Então você quer empreender? Aqui está tudo o que sei

Vou te economizar um bom dinheiro em cursos inúteis

Startup da Real
@startupdareal

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Este é o tipo de texto que eu evito escrever, mas desde que levantei as perguntas para responder na ALT+TAB e conversei com outras pessoas por mensagem direta no Twitter, descobri que deveria falar sobre isso.

Eu sei que o @startupdareal é de fato desmotivador para muita gente que sonha em ter o próprio negócio. Infelizmente, é muito difícil realizar o trabalho de quebrar mitos sobre empreendedorismo sem que isso machuque a empolgação de algumas pessoas.

E mesmo acreditando que desilusão — deixar de acreditar em ilusões — é uma daquelas coisas dolorosas mas que nos fazem amadurecer, vou assumir aqui a difícil tarefa de falar positivamente sobre empreendedorismo, mas sem papo furado e falsas expectativas.

Aperte os cintos, a gente vai longe hoje.

Separei o texto em 8 diferentes tópicos, onde abordo as questões que considero mais importantes para o empreendedor individual ou startup que não passou por processo de investimento. Gente sem recurso operando com o dinheiro do próprio bolso.

Para navegar mais rápido entre os tópicos, basta buscar pelo número do tópico, a maioria pode ser lido individualmente.

#1 — O que você precisa saber antes de empreenderrisco
#2 — Empreendendo sem recursosvalidação
#3 — Tirando ideias da cartola ideias de negócio
#4 — Criando um produtocriatividade
#5 — Você precisa de um time (ou pelo menos um par)sociedade
#6 — Como atrair os primeiros clientes marketing
#7 — Como vive um empreendedorhábitos e comportamento
#8 — Considerações finais

O conteúdo pode mudar um pouco ao longo do tempo, já identifiquei algumas partes que faltaram e outras que precisavam de leves edições.

Se achar o texto grande demais para ler por aqui, existe a versão Kindle disponível para compra na Amazon.

#1 — O que você precisa saber antes de empreender

Começar um negócio é uma atividade de alto risco. Não importa o quanto tentem reduzir as variáveis do problema fazendo parecer que não existem chances de errar, risco é uma característica intrínseca do empreendedorismo.

Alguns negócios trazem riscos maiores que outros, mas essa relação costuma estar diretamente ligada ao retorno que são capazes de proporcionar. Em termos de mercado, é praticamente impossível um ramo lucrativo apresentar um baixo potencial de risco.

O que faz o modelo de startups tão lucrativo é exatamente alta taxa de fracasso.

O empreendedor que não entende este princípio logo cedo costuma subestimar as chances do negócio dar errado, agindo de maneira impulsiva e fazendo os possíveis danos serem ainda maiores.

Quem vende sucesso tenta sempre encantar sua plateia pelo otimismo. Dizer que vai dar certo, que quando sabemos como os grandes empreendedores fizeram seus impérios não tem como dar errado e outras formas de mexer com o imaginário das pessoas não faz bem algum, pelo contrário, apenas ofusca os riscos.

Quando sentamos na plateia ouvindo um discurso que nos deixa confortável, é fácil assumir que, mesmo sendo fantasioso, tudo não passa de uma fala inofensiva. Mas infelizmente, existem poucas coisas tão perigosas quanto um incompetente motivado.

A motivação de empreender não deveria vir do incentivo bobo de homens ricos vestindo ternos caros, falando com a simplicidade de uma mãe que convence seu filho a experimentar uma garfada de jiló.

Sendo empreendedorismo uma atividade extremamente arriscada, a motivação nunca deveria vir de um impulso inocente, mas das cicatrizes, hematomas e conquistas.

Como um alpinista que volta do Everest contando que quase morreu, perdeu um dedo congelado e que seus amigos morreram no caminho alertando aos aventureiros: qualquer pessoa deve pensar muito bem antes de tentar, mas chegar lá em cima foi uma conquista maravilhosa.

O problema das receitas de sucesso

Não existe receita para o sucesso. E copiar modelos que funcionaram com outras pessoas não faz nada mais do que remover a única coisa que seu negócio poderia ter de valioso no começo, a pura e simples autenticidade.

Todo negócio é diferente, e as peças que compõem esse complexo sistema de probabilidades contam muito para o resultado. É claro que existem alguns indicadores que podem ou não ajudar — mais sobre isso lá na frente — mas decorar e replicar cases de sucesso só te faz bom em uma coisa, palestrar sobre histórias de outros empreendedores.

Existe um texto inteiro falando sobre os problemas das receitas de sucesso aqui.

Alguns mercados trazem certa vantagem aos que chegam antes. Na explosão dos Apps, por exemplo, muita gente ganhou dinheiro por ser novidade e existirem poucas opções disponíveis, mas hoje o modelo é praticamente um deserto financeiro para os pequenos desenvolvedores.

No entanto chegar antes também não reduz o risco. Ser pioneiro em algo muitas vezes significa investir em negócios que ninguém vai querer.

Ouvir histórias de sucesso é motivante e divertido. Funciona muito bem como forma de entretenimento e como fonte de ânimo, mas isso não pode ser confundido com uma receita do que fazer com sua vida.

Lembre-se que o mundo é complexo demais para que a replicação de um modelo funcione com esse grau de simplicidade. Basta mudar o executor, o público alvo, o nicho ou adicionar dificuldades na escola do filho mais novo, para que os modelos comecem a sair dos trilhos.

Cada detalhe tem influência e adiciona novas variáveis ao negócio, negar isso é como dizer que a terra é plana.

Se quiser saber mais sobre como variáveis afetam sistemas complexos, dê uma olhada neste outro texto.

O único motivo para empreender

Agora que você já entende que não existem receitas de sucesso e que abrir um negócio é um processo arriscado, uma pergunta fica no ar:

Se não existem atalhos e é tão arriscado assim, por que eu devo empreender?

A única resposta que eu consigo pensar para esta pergunta é:

porque você sente que deve.

Existe um movimento muito forte e que traz um discurso extremamente prejudicial. Para eles, a única forma de contribuir verdadeiramente para a sociedade e se destacar como vencedor é criando um novo negócio.

Além da óbvia simplificação de colocar todas as profissões e formas de realização pessoal que existem como insuficientes diante da perspectiva do empreendedorismo, o outro ponto que levanta suspeitas nesse argumento é que normalmente quem diz isso está vendendo empreendedorismo como produto.

Não vou entrar no mérito das pessoas que empreendem — para usar esse termo— por necessidade. Alguém que tem como única perspectiva de ganhar algum dinheiro, um pequeno negócio emergencial que não consegue render o suficiente para garantir uma vida digna, não está nessa por escolha.

Digo isso porque a maioria desses trabalhadores informais trocariam seu “negócio” por um emprego formal com carteira assinada.

fonte: folha

Considerar estes trabalhadores precarizados como empreendedores denuncia uma falha grave de pensamento, a ilusão de que abrir empresa significa ganhar dinheiro.

Principalmente porque a cada 10 empresas no Brasil, 7 não conseguem lucrar mais do que três salários mínimos, a ideia de que montar um negócio é a porta para garantir uma vida confortável com um bom lucro é uma narrativa totalmente distorcida.

Se você está nessa pelo dinheiro, é melhor procurar outro caminho. O jeito mais fácil de conseguir uma renda razoável ainda é o emprego formal.

É por isso que, se você não for herdeiro de um negócio familiar que já está em andamento, ou não tem uma boa estrutura de suporte financeiro para garantir um sustento até que o negócio se estabilize, o único motivo que vejo para você empreender é o sentimento interno de que está fazendo algo que importa.

Dizer isso pode soar completamente abstrato, mas dado o cenário onde estatisticamente, empreender:

  1. representa um enorme risco
  2. não é um jeito mais fácil de ganhar dinheiro
  3. não representa uma maior estabilidade profissional
  4. não trará a possibilidade de uma vida mais tranquila e equilibrada

Um forte desejo pessoal de desenvolver um projeto é o único motivador que consigo compreender.

É claro que sempre existirão aquelas oportunidades de mercado que vemos surgir e acreditamos que serão lucrativas, entre outros fatores que podem nos inclinar ao empreendedorismo de alguma forma. Mas via de regra, minha opinião pessoal é que o único motivo para empreender é achar que deve.

Otimismo é amigo do risco

Imagine que você caiu no buraco negro dos vídeos de investimento no YouTube. Agora, não existem mais dúvidas de que precisa investir dinheiro para garantir o crescimento do seu patrimônio.

Você ouviu amigos falando que investir na bolsa é interessante e, que se escolher empresas conservadoras, as chances de se dar mal são muito pequenas. A ideia parece boa, você pega toda sua poupança e aplica em ações de alguma grande estatal petroleira.

Alguns dias seguem e os jornais começam a noticiar uma nova descoberta importante. Ao que parece, encontraram uma camada que permite extração de petróleo e que poderia alavancar o valor comercial da petroleira, algo na faixa dos bilhões.

Dada essa perspectiva tão otimista, seus amigos e conselheiros afirmam com convicção: essa é uma chance única, é o momento de investir em Opções.

