Intensivão Shadowrun [1999–2001] Sementes do Sexto Mundo

Stephan Martins
Shadowrun Brasil
Published in
8 min readMay 19, 2017

Intensivão Shadowrun [1999–2001] Sementes do Sexto Mundo

Esta é uma tradução de uma série de artigos sobre o cenário de Shadowrun de autoria do usuário do reddit Black Knyght. Você pode acessar os artigos originais clicando aqui.
Prepare-se para aulas semanais!

Hoi chapas, e sejam bem-vindos à nossa série Intensivão. Hoje vamos cobrir os anos 1999–2001. Duas partes são citações de wikis relevantes sobre esses assuntos. Elas detalham mais o que é importante, e eu estou sem minha cópia de Corporate Shadowfiles para poder roubar os nomes dos casos… Mal aí, chapas.

1999: a Decisão Seretech

Em meados de 1998, o mundo estava começando a perceber que a riqueza, segurança e o desenvolvimento contínuo do último meio século estavam insustentáveis. Isso, claro, fez com que muita gente ficasse muito irritada e aterrorizada.

Diversos grupos especiais de interesse estavam pressionando o governo para que recebessem concessões especiais para garantir seu desenvolvimento e rentabilidade. Enquanto essa miríade de muitas organizações continuava brigando por um pedaço de uma pizza cada vez menor, a desobediência civil se alastrou, especialmente dentro dos novos sindicatos. O mais notável desses sindicatos era o Sindicato de Motoristas de Nova York (SMNY).

Em meados de 1998, o SMNY orquestrou uma greve geral. A ideia era parar todo o transporte de alimentos para fazer o governo ceder às exigências do SMNY. Após alguns meses de escassez de alimentos em Nova York, o SMNY finalmente percebeu que o governo simplesmente não tinha o dinheiro para acabar com a greve. Portanto, no início de 1999, os líderes dos dois grupos (o SMNY e o governo) se reuniram e fizeram um acordo.

Acordo qual foi prontamente ignorado pelos quase 15 milhões de caminhoneiros sindicalizados. Suas barrigas ainda estavam tão cheias de chamas e enxofre, e suas cabeças tão cheias de propaganda sindicalista que eles mantiveram a greve. A Cidade de Nova York estava morrendo de fome. Tumultos e pilhagem se tornaram os assuntos mais populares nos noticiários. As pessoas estavam famintas, e estavam putas da cara!

Então, em 21 de fevereiro de 1999, um caminhão refrigerado da Corporação Seretech foi atacado por uma multidão. A Seretech Transportes, subsidiária da Corporação Seretech, era conhecida por suprir (e fretar) a maior parte das frutas e vegetais frescos da cidade. Ao avistar um caminhão (presumivelmente cheio de comida), um tumulto logo estourou.

Infelizmente para os revoltosos (e a gente, por consequência), esse não era um caminhão da Seretech Transportes. Era um caminhão da Seretech Pesquisas Médicas contendo perigosos lixos biomédicos. A Seretech, é claro, possuía guardas armados de prontidão para proteger esse carregamento tão importante, mas não estava preparada para a selvageria que se seguiria.

A ordem de proteger o carregamento a qualquer custo foi dada. Se o lixo biomédico vazasse de alguma forma, seria catastrófico tanto para os preços das ações da Corporação quanto para a saúde e bem-estar da cidade. Os guardas da Seretech abriram fogo, e com a ajuda de vários veículos de escolta, puderam chegar à uma instalação da Seretech Pesquisas em Linden, em Nova Jersey.

Lá, os revoltosos montaram um cerco na instalação de pesquisa. Convencidos que a Seretech estava escondendo comida deles, os revoltosos continuavam a chegar … e chegar. O cerco prosseguiu noite adentro, e até o momento de a polícia chegar para dispersar o tumulto, as baixas já tinham acumulado consideravelmente. 20 funcionários da Seretech perderam suas vidas protegendo o carregamento ou durante o cerco. 200 nova-iorquinos perderam suas vidas tentando lutar por uma comida que simplesmente não estava lá.

Alguém tinha que levar a culpa por isso, e o Departamento de Justiça dos EUA decidiu que seria a Seretech. A Seretech foi acusada de negligência criminosa. O Presidente dos Estados Unidos em exercício, o Presidente Lynch, viu isso como uma oportunidade de cortar o poder das companhias militares privatizadas, e sua administração ajudou a alavancar o caso agressivamente.

A administração, disposta a condenar a Seretech, levou o caso para a Suprema Corte antes do final de 1999. Finalmente, em uma decisão de 193 páginas, metodicamente explorando a natureza legal das corporações desde o caso Dartmouth College contra Woodward, e as responsabilidades cada vez maiores das suas responsabilidades comerciais, a Suprema Corte, sob comando do Chefe de Justiça Terence Ordell, julgou em favor da Seretech.

E foi ainda mais fundo do que isso. Os direitos constitucionais das corporações, enquanto entidades morais/legais, foram reconhecidos pelo Condado de Santa Clara contra a Ferrovia do Pacífico Sul (1886) que reconhecia que forças de segurança corporativas deveriam ser consideradas como “milícias bem organizadas”, conforme estabelecido pela Segunda Emenda da Constituição dos Estados Unidos. Junto com a manutenção do direito de manter e usar uma força armada de segurança para proteger seu próprio pessoal e propriedade, a opinião também enaltecia a corporação pelo seu papel público de proteger cidadãos inocentes de contaminação e assegurar a eliminação segura do lixo. Essa linha de raciocínio limitou severamente as possibilidades da administração se opor as forças de segurança corporativas.

