A HISTÓRIA DO ESQUADRÃO SUICIDA!

Claudio Basilio
sobrequadrinhos
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17 min readNov 9, 2021

Está certo, está certo, está certo. Eles sempre foram renegados, porém devido as voltas e capotagens que a Terra Plana vive dando um certo grupelho da DC Comics meio que está na crista da onda. E por isso — e só por causa disso, minha gente! — iremos gastar um tempinho aqui falando sobre a não- muito-gloriosa história do Esquadrão Suicida! Fiquem conosco nesta longa aventura repleta de figuras hediondas, bandidos descartáveis, heróis improváveis, aventureiros em busca de redenção, pilantragem política e muita, muita tendência ao… suicídio!

Guerra e Monstros

Tudo começou em The Brave and the Bold, um dos mais clássicos gibis da DC Comics. Em um determinado momento da segunda metade dos anos cinquenta esta revista passou a trazer novos personagens e equipes que, se caíssem no gosto do público poderiam ganhar título próprio — como foi o caso da Liga da Justiça e da Turma Titã — e justamente a partir deste contexto o Esquadrão Suicida surgiu.

Capa de The Brave and the Bold #25, que trouxe a primeira aparição do Esquadrão Suicida. Arte de Ross Andru.

Criado por Robert Kanigher, Ross Andru e Mike Esposito (trio criativo que se notabilizou pela produção de aventuras da Mulher-Maravilha), o Esquadrão Suicida estreou no final de 1959 em The Brave and the Bold #25 e era uma unidade das Forças Armadas americanas constituída por quatro integrantes: Rick Flag, capitão especializado na pilotagem de aviões e em estratégia militar; Karin Grace, o suporte médico do time; o astrofísico Hugh Evans e, por fim, o perito em tecnologias nucleares Jess Bright.

Oficialmente chamada de Força Tarefa X e “carinhosamente” apelidada pelo militares de Esquadrão Suicida, a equipe era convocada para a ação quando surgiam situações com as quais forças armadas convencionais não conseguiam lidar, o que no caso do grupo liderado pelo Capitão Flag quase sempre envolvia a contenção e/ou eliminação de monstros gigantes que ameaçassem a Humanidade. E, já que falamos de monstros é fácil perceber que as aventuras do Esquadrão produzidas por Kanigher, Andru e Esposito eram um mistura esperta de dois gêneros que faziam sucesso junto ao público naquela época: aventuras militares/de guerra (como exemplo podemos citar o Sargento Rock, da própria DC Comics) e os gibis de aberrações gigantescas (que hoje são mais conhecidas entre os fãs como kaijus), que garantiram por um bom tempo o sustento da Marvel na década de cinquenta. Porém…

Capa de The Brave and the Bold #37, onde só para variar a primeira versão do Esquadrão Suicida enfrenta um monstro gigante. Arte de Ross Andru.

O Esquadrão Suicida apareceu nas edições #25, #26 e #27 de The Brave and the Bold e só voltou as dar as caras nos números #37, #38 e #39 desta série, e algo ficou muito claro: o Capitão Flag e seus companheiros não agradaram os fãs, e a Força Tarefa X foi largada em algum canto perdido e obscuro do Universo DC. Rick Flag reapareceu em meados dos anos oitenta como membro dos Heróis Esquecidos, equipe que reunia personagens de segundo escalão e que se aliou ao Superman nos gibis Action Comics #552 e #553 e DC Comics Presents #77 e #78, mas aparentemente o seu destino era de fato ser “esquecido”. Todavia, mudanças cataclísmicas na DC Comics mudariam essa circunstância.

Lendas

Em 1985 o megacrossover em doze capítulos Crise nas Infinitas Terras virou de ponta-cabeça a continuidade da DC Comics e agradou a gregos e troianos. Imediatamente após o seu término se instaurou entre os fãs uma enorme expectativa sobre qual seria a premissa da saga que sucederia Crise e as engrenagens editoriais começaram a se mover nesse sentido, com a DC Comics “comprando o passe” de vários profissionais.