Opções são títulos de compra para o futuro. É um acordo de que lá na frente você pode comprar ou vender determinadas ações por um preço preestabelecido. É uma aposta de que, daqui algum tempo, você vai lucrar negociando ações pelo valor definido no dia da compra.

Ou seja, o conselho do seu amigo é apostar tudo o que você tem no futuro, porque existe uma nova informação que nos faz acreditar que, daqui 4 meses — tempo ilustrativo — as ações estarão valendo muito mais.

Você se anima com a perspectiva de ficar milionário e aplica todo seu dinheiro em Opções da estatal petroleira.

O que você não contava é que os grandes investidores não enxergaram a novidade com bons olhos. Quando o momento chegou, concluíram que o investimento necessário para extração dessa nova camada de petróleo é oneroso demais e levaria muito tempo até trazer retornos sólidos para empresa, causando prejuízo.

Ao invés das ações decolarem, o pragmatismo do mercado gerou um movimento contrário. A ações caíram e suas Opções agora não representam vantagem alguma. Você só perdeu seu dinheiro.

Essa é uma história fictícia criada apenas para ilustrar uma ideia, mas que retrata o paralelo de como as pessoas incentivam o risco no empreendedorismo. O guru insiste que você assuma um risco grande baseado num otimismo ingênuo, uma oportunidade longínqua de que todo aquele investimento e dedicação vão valer a pena.

Tenho certeza que você está pensando: mas ninguém investe tudo assim, sem segurança.

Infelizmente é o que mais acontece. Pior ainda, são amplamente incentivados pelos vendedores de sonhos.

Frases como você não tem mentalidade do sucesso, “se já começa achando que vai dar errado, não tem como dar certo”,“você precisa acreditar que é possível”, “se tiver medo, vai com medo mesmo”, “você precisa pensar grande”, “Ou vai com tudo, ou não vai” e outras similares são repetidas aos montes por quem não tem nada a perder te convencendo a assumir riscos.

A versão mais clássica de todas essas, é a frase de Deus para Noé sobre a construção da grande arca, frequentemente ouvida no contexto de startups.

“Se você construir, eles virão”

O que todas essas frases têm em comum? O incentivo ao risco pela crença otimista no resultado projetado. Muitas dessas frases utilizadas repetidas vezes para criar um gatilho de ação, normalmente por instaurar a vergonha em não agir com “o mindset de um milionário”.

Como reduzir os riscos

Eu tenho inúmeros outros textos onde abordo a questão do risco, mas é impossível falar sobre empreendedorismo sem antes apontar o que pode dar errado. Se eu fizesse isso estaria cometendo a mesma falha ética que aponto em tantas outras pessoas.

Existe um modelo que sigo para continuar minhas tentativas de empreender equilibrando meus riscos, uma forma de pensar que garante que eu siga tentando e que as perdas não sejam tão contundentes assim.

Em qualquer situação, é preciso lembrar que existe uma quantidade de incerteza envolvida. Por maior que seja sua capacidade, seu conhecimento do mercado e suas referências técnicas sobre o que precisa desenvolver, três pontos SEMPRE são verdadeiros:

  • O futuro é muito mais complicado e você não tem controle do que pode acontecer
  • Nem tudo depende apenas de você e seu conhecimento. A maioria do resultado depende de outras coisas que você não tem controle
  • Você não sabe o que não sabe, surpresas vão acontecer

É claro que começamos qualquer iniciativa pensando em dar certo, mas evitar pensar no que pode dar errado, normalmente por medo de estar sendo pessimista, só traz maiores problemas.

Ao começar algo entendendo o que pode dar errado, a abordagem em relação ao risco tende a ser mais efetiva.

Tendo tudo isso em mente, trago para vocês uma estratégia comum no mercado financeiro para equilibrar investimentos.

A ideia é simples: você investe uma grande parte — algo entre 80% e 90% do que tem no que existe de mais seguro, mas que o retorno não é tão alto. E o resto em algo que apresenta um enorme risco, mas que se for concretizado de forma positiva seu retorno será extremamente alto.

Então se você tem — a título de exemplo — 1000 reais para investir e entende que um bitcoin está num excelente momento de alta, mas é um investimento arriscado, você poderia agir da seguinte forma:

Aplicar 800 reais em tesouro selic, um investimento considerado relativamente seguro, e os outros 200 reais em bitcoins.

O desvio lógico que faz as pessoas não pensarem dessa forma, é um impulso comum, que nos lembra o tempo todo “se você investisse tudo, poderia ganhar muito mais”.

Infelizmente, ninguém pode se dar ao luxo de perder tudo o que tem de investimento na primeira tentativa. É preciso agir com menos emoção e pensar que perder tudo significa ficar fora do jogo por um certo tempo.

É melhor ganhar menos equilibrando os investimentos, do que precisar juntar mais dinheiro por um longo período até poder investir novamente.

E por mais simples que pareça, essa ideia funciona para muitos dos dilemas levantados quando pensamos em empreendedorismo, como o clássico dilema:

“Tenho um trabalho 8–18 que me sustenta, mas gostaria de empreender. Devo largar meu emprego e abrir um negócio?”

Seguindo o mesmo modelo anterior, a pessoa que está numa situação como essa deve garantir que o que existe de mais seguro está garantido, mantendo a qualidade de vida e condições básicas para sobreviver, enquanto em seu tempo livre desenvolve um negócio paralelamente.

Para uma pessoa que trabalha de segunda a sexta, o ideal seria reservar algumas horas do final de semana para pesquisar, desenhar e planejar um negócio que, se der tudo certo, trará um retorno muito maior que o emprego estável.

O que é mais importante, o risco está coberto enquanto seu emprego ainda existe.

Mas investir pouco funciona?

Pela ideia de um empreendedorismo onde todo mundo se entrega, chuta o balde e, com uma grande e mágica ideia, conquista sua tão sonhada fortuna, a maioria das pessoas entra no jogo acreditando no tudo ou nada.

Assim como alguém tentando emagrecer, que depois de comer um bombom passa a devorar tudo o que vê pela frente porque “já falhei a dieta mesmo”, as pessoas têm a crença que, se não for uma jornada de entrega total, nenhum esforço é válido.

A boa notícia é que por padrão, consistênciase manter fazendo algo por muito tempoé muito mais valioso que intensidade. Investir duas horas do seu domingo por dois anos num pequeno projeto paralelo tende a trazer resultados mais relevantes do que investir 30 dias seguidos, 8 horas por dia e depois não fazer mais nada.

Neste ponto artistas, como músicos, escritores e pintores tendem a ser bons exemplos. A maioria normalmente investiu anos criando e produzindo trabalhos sem relevância, até que um dia tiveram seu esforço reconhecido.

É claro este dia pode nunca chegar, mas certamente as chances são maiores se investir na consistência.

Lembre-se todos os dias que a história da pessoa que teve uma grande ideia e ganhou milhões do dia pra noite é quase sempre exagerada, normalmente são histórias criadas para vender livros e construir a narrativa do “gênio”.

A maioria dos grandes empreendedores vieram de outras tentativas, aproveitando informações que não deram certo e amadureceram suas visões. É por isso que a cultura da falha se tornou tão forte no vale do silício.

Quase todo mundo entende que as chances de um negócio dar errado são altíssimas e que ao invés de estigmatizar quem arriscou e não conseguiu, é mais interessante incentivar que continue tentando.

É claro que o objetivo é “dar certo” e não existe informação melhor do que as coisas que funcionaram. Mas sistemas aprendem pela remoção, e uma empresa falindo representa uma informação importante para o crescimento do ecossistema como um todo.

Este é outro motivo para trabalhar sempre pensando em riscos e na estratégia explicada anteriormente: quando você sabe que pode dar errado, precisa ter fôlego para continuar tentando com as informações novas.

#2 — Empreendendo sem recursos

Se você mora no mesmo planeta que eu e não faz parte de uma seleta minoria que nasceu de famílias bem de vida e com dinheiro para investir no sonho dos filhos, você não tem recurso para empreender.

Você até pode ter uma pequena poupança, um carro que pode vender para tentar fazer seu negócio sair do papel ou, como é o caso de muita gente, o dinheiro do FGTS saindo de um emprego recente.

E por mais que seja um dinheiro que parece razoável, essa quantidade é bem limitada se você não tiver outra fonte de renda. Os 20 mil reais de um carro usado não serão utilizados inteiramente para desenvolver um negócio, uma boa parcela desse dinheiro vai funcionar para pagar suas contas e não te deixar passar fome.

Por isso — insisto — é muito mais fácil empreender como atividade paralela ao emprego formal, do que abandonar a segurança financeira para abrir um negócio.

Ainda assim, é preciso saber otimizar o pouco recurso disponível ao máximo, uma vez que não existe um investidor financiando seu negócio.

Mas alguém quer meu produto?

Essa é uma pergunta que você deve se perguntar a cada novo passo e modificação que faz numa ideia de negócio. A qualquer instante é importante observar o que está sendo feito e conflitar com a realidade.

