7 Crônicas #02 — Dia da Caça
A noite é uma criança e se você não tomar cuidado vai se tornar apenas um brinquedo quebrado em suas mãos. Na noite as pessoas buscam abraços, sorrisos, diversão, drinques e sexo. Buscam fugir da realidade e se libertar da prisão do dia-a-dia. Quase sempre elas conseguem e as vezes elas conseguem algo mais, e aposto que se arrependem disso.
Meu nome é Henrique Hiato, exatamente, Hiato! As pessoas inundam a noite tão excitadas e cheias de vontade que se esquecem que abaixo de seus narizes a cidade respira, vigia e se move.
Ellen é uma mulher que sabe o que quer. Quando sai a noite ela sabe exatamente o que busca, uma presa. Alguém para poder brincar, dançar, se embriagar, seduzir e descartar. Arthur foi em direção ao olhar sedutor de Ellen se achando o caçador, mas hoje é o dia da caça. Ele passa sua mão pelas costas nuas de Ellen, trocam sorrisos, olhares e caricias e depois da terceira bebida já se tratavam como conhecidos. Assim como a noite deseja, assim como ela deseja…
Eu odeio essas luzes de boate, se não fosse meu uísque não aguentaria ficar por mais tempo. O segurança me olhou de um jeito suspeito. Isso que carrego é uma arma sim, ainda bem que tá camuflada. Também odeio quando colocam pedras de gelo na minha bebida, enfraquece o sabor. Que ótimo, os perdi de vista.
A noite continua ativa assim como os dois, seus passos cambaleantes e sorrisos estridentes se envolvem com a escuridão de um beco escuro qualquer, uma valsa sem ritmo em meio as sombras e luzes distantes dos postes da rua. Ellen sabe o que quer, o sorriso de Arthur pode ser mais atraente no escuro. Mulheres independentes não procuram se prender a sentimentos e nem a pessoas, ela não poderia imaginar se sentir tão atraída, então, não poderia deixa-lo escapar.
A noite fora maravilhosa para ambos, mesmo ainda não tendo terminado. Arthur fecha os olhos enquanto sorria para Ellen, encantado, ela por sua vez deita sob seu peito e os dois olham as estrelas perto do lago da cidade. A música da boate e toda a luz e agitação se tornam paisagem de fundo. De todas as noites, todas as pessoas e todas as sensações, ele fora a melhor que já experimentou.
Mas algo no fundo de seus olhos o tornara derepente completamente vazio e estranho, mas quando ela percebeu isso já era tarde demais. Seu sorriso já não era mais o mesmo. Ellen quis fugir, se levantar e correr, mas o sorriso dele não a permitiu, ela estava enfeitiçada e não conseguia se mover.
A pele dele aos poucos fora tornando-se mais alva e suas veias azuis sobressalentes se tornaram assustadoramente mais visíveis, o seu olhar era agora algo assombroso e com suas unhas enormes ele segurou o coração de Ellen com um único golpe. Certeiro e rápido.
Ela ainda o assistiu observando-a enquanto sua vida se esvaia diante do sorriso encantador dele. Arthur pulou na água, sua nova morada, desde que se tornara isso. Com seu prêmio nas mãos, algo que ofertaria ao demônio que o tocou.
A noite guarda muitas coisas na escuridão, inclusive sobre a realidade em que você acredita viver. Quando a encontrei, sobre a ponte, Ellen era apenas mais um dos brinquedos quebrado que a noite joga fora. Quando o encontrar o próximo coração arrancado será o dele, e o sorriso o meu.
Gostaram? Deem palminhas!
Esse é o segundo conto de uma série de contos sobre 7 grupos de 7 personagens cada e a descoberta de seus dons sobrenaturais, em meio a uma luta invisível travada entre a Ordem e o Caos.
Para continuar acompanhando os contos siga Sete Crônicas.
A batalha entre a Ordem e o Caos está apenas começando.
Contos anteriores:
I — Sonhar é sua sina.