Esta é uma tradução de uma série de artigos sobre o cenário de Shadowrun de autoria do usuário do reddit Black Knyght. Você pode acessar os artigos originais clicando aqui.
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No último [Intensivão] …

Vamos sair um pouquinho do nosso formato normal para discutir o envolvimento dos Estados Unidos na Crise de ‘29, e sua resposta. É um tópico bem grande, então no próximo post, vamos discutir o que o resto do mundo fez em resposta à Crise.

No início de 2029, três grandes companhias se juntaram ao Exército dos EUA para produzir ciberterminais de ponta. Essas três companhias (Fuchi Eletrônica Industrial, RCA-Unisys e Sony Cybersystems), entretanto, aplicaram a TESISA (Tecnologia de Sistema de Indução Sensorial Artificial) nos seus terminais e fizeram grandes avanços em temperar os efeitos psicológicos nos seus usuários.

Elas avançaram tanto a partir do projeto original que puderam levar essas novas versões para o mercado. Não em grande escala, claro, mas cada governo e megacorp queria botar as mãozinhas em um terminal para conseguir uma vantagem no jogo da inteligência.

E então, em 8 de fevereiro, aconteceu.

Um vírus de computador desconhecido foi encontrado dentro dos sistemas de satélite da NASA. Numa inspeção inicial, ficou imediatamente aparente que era um vírus, de um tipo nunca visto antes. Esse programa era agressivo, imprevisível, adaptável e altamente destrutivo. O vírus rapidamente desabilitou os sistemas das estações espaciais da Harris-3M Halo, Angel e Nerva, enquanto mais da metade das outras estações sofreram falhas fatais de sistemas. Na maioria desses casos, todos a bordo morreram. E então o vírus atacou a Terra.

Dentro segundos, o vírus habilmente atravessou os firewalls da NASA e infectou o sistema. Esse vírus parecia disposto a infiltrar um sistema, se propagar, deletar todos os arquivos que podia, travar o sistema e então fisicamente destruí-lo ao causar uma falha catastrófica de hardware. Era destrutivo, e continuava a se espalhar.

Dentro de minutos, esse vírus desconhecido se infiltrou, travou e destruiu enormes porções da internet.

O JackLigeiro descreveu essa experiência naquela manhã. Como eu acho importante aprender com as palavras dos véio, aqui vai.

O impacto imediato no mundo real foi imediato e devastador. Me lembro de acordar certa manhã sem luz alguma. Me vesti e saí, mas meu carro não ligava. Na caminhada até o café, os semáforos estavam desligados e tinha um engarrafamento — os carros das pessoas pararam, e elas os abandonaram na rua. No café, talvez as luzes estivessem ligadas, mas a registradora estava fazendo muito barulho e o caixa não conseguia receber pedidos. A tevê do café só mostrava estática, e depois a tela começou a piscar e algo dentro dela começou a sobreaquecer. De estômago roncando, saí dali, ouvi um avião acima de mim, olhei enquanto ele caía ao longe — e então explodia ao atingir o horizonte.

Foi o dia um da Crise.

Os Estados Unidos foram os primeiros a responder a essa ameaça estrangeira, e o fizeram quase imediatamente. A CIA, a ASN e a Receita investiram seus recursos no ano passado para treinar um quadro de “cibercomandos” para aproveitar ao máximo a nova tecnologia de ciberterminais. Ainda estavam na parte inicial dos testes e avaliações quando a autorização chegou do gabinete do Presidente. Mas ei, eram todos veteranos de várias instituições e programas militares.

Com menos de sete meses de treinamento nos ciberterminais, a equipe de quarenta e sete entrou nos seus tanques de privação sensorial, se plugou, e bravamente enfrentou o vírus pela incrível duração de trinta e dois segundos. Em pouco mais de meio minuto, quarenta e três membros tiveram parada cardiorrespiratória, dois ficaram em coma (permanente) e os últimos dois só foram capazes de sobreviver após fisicamente arrancar o plugue de suas cabeças. Eles desenvolveram mais tarde diversos problemas psicológicos incluindo uma vontade de nunca mais voltar para os tanques, e foram considerados incapazes de continuar com o projeto.

No entanto, a luta contra o vírus não foi um desperdício completo. A partir de dados coletados da luta, e dos perfis existentes dos sobreviventes, os analistas puderam descobrir que um usuário de ciberterminal era rápido o suficiente para enfrentar o vírus assassino extremamente adaptável. Também descobriram que os membros da equipe original eram pensadores lineares. Y sempre tinha que seguir X, e Z estava atrás de Y. Eles precisavam de pensadores não-lineares com um talento para o improviso. Com os tipos certos de programas, e os tipos certos de usuários, o vírus podia ser derrotado.

Então o presidente autorizou o alistamento compulsório de hackers, programadores renegados, cientistas da computação … e na real qualquer um com o conhecimento técnico e profissional para ter uma chance. Eventualmente, trinta e dois membros do alistamento se graduaram do campo de treinamento brutal com a sanidade intacta.

Enquanto os membros da equipe treinavam, a equipe técnica estava criando novos programas baseados no relatório do primeiro incidente. Também trabalharam sem parar para descobrir de onde vinham os problemas psicológicos. E até a metade do ano, eles tiveram sua resposta. A segunda geração de ciberterminais vinha com TSISA, tecnologia de chip ótico SOTA, não precisava mais de um tanque de privação sensorial, e agora era do tamanho de uma mesa.