Arrogância é um problema gravíssimo entre muitos aspirantes ao empreendedorismo. A maioria acredita que sabe melhor o que os clientes querem do que eles mesmos. Muitas vezes utilizam classica frase do Steve Jobs para justificar essa prepotência:

“as pessoas não sabem o que querem até você mostrar a elas”

Mas a gente tem que deixar algo bem claro aqui: você não é o Steve Jobs e as chances de ser um novo gênio são mínimas. E outra é que, apesar de ter emplacado produtos que mudaram o mercado, existem tantos outros produtos que não fizeram tanto sucesso assim.

Quando você tem recursos para tentar, é mais fácil ignorar a vontade dos clientes e fazer o que vem na sua cabeça até eventualmente acertar.

Então sem recursos e tentando reduzir o risco do seu negócio pare e ouça o que os clientes querem.

Validação é dinheiro no bolso

Se você faz parte do ambiente de empreendedorismo já deve ter recebido um questionário com perguntas para tentar definir se uma ideia é interessante ou não.

Estes formulários normalmente tentam mensurar o nível de interesse para alavancar, mas na prática acabam não servindo de nada. Por mais que estes dados pareçam interessantes num primeiro momento, existe um fenômeno que eu já passei e muitas outras pessoas também passaram:

Você apresenta uma ideia, as pessoas se mostram empolgadas e dizem que comprariam o produto. Após investir meses e milhares de reais, você apresenta o produto pronto e ninguém compra.

O dinheiro modifica a relação das coisas: quando alguém precisa pagar de verdade, as intenções mudam e outros interesses entram em questão. Dizer que pagaria e pagar são essencialmente ações diferentes.

Então tenha em mente que utilizar algumas estratégias como formulários para identificar se existe interesse e o que poderia ser modificado no seu produto pode ser uma estratégia interessante, mas as informações estão enviesadas e NÃO VALIDAM UMA IDEIA.

Outra ideia que também é utilizada como forma de validação é a criação de uma landing page, um site que apresenta a proposta do negócio e capta dados dos interessados.

Neste caso, é comum utilizar publicidade paga para trazer uma enorme quantidade pessoas para sua página e depois extrair uma estatística de acesso x conversão.

Normalmente espera-se entre 10 e 15% de conversão para considerar que uma ideia é interessante.

Apesar deste método não funcionar como validação dentro dos princípios que falei antes, existe uma vantagem interessante neste processo. O que está sendo feito na verdade é a captação de leads para prospecção futura. Quando o produto for lançado você sabe quem procurar e como alcançá-los.

Novamente, nada garante que essas pessoas estarão dispostas a comprar seu produto.

Venda primeiro, construa depois

Essa é uma regra que eu sigo para vida, e acredito que qualquer pessoa operando com o próprio dinheiro deveria considerar.

Construir algo exige muito recurso. E quando tempo e dinheiro são limitados, não podemos nos dar ao luxo de investir em algo arriscado.

O que tento fazer é apelar para a pré-venda, tentar formular a proposta de produto com o máximo de clareza possível e que demonstre os objetivos e resultados e começar a vender para entregar no futuro.

Imagine que você quer construir um produto qualquer. Para exemplos, vamos pegar um produto como um tênis especial para quem gosta de correr na neve— nem sei se existe.

Ao invés de orçar o produto, enviar para uma fábrica na China e, quando os estoques chegarem, tentar vender. É menos arriscado arrumar um bom designer para criar um protótipo visual e organizar um belo explicativo com base em tudo o que as pesquisas já identificaram que corredores de neve precisam.

Depois de definir o projeto, orçar quanto a fábrica da China cobra para produzir um número razoável e entender o tempo que demora para entregar depois de realizar o pedido, você tem todas as informações que precisa para vender o produto.

Agora imagine que a fábrica na China cobra 5000 reais para produzir 100 pares do meu tênis especial para correr na neve — dados fictícios.

Como eu valido meu produto? Vendendo o suficiente para cobrir o custo dessa primeira versão.

É claro que definir o preço envolve inúmeros detalhes e contas de custo, mas para essa continha no guardanapo, eu poderia dizer que vendendo 32 pares de tênis por R$ 159 é o suficiente para considerar meu produto validado. Eu consigo pagar meus custos e, mesmo que eu não venda nenhuma outra unidade, minha zona de prejuízo já está coberta.

Existem casos onde a pré-venda consegue cobrir os custos de produção, mas a venda acaba emperrada depois disso. O objetivo aqui não é buscar garantias de que algo será um estouro, mas assegurar que você não terá prejuízo.

Novamente, antes de definir o quanto vai cobrar entenda bem seus gastos e os custos verdadeiros, sem ignorar questões importantes que também se somam ao custo, mas que normalmente são esquecidas. Transporte, alimentação, contas de telefone, hospedagem, serviços de email, domínio e outros detalhes também fazem parte do custo.

O modelo de pré-venda com produto é apenas um exemplo, mas pode ser aplicado para outros modelos de produtos ou serviços.

#3 — Tirando ideias da cartola

Por mais que o mantra “ideia não vale nada” seja repetido aos montes, a maioria das pessoas não acredita nisso de verdade.

O principal motivo para isso, é porque faz bem para o ego acreditar que pensou em algo incrível e inovador antes de todo mundo, e que isso faz de você um gênio dos negócios.

Ao longo dos últimos anos eu conheci um enorme número de pessoas disseram algo como “tive a ideia do YouTube antes de todo mundo”, o mesmo para o Uber, WhatsApp, WolframAlpha e incontáveis outros produtos famosos.

O fato é que grande parte das ideias estão por ai, no ar, simplesmente porque são necessidades da sociedade e que o avanço tecnológico fornece uma direção nova de tentativa.

Carros elétricos, por exemplo, começaram a ser trabalhados não muito depois do motor a combustão. Como demonstra este artigo do New York Times, em 1911 o assunto já era hype nos jornais.

Na verdade, o primeiro carro elétrico vem de um nome conhecido dos amantes dos carros. Em 1898, Ferdinand Porsche criou seu primeiro veículo, um carro elétrico.

Porque então usamos gasolina por tanto tempo? Custo e dificuldades tecnológicas.

Com a gasolina barata e muito acessível era muito mais fácil criar motores a combustão sem se preocupar com o avanço das baterias. Basta juntar o avanço no tamanho e eficiência das baterias e alguns projetos da Toyota para iniciar uma nova era para os carros elétricos.

Hoje você pode olhar para um Tesla Roadster e pensar “eu já tinha pensado em carros elétricos antes , se eu tivesse levado adiante”, mas não existe nada de genial ou inovador em considerar o uso de carros elétricos numa década onde baterias se tornam mais leves e duradouras. Provavelmente, por culpa dos telefones celulares as pesquisas avançaram e o custo de produção caiu.

Este é só um exercício para demonstrar que grande parte das ideias ditas geniais e inovadoras estão por ai, sendo trabalhadas faz tempo e com várias alterações até o momento

Alguém que “pensou num sistema de vídeos como o YouTube, mas para educação” antes de alguém que supostamente roubou sua ideia, não consegue conceber que reduzir o custo da educação fornecendo opções de ensino a distância, é algo que vem sendo pensado desde antes dos cursos de Instituto Universal Brasileiro aparecerem na parte de trás das revistinhas da Mônica.

Avança tecnologia, necessidades seguem parecidas.

A única coisa que sobra disso tudo é o ego de quem quer se achar especial repetindo isso para pessoas que não entendem o processo.

Então onde encontrar essas ideias?

É claro que aqui não estou falando pessoas que empreendem por causas. Alguém que tem um grande sonho de realizar um negócio específico e esse é o gatilho para empreender.

Este trecho é para quem quer encontrar algo para empreender, buscar uma necessidade e criar um negócio em cima disso, independente do que for.

A forma mais fácil de encontrar uma necessidade é conversando com as pessoas. Perguntando diretamente o que incomoda, o que gostaria que fosse melhor, o que falta para a rotina ser mais fácil.

Quando estudei empreendedorismo, aconselhavam ligações via Skype com alguém para conversar sobre necessidades e dificuldades do cotidiano, pelo menos uma por dia.

Quando eu era mais entusiasta em relação ao empreendedorismo, seguia o conselho do popular James Altucher, pensando em 10 ideias de negócio por dia.

Uma outra forma mais moderna de encontrar necessidades são as redes sociais. Reddit, Twitter e Quora são lugares excelentes para entender o que as pessoas estão precisando.

Basta buscar pelas mais diferentes combinações e entender o que soa mais provável.

App para ouvir música offline aparece muitas vezes

O print acima é só uma demonstração de uma busca que encontra necessidade das pessoas, algumas obviamente serão bobagens, mas outras podem ser bem interessantes.

Vamos então fazer um exercício:

A ideia do aplicativo que diga quando é a melhor hora para comprar dólar, pergunta da @mjrtmm, por exemplo, me soa interessante.

Um algoritmo para analisar tendências dos últimos meses, uma análise de automática das notícias dos últimos dias, correlação entre informações de altas e baixas. E pronto, um aplicativo que envia um simples alerta: “parece interessante comprar dólar hoje, clique aqui e entenda os motivos”.

