A distância que separa o massacre dos unicórnios e a bolha das pontocom é muito maior do que parece!

Natalie Witte
Strong-up
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3 min readOct 31, 2019

A década de 1990 foi marcada pelo surgimento e ascensão de empresas baseadas na internet. Naquela época, bastava ter no nome uma extensão (.com) ou um prefixo (e-) que a empresa seria super, mega, ultra valorizada. A bolha especulativa que inflou artificialmente o valor das empresas estourou na primeira metade do ano 2000 e levou muitas das pontocom a um encolhimento radical, à quebra ou ao desaparecimento.

A bolha da internet

Para mim, um dos casos mais emblemáticos do estouro da bolha da internet foi o da Think Tools, que foi avaliada em 2,5 bilhões de francos suíços mesmo sem ter um produto sequer um produto realmente interessante à venda.

Muitos atribuem o início da bolha das pontocom ao IPO do Netscape em 1995 — em poucas horas, o valor das ações do navegador foi praticamente triplicado. Detalhe: a empresa não era lucrativa. Essa é talvez a maior semelhança entre o que aconteceu há 20 anos e o que estamos vendo hoje. A incapacidade de operar no azul ou de ao menos mostrar uma perspectiva razoavelmente crível de vir a se tornar uma empresa lucrativa fez com que a avaliação da WeWork despencasse a 20% do valor anterior às vésperas de um IPO que nunca aconteceu (esse foi o principal mas não o único motivo, vide artigo que eu publiquei aqui há algumas semanas).

Unicórnios em xeque

A reportagem publicada no site da Época Negócios apresenta um estudo feito pela Universidade da Flórida, que traz um dado importante e revelador sobre a realidade atual do mercado americano (e global, é claro): 81% das empresas que abriram seu capital em 2018 nos Estados Unidos registraram prejuízo nos 12 meses anteriores ao IPO.

Acontece que, a exemplo da WeWork, investidores estão se recusando a acompanhar a “empolgação” de instituições como a Softbank com unicórnios que seguem dando prejuízo. De acordo com Derek Thompson, em excelente artigo escrito para o site da revista americana Atlantic, esse movimento tem muito mais a ver com um amadurecimento do mercado do que um problema sistemático, generalizado.

Empresas de tecnologia real versus negócios digitais de transações offline

Derek separa as empresas cujo modelo de negócio se baseia em transações de bens e serviços no mundo físico, como Uber, Fiverr e Lyft das companhias de “tecnologia real”, como definiu o presidente de estratégia de mercado e investimento do JP Morgan, Michael Cembalest. Enquanto as primeiras têm sido questionadas e desvalorizadas, as empresas cujo principal produto é software têm mantido ou ampliado seu valor de mercado — muitas estão sendo negociadas a mais de 100% acima do valor listado do IPO. É interessante que a maior fatia de lucros vem da tecnologia corporativa — soluções B2B — e não das badaladas tecnologias voltadas ao consumidor final.

Longo prazo ou prejuízo eterno

O maior desafio para investidores e analistas é estabelecer uma clara diferença entre um negócio que precisa crescer e alcançar uma certa escala para se tornar rentável — como é o caso da Amazon que levou 24 TRIMESTRES para registrar o primeiro lucro — de empresas como a WeWork, cujas contas simplesmente não fecham — estimativas apontam um custo de US$ 1,93 para cada US$ 1 faturado.

Estamos começando uma nova era no mercado de tecnologia, não só por causa das novas disrupções que estão chegando com tudo, mas também pelo maior conhecimento de quem está investindo nesses mercados. Não basta parecer bonito na foto, precisa de fato mostrar que é.

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Natalie Witte
Strong-up

Business and M&A Lawyer with more than 12 years of experience as a legal adviser to tech companies and startups. More info on www.linkedin.com/in/nataliewitte/