Depois de um período trabalhando na First Comics o editor Mike Gold foi recontratado pela DC Comics com uma missão muito clara: trazer para casa do Superman os talentos artísticos com quem ele trabalhou no seu emprego anterior, e o seu primeiro “alvo” foi o escritor John Ostrander.

No inicio da década de oitenta Ostrander cortava um dobrado como ator em Chicago, até que em 1983 ele recebeu da First Comics a oportunidade de escrever roteiros para quadrinhos. Ao lado do desenhista Timothy Truman ele criou Grimjack, uma série protagonizada um detetive particular durão que recebeu ótimas críticas, e com jeitinho Mike Gold fez a “ponte” entre Ostrander e Robert Greenberger, então um dos editores associados a DC Comics.

Fotos dos profissionais de quadrinhos envolvidos na criação da nova versão do Esquadrão Suicida.

Após várias e várias reuniões foi definido que ao lado do roteirista Len Wein e do desenhista John Byrne o simpático Ostrander ficaria encarregado de Lendas, minissérie em seis partes que sucederia Crise nas Infinitas Terras e onde o tirano estelar Darkseid engendraria um plano para desacreditar os maiores super-heróis da Terra. Entretanto, um critério teria que ser observado em Lendas: a saga deveria deixar pontas soltas para o lançamentos de novas séries mensais. E aí uma outra discussão se estabeleceu…

Inicialmente Ostrander queria trabalhar com os Desafiadores do Desconhecido (um grupo de aventureiros criado por Jack Kirby nos anos cinquenta), mas segundo o editor-chefe Dick Giordano e Robert Greenberger estes personagens já estavam prometidos para outros autores. Como alternativa Greenberger propôs o Esquadrão Suicida (cujo nome ele achava “cativante”) e meio que a contragosto Ostrander ficou de pensar no assunto.

Poster de Os Doze Condenados, filme estrelado por Lee Marvin que inspirou a nova versão do Esquadrão Suicida.

E Ostrander pensou. E pensou. E pensou… e o único pensamento que lhe vinha na cabeça era quem seria idiota o bastante para participar de uma equipe com uma alcunha tão “singela” como Esquadrão Suicida. E então veio a sua mente Os Doze Condenados, filme de 1967 dirigido por Robert Aldrich onde um major interpretado por Lee Marvin liderou durante a Segunda Guerra Mundial um grupo de militares de passado duvidoso em uma operação suicida contra o Alto Comando nazista. Pensando um pouquinho mais Ostrander se recordou das exóticas aventuras de espionagem apresentadas na série televisiva Missão: Impossível (o programa de tevê, não os filmes estrelados por Tom Cruise!) e finalmente fechou o conceito do vindouro gibi: o novo Esquadrão Suicida se envolveria em missões clandestinas de alto risco ordenadas pelo governo dos EUA, mas ao invés dos militares criminosos de Os Doze Condenados ou dos espiões engomadinhos de Missão: Impossível a equipe seria constituída basicamente por supervilões da DC Comics que estivessem encarcerados. Se os bandidos sobrevivessem a tarefa suas penas poderiam ser diminuídas ou até mesmo extintas; caso a missão fracassasse ou eles morressem… bem, os EUA fingiriam que não tinham nada a ver com a treta!

Origens Secretas

Definido o conceito que nortearia o novo Esquadrão Suicida, Ostrander se debruçou sobre o Who’s Who (um guia que trazia a ficha de quase todos os personagens da DC Comics) e pinçou alguns vilões que ele achou interessante. Intencionalmente Ostrander evitou usar malfeitores de peso como Lex Luthor ou o Coringa por duas razões: a utilização desses personagens poderia fazê-lo entrar em rota de colisão com os autores e editores responsáveis por eles, que provavelmente não gostariam de ver seus os seus antagonistas em um grupelho qualquer; e, além de maior liberdade o uso de bandidos de quinta categoria poderia ser muito, muito mais divertido!

Cena de Lendas #1, onde o Coronel Rick Flag e Amanda Waller finalmente se conhecem. Arte de John Byrne.