Um relatório no aplicativo justifica a análise e a pessoa pode tomar sua decisão. Futuramente, um acordo com corretoras ou até mesmo intermediar essa compra em troca de comissões, podem construir o modelo de receita.

Acabei de realizar essa pesquisa e pensar nisso. Não faço ideia se existe ou não, mas se eu estivesse buscando um negócio seria o suficiente para investigar melhor e, dependendo do que encontrasse, entrar no processo de validação.

O jeito profissional de copiar

Ideias originais são incrivelmente raras. E como vimos antes, a maioria das dificuldades que viram grandes ideias estão por aí faz muito tempo.

É claro que a cópia descarada de um trabalho configura em plágio e pode inclusive ferir direitos autorais, mas negar que copiar projetos é um princípio comum para qualquer pessoa que lida com criatividade é negar o óbvio.

Todos os artistas começaram copiando alguém. A primeira vez que uma criança tenta fazer um desenho, ela não extrai ideias da cabeça e cria uma obra de arte, pelo contrário. Quase tudo o que aprendemos é através da cópia e da repetição.

Copiamos a primeira casinha que desenhamos, aprendemos a tocar violão reproduzindo músicas que gostamos e as linhas de código que aprendemos. Não sei como ensinam programação hoje, mas minha faculdade foi, em grande parte, copiar algoritmos do quadro, ver como respondiam. Depois era só ir modificando para entender as relações.

Copiar diversas ideias e projetos quando estamos aprendendo é parte fundamental da formação do nosso repertório. Quanto mais projetos copiamos, replicamos e entendemos como funcionam, mais fácil fica associar e combinar seus mecanismos no futuro.

Quando participei de um bootcamp para aprender Rails, o projeto era basicamente criar uma cópia do Pinterest. Ao final do curso, eu não apenas entendia como o framework funcionava, mas era capaz de reproduzir e modificar a estrutura para aplicar com outros objetivos.

Quando seu repertório já está maior, fica fácil imaginar soluções para problemas utilizando tudo o que você já conhece, mas para isso acontecer, é preciso gastar um bom tempo imitando, copiando e entendendo estruturas.

Existe um vídeo bem interessante que fala sobre processo criativo chamado “Everything is a Remix” que explica muito bem como este processo funciona tanto na música, quanto na tecnologia e em tudo que envolve criação.

Mas o cerne da ideia é simples: para criar algo novo, você precisa copiar, modificar e misturar.

#4 — Criando um produto

É claro que cada produto tem uma forma de ser produzida e não dá para entrar num detalhamento simplificado por aqui, mas existem algumas características importantes que todo empreendedor precisa entender para entrar no mercado.

Existe a crença inocente — principalmente nas pessoas mais novas que esperam um modelo quase religioso de meritocracia — de que o que define as chances de sucesso de um produto é “ser o melhor”.

O que significa esse “melhor” dentro da mística empreendedora pode variar bastante, podendo significar mais funcionalidades, design, preço ou usabilidade.

Mas a verdade é que, por mais que possa ter alguma influência, ninguém de fato opta por um produto porque simplesmente porque ele é o melhor. O mercado está repleto de exemplos disso.

Pegue o icônico iPhone quando foi lançado. No momento do lançamento, apesar de toda exposição midiática que existia ao redor do produto, o telefone da Apple nem de longe era o melhor do mercado.

Sua tela encantava e o visual era incrivelmente mais agradável, mas faltavam funções básicas e que já eram consideradas essenciais para o mercado consumidor de smartphones. Uma brincadeira constante, na época eram memes — que ainda não tinham esse nome — traçando comparações entre o iPhone e objetos inanimados.

Vários outros produtos seguem esse exemplo: quando surgiram não eram nem de longe os melhores do mercado, mas acabaram caindo no gosto popular e isso deu fôlego para que de fato se tornassem bons produtos.

Por isso, principalmente no começo quando é impossível lutar com os gigantes em termos de tecnologia, custo e qualidade, existe uma característica que pode ajudar.

Hi I’m a Mac

Uma das características mais importantes para qualquer produto —pelo menos enquanto escrevo este texto — é personalidade.

É assim que a Apple vem ganhando corações desde que seus computadores coloridos chegaram ao mercado ou que o fone de ouvido branco viralizou na internet. É assim também que a Marlboro te convencia que fumar fazia de você um aventureiro e que a GoPro vende câmeras ultra pequenas para praticar esportes radicais que você nunca nem vai chegar perto.

De fato as marcas sabem, faz muito tempo, que um forte posicionamento de personalidade é essencial para gerar identificação com seu público. Essa construção de personalidade não apenas serve ao propósito de ser atraente, mas também como projeção individual do cliente que adota o produto.

Alguém que usa um tênis de basquete Nike não optou apenas por um calçado mais confortável, mas escolheu uma marca que reforce suas convicções pessoais.

É por isso que quem usa Mac se acha muito mais criativo do que os usuários de PC, ou que marcas escolhem pessoas influentes com determinado perfil para associar seus produtos.

A roda colorida acima apresenta 12 arquétipos clássicos e que são encontrados em praticamente qualquer história conhecida. São padrões bem caricatos de personalidade e que ajudam a direcionar o posicionamento das marcas.

Estamos falando aqui de produtos e marcas, mas utilizar arquétipos para tornar uma ideia mais convidativa é um padrão em qualquer modelo de marketing. Basta olhar para o cenário político e ver como cada candidato se posiciona dentro de um arquétipo específico.

A ideia é o que parece: escolher uma personalidade e tornar seu posicionamento tão forte que as vezes soa até exagerado. É óbvio que, considerando os 12 arquétipos básicos, adotar uma personalidade específica significa não se comunicar com a maioria das outras.

Isso pode parecer ruim, mas em termos de imagem é até mesmo desejável. A polarização causada por um posicionamento firme tende a fortalecer os que se identificam e afastar os que são completamente aversos ao discurso.

Essa “batalha” ideológica faz o engajamento de quem já gosta do que é oferecido aumentar ainda mais, assim como a vontade de defender sua escolha. É assim que produtos que poderiam coexistir tranquilamente tornam-se grandes inimigos de mercado.

Para uma marca, a melhor situação que pode acontecer é a polarização de mercado. Android e iPhone, PlayStation e Xbox, Coca Cola e Pepsi, Harley Davidson e Qualquer outra marca de moto e uma enorme variedade de outras empresas encontram na briga polarizada a chance perfeita para fidelizar seus clientes.

Outro ambiente fácil para encontrar a influência destes arquétipos está nos influenciadores das redes sociais. Grande parte dos influenciadores de empreendedorismos, por exemplo, estão na zona do “rebelde”, tentando se posicionar como alguém que quebra regras, fala palavrão e se comporta com certa agressividade.

Como acontece naturalmente, quem tenta se posicionar acaba imitando outras pessoas já influentes, por isso é compreensível que estes arquétipos sejam replicados até mesmo de forma inconsciente. Grande parte do posicionamento no empreendedorismo nacional, por exemplo, vem da voz agressiva do Gary Vaynerchuk.

A única coisa que um produto não pode, é ser chato

Nem todo produto precisa de um posicionamento, mas quando é preciso chamar atenção sem ter uma montanha de dinheiro para gastar, é preciso otimizar os recursos.

Os grandes sabem tanto disso que até quando uma empresas é, por natureza da atividade, chata e desinteressante, tentam posicioná-las de uma forma caricata, buscando ganhar mídia e ainda alcançar fãs.

É assim que uma empresa criada para escavar tuneis foi batizada de “The Boring Company” e lançou até um incinerador para alcançar mídia.

não é um lança chamas

Imprimir uma personalidade num produto não é simples, e depende muito do público alvo que pretende alcançar. É comum empresas começarem com um posicionamento e, com a entrada dos clientes, realizar pesquisas de levantamento de perfil para realinhar essa personalidade.

O ponto básico para imprimir uma personalidade é responder essas três perguntas:

  1. Como você faz a vida do usuário/cliente melhor
  2. Quais valores você defende
  3. O que você mais odeia

Com essas três perguntas já é possível montar a comunicação do site, a linguagem que será utilizada nos emails, nas postagens de blog e nas redes sociais.

Essa visão deve estar presente em tudo o que for feito, o tempo todo.

É também interessante lembrar que, para o empreendedor, é comum tentar imprimir sua própria personalidade no produto que está desenvolvendo, mas isso além de não ser necessário, muitas vezes pode até atrapalhar.

Acostumar o mercado a personificar o comportamento do dono da empresa aos produtos que vende pode, no longo prazo, ter alguns danos graves. Este é um movimento comum principalmente para empreendedores de palco e pessoas com o ego forte.

Também é uma estratégia comum para quem tenta transferir a história pessoal e suas conquistas para o que está produzindo, criando uma aura de empatia na hora de convencer que vale a pena utilizar o produto.

É aqui que histórias de superação acabam sendo utilizadas, para transferir os possíveis méritos do empreendedor para sua marca. O usuário sente que, ao adotar aquele produto, está ajudando ainda mais na realização daquela vitória.