2000: A Primeira Decisão Shiawase

Em 10 de julho de 2000, a Suprema Corte registrou uma decisão no caso Comissão Reguladora Nuclear contra Corporação Shiawase, permitindo que a Corporação Shiawase construísse e operasse uma pequena usina nuclear. A Shiawase precisava de uma forma de abastecer uma fábrica de produção de alumínio recém-inaugurada (em 1997), já que as demandas de energia da fábrica estavam afetando a população local. A Comissão Reguladora Nuclear (CRN) lutou muito para prevenir que esse reator nuclear fosse construído, mas após dois longos anos de batalhas legais, ela acabou perdendo.

Em 8 de novembro de 2000, a Usina Nuclear Shiawase foi inaugurada. Boa parte da usina já havia sido construída em Singapura e só estava esperando pela decisão sair em favor da Shiawase. E ela inaugurou com muito alarde e atenção midiática. Os noticiários acompanharam o caso por meses e o divulgavam com muita vontade.

Isso trouxe a atenção da TerraPrimeiro! (TP!) para a usina Shiawase. Em meados de 2000 (fiz de tudo, mas não deu para achar uma data…) a TP! tentou romper o reator e liberar uma torrente de contaminação na área local. O grupo estava bem equipado com armas e explosivos militares, e parecia altamente treinado e motivado. No entanto, eles nunca alcançaram o reator. Em vez disso, foram fuzilados (cada membro presente) na zona de contenção do lado de fora do reator pela Shiawase Segurança.

A TerraPrimeiro! mais tarde alegou ter provas de que a Shiawase e outras corporações conspiraram juntas para fraudar um ataque. As provas, entretanto, foram perdidas quando o escritório da organização na Califórnia foi explodida. Muitos acreditam que esta foi a primeira incursão nas sombras.

2001: A Segunda Decisão Shiawase

Claro, a CRN não ficou nada feliz com isso. Seus piores pesadelos tomaram forma. Então ela tentou a mesma coisa que o Departamento de Justiça dos Estados Unidos tentou fazer com a Seretech … processar a Shiawase por negligência criminosa.

A CRN alegou que a Shiawase foi negligente com sua proteção da própria usina nuclear. A Shiawase respondeu com alegações de que suas forças de segurança poderiam cuidar de uma incursão três vezes maior do que a que impediram. A Shiawase também argumentava que as regulamentações pesadas da CRN e sua insistência em aderir à lei de forma literal ajudava a enfraquecer precauções de segurança tanto para o reator quanto para a fábrica de alumínio. Havia literalmente dúzias de citações no caso Shiawase que montavam um caso sólido de que a interferência da CRN não só fez com que o ataque fosse inevitável, mas também quase bem-sucedido. Somente através da dedicação e sacrifício dos membros da Shiawase que a TerraPrimeiro foi derrotada.

Seguindo as recentes decisões Estados Unidos contra Seretech (1999) e Comissão Reguladora Nuclear contra Shiawase (2000), a Shiawase lembrou que existiam obrigações de segurança ao explorar uma usina nuclear. Se o governo continuasse a criar leis e regulamentações que preveniam o nível adequado de segurança de uma usina nuclear, ele não poderia permitir sua exploração. E ele estava fazendo exatamente isso ao impedir uma pessoa privada de construir um reator nuclear. Convocando tanto Lochner contra Nova York (1905) e West Coast Hotel Co. contra Parrish (1937), os advogados da corporação estavam lembrando que a Suprema Corte permitia que o governo restringisse a liberdade de contrato garantido pelas Quinta e Décima Quarta Emendas apenas por razões específicas, para proteger a segurança, saúde, moral e bem-estar do povo. Quando uma regulamentação ou uma lei resultava na ameaça da segurança, saúde, moral ou o bem-estar do povo, o governo não deveria mais reter tal permissão. A Shiawase deu uma escolha à corte e ao governo: desativar todas as usinas nucleares nos EUA, ou conceder aos seus donos plena liberdade para preencher os requisitos de segurança. Seu argumento usava pela primeira vez o conceito de extraterritorialidade para pedir uma aplicação diferenciada da lei dentro de instalações corporativas.

Após diversas semanas de deliberação, a Suprema Corte deu seu veredito em favor da Shiawase Prevendo as consequências da sua decisão, os juízes tentaram limitar seu alcance. Eles detalharam as atividades pelas quais a jurisprudência permitia afirmar que sem dúvida afetar a segurança, saúde, moral e bem-estar. Além das usinas nucleares, eles estenderam a lógica para químicos, processamento de lixo, armamentos, e serviços relacionados à segurança nacional, suprimento de água e alimentos, e hospitais. Nessas atividades, as corporações e seus provedores e subcontratantes tinham, a partir de então, uma completa liberdade de contrato. O governo não podia mais regular de contratos de consumidores. Salários, horário de trabalho, procedimentos e medidas de segurança, e uso de equipamento ou processo agora estavam livres de quaisquer formas de regulamentação desde que não afetassem o produto ou serviço vendido. Os juízes também restringiram essa liberdade de contrato para o local de trabalho, assim prevenindo que os empregadores infrinjam os direitos dos empregados do lado de fora: a propriedade corporativa era soberana e não sujeita à jurisdição da nação-estado ao redor. Eles estavam estabelecendo o princípio de extraterritorialidade que os advogados da Shiawase expuseram.

Efetivamente, as corporações agora podiam ser “países”.

Próxima aula, chapa!

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