Dispostas as peças no tabuleiro, só faltava apresentar o grupo ao grande público, e tal apresentação ocorreu no primeiro capítulo de Lendas (originalmente publicado no segundo semestre de 1986), onde o agora coronel Rick Flag foi convocado por uma burocrata do governo chamada Amanda Waller. Sem rodeios, Waller lhe falou que a Força Tarefa X havia sido reativada e que seria formada a partir de supercriminosos recolhidos nas prisões americanas. Muito contrariado, Flag aceitou liderar a equipe e rapidamente ela entrou em ação.

Capa de Legends #3, onde a nova versão do Esquadrão Suicida encara a sua primeira missão. Arte de John Byrne.

A primeira missão do novo Esquadrão Suicida — mostrada na terceira parte de Lendas — foi muito parecida com aquelas que o time original encarava, já que o os vilões liderados por Flag bateram de frente com Enxofre, uma gigantesca criatura flamejante enviada a Terra por Darkseid. A equipe conseguiu derrotar o monstro, porém com um alto custo, já que o brutamontes conhecido como Arrasa-Quarteirão faleceu no transcorrer da operação.

A morte do Arrasa-Quarteirão deixou claro para os leitores qual seria o tom das aventuras do Esquadrão Suicida: apesar de contar com alguns personagens fixos como Rick Flag, Tigre de Bronze (um artista marcial que foi coadjuvante do gibi setentista Richard Dragon, Kung Fu Fighter e que era o segundo na hierarquia de comando da equipe em campo), Pistoleiro e Capitão Bumerangue (vilões respectivamente do Batman e do Flash) qualquer integrante do time poderia “passar dessa para melhor” em qualquer momento ou missão. Ah, outra coisinha também ficou muito clara: Amanda Waller seria a protagonista inconteste da futura série do Esquadrão Suicida.

Amanda Waller mostra quem manda, em cena extraída de Legends #3. Arte de John Byrne.

Uma mulher de meia-idade negra, obesa e de baixa estatura, Amanda Waller teve o seu visual inspirado na atriz e cantora Nell Carter e certamente era uma personagem fora do padrão habitual do Quadrinho Americano de super-heróis, que historicamente sempre privilegiou homens brancos e e musculosos vestidos de colante. Com uma personalidade irascível e obstinada, Waller orquestraria com mão de ferro as missões do Esquadrão Suicida, contudo ainda faltavam maiores detalhes sobre a origem da nova “heroína” e da própria equipe.

Em Secret Origins #14 John Ostrander e o desenhista Luke McDonnell revelaram que Rick Flag era filho de Richard Montgomery Flag, capitão da Força Aérea americana que comandou diversas operações secretas durante a Segunda Guerra Mundial e a Guerra da Coreia. Com a morte prematura dos seus pais Rick Flag foi adotado pelo seu padrinho, o General Jeb Stuart (protagonista das aventuras do Tanque Mal-Assombrado, uma série de guerra clássica da DC Comics) e, inspirado nos exemplos familiares ele se alistou na Aeronáutica.

Capa de Secret Origins #14, que detalhou a origem do novo Esquadrão Suicida. Arte de Luke McDonnell.

Com o passar o tempo o General Jeb Stuart idealizou a Força Tarefa X e chamou o seu afilhado para liderar o time, e assim a primeira versão do Esquadrão Suicida nasceu e viveu as aventuras retratadas em The Brave and the Bold e, por fim, a equipe foi extinta quando Hugh Evans e Jess Bright faleceram em uma missão no Himalaia. Karin Grace entrou em colapso nervoso após a morte de seus companheiros e, sem outras opções Rick Flag retomou sua carreira convencional na Força Aérea e aí entrou em cena Amanda Waller.

Nascida e criada em um bairro barra-pesada de Chicago, Waller se casou jovem e para sua infelicidade perdeu o marido e dois filhos para a violência urbana. Nem mesmo o luto pela morte dos seus parentes impediu Waller de se tornar assessora de um senador da sua cidade natal, e a partir deste cargo de forma implacável ela galgou diversos postos nos serviços de inteligência estadunidenses, até se deparar com a documentação ultrassecreta que registrava as atividades da Força Tarefa X. E então… Waller teve a ideia de reativar a equipe usando supercriminosos no lugar de militares e levou a sua proposta para a presidência dos EUA, que prontamente a aceitou.