A parte ruim é que se a imagem do dono é mais forte do que a do produto, as coisas podem sair do trilho com uma facilidade enorme. Mais ainda, um produto pode mudar de posicionamento inúmeras vezes, mudar a personalidade de alguém demanda um esforço muito maior e muitas vezes acaba deixando danos ao personagem.

Escolha uma coisa e faça melhor

Uma ideia que empreendedores individuais e startups precisam entender, é que eles não estão em pé de igualdade com o resto do mercado.

É ingenuidade assumir que você, de dentro do seu escritório de 20m², pode brigar com a Microsoft no desenvolvimento de um produto. No futuro, se tudo acontecer magicamente bem, é possível que essa possibilidade exista, mas no exato momento em que você está começando um negócio isso não é uma condição para se apoiar.

O ponto de vista normalmente funciona assim:

Alguém desenvolvendo um app que compartilha fotos, por exemplo, pensaria em tudo o que está errado em nos principais aplicativos do mercado e tentaria resolver todos estes problemas de uma vez, se tornando “um aplicativo completo”.

Para isso, tentaria criar uma quantidade enorme de filtros muito bem definidos, uma função “câmera” com diversas opções e uma qualidade de software que aproveitasse ao máximo o hardware do smartphone do usuário e varias outras funções de edição para garantir que vencerá todos os concorrentes, em todas as áreas.

Mas reconhecendo que você não tem o time de engenheiros da Apple e nem os recursos do Facebook, é preciso saber exatamente o que priorizar para tentar se destacar. Você simplesmente não tem braço o suficiente para tentar fazer tudo o que qualificaria como “excelente” no mercado.

Algumas coisas, inclusive, precisarão ser “pobres” e “ruins” por muito tempo, até seu time parar de apagar incêndios e começar a trabalhar em novas funcionalidades.

Na hora de decidir qual será o foco de destaque do seu novo produto, é preciso deixar o ego de lado e assumir que só dá para escolher uma das várias opções.

Raros são os produtos onde trabalhar em diversas frentes de qualidade não implica diretamente em mais custos ou um tempo longo demais para entregar. E tudo o que um negócio em fase inicial não tem é tempo.

O que nos leva para um outro problema.

Você precisa agir com rapidez

Pela forma como o discurso moderno do empreendedorismo vem sendo vendido, grande parte das pessoas que abraçam a iniciativa de abrir um negócio, principalmente os mais jovens, são essencialmente idealistas.

É gente que tem forte convicção em suas capacidades, e que internamente acha que deveria estar numa posição da vida melhor do que está. Mais ainda, essas pessoas acreditam saber exatamente como seus clientes pensam e a melhor forma de conquistar o que querem.

Na minha experiência o desenvolvimento de produto, principalmente na tecnologia, envolve um perfil específico de pessoas ainda mais idealistas: programadores.

Por mais que sejam importantes, sócios programadores costumam trazer uma grande barreira para o lançamento de um produto, colocando o ego no código e impondo que sua visão técnica sobreponha os princípios do negócio.

Imagine que dois sócios decidem lançar uma loja online para vender produtos orgânicos cultivados nas fazendas do interior de Santa Catarina. O natural é que o sócio técnico queira escolher a melhor linguagem de programação, com o melhor framework e as melhores APIs do mercado para construir um sistema enxuto e leve, daqueles que dão orgulho de mostrar o código para os amigos nerds.

O problema é que neste caso, existe uma outra solução mais simples: subir um sistema de gestão de conteúdo, usar um módulo de ecommerce grátis e aplicar um template pronto comprado na ThemeForest.

Na primeira alternativa, o tempo médio para a primeira versão ir ao ar é de 8 meses. Na segunda, é possível estar com o site e funcionando em 3 semanas.

Grande parte dos programadores — existem exceções eu sei — vai preferir a primeira situação: desenvolver um produto do zero, tentando imprimir alta qualidade, controle total do código e sem ferir seus princípios morais de desenvolvedor.

O problema é que a diferença entre 3 meses de trabalho e 8 meses de trabalho são, com muito otimismo, dezenas de milhares de reais. O custo para se manter trabalhando, pagando equipe, aluguel, contas de consumo, serviços de apoio e outros tantos detalhes é alto demais para adotar uma estratégia tão onerosa.

E se você pensa que está dentro do seu quarto, não está pagando nada disso, e então tudo bem gastar tanto tempo assim para fazer “o projeto perfeito”, pense em outro motivo:

É muito difícil acertar com ciclos tão longos. Se você demora quase um ano para testar algo e entender como o mercado reage, as chances de entender seu negócio antes que um concorrente maior engula você são mínimas.

Seu produto precisa chegar rápido ao mercado, absorver críticas e gerar dados estatísticos que tragam uma perspectiva do que precisa ser modificado e, a partir disso, começar a soltar atualizações constantes.

Mantenha essas três ideias na cabeça:

  • É impossível lançar um produto perfeito de primeira
  • Tempo significa custo
  • Quanto antes você lançar, mais rápido começa a vender

E sei que os programadores que estão lendo, vão argumentar que conseguem fazer um bom produto em tempo hábil sem demorar tanto, mas acredite em mim, a primeira versão de qualquer produto precisará ser totalmente refeita em pouco tempo. Não vale a pena gastar tanto recurso assim para jogar fora depois.

É preciso agir com rapidez, utilizar o que existir de soluções prontas para automatizar o processo e colocar o mínimo possível de ego no desenvolvimento do produto.

Colocar seu idealismo num produto é bonitinho quando você ouve as histórias do Steve Jobs sendo minucioso, mas na vida real onde não temos o dinheiro da Apple e nem seu controle de mercado, existem alguns luxos que a gente não pode se dar.

#5 — Você precisa de um time (ou pelo menos um par)

Eu sei que você acha que consegue fazer tudo sozinho. Leu todos os livros de empreendedorismo, decorou o Startup Enxuta, programou a vida inteira e ainda tem bom gosto para design.

Você olha para todas as tarefas que envolvem um processo e pensa: “eu posso fazer tudo isso sozinho

Não pode.

A realidade é que ninguém consegue focar com consistência em tudo o que é necessário para pensar e estudar modelos de negócios, fazer acordos e parcerias, vender e ainda desenvolver um produto de forma consistente.

Consigo pensar exemplos de pessoas que fizeram isso individualmente, mas na prática é bem mais difícil do que parece. O mito do grande empreendedor, gênio solitário, é puro storytelling. Existe sempre outra pessoa ajudando.

É aqui que muita gente pensa as coisas ao contrário: primeiro encontre um sócio, depois desenvolva uma ideia.

Sua ideia de negócio vai mudar bastante ao longo do tempo e provavelmente nada ao final do processo será parecido com o que você imaginava no começo. Muitas vezes nem será o mesmo mercado. Um sócio não, ele é a pessoa que você pode confiar para realizar qualquer que seja essa ideia.

Um bom sócio que esteja disposto a se dedicar e acessível ao trabalho é uma das partes mais difíceis do empreendedorismo.

Por que achar um sócio é tão difícil?

Lidar com pessoas é difícil, sempre. E lidar com pessoas quando existe dinheiro, sonhos e motivações diferentes envolvidos na equação torna tudo mais difícil.

99% das vezes que duas pessoas tentam trabalhar em sociedade para criar algo novo, a história segue mais ou menos o mesmo padrão:

Todo mundo empolgado no começo, a ideia é incrível e vão revolucionar o mercado. As tarefas são dividas e prazos estabelecidos. A empolgação de um dos sócios diminui, os prazos começam a furar e o sócio mais interessado fica em cima cobrando as entregas.

Depois de um ou dois conflitos, o sócio menos interessado entende que o dinheiro não vai vir tão rápido. O esforço do projeto começa a conflitar com o trabalho de 8–18 e interferir na vida pessoal.

Ele pede pra sair.

Uma situação que aconteceu comigo algumas vezes foi de simplesmente os sócios desinteressados simplesmente sumirem. Nunca mais tocaram no assunto, foram esquivando até que eu entendi que não podia mais contar com eles.

No começo tudo é muito empolgante, mas quando a realidade é trabalho de madrugada e cobranças sem resultados, tudo fica muito mais difícil. Este é inclusive outro motivo para testar o projeto o rápido possível: a empolgação não dura pra sempre.

Cada pessoa tem um limiar diferente de quanto esforço consegue empregar antes de enxergar algum resultado sólido. A maioria acaba parando quando o projeto paralelo começa a interferir na qualidade do trabalho que paga as contas.

O que (eu acho que) você precisa

O empreendedor individual tende — apesar do que foi dito — a começar sozinho e seguir seu caminho. Como disse, ter um sócio faz toda diferença do mundo, mas não encontrar alguém ideal não é um motivo para não seguir em frente.

Já empreendedores que querem desenvolver projetos mais ambiciosos, o ideal é que o time inicial já consiga fazer um bom trabalho logo de cara. É muito perigoso para uma Startup de tecnologia, por exemplo, depender seu desenvolvimento inicial em contratos com freelance.

