Mostra SP: Entrevista com Sol Berruezo Pichon-Rivière (Mamãe, Mamãe, Mamãe)

Vinicius Machado
SALA SETE
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4 min readNov 4, 2020

Sol Berruezo Pichon-Rivière nasceu na Argentina em 1996. Aos 24 anos, a diretora, que é formada em cinema pela Universidade del Cine, em Buenos Aires, já figura em grandes festivais, como o de Berlim, San Sebastian e a 44ª Mostra Internacional de São Paulo. Não pra menos, afinal, seu primeiro longa, Mamãe, Mamãe, Mamãe, é uma das obras mais sensíveis de 2020, sendo, inclusive, um dos finalistas da Competição Novos Diretores, que será divulgado ainda nesta quarta-feira, 04 de novembro.

Mamãe, Mamãe, Mamãe pode ser visto até as 23h59 do dia 04 de novembro aqui.

O SALA SETE conversou com a diretora sobre o filme, confira a entrevista completa:

Você é uma diretora muito jovem, e cada vez mais jovens aparecem na direção, principalmente fora de Hollywood. Como você vê essa nova tendência e como ela pode ser benéfica para o cinema?

Acho fundamental que tanto o cinema, como todas as artes e disciplinas em geral, sejam recheadas de olhares jovens, que tragam novas formas de contar, novas experiências. Geralmente, cada país tem sua forma consagrada de fazer cinema, tanto no cinema independente quanto no mais comercial. E eu acho que às vezes fica difícil sair disso, e é aí que o jovem deveria ocupar o cargo para trazer novos looks, sem preconceitos e sem maneirismo.

Qual é a sensação de ser uma das mais jovens realizadoras a participar de festivais, como o de Berlim?

Para mim foi e é um privilégio ter tido a visibilidade que o filme teve. Não é fácil entrar em circuitos tão grandes e importantes como a Berlinale, San Sebastian, e estou muito grato por ter me dado uma vaga. Isso me ajuda a acreditar ainda mais no que faço.

Em Mamãe, Mamãe, Mamãe, você trabalha com uma produção totalmente composta por mulheres. Como foi o processo e como isso influenciou no resultado final do filme?

A história deste filme é estrelada apenas por mulheres e também por meninas. Por isso, achei adequado que, para se conseguir um espaço de maior intimidade e contenção, a equipe seja formada apenas por mulheres. Acho que a intimidade se reflete nas performances, no cuidado que todas tivemos em proporcionar um espaço fraterno, e no cuidado para que as meninas pudessem desenvolver seus papéis sem vergonha.

Quão pessoal é a história de Mamãe, Mamãe, Mamãe? Quanto você se vê nos pequenos personagens e eventos?

Mamãe, mamãe, mamãe é uma ficção, a única coisa que é autobiográfica talvez seja aquele sentimento de fraternidade, amor e companheirismo que vivi com minhas três irmãs mais novas, e que foi minha principal inspiração para contar essa história

Como foi guiar as meninas e condicioná-las a um filme que tem uma mistura complexa de crescimento e luto?

Gerenciar as meninas foi o que mais me assustou no início. Mas acabou sendo o que mais fluiu, com uma naturalidade quase mágica. Foi algo que aconteceu sem palavras, eles entenderam o drama perfeitamente, e não havia dúvidas sobre questões mais técnicas e sem importância. Dirigir filmes para crianças é a coisa mais linda e mágica que existe.

Quais foram os principais desafios na produção do filme?

Tivemos a sorte de ganhar o prêmio do Instituto Argentino de Cinema (INCAA) que nos cedeu o orçamento total que tínhamos para fazer o filme. Era muito difícil financiar um projeto de um jovem diretor. Mas mesmo assim tivemos essa ajuda, que foi essencial. Embora o prêmio tenha sido limitado, conseguimos fazer o filme que eu tinha em mente. E as coisas que temíamos era como filmar com garotas e animais, mas acabaram sendo as coisas que mais nutriram o filme e aconteceram sem esforço, de maneira natural.

Quais são suas principais inspirações cinematográficas? E quais são suas principais referências para criar Mamãe, Mamãe, Mamãe?

Uma das principais inspirações foi Inocência, de Lucile Hadzihalilovic. O trabalho que a diretora faz entre a infância, a escuridão e o fantástico realmente me parecem um achado e uma arte pura. Outras referências: Cinco Graças, de Deniz Gamze Ergüven, Verão 1993, de Carla Simón, O Pântano, de Lucrecia Martel e As Virgens Suicidas, de Sofia Coppola, todas diretoras.

Confira a crítica de Mamãe, Mamãe, Mamãe.

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Vinicius Machado
SALA SETE

Jornalista, cinéfilo, fanático por Star Wars e editor do blog Sala Sete. Escreve sobre filmes e não dispensa uma boa conversa sobre o assunto.