Intervenção em outros países

No primeiro semestre de 1987 o gibi Suicide Squad #1 chegou nas bancas de jornal e comic shops americanas, com roteiros de John Ostrander (que muitas vezes era ajudado nesta tarefa por Kim Yale, a sua esposa), arte de Luke McDonnell e edição de Robert Greenberger. Nesta edição específica foi definido que a base do Esquadrão Suicida seria Belle Reve (uma prisão especializada em supervilões localizada no estado americano da Louisiana), e logo de cara a equipe foi encaminhada para uma violenta missão “preventiva” contra Qurac, um país fictício que emulava o Irã/Iraque e que abrigava terroristas dotados de habilidades sobre-humanas.

Capa de Suicide Squad #1, onde fica claro que qualquer membro do Esquadrão Suicida poderá morrer. Arte de Howard Chaykin.

Os leitores mais atentos deste artigo devem ter percebido que com a sua primeira história do Esquadrão Suicida de certa forma John Ostrander e Luke McDonnell antecederam em alguns anos as temáticas do terrorismo internacional e da intervenção americana em territórios do Oriente Médio, que posteriormente ganhariam destaque em várias mídias com o advento da Guerra do Golfo, do 11 de Setembro e da Guerra do Afeganistão. Recentemente Ostrander admitiu que hoje tal aventura dificilmente seria aceita pelos editores tanto da Marvel quanto da DC Comics mas, independente de polêmicas o Esquadrão Suicida seguiu em frente encarando outras missões de cunho “político”.

Capa de Suicide Squad #2, onde a equipe comandada por Rick Flag invade Qurac. Arte de Luke McDonnell.

Em Suicide Squad #4 a equipe lutou contra supremacistas brancos e nas edições #5, #6 e #7 com o auxílio luxuoso do Pinguim (sim, aquele inimigo de um certo Homem-Morcego de Gotham City!) eles invadiram a antiga União Soviética com o propósito de resgatar uma dissidente política. E, é claro, como a chamada Guerra as Drogas sempre foi um tema palpitante para o americano médio em Suicide Squad #11 e #12 o Esquadrão Suicida enfrentou Xavier Cujo, um chefão do Cartel de Medellin que reproduzia as piores características do criminoso colombiano Pablo Escobar.

A bandidagem comandada por Amanda Waller e Rick Flag teve uma boa acolhida por parte do público, tanto que em 1988 além de participarem de um crossover com a Liga da Justiça (publicado nas revistas Justice League International #13 e Suicide Squad #13) junto com a Patrulha do Destino eles coestrelaram Doom Patrol and Suicide Squad Special, uma edição especial onde ambas as equipes se infiltraram na Nicarágua (olha a intervenção americana em outro país de novo, gente!) com o propósito de resgatar o super-herói Rapina das mãos de guerrilheiros locais. Ah, e não podemos deixar de falar de Deadshot, minissérie em quatro capítulos ultraviolenta onde o Pistoleiro acertou na base da bala as contas com o seu misterioso passado.

Capa de Deadshot #1, minisserie em quatro partes estrelada pelo Pistoleiro, um dos mais proeminentes membros do Esquadrão Suicida. Arte de Luke McDonnell.

Mas… não pensem que apenas supervilões inexpressivos que desejavam reduzir suas penas eram utilizados em Suicide Squad: com o propósito de tornar a dinâmica da revista mais complexa Ostrander tomava para si heróis que estivessem dando sopa no Universo DC, e assim figuras como Sombra da Noite, Nêmesis, Orquídea Negra, Ricardito, Katana, Rac Shade, Vixen (ex-integrante da malfadada Liga da Justiça de Detroit), Pacificador e outros entraram nas fileiras do Esquadrão Suicida. E, acreditem: até mesmo o Batman se aliou a equipe!

Capa de Suicide Squad #10, onde Amanda Waller “enquadra” o Batman. Arte de Jerry Bingham.