Os motivos são vários, mas o principal deles é a velocidade que alterações precisam ser feitas e o fluxo intenso de comunicação para realizar tudo o que precisa ser feito no começo.

Aprendi um modelo que na minha cabeça ainda faz sentido, mas um time inicial “perfeito” precisa de 3 sócios com perfis diferentes:

Alguém que cuide dos negócios, um programador e alguém de ux/usabilidade.

É importante ter alguém dedicado a olhar para a parte dos negócios, pensar nos modelos e nas direções. Consultar dados, resultados, fazer conexões e colocar a máquina para girar.

Assim como também é importante que alguém construa o que foi idealizado, a pessoa que tem o conhecimento técnico do assunto.

Acaba sendo fácil falar que é um programador porque o contexto geral é de startup, mas se fosse um restaurante, seria uma chefe de cozinha, se fosse uma marca de roupas seria um estilista e se for uma lojinha de arrumar computador, a pessoa que vai fazer a manutenção.

É muito importante dividir quem é responsável por cada aspecto do negócio. Por mais que em muitos casos — ainda mais no início — essas responsabilidade se cruzem porque falta gente para tudo o que precisa ser feito, não podem existir dois donos para um só trabalho.

Mas além de pagar boletos, planejar, criar cronogramas, fechar parcerias e produzir um produto, alguém precisa garantir que o uso seja pelo menos incrível.

Muitas Startups subestimam a importância de um profissional que torne o negócio palatável ao usuário final, que faça a experiência valer a pena.

E pelo menos até o momento que estou escrevendo isso, um produto simples com uma boa experiência de uso, tem chances bem maiores de se destacar em relação a um produto complicado e que ninguém consegue usar.

Recapitulando, um núcleo central deve priorizar:

  1. alguém com foco em negócios
  2. alguém focado na produção
  3. alguém focado na experiência do usuário

A pessoa focada no negócio tem um direcionamento muito voltado ao custo operacional e ao faturamento, podendo tomar decisões que prejudicam a produção e o usuário. Não é ruim ter este pensamento, mas os outros membros devem estar ali para equilibrar a equação.

Programadores são ótimos em fazer produtos para outros programadores, mas normalmente são péssimos em considerar o ponto de vista do usuário leigo. Este é um problema clássico do perfil técnico, tende a focar na primazia técnica mesmo que signifique onerar o usuário.

O responsável por pensar na experiência do usuário acaba cuidando para que os dois perfis não atropelem a pessoa mais importante do negócio, o usuário final.

Essa figura é quem vai garantir, acima de tudo, os interesses de cliente.

Tenha apenas um Elon Musk

A cultura de startups tem essa ideia de que todo mundo na equipe precisa ser acelerada, motivada, entender de negócios, pensar grande e assumir grandes riscos.

Todo time precisa da pessoa que vai entregar a visão do negócio. É quem explica a direção e todos entendem, que consegue contornar dificuldades e mostrar para a equipe o que precisa ser feito.

Essa pessoa é quem vai definir as estratégias, dizer quais pontos deve atacar e o que não devem fazer.

Mas empreendedores gostam de conviver com pessoas parecidas, e ao procurar um sócio, tende a preferir pessoas com o mesmo tipo de comportamento. Alguém acelerado, cheio de ideias e que acredita que sua visão é a certa do mundo.

O problema é que nenhum time consegue sobreviver a duas ou mais pessoas que acham que sua visão é a melhor. As brigas para definir o que deve ser feito começam a ser tão grandes que ninguém consegue sair do lugar.

Defina quem é a cabeça do seu negócio e deixe que decida as direções. É claro que o time deve opinar e apontar discordâncias, mas no final, só existe uma pessoa que vai tomar essa decisão.

Esse é um erro comum de quase todas as startups inclusive quando decidem contratar. Dão preferência para funcionários agitados, explosivos e que acabam ou se desgastando demais ao longo do projeto, prejudicando os resultados da empresa, ou entram em conflitos demais para que decisões objetivas sejam alcançadas.

Quando estamos falando do núcleo inicial da empresa, aquelas três figuras lá de cima, o perfil deve ser mais acelerado porque tem muita coisa pra fazer e pouca gente para executar. Depois disso a empresa deve preferir profissionais que se preservem e levem a relação com o trabalho de forma saudável.

#6 — Como atrair os primeiros clientes

Partindo da premissa que você tem pouco dinheiro, provavelmente seu caminho será trabalhar com a busca de clientes pela internet.

Panfletos e mídia offline costumam ser um pouco mais caras e, dependendo da situação, menos eficientes. Na internet é mais fácil construir uma audiência apenas dedicando tempo e utilizando algumas estratégias simples.

O principal objetivo de qualquer campanha de marketing digital é a busca por leads, que para simplificar bastante, é alguém interessado no que você tem a dizer.

A lead muitas vezes não conhece seu produto, mas se cadastrou numa página para baixar um material educativo gratuito e demonstrou possuir o problema que você pretende solucionar.

De acordo com as características apresentadas pela lead, ela pode ou não ser classificada como oportunidade de negócio: alguém que você pode ligar, mandar emails e tentar transformar em cliente/usuário pagante.

Produzindo conteúdo

Quando ninguém conhece seu trabalho ou sabe que você existe, é muito difícil conquistar os primeiros clientes.

Independente do que seja seu produto ou serviço, as chances de alcançar um público considerável e conseguir validar sua ideia são muito poucas sem antes construir uma audiência.

É por isso que empreender e produzir conteúdo tem andado de mãos dadas faz um bom tempo.

Quando você tem uma boa quantidade de dinheiro inicial, outros processos de marketing podem entrar no jogo, mas para quem está começando com recursos próprios, não existe um caminho melhor — barato — do que construir conhecimento.

Criar textos e vídeos é uma maneira barata e eficiente de transmitir uma ideia, construir credibilidade e cativar uma certa audiência. É claro que só escrever não significa que alcançará milhões de pessoas com um texto, o processo para construção de reputação é longo.

Se olhar bem, vai perceber que grandes nomes que começaram sem investimento só conseguiram emplacar seus negócios porque, antes de ganhar dinheiro, arrebanharam uma boa e fiel audiência.

É por isso que, mesmo antes de ter um produto ou direção de negócio definido, muita gente começa produzindo materiais para abrir o debate sobre o problema central a ser resolvido. O empreendedor, antes de fornecer a solução, acaba precisando convencer sua audiência que sabe como resolver o problema e tem conhecimento para isso.

Captando interessados

É claro que um conteúdo que tem o objetivo de transferir autoridade sobre um tema e convencer um público de que você tem capacidade de solucionar um problema deve ser muito bem trabalhado.

Se for algo superficial e simples demais, fica muito fácil de cair no senso comum e soar como um oportunista.

Mas o foco do conteúdo não é apenas criar uma reputação, mas de fato encontrar interessados — pessoas que se identificam com o problema — para que acompanhem seu trabalho e se tornem clientes no futuro.

O jeito mais simples de fazer isso é produzindo uma newsletter: uma comunicação frequente e que justifique aos interessados cadastrarem um meio direto de contato.

Essa estratégia não só ajuda você a estar em contato com o cliente, mas permite testar pequenas abordagens que no futuro podem funcionar como produto.

Ter uma base de contato vinculada ao seu tema central, nem que sejam 100 pessoas, possibilitando falar sobre as dificuldades em comum e testar a recepção de algumas ideias é uma ferramenta de ouro para quem pretende desenvolver um produto.

Depois, com o produto pronto, também é mais fácil oferecer para essas mesmas pessoas, que você já entende o perfil e sabe que compreendem a visão que você está construindo.

Sua audiência escolhe você

É bem provável que sua ideia de público alvo esteja errada.

Assim como uma ideia de negócio, um público cativo dificilmente é quem a gente planeja ser. É normal que ao longo do processo você descubra que existem mais pessoas de um outro perfil do que aquele idealizado no início.

Utilizando ainda o exemplo do aplicativo para avisar o momento ideal de comprar dólar, vamos imaginar que sua ideia de público alvo eram jovens, na faixa dos 20 anos e com interesse de começar a investir.

É possível que ao começar a escrever sobre flutuação monetária, impactos econômicos, dicas de finança e outros assuntos relacionados, tentando desenvolver uma audiência, você descubra que estava errado. Seu público na verdade são homens, adultos na faixa dos 43 anos querendo investir sem precisar pensar demais.

É claro que este é só um exemplo, mas essa mudança de público é comum e exige ajustes. O ideal é identificar este público o quanto antes e ir ajustando a comunicação para falar diretamente com eles.

Redes sociais consomem tempo

Ter presença em redes sociais quando estamos tentando nos estabelecer como alguém que soluciona problemas é importante, mas gastar tempo demais com isso é um problema.

Assim como responder email, construir presença em redes sociais trazem a sensação de estar produzindo mesmo quando nenhum trabalho real é executado.

É claro que postagens e interações em redes sociais têm sua importância, mas também costuma ser uma boa desculpa para enrolar.

