Construa seu caminho para ser feliz (Verdades quase sempre esquecidas 4)

Rodrigo Aguiar
Rodrigo Aguiar
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4 min readFeb 26, 2017

É consenso atualmente que o cultivo do arroz parece ter se originado na China por volta de 8.000 a 10.000 atrás e daí se difundido para o resto da Ásia e posteriormente para outros países e continentes.

Nesse contexto da velha China, havia um agricultor que queria muito se destacar no cultivo deste cereal, mas nunca conseguia tal intento.

Certa vez, após fazer a transposição das mudas que houvera cultivado com tanto zelo para o solo encharcado do campo que preparou, olhou cansado para aquelas pequenas mudas, que contavam com apenas poucos centímetros de verde acima do nível das águas represadas.

“Se o crescimento fosse um pouco mais rápido eu poderia colher uma safra a mais do que meus vizinhos ainda esse ano” Pensou ele quase em voz alta.

No outro dia, quando os primeiros raios de sol tocavam levemente os tenros brotos, o agricultor, que já estava ativo no campo, olhou mais uma vez para aquelas pequenas promessas e viu com desânimo que nada havia mudado desde o dia anterior.

Nesse momento algo lhe ocorreu. Ele largou as ferramentas que tinha nas mãos, caminhou até o limite do campo e, um a um, puxou alguns milímetros para cima os delicados brotos, de forma que ainda estivessem com suas raízes dentro da lama. Foi uma tarefa trabalhosa e delicada, pois precisava realiza-la com exatidão.

Ao fim desse esforço, que julgava genial, ele olhou novamente para o campo e ficou entusiasmado, por ver que agora a mudança era mais perceptível.

No outro dia, já ao se levantar, nosso protagonista estava decidido: Faria mais uma vez a delicada operação. E assim foi que, ao terminar essa nova empreitada, olhou para o seu campo orgulhoso e pensou animado: “Nesse ritmo, com certeza eu terei uma safra em muito menos tempo e isso me fará muito conhecido nestas terras”. Esse pensamento antecipou todo o contentamento e satisfação que já previa para quando alcançasse seu objetivo.

Quando, no terceiro dia, o agricultor chegou ao campo de cultivo, percebeu com tristeza que os brotos todos estavam murchos, esparramados nas águas represadas. Ventos fortes haviam soprado durante à noite e arrancaram os brotos do lugar porque estes não possuíam suas raízes em profundidade suficiente. Ele teria então, de reiniciar o seu trabalho.

Quantas vezes nós já agimos como esse agricultor chinês, tentando puxar os pequenos brotos para que estivessem maiores, para que o resultado chegasse logo?

Seja na vida pessoal, profissional ou nos negócios, para tudo existe um ciclo natural, um processo que precisa ser respeitado para que os resultados esperados possam acontecer.

Trabalhando com transformação de pessoas e empresas ao longo do tempo, já vi na prática a transição entre as ordens da ignorância e quanto isso tem impacto profundo sobre os resultados perseguidos por pessoas e organizações.

Segundo Philip Armour:

  • A primeira ordem da ignorância é aquele em que a pessoa não sabe algo e sabe que não sabe.
  • A segunda ordem é aquela em que a pessoa não sabe que não sabe alguma coisa.
  • A terceira ordem é aquela onde, estando no segundo nível, a pessoa também não possui um processo para identificar coisas que ela não sabe.
  • Finalmente, no quarto nível, a pessoa soma ao terceiro nível o desconhecimento dos níveis de ignorância.

Pude ver muitas vezes em minha vida (inclusive sendo eu o protagonista) que passa-se muito tempo entre a quarta ordem da ignorância (meta ignorância), a terceira ordem (falta de processo) e segunda ordem (falta de consciência), e, quando a pessoa ou organização, depois de muita luta e muitas quedas atinge finalmente a primeira ordem, surge então o desejo de rapidamente absorver todo o conhecimento a respeito de alguma coisa e colocá-lo em prática imediatamente.

Nesse ponto da história, há um sofrimento/ansiedade criados pela sensação de estar atrasado, já que outros, com certeza, saíram na frente (como no caso dos outros produtores de arroz).

No contexto de uma sociedade em que tempo é dinheiro, onde estamos numa eterna maratona, correndo contra tudo e contra todos, acabamos agindo como o agricultor apressado e no fim das contas, continuamos entre a segunda e terceira ordens de ignorâncias, porque a pressa nos faz achar que sabemos e esse achismo nos faz praticar de forma ainda mais desastrada.

Quão perigoso pode ser achar que sabemos! Quantos desastres e fracassos advém dessa condição?

No livro Fora de série (Outliers), Malcolm Gladwell fala a respeito das 10.000 horas necessárias para que realmente se domine alguma área do conhecimento.

Parece muito, e realmente é, mas quando buscamos nos aplicar com todo o empenho desde já e em todas as oportunidades que aparecem, não só ao final das 10.000 horas, mas bem antes disso, naturalmente nos destacamos da multidão, pois a verdade é que a maioria das pessoas e organizações estão mais preocupados em fazer rápido e não em fazer bem feito.

Essa situação é mais uma fonte geradora de frustrações que se soma àquelas que abordei no primeiro, segundo e terceiro textos dessa série.

Quando olhamos para tudo isso, temos um panorama bastante complexo do porquê a vida de tantas pessoas e até organizações se apresenta com alto grau de frustração, de ansiedade e até de tristeza.

Esses textos tem o objetivo de ajudar pessoas em organizações a refletir sobre tudo isso e promover o engajamento necessário ao processo de transformação dessa situação.

Esse processo, assim como descobriu o plantador de arroz, leva tempo, mas você pode iniciar agora e se empenhar de tal forma que comece a ter resultados desde já, basta fazer o seu melhor hoje.

Vamos conhecer mais sobre tudo isso oportunamente em outros textos.

Até lá, como dizem os ensinamentos Zen, não esqueça de respirar.

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Abraços.

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