Está certo que a ideia de um grupo de bandidos superpoderosos comandados pelo governo americano não agradava o Cavaleiro das Trevas — tanto que em Suicide Squad #10 ele tentou desmantelar a equipe e foi devidamente “enquadrado” por Amanda Waller, que ameaçou revelar sua identidade secreta –, porém em Suicide Squad #40 Batman se uniu temporariamente a equipe para resolver a instabilidade política da Vlatava, uma nação fictícia localizada na Europa Oriental (perceberam que estamos falando de mais uma intervenção americana em outro país?). E, já que citamos o Batman e uma lista de super-heróis deixados de lado precisamos obrigatoriamente falar de uma certa mocinha…

Oráculo

Na segunda metade da década de sessenta o seriado live-action do Batman protagonizado por Adam West fazia um baita sucesso mundo afora, e com o objetivo de atrair a audiência das mulheres o produtor Willian Dozier pediu para o pessoal da DC Comics a criação uma versão feminina do Cruzado Encapuzado que potencialmente poderia ser usada no show televisivo. Dozier também aproveitou o momento para sugerir que a nova personagem fosse filha do impoluto Comissário Gordon, e seguindo essa sugestão o editor Julius Schwartz e os quadrinistas Gardner Fox e Carmine Infantino apresentaram em Detective Comics #359 (lançada originalmente entre o final de 1966 e inicio de 1967) Barbara Joan Gordon, mais conhecida como Batgirl.

A nova heroína deu o ar da sua graça no seriado do Cruzado Encapuzado (onde foi interpretada por Yvonne Craig), e após o cancelamento do programa televisivo virou uma figura relativamente recorrente nos gibis da DC Comics, seja aparecendo ao lado do Cavaleiro das Trevas e do Robin ou protagonizando aventuras próprias. E então em 1988 entrou na sua vida um certo escritor britânico chamado Alan Moore.

Cena de Suicide Squad #48, que reproduz o ataque do Coringa a Barbara Gordon. Arte de Geoff Isherwood.

Em parceria com o desenhista Brian Bolland o genial Moore criou Batman: A Piada Mortal, uma graphic novel onde o Coringa decidiu desferir um ataque definitivo contra o Cavaleiro das Trevas e o Comissário Gordon, com consequências funestas para a Batgirl: após um tiro disparado pelo vilão contra a sua coluna cervical e uma série de terríveis torturas psicológicas Barbara Gordon ficou paralítica.

Com o passar do tempo A Piada Mortal ganhou o status de HQ clássica, porém sobraram criticas a alguns aspectos da obra, em especial a violência dirigida contra Barbara Gordon, que segundo muita gente foi um mal disfarçado abuso sexual. Até mesmo Alan Moore acredita que a Piada Mortal passa longe de ser uma das melhores amostras do seu trabalho! E haviam pelo menos duas pessoas que também acharam que Moore passou do ponto: John Ostrander e Kim Yale.

Com a autorização dos editores responsáveis pelos gibis do Batman o casal de escritores passou a fazer uso de Barbara Gordon nas histórias do Esquadrão Suicida, mas ela não foi exatamente restaurada a sua condição de super-heroína: antigas aventuras explicaram que a filha do Comissário Gordon era perita em Tecnologia da Informação, e fazendo uso deste detalhe Ostrander e Yale transformaram a agora paralítica personagem em uma hacker que coletava e fornecia informações para a comunidade super-heroica.

Capa de Suicide Squad #49, onde Barbara Gordon assume de vez a identidade de Oráculo. Arte de Norm Breyfogle.