Escolha a rede social que tenha mais relação com o público que pretende alcançar, sem perder tempo trabalhando em vários canais de uma só vez. Redes Sociais consomem tempo e esforço, é melhor manter uma única bem consistente do que várias redes sem periodicidade.

Estude sobre melhores horários e modelos de postagem que estejam conquistando maior impacto naquele momento. Essas tendências mudam com grande frequência e não existe muito receita de bolo. Veja o que funciona na hora e se adapte.

O mundo joga dados

Tudo o que você fizer como conteúdo vai gerar uma tonelada de dados.

Cada postagem em rede social trará estatísticas de engajamento e alcance. Todo texto terá dados de acesso, curtidas e compartilhamentos. As ações online vão produzir resultados que sempre dizem alguma coisa.

Até mesmo um post sem reação tem algo a te dizer.

Faça pequenos testes com abordagens diferentes, usos de imagens e horários. Apesar de existirem inúmeras receitas de bolo pronta para publicações e postagens, nada é mais científico do que efetuar os próprios testes e observar como a audiência se comporta.

Os profissionais de marketing adoram seguir infográficos populares com receitas mágicas como: “postagens no twitter tem maior alcance entre 9 e 10 da manhã”, o que pode ser verdadeiro dentro de uma média, mas veja como tudo isso funciona para você.

Cada audiência segue um comportamento e interage com diferentes conteúdos de uma maneira específica. Tenho certeza que se seu negócio é focado no público adulto e com conteúdo +18, seu engajamento não vai ser maior 10 horas da manhã.

Existe inúmeras ferramentas de análises e agendamento de postagem, tente pelo menos uma vez na semana observar como foram os resultados, separar as tentativas específicas e reajustar sua estratégia.

Storytelling para leigos

Quase tudo que envolve conteúdo e marketing hoje em dia conta com a ajuda de um bom storytelling.

Sejam as campanhas falsas de sorvetes feitos por velhinhos com neve ou grandes empresas criadas por gênios que surgiram numa garagem, sempre existe uma forma de deixar a história mais interessante.

O excesso de storytelling pode ser ruim e causar um grave deslocamento da realidade. É comum empreendedores construírem uma história e, para sustentar essa versão, adicionam certos exageros ao conteúdo.

Oi, Bel? :)

É um forte clichê moderno recontar a própria história adicionando cenários de dificuldade e momentos ruins, para desenhar uma trajetória de superação. Todos já vimos e todos sabemos reconhecer.

Mas storytelling não precisa ser ruim nem mentiroso. Você pode simplesmente usar situações fictícias para ilustrar pontos específicos ou transmitir uma mensagem com mais força.

Storytelling não é, obrigatoriamente, contar sua história com tom de superação.

Quem acompanhou os outros textos produzidos aqui no medium para o Startup da Real sabe que o artifício pode ser usado de outras formas.

Nesse texto eu desloco a explicação técnica e crio uma história para ilustrar de forma mais didática o conceito explicado antes.

Neste outro trecho, uso a técnica de storytelling para ilustrar um ponto rápido, mas dando força à narrativa.

Existem vários outros exemplos de como uma breve história bem contada adiciona força a um argumento, sem precisar entrar no clichê de superação e desenvolvimento pessoal.

Utilizar a técnica de forma consciente é interessante na hora de construir um bom conteúdo, permitindo transmitir uma ideia muitas vezes técnica de forma mais clara e compreensível.

Aqui está um modelo bem simples — dos vários que existem — para construir um bom storytelling:

  1. Algo acontece: existe uma ação acontecendo, normalmente algo comum e de fácil identificação. É a conexão do leitor/ouvinte/espectador com o mundo comum.
  2. Até que…: algo interrompe, alguma dificuldade surge, um problema é apresentado. É o detalhamento da ação.
  3. hora do lacre: uma punchline que exponha com força a ideia central. É onde acontece o choque entre a visão antiga e a nova visão sobre o assunto.
  4. momento de reflexão: uma explicação um pouco mais longa sobre o conceito principal, fazendo a conexão entre todos os pontos.

Um rápido exemplo de como essa estrutura é apresentada, principalmente em propagandas, pode ser vista nesse vídeo:

  1. Algo acontece: chefe alemão explicando o trabalho para o funcionário novo
  2. Até que: chega um pedido de ajuda em inglês pelo rádio e o guarda tenta se comunicar
  3. punchline: what are you thinking about onde fica claro que o funcionário não fala inglês.
  4. Reflexão: você pode causar grandes problemas se não souber falar inglês: curso de inglês

A estrutura é simples existem inúmeras variações de como pode ser aplicada, mas de forma geral os mesmos elementos acabam sendo aplicados.

Tente não exagerar na hora de aplicar, evite criar mentiras sobre sua empresa ou história pessoal e estude mais afundo as estruturas.

Marketing viral ainda funciona

Pela escassez de recursos, startups e empreendedores precisam maximizar o resultado de suas ações, não podendo depender muito da verba de campanhas para alcançar clientes.

Existe uma mentalidade simples que todo empreendedor deve ter em mente: Cada novo cliente deve trazer outros três clientes.

É claro que o primeiro passo para que isso seja verdadeiro é que os clientes estejam satisfeitos e orgulhosos do que estão recebendo, mas aqui, minha abordagem é marketing: você deve criar mecanismos para que seja vantajoso e interessante que um cliente faça propaganda do seu produto e o torne mais desejado.

O meu exemplo preferido de como criar um loop viral de mercado foi o lançamento do smartphone OnePlus, um aparelho premium de excelente especificações e com preço bastante justo.

Quando foi lançado o OnePlus só podia ser comprado através de um convite, criando uma forte mentalidade de escassez.

A exclusividade também traz um caráter extra, o usuário — assim como acontece com os produtos da Apple — assume que é mais importante, é um produto VIP. A pessoa adquire um orgulho extra porque conseguiu acesso a algo que as outras pessoas não podem ter, ou possuem mais dificuldades para conseguir.

Quando alguém comprava o aparelho recebia também um — ou alguns? — convite para compartilhar com amigos. Este convite permitia comprar o aparelho num prazo de 48 horas, gerando também a mentalidade de urgência.

Assim, cada novo usuário OnePlus saia do processo de compra trazendo duas novas vendas em potencial, escalando os números a cada novo aparelho vendido.

Vimos muitos destes mecanismos sendo aplicados por outras empresas. A ideia do convite, por exemplo, fez do Nubank uma febre viral no começo das operações. O usuário novo não sentia que era cliente de uma empresa, mas alguém beneficiado com uma vantagem exclusiva.

É importante que para aplicar ideias assim, o produto seja algo que soe como uma vantagem real, um privilégio. Assim que alguém ouvir sobre, for procurar e entender que não pode ter, o senso de necessidade começa a aumentar.

#7 — Como vive um empreendedor

Em grupos sobre empreendedorismo, blogs e livros vemos quase que diariamente exemplos das rotinas de grandes nomes da arte e dos negócios.

De Leonardo Da Vinci até Elon Musk, essas listas tentam transmitir uma simples ideia: se você repetir o que essas pessoas fizeram, vocês também serão gênios criativos.

É claro que essa ideia é completamente infundada. E repetir rotinas, padrões de sono e hábitos de gente famosa pode até trazer algum hábito interessante para sua vida, mas nem de perto são elementos que definem o “sucesso”.

O extremo dessa ideia de copiar hábitos é ruim, mas a preocupação com bons hábitos é importante.

Para o empreendedor, principalmente os que ainda não possuem uma equipe, garantir que tudo está funcionando bem é um passo importante para não desistir. Se ficar três dias sem trabalhar, ninguém vai fazer sua parte para você.

Existem alguns princípios que podemos seguir, como seres humanos, para garantir que nosso corpo esteja funcionando bem. Nada muito especial ou mágico, mas são hábitos que garantem mais disposição e foco.

Mexa essa raba

Fazer exercícios físicos é importante.

Muita gente acha que fazer exercícios ou comer bem é coisa de quem tá acima do peso e precisa emagrecer. O contrário também acontece, achar que é pra gente magra e atlética e que, não adianta fazer nada, porque nunca vai perder peso.

Tem gente acima do peso com bastante saúde, e muita gente magra sem saúde nenhuma. Mas se exercitar não deve ter relação com a vontade de perder peso. A gente deve se exercitar para deixar o corpo saudável e manter os níveis de disposição sempre altos.

Mais ainda, exercícios físicos são uma grande ferramenta para desenvolver uma característica, que essa sim, é um sutil indicador de sucesso: disciplina.

Apesar de ser visto pela maioria das pessoas como um traço nato de personalidade, disciplina é uma característica que se constrói aos poucos, e uma das formas mais simples desenvolvê-la é através dos exercícios físicos.

Disciplina é, em termos práticos, a troca de um prazer imediato por uma recompensa muito maior no futuro.

Essa característica pode ser aplicada para solucionar a grande maioria dos problemas convencionais que encontramos tanto para empreender, quanto para realizar as coisas que planejamos na vida.

