Como testar uma ideia de negócio sem metermos os pés pelas mãos

Minimum Value Product em 30 dias (ou menos)

Samuel Fialho
Superlativo Blog
4 min readJan 9, 2018

--

Nos últimos anos, uma das coisas que aprendi quer pela força, quer pelos falhanços foi a importância do teste. Quantas empresas, produtos, serviços e ideias geniais falharam por não terem sido testados de forma séria? Ao longo da minha experiência assisti a centenas destes casos. E uma parte deles eram projectos meus.

Durante o ano passado, de forma inconsciente, acabei por ler muitos livros sobre duas áreas: criatividade e produtividade. Um dos vários denominadores comuns que pude observar está relacionado com o facto de não nos devermos apegar demasiado às nossas ideias. Temos tendência a achar que as nossas ideias são magníficas, porque são nossas. Mas as ideias são baratas, vão e vêm.

É fácil estarmos de acordo quando dizemos que uma ideia deve ser testada antes de avançar para a sua concretização. Mas normalmente ficamos apenas nesse patamar: concordamos todos, mas não o colocamos em prática.

Esta série de artigos é baseada numa ideia simples de Matthew Odette: criar um diário onde se possa colocar o objectivo do projecto, os progressos, as dúvidas, os fracassos e os sucessos. E, sobretudo, partilhar a forma de testar sem grandes custos e perdas de tempo o potencial sucesso ou insucesso de uma ideia. E é aqui que entra o conceito de Minimum Value Product (MVP).

MVP

O que é um MVP? Vamos à Wikipedia:

A Minimum Viable Product (MVP) is a product with just enough features to satisfy early customers, and to provide feedback for future product development.

O objectivo desta metodologia é recolher o máximo de informação possível no menor tempo e com o menor investimento possível.

O exemplo clássico de um MVP é a construção de um meio de deslocação para pessoas. Vamos imaginar que queremos resolver este problema, deslocar humanos de um sítio A para o sítio B. Eventualmente, se seguíssemos a forma normal de pensamento, iríamos desde logo construir um carro. Ou uma nave espacial. Contudo, o desenvolvimento de um automóvel ou de um space shuttle, como nós sabemos, é caríssimo. Consome muito tempo e muitos recursos. E a verdade é que no final talvez nem seja a melhor solução.

Para fazer um MVP deste produto, vamos antes começar talvez por um skate. É relativamente simples e rápido de construir. É barato e não requer um conhecimento especializado muito por aí além. E, sobretudo, propõe-se a resolver o problema que queremos solucionar: transportar humanos de um lado para o outro. Construir um skate em vez de um automóvel dá-nos isto: rapidez na construção e, por sua vez, rapidez na colocação do produto no mercado. Desta forma, temos já um produto que podemos começar a rentabilizar e, sobretudo, a recolher dados dos nossos clientes.

Nesta hipotética história, rapidamente os nossos clientes nos diriam que o produto devia ser melhorado. Devia ser mais rápido. A iteração lógica seria desenvolver uma bicicleta. Depois disso, os clientes dir-nos-iam que podia ser um pouco mais rápido e requerer menos esforço. Então, apresentávamos ao mercado uma mota. E, finalmente, os utilizadores dir-nos-iam que não gostam de apanhar chuva na cara, que têm algumas dificuldades em equilibrar-se e que querem mais conforto. Seria aqui que apresentaríamos o nosso automóvel.

A diferença é simples: em vez de termos a empresa fechada durante 10 anos para construir um automóvel, fomos para o mercado, aprendemos o que os nossos clientes queriam, fomos vendendo produtos e percebendo o que funcionava e o que não funcionava.

Exemplos clássicos de MVP

Existem sempre dois exemplos famosos de empresas gigantes que utilizaram este conceito para testar as suas ideias antes de investirem milhões de dólares: a Dropbox e a Zappos.

Antes de terem escrito sequer uma linha de código, os criadores da Dropbox fizeram um video.

Um video simples, barato e rápido que simplesmente explicava o conceito aos utilizadores. Através da reacção dos utilizadores ao video, do número de visualizações e, posteriormente, do número de subscrições de uma newsletter, perceberam rapidamente que isto tinha pernas para andar.

A Zappos é uma loja online que vende calçado. Numa altura em que toda a gente lhe dizia que era impossível vender calçado online, Nick Swinmurn decidiu fazer o seguinte teste: dirigiu-se às lojas de calçado do seu bairro e pediu para tirar fotografias para colocar no site e, assim, vendê-los. Colocava sobre o preço da loja a sua margem e rapidamente começou a não ser possível dar conta das encomendas. A pouco e pouco a sua empresa foi crescendo, sem grandes loucuras e sempre de forma sustentada.

--

--

Samuel Fialho
Superlativo Blog

Full Stack Designer. React forever apprentice. Communication thinker. Original from Nazaré. Based in Lisbon.