A partir de Suicide Squad #23 Ostrander e Yale foram reapresentando aos poucos Barbara Gordon para o grande público, e posteriormente ela passou ser conhecida pela alcunha de Oráculo, se tornando uma personagem de relevo dentro do Universo DC e uma referência para os fãs PcD’s no mundo inteiro. A sua importância aumentou ainda mais quando em 1996 os escritores Jordan B. Gorfinkel e Chuck Dixon tornaram Barbara Gordon a líder e estrategista das Aves de Rapina, um grupo constituído quase sempre somente por super-heroínas da DC Comics. Para completar o quadro ainda em 1996 Ostrander e Yale juntos com o desenhista Brian Stelfreeze produziram Oracle: Year One (Oráculo: Ano Um), história publicada em Batman Chronicles #5 e que mostrou como foi a recuperação da heroína após o ataque do Coringa. No últimos anos a paralisia de Barbara Gordon foi revertida e ela voltou a envergar a capa da Batgirl, mas indiscutivelmente o trabalho de Ostrander e Yale foi fundamental no sentido de trazer a personagem de volta e dar-lhe relevância nos anos noventa e no início do Século XXI.

Capa de Suicide Squad #66. Após o lançamento desta edição a revista foi cancelada. Arte de Geoff Isherwood.

Pois é… Barbara Gordon voltou a ser “alguém” na Mitologia da DC Comics, mas o mesmo não pode ser dito sobre o Esquadrão Suicida, já que apesar dos esforços de Ostrander e Yale devido as baixas vendas a revista do grupo foi cancelada em 1992, após a publicação da sexagésima sexta edição. Porém, a saga da Força Tarefa X ainda estava longe de ser encerrada.

Aparições esparsas

Após o cancelamento do seu gibi na segunda metade dos anos noventa o Esquadrão Suicida teve aparições esparsas e pouco significativas nas revistas Superboy, Chase, Hawk and Dove e Adventures of Superman, até que em 2001 na esteira da saga Mundos em Guerra os quadrinistas Keith Giffen e Paco Medina relançaram a equipe. Giffen sempre foi conhecido pelos seus roteiros cheios de humor, e a nova versão do Esquadrão (rebatizada como Força Tarefa Ômega) seguiu essa característica, com o comando em campo de um supostamente rejuvenescido Sargento Rock e com o Presidente Luthor (sim, o arqui-inimigo do Superman já foi o mais alto mandatário dos EUA nos gibis!) e Amanda Waller orquestrando as ações da equipe nos bastidores. Porém, pelo visto as gracinhas de Giffen não agradaram os leitores, tanto que a série foi cancelada após o lançamento da décima segunda edição.

Capa de Suicide Squad #1 (2001), onde uma nova versão do Esquadrão Suicida é comandada por um supostamente rejuvenescido Sargento Rock. Arte de Paco Medina.

Em 2007 John Ostrander voltou ao Esquadrão em uma minissérie dividida em oito capítulos batizada com o nome Suicide Squad: Raise the Flag, todavia decididamente esta aventura não chamou a atenção de ninguém, e a equipe voltou a sua rotina de aparições especiais aqui e acolá nos gibis da DC Comics. Entretanto… nada como um “sacode” na cronologia de uma editora para resgatar das sombras personagens e equipes esquecidas, não é mesmo?

Body Shaming

No ano da graça de 2011 a DC Comics decidiu reestruturar o seu universo ficcional com Os Novos 52, um projeto editorial que “resetou” toda a continuidade da editora e relançou os seus gibis, dando a deixa para a criação de uma nova versão do Esquadrão Suicida.

Capa de Suicide Squad #1 (2011), que deixa claro que Arlequina será a nova “dona” da equipe. Arte de Ryan Benjamin.

Sob a tutela do escritor Adam Glass e dos desenhistas Federico Dallocchio e Ransom Getty a nova revista do Esquadrão aportou nas comic shops no final de 2011 com importantes mudanças em relação a sua versão anterior: o Pistoleiro se tornou o líder operacional da equipe, mas quem de fato virou a força dominante do gibi foi a Arlequina, a simpática e psicótica amante-ajudante-capacho do Coringa, que desde a sua estreia em 1992 no programa televisivo Batman: A Série Animada era uma das favoritas dos fãs. Contudo, uma certa “mudança” na nova versão da Força Tarefa X foi um tanto quanto… controversa!

Capa de Suicide Squad #0, que mostrava uma bela e rejuvenescida Amanda Waller. Arte de Ken Lashley.