Em agosto, esses 32 corajosos homens e mulheres, liderados pelo Major da Força Aérea David Gavilan, se plugaram para enfrentar o vírus mais uma vez. Dessa vez o ataque durou dezoito minutos, mas quatro membros foram mortos graças à bioretroalimentação letal do vírus. Uma das primeiras vítimas foi Alice Haeffner, esposa do futuro Presidente dos EUCA Kyle Haeffner.

A Echo Mirage venceu sua primeira batalha contra o vírus. Mas a guerra estava longe de acabar.

Ao longo dos dois anos seguintes, a Echo Mirage continuou a refinar sua tecnologia e métodos de treinamento. Ela enfrentou o vírus diversas vezes, e perdeu outros dezenove membros da equipe nos primeiros seis meses. Após toda essa dificuldade inicial, a taxa de baixas caiu a zero.

Dois anos depois, a Echo Mirage praticamente expurgou a Matriz da presença do Vírus de trava da Crise, e foi separada por recomendação (e medos paranoicos) das megacorps e dos governos. A Echo Mirage salvou o mundo. Mas as megacorps e governos tinham um motivo justo para temer esses cibercomandos de elite. Eles provaram repetidas vezes através dos seus ataques contra o Vírus da Crise que nenhum firewall ou sistemas de segurança podiam manter a Echo Mirage fora dos seus sistemas.

Entretanto, vários desses sobreviventes do projeto se espalharam pelo mundo para tentar suas próprias fortunas. E alguns deles sumiram do mapa. Restaram sete sobreviventes da Echo Mirage. Quatro foram para o setor público, dois foram para as sombras, e um nunca mais se ouviu falar. O resumão é esse.

· Ken Roper e Michael Eld (Roper era um técnico de hardware e Eld de software) saíram e formaram sua própria companhia chamada Matrix Systems. A Matrix Systems foi pioneira na miniaturização dos ciberterminais para o que chamamos hoje em dia de ciberdecks. Ela chegou até a produzir o primeiro deck economicamente viável chamado Portal. Logo em seguida, os dois morreram sob circunstâncias misteriosas. Alguns apontam Richard Villiers como o culpado, visto que ele chegou com tudo para comprar a Matrix Systems. E depois se fundiu à Fuchi Eletrônica Industrial em 2034. A Fuchi depois lançou seus decks inovadores baseados na tecnologia do Portal.

· Keith “Engravatado” Hannigan (um técnico de hardware da EM) abandonou o programa e foi trabalhar para a Fuchi. Ele não se importava muito com a parte de decking da Matriz, mas amava trabalhar na tecnologia que tornava isso possível. Ele costumava dizer “Eu faço as regras. Viver de acordo com elas é com os outros”. Durante sua ocupação na Fuchi, ele criou o Prometheus 4000 (pra quem é velho o suficiente pra lembrar dele). Ele foi extraído da Fuchi e começou a trabalhar para a MTC.

· O Major David Gavilan (líder da equipe) saiu da EM para entrar para a Acquisitions Technologies, da Aztechnology. A AT era uma das corporações originais de coleta de inteligência à lá o DPIM (Departamento de Previsão e Informação de Mercado) da Shiawase em Aegis Cognito. Ele desapareceu da sua casa e escritório em dezembro de 2032, e nunca mais se ouviu falar dele.

· “Parça” (sem nome verdadeiro listado) foi pega da Universidade de Washington para ser uma tecnauta para a EM. Ela fez um ótimo trabalho e diligente. Mas quando chegou o momento de se separar, ela seguiu seu próprio caminho. E prontamente foi para as sombras. Infelizmente, pouco se sabe sobre ela. Parece que ela foi morta por um GELO Negro em 2052.

· Erica Rutledge, vulgo Estática, era a Chefe de Hardware da EM. Assim que o projeto foi cancelado, ela seguiu seu caminho, e virou fugitiva. Acredita-se que esse estilo de vida errático era graças, em parte, a uma crença paranoica de que as megacorps estavam atrás dela. Mas na real, todos devemos muito à Estática. Ela era uma das incursoras das sombras originais.

O mistério que permanece é, de onde veio o Vírus da Crise? Quem fez ele? E mais importante, por que fizeram ele?

Muita gente tentou responder essas perguntas ao longo das décadas. O mais perto que alguém conseguiu chegar é uma de três possibilidades: a subsidiária da Aztechnology chamada Acquisition Technologies, uma corporação de pesquisa chamada Gossamer Threads (cujos acionistas incluíam a Fuchi e o grande dragão Dunkelzahn), e a Rede de Satélites da NASA herdada pela Ares.

O mundo talvez nunca saiba a verdade por trás desse desastre.

Próximo Intensivão!

Fontes!

· Virtual Realities p. 119–122

· Shadowrun 3rd Ed. Core Rulebook p. 28–19

· Denver — City of Shadows p. 73–75

· Target: UCAS p. 51–52

· System Failure p. 44–48

· Almanaque do Sexto Mundo p. 46–47

· Corporate Download p. 53–54

· Clockwork Asylum

· Echoes of the Crash

· 2XS

· Pyschotrope

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