office, talvez essa lembrança seja um pouco mais forte nos espectadores que possuem memória afetiva com a série de Steve Carell :)

Se o Mark um dia soube dançar, com certeza ele não se lembra

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Gustavo Simas
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Escreve sobre o que dá na telha. Não sabe tricotar, mas sabe a diferença entre mal com “u” e mau com “l”