Com o objetivo de alinhar o visual de Amanda Waller com a sua versão que apareceu no malfado filme do Lanterna Verde (onde ela foi interpretada pela belíssima atriz Angela Bassett) a gestora do Esquadrão Suicida foi transformada por Adam Glass em uma mulher que mais lembrava uma modelo da Victoria’s Secret do que a baixinha gordinha e invocada que aparecia nas aventuras escritas por John Ostrander e Kim Yale. Por causa disso sobraram contra a DC Comics acusações de body shaming, e “atendendo a pedidos” Amanda Waller voltou a ter uma aparência próxima a sua concepção original. Mas o que importa mesmo é que de repente… não mais que de repente… o Esquadrão Suicida chegou nas telonas.

Na última década através dos heróis da DC Comics o grupo de mídia WarnerMedia tentou de todas as formas desenvolver um universo cinematográfico parecido com o do Marvel Studios. O Esquadrão Suicida fez parte deste esforço, tanto que em 2016 a equipe foi para nos cinemas, em uma película dirigida por David Ayer que contou em seus elenco com atores de peso como Viola Davis (Amanda Waller), Margot Robbie (Arlequina), Jared Leto (Coringa), Joel Kinnaman (Rick Flag), Will Smith (Pistoleiro) e outros. Este filme não foi exatamente um grande sucesso artístico ou comercial, mas pelo menos popularizou a equipe no mundo inteiro, e alguns anos depois a Força Tarefa X ganharia uma nova chance de brilhar nas telonas.

Poster do filme O Esquadrão Suicida, que presta uma clara homenagem a obra Os Doze Condenados, uma das principais inspirações na criação da equipe.

Com a direção do excelente James Gunn em 2021 o Esquadrão Suicida ganhou um novo e bom filme que estreou simultaneamente nos cinemas e no serviço de streaming HBO Max, onde por uma dessas “coincidências cósmicas” que de vez em quando acontecem o time comandado por AmandaWaller bateu de frente com Starro, um dos principais kaijus do Universo DC, ou seja: a última aventura cinematográfica da Força Tarefa X fez uma alusão direta as primeiras aparições da do Esquadrão Suicida nos anos cinquenta, onde a equipe encarava monstros gigantes!

Seja como for… hoje o Esquadrão Suicida continua a ter as suas aventuras publicadas pela DC Comics, e provavelmente nos próximos anos ainda iremos nos deparar com muitas e muitas histórias estreladas pela Força Tarefa X, mas antes de nos despedirmos de forma definitiva precisamos nos lembrar rapidamente das aparições da equipe no Brasil.

Entre 1988 e 1994 a Editora Abril publicou a maior parte da produção de John Ostrander e Kim Yale em várias revistas, em especial no gibi Liga da Justiça, e em 2021 a Panini resgatou parte dessas histórias na edição em capa dura Esquadrão Suicida: Provação por Fogo. Já a aventuras da equipe produzidas após Os Novos 52 são publicadas desde 2013 de forma regular em encadernados e séries mensais lançadas periodicamente pela Panini.

E, depois de tanto palavrório só nos resta falar:

E TENHO DITO!

Para saber mais:

Wikipedia: Esquadrão Suicida

Grand Comics Database: Suicide Squad — 1. Série

Grand Comics Database: Suicide Squad — 2. Série

Grand Comics Database: Suicide Squad — 3. Série

Grand Comics Database: Suicide Squad — 4. Série

DCU Guide: Lista de aparições do Esquadrão Suicida

Mike’s Amazing World: Lista de aparições do Esquadrão Suicida

Guia dos Quadrinhos: Lista de aparições do Esquadrão Suicida no Brasil

Newsarama: a história do Esquadrão Suicida

Twomorrows: Back Issue #26

Comic Mix: como John Ostrander resgatou Barbara Gordon

Bleeding Cool: a aparência da nova Amanda Waller

Screen Rant: a aparência de Amanda Waller nos filmes do Esquadrão Suicida

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Claudio Basilio
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Apenas um rapaz latino-americano que gosta de falar de Quadrinhos e Cultura Pop. E de outros assuntos também!