  • Procrastinação
  • Exercício físico
  • Trabalho
  • Alimentação
  • Estudos
  • Produção de conteúdo

Esses e vários outros problemas graves que causam dor de cabeça para a maioria das pessoas são resolvidos com o desenvolvimento de disciplina. Todos eles envolvem a compreensão da ideia de que um benefício imediato deve ser deixado de lado para conquistar algo ainda mais valioso mais adiante.

Saco vazio as vezes para em pé

Alimentação é outro ponto frequentemente negligenciado por quem está na busca por dar o melhor de si na abertura de um negócio.

Existe todo um universo relacionado a alimentação — existem profissionais que estudaram a vida toda pra issomas o básico do senso comum vocês já sabem: evitar gordura e carboidratos em excesso, não exagerar nos doces, variar bastante nos legumes e verduras e comer um pouco mais de proteínas.

A não ser que você siga algum modelo de alimentação específico, seguir o senso comum não trará nenhum problema.

Dietas paleo, cetogênica e outros tipos de alimentação mais específicos exigem estudo e experimentação para se adaptar, não significa que são melhores ou piores, mas cada uma traz seu preço.

A dieta cetogênica por exemplo, vem sendo popularizada entre empreendedores para ter maior foco e disposição, mas muita gente não consegue se habituar e acabam tendo efeitos contrários aos prometidos.

Na dúvida? Preze pelo básico bem feito ou procure um especialista.

Outra forma comum de buscar foco é através do jejum intermitente, prática que tem sido amplamente divulgada nos últimos 10 anos e apresenta alguns resultados interessantes.

Como alguém buscando encontrar um ponto de equilíbrio onde o corpo consiga ter o melhor desempenho possível, aconselho ler sobre tudo, experimentar o que parece interessante e observar como o corpo reage.

Faça dieta vegana por uma semana, tome seu Bulletproof Coffee ou tente zerar carboidrato aumentando gorduras e proteínas. O importante, na maioria das vezes, é entender como seu corpo reage ao que está sendo feito. E se decidir adotar por um longo período de tempo, consulte um médico e faça exames para garantir que tudo está em ordem.

Lembre-se, só existe experimentação eficiente quando há análise dos dados e um bom método. Caso contrário fica impossível de saber os reais danos ou benefícios de qualquer tentativa.

Um exemplo disso foi a onda do Bulletproof Coffee, o café com manteiga clarificada e óleo de coco.

Muita gente se interessou pela bebida que prometia aumento do foco e até de perda de peso, mas o resultado normalmente era o oposto.

Pelo potencial calórico da bebida, chegando a quase 500 calorias num copo grande, muita gente acabou ganhando peso durante a tentativa. E por não seguirem a dieta cetogênica necessária para ter os benefícios em relação à concentração, não sentiam nenhuma alteração relevante em termos de foco.

A tentativa de fazer o café funcionar fez as pessoas tomarem cada vez mais, aumentando a ingestão calórica e a quantidade de cafeína no organismo, e café em excesso causa ansiedade e perda do foco.

Por isso, seja lá qual for a alteração que esteja tentando para ganhar produtividade, tenha certeza que está analisando tudo da forma mais científica o possível. Não apenas consultando os artigos acadêmicos, mas realizando exames para entender como seu corpo está respondendo.

Sim, drogas são uma realidade

Drogas são uma realidade no mundo do empreendedorismo, principalmente quando falamos de startups e vale do silício.

Grande parte das empresas famosas são movidas por gente inteligente utilizando os mais diversos tipos de droga, as mais comuns são Ritalina e Adderall.

Existe um grande debate sobre como essas drogas afetam não apenas nossa percepção de capacidade de produzir, mas também nossa expectativa em relação às pessoas que não estão sob efeito de medicamentos.

Alguém acostumado a ter engenheiros usando Adderall dificilmente vai tolerar um excelente engenheiro que sinta cansaço, sono e tenha momentos de dispersão como uma pessoa comum.

No curto prazo tomar drogas fortes pode ser uma ideia bem atraente. Os nootrópicos, medicamentos que prometem melhorar a capacidade cognitiva das pessoas, são uma tendência nas startups, nas universidades e até nas competições profissionais de jogos eletrônicos.

Todos estão procurando uma “ajudinha” extra para produzir mais e pensar com mais clareza.

Assim como esteroides anabolizantes nos esportes, seria mentira dizer que essas drogas não adicionam uma vantagem competitiva considerável em termos profissionais.

No entanto, os efeitos colaterais e riscos que os medicamentos trazem deveriam ser o suficiente para fazê-lo reconsiderar a ideia. De problemas cardíacos, ansiedade e fadiga extrema, existe muita coisa ruim que essas drogas podem causar.

Principalmente quando combinado ao estresse e álcool.

E de novo, quando tudo o que você faz está dependendo majoritariamente de você, a última coisa que você precisa é ficar doente.

Mas existe uma substância que você pode usar, de forma consicente e que traz todo potencial que você precisa.

Cafeína é uma poderosa droga para quem busca eliminar os efeitos da fadiga, melhorar a disposição mental e passar por cima do sono. Mas assim como qualquer outra droga, não pode ser utilizada de qualquer jeito.

Existem várias formas de consumir cafeína, a mais normal delas é através do café. No entanto é fácil de encontrar cápsulas e outras bebidas com doses concentradas da substância.

O maior problema da cafeína é que ela apresenta grandes resultados até certo ponto e depois o excesso causa os efeitos contrários aos desejados. Por isso entender quanto está consumindo e os horários em que consome é importante

Cafeína é uma droga amplamente estudada, e é fácil encontrar maiores informações sobre o assunto.

Alguns trabalhos mostram que doses horárias de cafeína, algo próximo de 0,3 mg por kg corporal, é o suficiente para manter disposição, atenção e as características de redução do cansaço e fadiga.

O corpo tem uma capacidade natural de se adaptar às substancias que utilizamos, fazendo que os efeitos sejam reduzidos ao longo do tempo.

Se a sua intenção é consumir cafeína para aumentar a disposição mental, é interessante ter em mente que seu corpo vai criar tolerância. Para manter a intensidade dos efeitos, tente consumir em ciclos.

A tolerância e o tempo de descanso entre os ciclos pode variar de acordo com a quantidade utilizada, mas descansar de 3~7 dias, a cada 1–2 meses de uso contínuo costuma ser o suficiente.

Para quem exagerou na dose, um estudo com L-teanina sugere que o aminoácido consegue reduzir problemas relacionados ao sono causados pelo uso excessivo de cafeína.

E descansou no sétimo dia

No poema que abre o livro de Gênesis na Bíblia, após criar todas as coisas e os lugares onde essas coisas estão inseridas, Deus descansou.

Apesar de não ter crenças em divindades, acho o poema válido como reconhecimento máximo de que descansar não é uma fraqueza humana, mas uma necessidade importante para qualquer grande criação.

Ninguém se importa se você virou a madrugada ou não. Às vezes realmente faz sentido forçar um pouco para continuar numa onda positiva de produtividade, mas grande parte das vezes não existe essa necessidade.

Mas gente sabe que em outros momentos, tudo isso é puro autoflagelo. Você precisa mostrar, para você e para o mundo que está se esforçando ao máximo. Que se deu errado, não foi por falta de tentar.

Mas isso é mais um processo interno de autoafirmação do que uma necessidade de produção. Horas sem dormir e trabalho exagerado pela madrugada dificilmente trazem algo positivo.

Com o sono erros começam a acontecer e o processo de retrabalho se torna inevitável. Cada novo trabalho exige o dobro de tempo corrigindo erros e procurando falhas.

Quando falamos de saúde mental as pessoas assumem uma certa diferença na forma que o cansaço funciona, mas quando falamos do cansaço físico fica mais fácil de visualizar.

Ninguém exigiria para alguém que correu 40 km de uma maratona fazer outra prova logo em seguida. Qualquer pessoa sabe que após tamanho esforço, é preciso um bom período de recuperação.

Descansar é essencial para evitar erros, decisões explosivas e manter tudo seguindo num ritmo sustentável. Concentração e foco são recursos limitados, que não adianta forçar muito depois que já estão esgotados.

Entender essa mecânica evita cair em discursos inflamados de gente que acha que morrer de trabalhar é bonito.

Trabalhe bem, de forma inteligente e aplique a intensidade necessária, mas saiba descansar quando for necessário.

#8 — Considerações finais

Este é um assunto extenso e existem algumas outras ideias que poderiam ser abordadas, de acordo com o momento e realidade de cada pessoa.

Acredito que o básico importante que pode ajudar muita gente a não cair em discursos falsos e ter um conhecimento de base interessante para seguir com as próprias pernas está aqui.

Espero ter poupado algum dinheiro de quem pretendia pagar uma boa grana por cursos de empreendedorismo e transmitido a parte central das ideias mais importantes.

O texto pode sofrer alterações e atualizações mais na frente, de acordo com novas ideias ou correções em pontos de vista que deixei de concordar.

Você deve ter encontrado alguns erros de concordância e digitação, mas é normal num texto longo como este.

As revisões serão feitas no ar.

Por fim, fico feliz em poder ajudar com um material bem diferente do que eu venho publicando.

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